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5 de outubro de 2017

REFORMA PROTESTANTE - As causas e consequências de um movimento religioso revolucionário.


O movimento religioso historicamente conhecido como Reforma Protestante foi um dos maiores cismas que já aconteceu em toda à história do cristianismo. A partir dele outros movimentos religiosos menores foram surgindo, que neste caso deu origem às várias igrejas e seitas “evangélicas” que conhecemos como: luteranos, calvinistas, presbiterianos, metodistas, puritanos, anglicanos, batistas, pentecostais, neo pentecostais, adventistas, testemunhas de Jeová, etc.

Mas será que as ideias e crenças da Reforma ainda são relevantes para o nosso tempo? Sabemos que em alguns lugares da Europa nos quais o movimento teve seu início, muitas igrejas e comunidades protestantes fecharam suas portas, isto é, deixaram de praticar a fé. Também existe a falta de unidade entre os próprios protestantes. “Nem sempre eles falam a mesma língua”, isso porque às comunidades protestantes (evangélicas) são independentes umas das outras. Cada uma têm sua própria forma de liturgia e doutrina.

Por exemplo, existe muita diferença entre um culto (ritual) celebrado em uma comunidade pentecostal para o que é celebrado em uma igreja protestante histórica. No primeiro caso dá-se ênfase ao “êxtase emocional”, no segundo ao “sermão bíblico racional”. Com isso pode-se dizer que existe uma certa diversidade entre as comunidades protestantes.

O objetivo deste texto é mostrar de forma resumida quais foram as causas que deram origem ao movimento protestante e também conhecer as consequências que isso trouxe para a sociedade. Como o protestantismo possui vários ramos, neste texto dar-se-á mais atenção ao luteranismo, por ser o protagonista do movimento protestante.

1. MARTINHO LUTERO (1483-1546).
O primeiro passo para se conhecer qualquer movimento religioso é saber quem foi o seu fundador (mas, diga-se de passagem, que nem toda religião tem um fundador). Então, para se conhecer as causas e consequências da Reforma Protestante é imprescindível conhecer um pouco sobre Martinho Lutero. Felizmente há muito material escrito e publicado sobre a vida de Lutero. No entanto, daremos destaque a alguns pequenos detalhes sobre a vida do reformador alemão.

Um detalhe interessante que as pessoa precisa saber sobre Lutero é que ele nunca quis que os seus seguidores fossem chamados de “luteranos”, muito pelo contrário, ele queria que todos fossem conhecidos como cristãos. É possível afirmar que Lutero repudiava o “culto à personalidade”, isto é, prestar-lhe devoção e adoração como qualquer outro “santo”.  
“A primeira coisa que peço é que as pessoas não façam uso de meu nome e não se chamem luteranas, mas cristãs. Que é Lutero? O ensino não é meu. Nem fui crucificado por ninguém. [...] Como eu, miserável saco de larvas que sou, cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome? ” (LUTERO apud GEORGE, 1993, p. 55).
Mas quem foi Lutero? Existem várias respostas para essa pergunta, dependendo da visão que as pessoas tenham sobre o fundador do protestantismo. Na visão católica tradicional, Lutero foi um herege, um louco, um “instrumento do diabo” para dividir a Igreja e causar confusão. Para os protestantes ele foi “um instrumento usado por Deus” para trazer liberdade aos que eram escravos da ignorância de uma Igreja opressora. Já os alemães nacionalistas celebram-no como um herói do povo e “pai de seu país”.

Essas são apenas algumas caricaturas que se faz sobre a pessoa de Lutero, contudo, nenhuma delas explica detalhadamente a sua personalidade e inteligência. Para se conhecer Lutero é necessário conhecer sua história e crenças. 

Lutero em alguns momentos de sua vida passou por várias dúvidas e crises de fé. Por mais que fosse fiel aos dogmas e rituais da Igreja, ele nunca encontrava alegria e paz interior. As orações, os jejuns, as vigilas e boas obras não lhe proporcionavam satisfação. Considerando esses fatos talvez possamos supor que as reais origens do movimento protestante foram as angústias e contradições de “um cristão insatisfeito”. 
“Todas as suas tentativas de satisfazer Deus – orações, jejuns, vigílias, boas obras – deixavam-no com uma consciência totalmente intranquila. Seu humor variava do desespero por todos os seus erros a uma ira fervente em relação a Deus: “Eu não amava, na verdade odiava, aquele Deus que punia os pecadores; e, com um murmurar monstruoso, silencioso, se não blasfemo, enfureci-me contra Deus” (GEORGE, 1993, p. 64).
Lutero foi o reflexo da insatisfação religiosa que dominou os corações de milhares de cristãos que viveram no século XVI. Existiram vários fatores que contribuíram para essa insatisfação. Conheçamos agora as causas que deram origem ao movimento protestante.

2. AS CAUSAS RELIGIOSAS.
Insatisfação, indignação e decepção são palavras-chaves de nos ajudam a entender o “clima religioso” da Europa e mais especificamente na Alemanha de Lutero no século XVI. A Igreja, juntamente com sua liderança, não tinha mais crédito na sociedade. A vida luxuosa e corrupta dos Papas, a decadência moral dos padres e o abandono dos ensinos de Cristo.

Nas palavras do historiador católico Martina (2014, p. 15), “Uma Igreja que não tenha nenhuma influência sobre a sociedade em que vive, que lhe seja alheia e adversa, se mostra, não sem fundamento, como uma velharia de museu, e não como a fonte de água viva de que todos bebem”.

