Há muitos detalhes sobre a vida dos cristãos primitivos que nós desconhecemos. Existe muita literatura escrita e publicada contando e recontando a história deles. A principal fonte é o livro histórico dos Atos do Apóstolos, escrito pelo médico Lucas, que segundo a tradição cristã foi companheiro de viagens do apóstolo Paulo. Depois vem outras literaturas históricas que procuram fazer algumas complementações sobre como era o cotidiano da comunidade cristã primitiva. Mas aqui cabe uma observação: tem sido dada muita ênfase às atividades dos homens, e pouquíssima coisa é dita sobre à atuação das mulheres.
Pessoalmente comparo a história dos cristãos primitivos como um "grande bolo", no qual o livro dos Atos dos apóstolos é apenas uma "pequena fatia" deste bolo. Ou seja, Lucas não diz tudo o que aconteceu naquela época do primeiro século da era cristã. Há muito mais coisas para serem descobertas e escritas.
O presente texto tem como objetivo dar destaque especial à atuação das mulheres na sociedade de seu tempo, e como elas contribuíram na expansão da religião cristã antiga. E ao mesmo tempo conhecer um pouco melhor o "contexto social" onde elas viveram.
1. A decadência moral do mundo greco-romano clássico.
Historicamente a religião cristã surgiu em um contexto onde quem dominava o mundo era o Império Romano. Naquele tempo à sociedade era politicamente dominada pelos romanos e intelectualmente dominada pelo pensamento grego. Com essa junção surgiu o que podemos chamar de ambiente "greco-romano".
Naquela sociedade o homem era o centro de tudo, isto é, os homens eram quem ditavam as regras. Em um contexto como esse, onde homem é o chefe supremo, as mulheres não tinham vez e voz. Elas tinham um status inferior na sociedade. As mulheres romanas e atenienses sofriam bastante.
Além desse fato, existia uma prática mais desumana: o aborto e o infanticídio de crianças recém-nascidas. Penso que em uma sociedade onde esse tipo de prática é aprovada, ela não ficará de pé por muito tempo. Talvez esse tenha sido um dos motivos da desgraça do mundo greco-romano.
No mundo greco-romano o número de homens era maior do que o das mulheres. Isso por causa do aborto. Muitas mulheres morriam ao abortarem seus bebês. E os métodos abortivos da época eram muito inadequados.
Esses fatores sociais servem para mostrar o que pode levar uma sociedade ao declínio. Por trás de todos os problemas sociais, culturais e econômicos, existe o declínio moral. Não é à toa que grandes reinos e impérios caíram. E qualquer semelhança com o Brasil e com outros países não é mera coincidência!
2. A contribuição das mulheres na expansão do cristianismo primitivo.
A situação das mulheres dentro da religião cristã era muito melhor, comparando com à realidade das mulheres pagãs do mundo greco-romano. O cristianismo antigo tinha valores que proporcionavam as mulheres a terem um "status mais elevado" dentro da comunidade cristã.
Se no mundo greco-romano pagão tinha mais homens do que mulheres. No cristianismo antigo a situação era inversa: tinha mais mulheres do que homens. Essa diferença parte do princípio de que dentro da religião existiam normas éticas que proibiam o aborto e o infanticídio de crianças de ambos os sexos. É possível supor que nasciam mais meninas do que meninos.
Tudo também indica que as mulheres assumiam posições de liderança dentro da religião. Mas diga-se de passagem que esse é um tema que causa muita polêmica em algumas comunidades cristãs tradicionais contemporâneas.
Para concluir podemos dizer que o cristianismo antigo foi, em sua época, um movimento religioso revolucionário, porque ele trouxe dignidade e respeito para as mulheres, coisa que o mundo greco-romano pagão desconhecia.
Fonte:
STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo: Um sociólogo reconsidera a história. São Paulo. Paulinas, 2006.
Pessoalmente comparo a história dos cristãos primitivos como um "grande bolo", no qual o livro dos Atos dos apóstolos é apenas uma "pequena fatia" deste bolo. Ou seja, Lucas não diz tudo o que aconteceu naquela época do primeiro século da era cristã. Há muito mais coisas para serem descobertas e escritas.
O presente texto tem como objetivo dar destaque especial à atuação das mulheres na sociedade de seu tempo, e como elas contribuíram na expansão da religião cristã antiga. E ao mesmo tempo conhecer um pouco melhor o "contexto social" onde elas viveram.
