Contribuição

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21 de novembro de 2017

QUAL SERÁ O FUTURO DAS RELIGIÕES?: Uma breve reflexão.


Saber o que pode acontecer no futuro sempre foi e será uma tarefa complexa, isso porque nenhum de nós possui o controle sobre os acontecimentos futuros. No máximo o que podemos é levantar algumas hipóteses com base no que vemos no presente. Pois o presente é o resultado do que aconteceu no passado, e o futuro dependerá do que acontecer agora no presente. E quando se fala no futuro das religiões temos que seguir a mesma linha de raciocínio.

Por exemplo, o cristianismo ainda é a maior religião do mundo; isso em número de seguidores. Mas será que daqui há cinquenta anos ela continuará com esse status? Talvez não. E o que falar das outras religiões? Há conjecturas de que o Islã tome o lugar do cristianismo e se torne a maior religião do mundo, mas nada pode ser afirmado com absoluta certeza. As ciências sociais ensinam que à medida que o tempo passa as sociedades sofrem mudanças em suas estruturas, e esse processo afeta diretamente as religiões, pois elas também fazem parte das sociedades humanas. Em outras palavras, a religião de hoje não será à mesma de amanhã.

O presente texto tem o principal objetivo de provocar uma reflexão filosófica sobre o futuro das religiões; e também saber o que elas podem fazer para sobreviverem em um mundo que vive em constantes mudanças.


As religiões nunca mais foram as mesmas depois do progresso cientifico. Antes do advento da ciência quase tudo no mundo era explicado a partir dos conceitos religiosos. A origem do homem e do universo eram explicados conforme os ditames dos livros sagrados. Mas na medida que os tempos foram se seguindo as explicações religiosas foram perdendo sua credibilidade. A fé religiosa mostrou-se incompetente para responder muitas perguntas. A sociedade passou a usar à ciência e seus métodos para tentar explicar, de uma forma mais racional, os mistérios do mundo.

Hoje um dos maiores adversários das religiões é o secularismo, que a grosso modo pode ser definido como uma tendência em explicar o mundo de forma racional, sem precisar do auxílio das crenças religiosas. Vários países, mais especificamente europeus, são seculares em seu modo vida. Neles as crenças religiosas já não tem muita importância. Não que elas foram extintas por completo, mas que já não tem muita relevância na vida de boa parte da população europeia.

“As ideias sobre sagrado estão em declínio, de modo que aquilo que antigamente era visto como algo especial torna-se algo de gracejos de humoristas. As questões sociais e pessoais com as quais a religião se ocupava são hoje remetidas a assistentes sociais e psicólogos. As instituições religiosas tradicionais estão em decadência e os jovens voltam-se para os novos movimentos religiosas e seus cultos”.[1]  

Qualquer sistema religioso pode se desgastar com o tempo e se tornar irrelevante para as futuras gerações. Um cristianismo, um judaísmo, um islamismo, um budismo e um espiritismo que não conseguem se “revitalizar” e se adaptar aos novos tempos; com certeza não terão um futuro promissor, e entrarão na lista das “religiões que o mundo esqueceu”.

Sim caro leitor, existem religiões que o mundo esqueceu e se transformaram em peças de museu! Onde estão as religiões dos egípcios, sumérios, gregos, romanos, celtas, maias e dos incas? Nos museus e nos livros de histórias. Em outras palavras, são religiões mortas que não são praticadas e vivenciadas por ninguém. Hoje são apenas objetos de estudo de historiadores e arqueólogos.

Mas existe dentro das religiões contemporâneas um movimento de oposição ao avanço do secularismo, que é o fundamentalismo. “O fundamentalismo tem como meta fornecer um espaço para a expressão autentica da fé e reage política e socialmente contra o materialismo e o relativismo e hoje usa a tecnologia moderna para alcançar seus objetivos”[2]

O religioso fundamentalista é um militante. E ele fará de tudo para defender suas crenças, até usar à violência se for necessário. Não se sabe até que ponto o fundamentalismo é eficaz na luta contra o avanço do secularismo, no entanto, os efeitos são mais negativos do que positivos. Na obsessão de proteger a fé, em meio ao conflito, milhares de pessoas acabam sendo atingidas e com isso perdendo suas vidas.

