O movimento
religioso historicamente conhecido como Reforma Protestante foi um dos maiores cismas que já aconteceu em toda à história do cristianismo. A partir dele outros movimentos religiosos menores
foram surgindo, que neste caso deu origem às várias igrejas e seitas
“evangélicas” que conhecemos como: luteranos, calvinistas, presbiterianos, metodistas,
puritanos, anglicanos, batistas, pentecostais, neo pentecostais, adventistas,
testemunhas de Jeová, etc.
Mas será que as ideias e crenças da Reforma ainda são relevantes para o nosso tempo? Sabemos que em
alguns lugares da Europa nos quais o movimento teve seu início, muitas igrejas e
comunidades protestantes fecharam suas portas, isto é, deixaram de praticar a
fé. Também existe a falta de unidade
entre os próprios protestantes. “Nem sempre eles falam a mesma língua”, isso
porque às comunidades protestantes (evangélicas) são independentes umas das
outras. Cada uma têm sua própria forma de liturgia e doutrina.
Por exemplo,
existe muita diferença entre um culto (ritual) celebrado em uma comunidade
pentecostal para o que é celebrado em uma igreja protestante histórica. No
primeiro caso dá-se ênfase ao “êxtase emocional”, no segundo ao “sermão bíblico
racional”. Com isso pode-se dizer que existe uma certa diversidade entre as
comunidades protestantes.
O objetivo deste
texto é mostrar de forma resumida quais foram as causas que deram origem ao
movimento protestante e também conhecer as consequências que isso trouxe para a
sociedade. Como o protestantismo possui vários ramos, neste texto dar-se-á mais
atenção ao luteranismo, por ser o protagonista do movimento protestante.
1. MARTINHO LUTERO (1483-1546).
O primeiro passo
para se conhecer qualquer movimento religioso é saber quem foi o seu
fundador (mas, diga-se de passagem, que nem toda religião tem um fundador).
Então, para se conhecer as causas e consequências da Reforma Protestante é
imprescindível conhecer um pouco sobre Martinho Lutero. Felizmente há muito material escrito e publicado sobre a vida de Lutero. No entanto, daremos destaque a alguns pequenos detalhes sobre a vida do reformador alemão.
Um detalhe interessante que as pessoa precisa saber sobre Lutero é que ele nunca quis
que os seus seguidores fossem chamados de “luteranos”, muito pelo contrário,
ele queria que todos fossem conhecidos como cristãos. É possível afirmar que Lutero
repudiava o “culto à personalidade”, isto é, prestar-lhe devoção e adoração
como qualquer outro “santo”.
“A primeira coisa que peço é que as pessoas não façam uso de meu nome e não se chamem luteranas, mas cristãs. Que é Lutero? O ensino não é meu. Nem fui crucificado por ninguém. [...] Como eu, miserável saco de larvas que sou, cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome? ” (LUTERO apud GEORGE, 1993, p. 55).
Mas quem foi
Lutero? Existem várias respostas para essa pergunta, dependendo da visão que as
pessoas tenham sobre o fundador do protestantismo. Na visão católica tradicional,
Lutero foi um herege, um louco, um “instrumento do diabo” para dividir a Igreja
e causar confusão. Para os protestantes ele foi “um instrumento usado por Deus”
para trazer liberdade aos que eram escravos da ignorância de uma Igreja
opressora. Já os alemães nacionalistas celebram-no como um herói do povo e “pai
de seu país”.
Essas são apenas
algumas caricaturas que se faz sobre a pessoa de Lutero, contudo, nenhuma delas
explica detalhadamente a sua personalidade e inteligência. Para se conhecer
Lutero é necessário conhecer sua história e crenças.
Lutero em alguns
momentos de sua vida passou por várias dúvidas e crises de fé. Por mais que fosse fiel
aos dogmas e rituais da Igreja, ele nunca encontrava alegria e paz interior. As
orações, os jejuns, as vigilas e boas obras não lhe proporcionavam satisfação.
Considerando esses fatos talvez possamos supor que as reais origens do movimento
protestante foram as angústias e contradições de “um cristão insatisfeito”.
“Todas as suas tentativas de satisfazer Deus – orações, jejuns, vigílias, boas obras – deixavam-no com uma consciência totalmente intranquila. Seu humor variava do desespero por todos os seus erros a uma ira fervente em relação a Deus: “Eu não amava, na verdade odiava, aquele Deus que punia os pecadores; e, com um murmurar monstruoso, silencioso, se não blasfemo, enfureci-me contra Deus” (GEORGE, 1993, p. 64).
Lutero foi o
reflexo da insatisfação religiosa que dominou os corações de milhares de cristãos
que viveram no século XVI. Existiram vários fatores que contribuíram para essa
insatisfação. Conheçamos agora as causas que deram origem ao movimento
protestante.
2. AS CAUSAS RELIGIOSAS.
Insatisfação,
indignação e decepção são palavras-chaves de nos ajudam a entender o “clima
religioso” da Europa e mais especificamente na Alemanha de Lutero no século
XVI. A Igreja, juntamente com sua liderança, não tinha mais crédito na
sociedade. A vida luxuosa e corrupta dos Papas, a decadência moral dos padres e
o abandono dos ensinos de Cristo.
Nas palavras do
historiador católico Martina (2014, p. 15), “Uma
Igreja que não tenha nenhuma influência sobre a sociedade em que vive, que lhe
seja alheia e adversa, se mostra, não sem fundamento, como uma velharia de
museu, e não como a fonte de água viva de que todos bebem”.