1. A decadência moral do mundo greco-romano clássico.
Historicamente a religião cristã surgiu em um contexto onde quem dominava o mundo era o Império Romano. Naquele tempo à sociedade era politicamente dominada pelos romanos e intelectualmente dominada pelo pensamento grego. Com essa junção surgiu o que podemos chamar de ambiente "greco-romano".
Naquela sociedade o homem era o centro de tudo, isto é, os homens eram quem ditavam as regras. Em um contexto como esse, onde homem é o chefe supremo, as mulheres não tinham vez e voz. Elas tinham um status inferior na sociedade. As mulheres romanas e atenienses sofriam bastante.
"O status das mulheres atenienses era muito inferior. As meninas recebiam pouca ou nenhuma educação. Em geral, as mulheres de Atenas casavam-se na puberdade e muitas vezes até antes. Segundo a lei ateniense, a mulher era considerada como criança, independentemente da idade, e, portanto, constituía propriedade legal de alguns homens em todos os estágios de sua vida. Os homens podiam divorciar-se pela simples dispensa de uma esposa da casa. Além disso, se uma mulher fosse seduzida ou raptada, seu marido era legalmente obrigado a divorciar-se dela. Se uma mulher quisesse o divórcio, seu pai ou algum outro homem tinha de levar o caso à apreciação de um juiz. Por fim, as mulheres atenienses podiam possuir bens, mas o controle da propriedade sempre cabia aos homens, aos quais ela "pertencia". (STARK, 2006, p.117).Pelo que podemos ver, as leis eram feitas para proteger e conceder mais direitos aos homens do que para as mulheres. Igualdade entre homens e mulheres era algo estranho para o mundo greco-romano. É possível afirmar que nesse contexto a mulher era mais considerada com um objeto do que como pessoa.
"Era comum abandonar ao relento uma criança indesejada, pois assim ela podia, em principio, ser recolhida por alguém que desejasse criá-la, mas nessas condições geralmente era vitimada pelas intempéries ou pelo animais e pássaros. O abandono de crianças era prática não só muito corriqueira, como também legalmente justificada e defendida pelos filósofos" (STARK, 2006, p. 134).Nem tudo o que os filósofos gregos disseram ou ensinaram merece o nosso respeito. Qualquer tipo de filosofia que pregue ou incentive à morte de inocentes deve ser descartada.
No mundo greco-romano o número de homens era maior do que o das mulheres. Isso por causa do aborto. Muitas mulheres morriam ao abortarem seus bebês. E os métodos abortivos da época eram muito inadequados.
"Dessa forma, o aborto não só impedia a ocorrência de muitos nascimentos, como também levava à morte grande número de mulheres, antes que pudessem dar sua contribuição à fertilidade. O resultado dessa prática era uma incidência significativa de casos de infertilidade nas mulheres que sobreviviam aos abortos" (STARK, 2006, p. 135).Há algumas razões para que a prática do aborto no mundo greco-romano fosse tão comum: 1) Promiscuidade - é possível que mulheres casadas (e também solteiras) engravidavam de outro homem na ausência do marido, e com isso, secretamente praticavam o aborto; 2) Questões econômicas - mulheres pobres abortavam por não terem condições de sustentar um filho, e as mulheres ricas faziam aborto para não compartilhar os seus bens com muitos herdeiros; 3) O poder do homem - a legislação romana dava ao homem o poder de vida e morte sobre os membros da família. Tudo indica que uma das maiores causas de aborto no mundo greco-romano vinha por determinação masculina. Quando uma criança era indesejada o marido mandava a esposa ou amante abortar. Somente bebês com boa formação física e do sexo masculino poderiam viver.
Esses fatores sociais servem para mostrar o que pode levar uma sociedade ao declínio. Por trás de todos os problemas sociais, culturais e econômicos, existe o declínio moral. Não é à toa que grandes reinos e impérios caíram. E qualquer semelhança com o Brasil e com outros países não é mera coincidência!
2. A contribuição das mulheres na expansão do cristianismo primitivo.
A situação das mulheres dentro da religião cristã era muito melhor, comparando com à realidade das mulheres pagãs do mundo greco-romano. O cristianismo antigo tinha valores que proporcionavam as mulheres a terem um "status mais elevado" dentro da comunidade cristã.
