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1 de março de 2017

A BÍBLIA E O ALCORÃO - Um estudo comparado.


Tanto judeus como cristãos consideram a Bíblia como a palavra de Deus. Ela é a revelação de Deus para a humanidade. Por outro lado, para a comunidade muçulmana o Alcorão é a autentica palavra de Deus. Mas o que existe de comum e divergente entra a Bíblia e o Alcorão? Este é o objetivo deste sucinto texto: colocar a Bíblia e o Alcorão frente a frente, e com isso descobrir quais são os pontos comuns e os divergentes entre esses dois livros sagrados. 

1. A Bíblia dentro do Alcorão. 
Judaísmo, cristianismo e islamismo são religiões de revelação. Elas tem o objetivo de tornar Deus (Javé, Jesus ou Allá) conhecido. Das três o Judaísmo é a crença monoteísta mais antiga. Em parte, o cristianismo e o islamismo tomam emprestado alguns princípios das escrituras judaicas para fundamentar as suas doutrinas e escrituras. Sem dúvida Maomé conhecia a Torá judaica e o Evangelho cristão.
"Maomé conhecia antes de tudo o Pentateuco, especialmente o Livro do Gênesis. Ele conhecia tradições provenientes dos livros históricos, tal como a história de Davi e Golias (Sura 2.250), conhecia Davi e Salomão (34.10-12), mas não conhecia os profetas e os livros sapienciais. [...] As constantes repetições das histórias da criação, de Abraão e de Moisés são as que mais causam impressão de que o Antigo Testamento esteja tão amplamente presente no Alcorão, embora as variantes narrativas possam desfazer um pouco os estereótipos de estrutura narrativa" (GNILKA, 2006, p. 64).
Nenhuma religião é singular. Toda nova religião é influenciada ou nasce de outra mais antiga. Uma coisa comum entre o Evangelho cristão e o Alcorão islâmico, é que ambos buscaram no Antigo Testamento judaico à base para se fundamentarem. Aqui encontramos um ponto de convergência.

Mas como foi que Maomé teve contato com as Escrituras hebraicas e cristãs? Infelizmente há pouquíssimas fontes históricas que mostrem detalhadamente esse encontro "ecumênico". Conjectura-se que em Meca e Medina (que foram as duas cidades árabes onde Maomé exerceu sua influência), provavelmente haviam comunidades judaicas e cristãs. Há uma passagem no Alcorão onde Maomé cita "as tretas" que existiam entre judeus e cristãos: 

Os judeus dizem: "Os cristãos não se baseiam em nada". E os cristãos dizem: "Os judeus não se baseiam em nada". Uns e outros, porém, recitam as Escrituras. E os que nada sabem fazem as mesmas alegações. Deus julgará suas disputas no dia da Ressurreição (Alcorão 2.113).  

Tudo indica também que Maomé tinha algum conhecimento sobre os evangelhos apócrifos. Há trechos do Alcorão que citam os "supostos" milagres que Jesus fez quando era criança.

E Deus dirá a Jesus: "Ó Jesus, filho de Maria, lembra-te de Minha graça sobre ti e sobre tua mãe quando te fortaleci com o Espírito Santo, e falaste aos homens no berço e na tua idade madura. E quando te ensinei o Livro, a sabedoria, a Torá e o Evangelho, e quando, Eu permitindo, modelaste com barro uma figura de pássaro e sopraste nela, e ela era pássaro. E quando, com Minha permissão, curava os cegos e os leprosos e ressuscitava os mortos. E quando te protegi contra os filhos de Israel na época em que lhes dava as provas, e os descrentes dentre eles diziam: 'Tudo isso não passa de magia.' (Alcorão 5. 110). 

Mas por que Maomé consultou as Escrituras judaicas e cristãs? Será que as revelações divinas que ele recebeu através do anjo Gabriel não eram suficientes? Pode-se supor que o discurso monoteístas das Escrituras judaico-cristãs era importante para Maomé, porque esse também era o seu discurso. Abraão, Moisés e Jesus foram rejeitados pelos seus. Maomé também foi rejeitado. É possível dizer que Maomé encontrou uma inspiração nos personagens bíblicos, apesar da tradição islâmica considerar Maomé como o último profeta de Deus. 