Antes de Lutero
existiram outras pessoas que tentaram, mas sem sucesso, convencer o Papa e a
cúria romana a reconhecerem os seus erros e voltarem aos princípios essenciais do
evangelho de Cristo. Entretanto, o clima não era propício para que isso
acontecesse. As pessoas queriam um cristianismo mais puro e simples; um melhor
conhecimento das Escrituras e uma piedade mais verdadeira dominada pela
compaixão e misericórdia de Cristo.
A situação podia ser comparada a uma “bomba” pronta para explodir. Só precisava de alguém que
apertar-se o botão para que a explosão acontecesse. E quem apertou o botão foi
Lutero.
A história mostra
que de tempos em tempos a religião cristã sempre passou (e passa) por momento
de crise e renovação. Os momentos de crise acontecem, geralmente, quando os
cristãos abandonam as suas convicções e crenças. Já os momentos de renovação
surgem quando há um tipo de “despertar” entre os cristãos, que faz com que eles
se aproximem do transcendente.
3. CAUSAS POLITICAS E SOCIAIS.
Direta ou indiretamente
quase todo movimento religioso influência o contexto social onde está inserido;
e essa influência pode causar grandes transformações e mudanças de paradigmas. Muitas
vezes para que haja uma “revolução social” é fundamental que alguém dê o
primeiro passo.
“... Lutero era capaz de inflamar e arrastar as massas populares e de convencer e engajar os intelectuais. Em síntese, Lutero não determinou o surgimento da revolta, mas apressou seus passos e jogou sobre ela o peso de sua forte personalidade, acrescentando-lhe eficácia. De outra parte, o próprio temperamento tipicamente alemão de Lutero acabou por diminuir o alcance de sua ação, que levou ao desenvolvimento de uma forma de religiosidade mais nacional que universal” (MARTINA, 2014, p. 112).
O luteranismo foi
um movimento socialmente alemão. Se de um lado Lutero queria uma reforma
religiosa, do outro o povo e os governantes alemães queriam independência política e econômica.
Mas como assim? Naquele tempo existia entre os alemães um tipo de sentimento
“anti-romano”, ou seja, um aversão e repúdio ao poder da Igreja Romana.
Várias nações
europeias pagavam altas taxas e tributos a Roma. Então, era necessário que
algum movimento revolucionário acontecesse para libertar os alemães das amarras
políticas da Igreja Romana. Nesse sentido a reforma de Lutero serviu como um
meio de libertação política e social.
4. AS CONSEQUÊNCIAS DA REFORMA.
Sem dúvida a
Reforma Protestante deixou marcas profundas na história do cristianismo como na
cultural ocidental, e até nos dias atuais ainda é possível sentir as consequências
deste movimento religioso. Podemos falar
em pontos positivos e negativos.
Um dos pontos
negativo foi o “esfacelamento” da unidade cristã. Antes do advento do
protestantismo; a cristandade europeia vivia em unidade cristã, havia somente
uma única Igreja e todos participavam dela. Entretanto, a partir de 1517 a unidade
cristã foi perdendo sua essência. Qualquer pessoa (que nem precisa ser um
especialista em estudos da religião), percebe a falta de unidade entre as
próprias igrejas protestantes ou evangélicas. Quase sempre essas igrejas de
dividem gerando outras igrejas e comunidades.
Outro ponto
negativo foi as “guerras religiosas” entre católicos e protestantes no decorrer
da história. Nas palavras de Martina (2014, p. 169), “A única coisa certa é
que, em nome de Cristo, os cristãos europeus, por ao menos meio século,
mataram-se mutuamente, sem economizar golpes”.
Outro fato (que talvez
não seja tão negativo para alguns) é que com a Reforma há uma mudança de
paradigma político. "Antes o Estado era submisso a Igreja; depois é a Igreja que
passa a ser submissa ao Estado".
“A religião reformada apresentava as reformas religiosas como a tentativa de libertação da opressão romana. [...] Na Idade Média predomina, de um modo ou de outro, a tendência de subordinar o Estado à Igreja, de modo mais ou menos rígido, segundo as várias escolas. [...]. Na idade moderna, a situação, sobretudo por obra do protestantismo, dá uma reviravolta, e a Igreja se subordina ao Estado”. (MARTINA, 2014, p. 170).
Esses são alguns
dos pontos negativos que a Reforma criou, mas além disso, o que de positivo a
Reforma Protestante gerou? Podemos citar alguns pontos, como:
- O desejo por um cristianismo mais puro e íntimo, sem estar preso e sufocado pelas superstições e tradições dos homens;
- Maior liberdade religiosa, no que diz respeito a conhecer a Deus e ler e interpretar as Escrituras;
- Liberdade política, em que cada nação seja livre e autônoma social e economicamente;
- Que cada cristão seja livre e responsável, sem precisar estar debaixo do jugo de algum sacerdote.
Esses são alguns
pontos que podemos chamar de positivos. Mas depois de toda essa informação histórica,
podemos neste momento fazer uma pergunta: Se Lutero ainda estivesse vivo o que
ele pensaria do atual contexto protestante mundial depois de 500 anos?
Fontes:
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo.
Vida Nova, 1993.
MARTINA, Giacomo. História da Igreja: de Lutero a nossos dias.
Vol. I – O período da Reforma. São Paulo. Loyola, 2014.
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