Contribuição

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24 de janeiro de 2017

RELIGIOSIDADE AFRICANA: conhecendo um pouco sobre nossas raízes.

É possível dizer que geneticamente todo brasileiro tem um pouco de africanidade no sangue. E isto é comprovado pela herança cultural que os africanos deixaram na formação do Brasil desde os tempos da colonização portuguesa. Conhecer a cultura e a religiosidade africana é ao mesmo tempo conhecer um pouco melhor à nossa própria formação histórica.

O presente texto tem o objetivo de mostrar alguns aspectos peculiares da religiosidade do povo africano, e ao mesmo tempo suscitar reflexão e conscientização sobre a relevância de respeitar os seus costumes e crenças. 
Três religiões dominam a África moderna. O cristianismo se encontra sobretudo no sul e ao longo dos litorais leste e oeste. O centro do Islã fica na África setentrional árabe, mas historicamente essa religião sempre teve penetração também ao sul do Saara. Há, por fim, as religiões primais, ou tribais, ou tradicionais, as mais difundidas antes da invasão cultural ocidental e árabe. Na África moderna, a estrutura tradicional baseada na aldeia está desaparecendo e, juntamente com ela, o fundamento das antigas religiões, que era a vida familiar e tribal. As religiões africanas tradicionais não têm textos escritos, o que torna seu estudo difícil para os pesquisadores. Boa parte do conhecimento que temos sobre essas religiões, reunidos durante os últimos séculos, apóia-se nos relatos de observadores europeus, sejam eles mercadores, colonizadores ou missionários (GAARDER; NOTAKER;HELLERN, 2000, p.89).
As religiões tribais africanas são essencialmente "animistas", isto é, acreditam que em todos os lugares existe algum tipo de espírito, e são esses espíritos os responsáveis pela vida e movimento da vida. Por causa dessa crença, as religiões africanas olham tudo ao seu redor como sagrado. Uma coisa interessante é a preservação da natureza. Para o africano o homem tem o dever de estar em harmonia com a natureza, e em troca ela o recompensará lhe dando a chuva e uma boa safra.   


Animismo - "Crença em seres espirituais", segundo definição do etnólogo inglês E.B. Tylor (1832-1917). Em sentido amplo, o termo indica o conjunto de crenças pertinentes a um princípio superior (força vital, alma) que existe nos lugares e objetos (Dicionário histórico de religiões, p. 35).


Estudar e compreender a mitologia africana é a forma mais sensata para analisar a religiosidade africana. Os mitos foram passados de geração em geração pela oralidade, ou seja, os mais velhos narravam e explicavam aos mais jovens as histórias e façanhas dos deuses e dos antepassados míticos na criação do mundo. 
"Baseando-se nos mitos, que nunca eram escritos, mas passados oralmente de geração em geração, os estudiosos já tentaram descobrir o que caracteriza a crença divina dos africanos. Na maioria das tribos existe a crença num deus supremo, embora este receba muitos nomes. Normalmente associado ao céu, é ele que concede a fertilidade, e em alguns mitos é representado ao lado da deusa associada à terra. Foi esse deus supremo que criou todas as coisas vivas, os animais e o ser humano. Foi ele ainda o responsável pelos decretos que regulam a sociedade, pelos costumes a que a tribo tem o dever de obedecer. (GAARDER; NOTAKER; HELLERN, 2000, p. 91)".
Qualquer semelhança com o Deus judaico-cristão (Javé) não é mera coincidência. Se os africanos tivessem deixado escrito todas as suas crenças muito provavelmente teriam melhor preservado as suas  tradições. Esse é o lado bom de se ter textos escritos, eles são um eficaz meio de preservação. Vejamos agora algumas divindades da mitologia africana e que com o passar do tempo já fazem parte das religiões de matriz africana-brasileira. 

1. Iansã (Oiá) - Deusa das tempestades, dos ventos e da sexualidade feminina. Domina os eguns (mortos). Antes mulher de Ogun, fugiu de Xangô, que a seduzira, o que provocou grandes lutas entre os orixás.