Acredito que um caminho mais eficaz para preservação das tradições religiosas seja o caminho da ética e não o da força. Quando cristãos, judeus, muçulmanos, budistas e outros religiosos preocupam-se mais com o bem-estar da sociedade e não tanto com os seus dogmas, sem dúvida, as religiões serão mais relevantes e terão um futuro certo.

“Se a religião continuar a empenhar-se na transformação dos indivíduos e da sociedade por meios pacíficos, seu futuro está garantido, mas o uso da força não é compatível com o que os fundadores das religiões pregaram e significa adotar os valores do conquistador[3]

Concluindo, sempre será uma tarefa complexa prever o futuro de alguma coisa. O mundo dá muitas voltas; e o que defendemos hoje como certo pode futuramente ser visto como equivocado. Mas se as religiões quiserem sobreviver no futuro terão que fazer muito mais, além de defenderem somente os seus dogmas.    





[1] Robert Crawford. O que é Religião? Ed. Vozes, p. 222.
[2] Robert Crawford. O que é Religião? Ed. Vozes, p. 223.
[3] Robert Crawford. O que é Religião? Ed. Vozes, p. 234.



18 de outubro de 2017

DIVISÕES INTERNAS NAS RELIGIÕES - Um tema para o Ensino Religioso.


Você já parou para pensar o porquê das religiões se dividirem? Quais são os motivos que fazem com que os fiéis de uma mesma religião se desentendam e com isso criem conflitos e divisões? Há vários fatores que podem contribuir para que isso aconteça. Um deles pode ser que logo após a morte do fundador os seus seguidores; depois de algum tempo, comecem a disputar entre si a liderança e o poder da religião, criando com isso várias ramificações.

Outro fator muito comum é a discordância no entendimento e interpretação dos textos sagrados. Um indivíduo pode alegar que possui a interpretação mais correta de um determinado texto; e com isso querer impor o seu ponto de vista sobre as outras pessoas do grupo religioso. Esse tipo de discórdia é muito comum em religiões letradas, isto é, que fundamentam seus dogmas em algum livro sagrado.  

Acredito que você já tenha ouvido alguma vez em sua vida aquele ditado popular que diz “cada cabeça é um mundo diferente”. Pois bem, nem tudo é paz e harmonia no mundo místico das religiões. Há momentos em que os religiosos se dividem internamente, criando pequenas seitas dentro de uma grande religião.

O objetivo deste texto é mostra, resumidamente, às  várias divisões internas que existem em algumas religiões. Dar-se-á mais atenção a quatro grandes religiões mundiais: O hinduísmo, o budismo, o Islamismo e o judaísmo.   


HINDUÍSMO.
A fé hindu é bem diversificada. Isso significa que as pessoas podem praticar à religião de modos diferentes. Tudo dependerá da divindade à qual se oferece devoção. Mas também existem vários movimentos com raízes no hinduísmo. 

1. Vaisnavas e Saivitas – Os vaisnavas são os devotos de Visnu, que é uma das divindades mais populares do hinduísmo. Ele é conhecido como protetor e sustentador do universo. Segundo Wilkinson (2011, p. 178), “Visnu é a divindade que dá vida ao criador, Brama, que se senta numa flor de lótus no umbigo de Visnu, que também sustenta e protege tudo o que é criado por Brama”.

Os saivitas são os devotos de Xiva conhecido como “o destruidor”. Xiva é o deus dos “opostos”, ele cria e recria o universo, como também da vida e a tira. Muito provavelmente é essa característica que faz como que Xiva seja tão admirado por seus devotos. 
“Essa capacidade de reunir opostos é um dos aspectos de Xiva que fascina os saivitas. A conciliação de qualidades diversas por divindades superiores é fundamental no hinduísmo, e Xiva encarna essa reunião de opostos como nenhum outro deus. Não surpreende que seus devotos o vejam como deus supremo” (WILKINSON, 2011, p. 178).
Se existe algo de fascinante no estudo das religiões é a possibilidade de encontrar “pontos comuns” entre elas. É possível perceber que no hinduísmo existe a devoção a “três divindades populares”, que são Brama, Visnu e Xiva. No cristianismo existe a crença em um único Deus, mas que em “essência” ele é Pai, Filho e Espírito Santo. Mas não se pretende afirmar que o cristianismo e o hinduísmo sejam iguais. E realmente não são. Apenas que ambos possuem um ponto em comum. 