2. Pontos teológicos. 
Nesta parte descobriremos quais são os pontos convergentes e divergentes entre à Bíblia e o  Alcorão. 

2.1. Convergências.
a) Bíblia e o Alcorão são livros de religiões de revelação, isto é, Deus se revela aos homens através do texto escrito. E esses textos acabaram sofrendo à influência do contexto cultura de onde surgiram.

b) O monoteísmo é um ponto em comum entre o Antigo testamento e o Alcorão. Somente existe um único Deus. Neste caso o politeísmo (adoração a várias divindades) é totalmente rejeitado. O Deus da Bíblia é o Deus do Alcorão. Mas o Alcorão interpreta esse Deus de uma forma diferente. No entanto, o conceito cristão de Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), não defendido no Alcorão. 

c) Bíblia e o Alcorão concordam que Deus criou os céus e terra.

d) No Alcorão Jesus é respeitado como um "grande profeta" de Deus. Maria mãe de Jesus também é muito respeitada.

e) Abraão é o maior elo de ligação entre a Bíblia e o Alcorão. "Abraão é modelo para o Alcorão pelo fato de se ter convertido ao monoteísmo. Para o povo judeu Abraão é o patriarca" (GNILKA, 2006, p. 217).

f) A Bíblia e o Alcorão concordam que a raça humana teve sua origem em Adão. Mas, o entendimento cristão de "pecado original", isto é, que em Adão toda à humanidade caiu em pecado, não encontra apoio do Alcorão. Cada um é responsável pelos seus erros.

g) O Novo testamento e o Alcorão concordam que haverá à ressurreição dos mortos.  

2.2. Divergências.
a) O conceito cristão de que Deus se revelou em Jesus de Nazaré é rejeitado pelo Alcorão. Deus se revelou em um livro, e esse é o Alcorão. 

b) O Alcorão reconhece Jesus como "filho de Maria" e não como "Filho de Deus". A divindade de Cristo é negada pelo Alcorão. A divindade de Jesus defendida pelos cristãos entra em conflito com o monoteísmo. Nesse ponto judeus ortodoxos e muçulmanos andam juntos.  

c) No Alcorão a redenção é produto do esforço humano, ou seja, é o próprio homem que pela sua submissão e obediência aos preceitos corânicos, alcançará a ressurreição. A redenção do ponto de vista cristão, não tem apoio no Alcorão.

d) Na Bíblia Isaac e seus descendentes são os herdeiros de Abraão. No Alcorão é Ismael filho da escrava Agar o verdadeiro descendente abraâmico. Aqui está a origem da guerra entre israelenses e palestinos! 

3. Conclusão.
Podemos ver que existe mais concordância entre o Antigo Testamento judeu e o Alcorão do que com o as Escrituras cristãs. E é notório que o "divisor de águas" é a visão que cada livro tem sobre Jesus. É possível dizer que o maior fundamento da mensagem de Maomé foi o monoteísmo, a crença que existe um único Deus. Assim, a divindade de Cristo e o conceito de Trindade entram em choque com o conceito de Deus corânico.  

Fontes:
O Alcorão: livro sagrado do Islã. 
GNILKA, Joachim. Bíblia e Alcorão: o que os une - o que os separa. São Paulo. Loyola, 2006. 

Um comentário:

  1. 03.02.2020
    NEGÓCIOS, FEIRAS E APOSTAS DIVINAS. Uma vez mercador do templo, sempre mercador. Se Jeová fazia apostas com Satanás (dois desocupados apostadores), como, por exemplo, no caso de Jó, então essas duas divindades adversárias não se importarão que Jair Bolsonaro faça negócios com países islâmicos (Arábia Saudita e Iran), tampouco com ateus (China). (L.C. BALREIRA).

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