Se no mundo greco-romano pagão tinha mais homens do que mulheres. No cristianismo antigo a situação era inversa: tinha mais mulheres do que homens. Essa diferença parte do princípio de que dentro da religião existiam normas éticas que proibiam o aborto e o infanticídio de crianças de ambos os sexos. É possível supor que nasciam mais meninas do que meninos.
"Em primeiro lugar, um aspecto importante do avançado status das mulheres na subcultura cristã é que as cristãs não toleravam o infanticídio. Isso decerto era o resultado da proibição contra todos os infanticídios. No entanto, a concepção mais favorável do cristianismo em relação às mulheres também é demonstrada em sua condenação do divórcio, do incesto, da infidelidade conjugal e da poligamia". (STARK, 2006, p. 119).Havia muitas mulheres solteiras, férteis e prontas para o casamento. Mas como o número de homens cristãos era menor, muitas dessas mulheres se casaram com homens pagãos do mundo greco-romano. E isso gerou um grande número de casamentos exogâmicos, isto é, casamentos mistos. Os homens acabavam se "convertendo" à religião da esposa, e muito provavelmente os filhos que eram gerados foram sendo criados nos princípios da religião cristã.
"Tanto Pedro como Paulo sancionaram o casamento entre cristãos e pagãos. Pedro exortava que as mulheres de maridos inconvertidos se sujeitassem a eles, de modo que os homens pudessem ser atraídos para a fé ao "observarem vosso comportamento casto e respeitoso" (1Pd 3,1-2). Paulo dá instruções semelhantes, notando que "o marido incrédulo é santificado pela esposa" (1Cor 7,13-14). Ambas as passagens são comumente interpretadas como dirigidas a pessoas cuja conversão se dera após o casamento" (STARK, 2006, p. 127).Também é possível afirmar que algumas dessas mulheres tiveram à sorte de contrair núpcias com homens da elite romana. Esses casamentos mistos geraram muitas "conversões secundarias", para à religião cristã. Ou seja, as mulheres abraçavam a fé (conversão primária), e os homens por causa da influência religiosa da esposa também abraçavam a fé (conversão secundária). Sem dúvida o cristianismo antigo era muito atraente para as mulheres.
Tudo também indica que as mulheres assumiam posições de liderança dentro da religião. Mas diga-se de passagem que esse é um tema que causa muita polêmica em algumas comunidades cristãs tradicionais contemporâneas.
"No que se refere ao status das mulheres na Igreja primitiva, acredita-se muito na passagem de 1Cor 14,34-35, em que Paulo parece proibir as mulheres até de falar na Igreja. Laurence Iannaccone (1982) sugeriu que esses versículos teriam sido o oposto da posição de Paulo, configurando-se na realidade como citação de alegações feitas em Coríntios e que Paulo então refutara. Certamente a afirmação discrepa de qualquer coisa mais que Paulo tenha escrito a respeito do papel adequado das mulheres na Igreja. Além disso, por diversas vezes Paulo reconhece as mulheres em posição de liderança em várias comunidades" (STARK, 2006, p. 123).É comprovado que na religião cristã antiga as mulheres assumiam a função de "diaconisas" (servas), e que estavam a frente das obras de caridade e beneficência. Houve uma diaconisa na cidade de Roma cujo o nome era Febe, que contribuía na ordem litúrgica dos cultos e na obra social.
"Em Rm 16,1-2, Paulo apresenta e recomenda à comunidade de Roma "nossa irmã Febe, diaconisa da Igreja de Cencréia", que lhe fora de grande préstimo. Os diáconos tinham importância considerável na Igreja primitiva, prestando assistência às funções litúrgicas e administrando as atividades beneficentes e assistenciais da Igreja" (STARK, 2006, p. 124).É grande a diferença entre o mundo greco-romano pagão e o cristianismo primitivo, em relação a atitude para com as mulheres. Mas por trás disso existe algo machado "cosmovisão", isto é, visão de mundo. O cristianismo primitivo nasceu em um contexto onde o poder do macho (machismo) era a ideologia dominante. Já a religião cristã defendia (e defende) que "homens e mulheres são juntos "a imagem e semelhança de Deus", e com isso um não pode subjugar o outro.
Para concluir podemos dizer que o cristianismo antigo foi, em sua época, um movimento religioso revolucionário, porque ele trouxe dignidade e respeito para as mulheres, coisa que o mundo greco-romano pagão desconhecia.
Fonte:
STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo: Um sociólogo reconsidera a história. São Paulo. Paulinas, 2006.
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