2. Ogum - Deus do ferro e da guerra. Vencedor das Demandas. Artífice da forja, patrono das armas manuais, vida cheia de aventuras amorosas. Segundo filho de Iemanjá, aventureiro e conquistador de reinos.


3. Xangô - Poderoso orixá iorubá, deus dos raios e do trovão, filho de Iemanjá e Oxalá. Foi grande rei, orgulhoso e dominador, mas justo.


4. Oxalá - Grande pai do orixás. Filho de Olórum, o criador supremo, criou o mundo e a humanidade. Possui duas formas: um guerreiro vigoroso e nobre, Oxaguiã, e um ancião cheio de bondade, Oxalufã.


5. Exu -  Mensageiros do orixás, é um diabrete que mantém a ordem e pune os transgressores. Primeiro filho de Oxalá e Iemanjá, foi expulso de casa por ser muito travesso, e o país onde vivia ficou na miséria até que lhe foram dados presentes; por isso é o primeiro a receber oferendas nos rituais. [...] No sincretismo religioso foi associado ao diabo cristão e transformado em uma multidão de entidades que formam o Povo da Rua e as linhas da quimbanda. (Dicionário histórico de religiões, p. 424). 


Será que o deus africano Exu e o diabo bíblico são o mesmo personagem? Certamente não. Há três diferenças entres eles: 


1) Exu é um deus para os africanos. No caso do diabo, segundo alguns especialistas, ele foi um ser (anjo) criado pelo Deus Javé, que com o passar do tempo se corrompeu (mas diga-se de passagem que a própria Bíblia não explica detalhadamente a origem do diabo). 


2) Exu para os africanos mantém a ordem e castiga os transgressores. Diferentemente o diabo bíblico não possui essas características, ele causa a desordem no mundo e incentiva os homens ao pecado. 


3) Exu tem pai e mãe. Já o diabo bíblico não. Acredito que essas diferenças mostram que Exu e o diabo são apenas personagens diferentes de culturas diferenças e de religiões diferentes. Qualquer coisa que passe disso é ignorância e falta de conhecimento.


Outra característica das religiões tribais africanas é o culto aos antepassados. Para o africano à morte não aniquila os laços familiares. Mesmo depois de mortos os parentes continuam tendo ligações com a tribo. Pode acontecer de um adulto se transformar em uma espécie de espírito ancestral ou deus ancestral, e ser respeitado e venerado pelos membros da família. 

"O homem que é considerado o pai fundador de uma linhagem de chefes com frequência é cultuado como um deus acima de todos os outros, uma divindade nacional. [...] Culto aos antepassados é uma expressão que implica interação entre os vivos e os mortos. O vivos obtêm força e socorro de seus ancestrais; ao mesmo tempo, os mortos dependem das oferendas de seus descendentes: é por meio desses sacrifícios que adquirem sua força e potência. Se não receberem oferendas, irão "morrer", isto é, cessar completamente de existir" (GAARDER; NOTAKER; HELLERN, 2000, p. 93).
O Brasil não é somente católico ou evangélico, ele também é afrodescendente. Os brasileiros são um povo mestiço, formado por três etnias: indígena, portuguesa e africana. E essa mistura faz dos brasileiros um povo culturalmente rico. Principalmente na música e na gastronomia. Entretanto, essa mistura trouxe alguns problemas. A religiosidade africana, com seus ritos e crenças, continua sendo algo estranho para muitos brasileiros. O preconceito contra as religiões de matriz africana como à umbanda e o candomblé está muito presente em nossa sociedade. 

Para que haja uma mudança de mentalidade é necessário que exista uma boa educação. O preconceito é o resultado da ignorância. E ele poderá ser diminuído quando existir nos brasileiros interesse de conhecer mais profundamente as suas raízes, e também tentar compreender o porquê das origens e crenças dos povos africanos.



Fontes: 
AZEVEDO, Antonio C. do Amaral. Dicionário histórico de religiões. Nova fronteira, 2002.
GAARDER, Jostein; NOTAKER, Henry; HELLERN, Victor. O livro das religiões. Cia das letras, 2000.

Um comentário:

  1. Formidável os trabalhos , muito me ajuda como fonte de estudo. obrigado

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