2. O movimento Hare Krishna – Esse movimento religioso foi fundado em 1965 nos EUA por um indiano conhecido pelo nome de Bhakti-vedanta Prabhupada. O objetivo do movimento é propagar por todo o mundo a religiosidade hindu tendo Krishna com divindade suprema.

Todos os devotos desse movimento são vegetarianos. Eles não comem carne, peixe ou ovos. Procuram ter uma vida simples, abstendo-se de drogas, álcool e café. E são facilmente identificados pela cabeça raspada e por vestirem um manto alaranjado.  

“Os Hare Krishna consideram o mundo exterior naturalista e desprezível. Esse movimento – para alguns seita – se apoia nos textos sagrados dos Vedas, principalmente nos Upanixades e no Bhagavad-Gita, sem perder de vista também a extraordinária mitologia do hinduísmo” (Dicionário histórico de religiões, p. 180).

3. Igreja de Saiva Siddhanta – Conhecida como “Sagrada Congregação da Verdade Revelada do Deus Supremo Xiva”, essa igreja foi fundada em 1949 nos EUA pelo mestre Satguru Shivaya Subremuniyaswami, mais conhecido como Gurudeva. Segundo Wilkinson (2011, p. 180),
“Gurudeva tornou-se respeitado na comunidade hindu como uma das pessoas que mais fizeram para disseminar o conhecimento da religião fora da Índia. A variedade de hinduísmo que ele difundiu foi fortemente influenciada pela dos saivitas do Sri Lanka. Os adeptos se dedicam ao serviço comunitário, ao culto de Xiva, à ioga e à meditação, na esperança de se aproximar do deus e alcançar mocsa[1]. Seus valores incluem o vegetarianismo e a não violência”.
Essas são apenas algumas divisões que existem dentro do hinduísmo; muito provavelmente existem outras, porém, as que aqui foram citadas mostram que a crença nas divindades é o principal elo de ligação entre todas as divisões do hinduísmo.  


BUDISMO.
O budismo possui várias divisões, e elas podem se diferenciar em alguns aspectos; contudo todas as formas de budismo compartilham o mesmo compromisso com os ensinos do mestre Buda.

1. Budismo teravada – É o ramo do budismo praticado exclusivamente pelos monges e monjas. E é o que mais se aproxima dos ensinamentos originais de Buda. É muito influente na Tailândia, Laos e no Camboja. O teravada enfatiza a importância da sangha ou comunidade. Os monges passam a maior parte do tempo nos mosteiros praticando meditações diárias, vivendo de modo simples e com poucos bens materiais.

2. Budismo maaiana – Esse ramo budista surgiu logo após a morte de Buda, e tem alguns pontos de vista diferentes do budismo teravada. Enquanto este é restrito aos monges, aquele é aberto aos leigos. Ou seja, o maaina amplia o conceito de comunidade tornando-a acessível aos leigos.

Outra diferença entre o teravada e o maaiana é a visão que se tem do Buda. O primeiro crê que o Buda é apenas um “exemplo a ser seguido”, logo após a sua morte ele deixou de existir deixando apenas os seus ensinos. Mas o segundo crê que o Buda continua vivo e deve ser cultuado.
 “Os maaianas creem que o Buda sobrevive, e que devem cultuá-lo. Creem ainda que outros seres também se podem tornar Budas. Quando uma pessoa perde a individualidade, o que resta é uma espécie de essência interior chamada natureza do Buda. Os budistas maaianas reconhecem diversos seres que alcançaram a budidade e são dignos de culto” (WILKINSON, 2011, p. 201).
3. Zen budismo – “Segundo o zen, todos são um Buda, mas nem todos realizaram a sua budidade potencial ou tomaram consciência dela. Ademais, todos nós temos uma identidade única que une não só todos, mas todas as coisas” (WILKINSON, 2011, p. 202).