Antes de Lutero existiram outras pessoas que tentaram, mas sem sucesso, convencer o Papa e a cúria romana a reconhecerem os seus erros e voltarem aos princípios essenciais do evangelho de Cristo. Entretanto, o clima não era propício para que isso acontecesse. As pessoas queriam um cristianismo mais puro e simples; um melhor conhecimento das Escrituras e uma piedade mais verdadeira dominada pela compaixão e misericórdia de Cristo.

A situação podia ser comparada a uma “bomba” pronta para explodir. Só precisava de alguém que apertar-se o botão para que a explosão acontecesse. E quem apertou o botão foi Lutero.

A história mostra que de tempos em tempos a religião cristã sempre passou (e passa) por momento de crise e renovação. Os momentos de crise acontecem, geralmente, quando os cristãos abandonam as suas convicções e crenças. Já os momentos de renovação surgem quando há um tipo de “despertar” entre os cristãos, que faz com que eles se aproximem do transcendente.  

3. CAUSAS POLITICAS E SOCIAIS.
Direta ou indiretamente quase todo movimento religioso influência o contexto social onde está inserido; e essa influência pode causar grandes transformações e mudanças de paradigmas. Muitas vezes para que haja uma “revolução social” é fundamental que alguém dê o primeiro passo.
“... Lutero era capaz de inflamar e arrastar as massas populares e de convencer e engajar os intelectuais. Em síntese, Lutero não determinou o surgimento da revolta, mas apressou seus passos e jogou sobre ela o peso de sua forte personalidade, acrescentando-lhe eficácia. De outra parte, o próprio temperamento tipicamente alemão de Lutero acabou por diminuir o alcance de sua ação, que levou ao desenvolvimento de uma forma de religiosidade mais nacional que universal” (MARTINA, 2014, p. 112).
O luteranismo foi um movimento socialmente alemão. Se de um lado Lutero queria uma reforma religiosa, do outro o povo e os governantes alemães queriam independência política e econômica. Mas como assim? Naquele tempo existia entre os alemães um tipo de sentimento “anti-romano”, ou seja, um aversão e repúdio ao poder da Igreja Romana.

Várias nações europeias pagavam altas taxas e tributos a Roma. Então, era necessário que algum movimento revolucionário acontecesse para libertar os alemães das amarras políticas da Igreja Romana. Nesse sentido a reforma de Lutero serviu como um meio de libertação política e social.


4. AS CONSEQUÊNCIAS DA REFORMA.
Sem dúvida a Reforma Protestante deixou marcas profundas na história do cristianismo como na cultural ocidental, e até nos dias atuais ainda é possível sentir as consequências deste movimento religioso.  Podemos falar em pontos positivos e negativos.

Um dos pontos negativo foi o “esfacelamento” da unidade cristã. Antes do advento do protestantismo; a cristandade europeia vivia em unidade cristã, havia somente uma única Igreja e todos participavam dela. Entretanto, a partir de 1517 a unidade cristã foi perdendo sua essência. Qualquer pessoa (que nem precisa ser um especialista em estudos da religião), percebe a falta de unidade entre as próprias igrejas protestantes ou evangélicas. Quase sempre essas igrejas de dividem gerando outras igrejas e comunidades.

Outro ponto negativo foi as “guerras religiosas” entre católicos e protestantes no decorrer da história. Nas palavras de Martina (2014, p. 169), “A única coisa certa é que, em nome de Cristo, os cristãos europeus, por ao menos meio século, mataram-se mutuamente, sem economizar golpes”.

Outro fato (que talvez não seja tão negativo para alguns) é que com a Reforma há uma mudança de paradigma político. "Antes o Estado era submisso a Igreja; depois é a Igreja que passa a ser submissa ao Estado".
“A religião reformada apresentava as reformas religiosas como a tentativa de libertação da opressão romana. [...] Na Idade Média predomina, de um modo ou de outro, a tendência de subordinar o Estado à Igreja, de modo mais ou menos rígido, segundo as várias escolas. [...]. Na idade moderna, a situação, sobretudo por obra do protestantismo, dá uma reviravolta, e a Igreja se subordina ao Estado”. (MARTINA, 2014, p. 170).  
Esses são alguns dos pontos negativos que a Reforma criou, mas além disso, o que de positivo a Reforma Protestante gerou? Podemos citar alguns pontos, como: 
  1. O desejo por um cristianismo mais puro e íntimo, sem estar preso e sufocado pelas superstições e tradições dos homens;
  2. Maior liberdade religiosa, no que diz respeito a conhecer a Deus e ler e interpretar as Escrituras;
  3. Liberdade política, em que cada nação seja livre e autônoma social e economicamente;
  4. Que cada cristão seja livre e responsável, sem precisar estar debaixo do jugo de algum sacerdote. 

Esses são alguns pontos que podemos chamar de positivos. Mas depois de toda essa informação histórica, podemos neste momento fazer uma pergunta: Se Lutero ainda estivesse vivo o que ele pensaria do atual contexto protestante mundial depois de 500 anos?


Fontes:
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo. Vida Nova, 1993.
MARTINA, Giacomo. História da Igreja: de Lutero a nossos dias. Vol. I – O período da Reforma. São Paulo. Loyola, 2014.

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