Essa é uma forma de budismo chinês que com o passar do tempo se fixou no Japão em meados do século XII. Uma das características do zen budismo é ser rigoroso em questões de meditação e comportamento. Outra é a criação de jardins minimalistas e a composição de poesias.


4. Budismo tibetano – Esse ramo do budismo foi implantado no Tibete pelo rei Songten Gampo em meados do século VII d.C. Segundo Wilkinson, alguns relatos dizem que o rei Gampo construiu templos budistas e também ordenou a criação de um alfabeto tibetano que possibilitou os eruditos a traduzirem os textos budistas para à escrita tibetana. Em outras palavras, o poder político contribuiu para que o budismo se estabelecesse no Tibete, e ao mesmo tempo fez algumas mudanças na religião. 

Um aspecto do budismo tibetano (e que o diferencia das outras correntes budistas) é o uso das mandalas que são uma espécie de diagramas simbólicos, que segundo à crença tibetana, representam o corpo, os ensinamentos e a mente do Buda. A confecção de uma mandala já é em si uma prática de meditação.

No budismo tibetano um personagem muito respeitado e reverenciado é o Lama. Ele é um monge erudito que para alcançar o título de lama teve que passar por rigorosa formação. Acredita-se que os lamas foram, em vidas passadas, grandes líderes espirituais. 
“Quando o fim de sua vida se aproxima, um lama dá uma série de pistas para a identificação de sua próxima encarnação. Então seus adeptos buscam, até encontrar, a criança que melhor corresponda às pistas, e começam a treiná-la como líder espiritual também. O lama de mais renome internacional é Dalai Lama, chefe dos gelugpa e embaixador da fé no mundo inteiro” (WILKINSON, 2011, p. 2014)
ISLAMISMO.
Há algumas hipóteses que dizem que em alguns anos o Islamismo tornar-se-á a maior religião do mundo; e com isso, ultrapassando o cristianismo no número de seguidores. Basicamente dentro do Islamismo existem três divisões que são: sunismo, xiismo e sufismo. Conheçamos cada uma delas resumidamente.

1. Sunismo – A maioria da população muçulmana é sunita, o que pode representar mais de oitenta por cento do mundo muçulmano. Um sunita é um fiel seguidor da “Suna do Profeta”, ou seja, o sunita é um imitador do comportamento de Maomé. Para essa corrente do islamismo o comportamento do profeta Maomé é tão importante como o Corão.

Nas palavras de Wilkinson (2011, p. 144), “Todo muçulmano sunita segue uma das quatros escolas de jurisprudência – Malaki, Hanafi, Hanbali e Shafi´i -, que variam no modo como usam o consenso e a razão para suplementar o Corão. As pessoas são livres para escolher a que escola aderir, mas a maioria dos sunitas tende a adotar a mesma do pai”.

2. Xiismo – Os muçulmanos xiitas são os partidários de Ali, que foi primo de Maomé e marido de Fátima uma das filhas do profeta. Os xiitas surgiram a partir de uma discórdia sobre quem deveria ser o sucessor de Maomé.

Os sunitas seguiam a Abu Bark (que segundo os sunitas, tinha sido escolhido pelo próprio Profeta), os xiitas não concordavam com essa escolha; para eles somente alguém que fizesse diretamente parte da família de Maomé deveria ser o sucessor, e neste caso, Ali seria o mais indicado.
“Os sunitas são maioria entre os muçulmanos, mas os xiitas sempre foram proeminentes e hoje constituem a maioria no Irã e no Iêmen e a maior minoria no Iraque. Adotam os cinco pilares como os sunitas, mas divergem deles ao acrescentar ao primeiro pilar – Há um só Deus e Muhammad é seu profeta – as palavras: “E Ali é o vice regente de Deus” (CRAWFORD, 2005, p. 116).
3. Sufismo – O sufismo é a corrente “mística” do Islamismo, seus adeptos são conhecidos como os “sufis”. A principal diferença desta corrente islâmica em relação as outras, é que os sufis dão mais importância à experiência pessoal com Alá do que o legalismo e à ortodoxia.

“Uma terceira divisão na fé muçulmana é o sufismo, que são os místicos. O nome significa “lã” e era aplicado aos ascetas que usavam lã sobre a pele. Reagiam contra o legalismo islâmico, o mundanismo dos muçulmanos gananciosos, e procuravam a união com Alá através de práticas semelhantes das religiões indianas. [...]. Muitos se converteram ao sufismo por causa do zelo missionário de seus adeptos. Alguns afirmavam ter chegado à união completa com Alá, coisa que os sunitas consideravam uma blasfêmia e por isso os puniam ou executavam” (CRAWFORD, 2005, p. 118).

Para os sufis o profeta Maomé foi um grande místico; pois ele teve profundas experiências com Alá, e foi na solidão que ele recebeu as revelações que depois tornar-se-iam o sagrado Corão. E diferente das outras correntes do Islamismo, o sufismo acredita em um Deus amoroso e procura fazer uma interpretação mística dos textos do Corão. 


JUDAÍSMO
Existem algumas ramificações no judaísmo que poucos conhecem, e cada uma delas se diferencia no modo como a Torá é entendida e interpretada.

1. Judaísmo ortodoxo – Os ortodoxos são os fiéis preservadores da tradição judaica e da Torá. O Judaísmo ortodoxo é a religião oficial do Estado de Israel. E é caracteristicamente rigoroso na obediência à Tora e na conservação da identidade do povo judeu.

Nas palavras de Wilkinson (2011, p. 80), “Os judeus ortodoxos procuram viver segundo as instruções da Torá. O texto influi no modo como se vestem, no que comem, em sua vida familiar e nas leis da herança. [...]. Em séculos passados, na Europa, esses judeus se viram excluídos do resto da sociedade. Hoje, ainda resistentes a mudanças, seu modo de vida contrasta com os dos não judeus e o de outros judeus à sua volta, mas eles optam por permanecer separados para viver em conformidade com a lei de Deus”.

Podemos ver que ao preservarem às características de suas tradições religiosas, os ortodoxos buscam preservar a sua própria identidade. Sabe-se que durante a história, os judeus foram muito perseguidos e escravizados por outros povos. E uma das causas que fizeram com que eles não perdessem a sua identidade foi a conservação de sua fé e religião.

É possível constatar que o lado positivo do conservadorismo religioso é ser um meio de não permitir que a cultura, fé e a religião de um povo sejam destruídos. Se o povo judeu ainda existe hoje é porque souberam conservar e lutar por sua fé e religião.   

2. Judaísmo da Reforma ou progressista -  Diferente dos judeus ortodoxos, os judeus da reforma ou progressistas tentam adaptar a religião as mudanças que ocorrem na sociedade. Essa divisão do judaísmo surgiu nos Estados Unidos, mais especificamente na cidade da Pitsburgh na Pensilvânia no século XIX.

Os progressistas são mais liberais em questões de religião do que os ortodoxos. “Eles tendem a ver a Torá não como as palavras de Deus, mas como obra de diferentes autores que podem ter sido inspirados por ele. Abandonaram muitas das antigas leis dietéticas e adotaram novos costumes, como a ordenação de mulheres como rabinos. Aboliram também algumas partes antiquadas da liturgia, como a oração pela restauração do sacrifício animal no Templo” (WILKINSON, 2011, p. 82).

Acredito que nem sempre querer adaptar as crenças religiosas as mudanças que acontecem na sociedade pode ser algo positivo. Por que isso, de certa forma, pode causar a “descaracterização da religião”, ou seja, cria-se uma religião diferente da antiga. Ela pode até tomar emprestado alguns elementos da antiga religião, mas não será igual a ela.

Conclusão.
As religiões são fascinantes e ao mesmo tempo contraditórias. Existem pontos de convergência e divergência em todas as religiões. Podemos até dizer que elas são o reflexo dos próprios religiosos. Ou seja, indivíduos obcecados pelo Ser divino, mas por não o compreender muito bem, acabam se desentendendo e criando divisões entre si.


Fontes:
AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário Histórico de Religiões. Rio de Janeiro. Nova fronteira, 2002.
CRAWFORD, Robert. O que é Religião? Rio de Janeiro. Vozes, 2005.
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro. Zahar, 2011.




[1] Resumidamente o mocsa é a libertação do repetitivo ciclo de reencarnações. Todo devoto hindu procura atingir esse estado de espírito. Há vários caminhos que podem levar a esse estado. Um deles é uma vida dedicada a meditação sob a orientação de um mestre ou guru. Outro é a prática do altruísmo, procurando fazer boas ações no mundo. No entanto, isso não garante que este estado de espírito seja alcançado.  

5 de outubro de 2017

REFORMA PROTESTANTE - As causas e consequências de um movimento religioso revolucionário.


O movimento religioso historicamente conhecido como Reforma Protestante foi um dos maiores cismas que já aconteceu em toda à história do cristianismo. A partir dele outros movimentos religiosos menores foram surgindo, que neste caso deu origem às várias igrejas e seitas “evangélicas” que conhecemos como: luteranos, calvinistas, presbiterianos, metodistas, puritanos, anglicanos, batistas, pentecostais, neo pentecostais, adventistas, testemunhas de Jeová, etc.

Mas será que as ideias e crenças da Reforma ainda são relevantes para o nosso tempo? Sabemos que em alguns lugares da Europa nos quais o movimento teve seu início, muitas igrejas e comunidades protestantes fecharam suas portas, isto é, deixaram de praticar a fé. Também existe a falta de unidade entre os próprios protestantes. “Nem sempre eles falam a mesma língua”, isso porque às comunidades protestantes (evangélicas) são independentes umas das outras. Cada uma têm sua própria forma de liturgia e doutrina.

Por exemplo, existe muita diferença entre um culto (ritual) celebrado em uma comunidade pentecostal para o que é celebrado em uma igreja protestante histórica. No primeiro caso dá-se ênfase ao “êxtase emocional”, no segundo ao “sermão bíblico racional”. Com isso pode-se dizer que existe uma certa diversidade entre as comunidades protestantes.

O objetivo deste texto é mostrar de forma resumida quais foram as causas que deram origem ao movimento protestante e também conhecer as consequências que isso trouxe para a sociedade. Como o protestantismo possui vários ramos, neste texto dar-se-á mais atenção ao luteranismo, por ser o protagonista do movimento protestante.

1. MARTINHO LUTERO (1483-1546).
O primeiro passo para se conhecer qualquer movimento religioso é saber quem foi o seu fundador (mas, diga-se de passagem, que nem toda religião tem um fundador). Então, para se conhecer as causas e consequências da Reforma Protestante é imprescindível conhecer um pouco sobre Martinho Lutero. Felizmente há muito material escrito e publicado sobre a vida de Lutero. No entanto, daremos destaque a alguns pequenos detalhes sobre a vida do reformador alemão.

Um detalhe interessante que as pessoa precisa saber sobre Lutero é que ele nunca quis que os seus seguidores fossem chamados de “luteranos”, muito pelo contrário, ele queria que todos fossem conhecidos como cristãos. É possível afirmar que Lutero repudiava o “culto à personalidade”, isto é, prestar-lhe devoção e adoração como qualquer outro “santo”.  
“A primeira coisa que peço é que as pessoas não façam uso de meu nome e não se chamem luteranas, mas cristãs. Que é Lutero? O ensino não é meu. Nem fui crucificado por ninguém. [...] Como eu, miserável saco de larvas que sou, cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome? ” (LUTERO apud GEORGE, 1993, p. 55).
Mas quem foi Lutero? Existem várias respostas para essa pergunta, dependendo da visão que as pessoas tenham sobre o fundador do protestantismo. Na visão católica tradicional, Lutero foi um herege, um louco, um “instrumento do diabo” para dividir a Igreja e causar confusão. Para os protestantes ele foi “um instrumento usado por Deus” para trazer liberdade aos que eram escravos da ignorância de uma Igreja opressora. Já os alemães nacionalistas celebram-no como um herói do povo e “pai de seu país”.

Essas são apenas algumas caricaturas que se faz sobre a pessoa de Lutero, contudo, nenhuma delas explica detalhadamente a sua personalidade e inteligência. Para se conhecer Lutero é necessário conhecer sua história e crenças. 

Lutero em alguns momentos de sua vida passou por várias dúvidas e crises de fé. Por mais que fosse fiel aos dogmas e rituais da Igreja, ele nunca encontrava alegria e paz interior. As orações, os jejuns, as vigilas e boas obras não lhe proporcionavam satisfação. Considerando esses fatos talvez possamos supor que as reais origens do movimento protestante foram as angústias e contradições de “um cristão insatisfeito”. 
“Todas as suas tentativas de satisfazer Deus – orações, jejuns, vigílias, boas obras – deixavam-no com uma consciência totalmente intranquila. Seu humor variava do desespero por todos os seus erros a uma ira fervente em relação a Deus: “Eu não amava, na verdade odiava, aquele Deus que punia os pecadores; e, com um murmurar monstruoso, silencioso, se não blasfemo, enfureci-me contra Deus” (GEORGE, 1993, p. 64).
Lutero foi o reflexo da insatisfação religiosa que dominou os corações de milhares de cristãos que viveram no século XVI. Existiram vários fatores que contribuíram para essa insatisfação. Conheçamos agora as causas que deram origem ao movimento protestante.

2. AS CAUSAS RELIGIOSAS.
Insatisfação, indignação e decepção são palavras-chaves de nos ajudam a entender o “clima religioso” da Europa e mais especificamente na Alemanha de Lutero no século XVI. A Igreja, juntamente com sua liderança, não tinha mais crédito na sociedade. A vida luxuosa e corrupta dos Papas, a decadência moral dos padres e o abandono dos ensinos de Cristo.

Nas palavras do historiador católico Martina (2014, p. 15), “Uma Igreja que não tenha nenhuma influência sobre a sociedade em que vive, que lhe seja alheia e adversa, se mostra, não sem fundamento, como uma velharia de museu, e não como a fonte de água viva de que todos bebem”.

Antes de Lutero existiram outras pessoas que tentaram, mas sem sucesso, convencer o Papa e a cúria romana a reconhecerem os seus erros e voltarem aos princípios essenciais do evangelho de Cristo. Entretanto, o clima não era propício para que isso acontecesse. As pessoas queriam um cristianismo mais puro e simples; um melhor conhecimento das Escrituras e uma piedade mais verdadeira dominada pela compaixão e misericórdia de Cristo.

A situação podia ser comparada a uma “bomba” pronta para explodir. Só precisava de alguém que apertar-se o botão para que a explosão acontecesse. E quem apertou o botão foi Lutero.

A história mostra que de tempos em tempos a religião cristã sempre passou (e passa) por momento de crise e renovação. Os momentos de crise acontecem, geralmente, quando os cristãos abandonam as suas convicções e crenças. Já os momentos de renovação surgem quando há um tipo de “despertar” entre os cristãos, que faz com que eles se aproximem do transcendente.  

3. CAUSAS POLITICAS E SOCIAIS.
Direta ou indiretamente quase todo movimento religioso influência o contexto social onde está inserido; e essa influência pode causar grandes transformações e mudanças de paradigmas. Muitas vezes para que haja uma “revolução social” é fundamental que alguém dê o primeiro passo.
“... Lutero era capaz de inflamar e arrastar as massas populares e de convencer e engajar os intelectuais. Em síntese, Lutero não determinou o surgimento da revolta, mas apressou seus passos e jogou sobre ela o peso de sua forte personalidade, acrescentando-lhe eficácia. De outra parte, o próprio temperamento tipicamente alemão de Lutero acabou por diminuir o alcance de sua ação, que levou ao desenvolvimento de uma forma de religiosidade mais nacional que universal” (MARTINA, 2014, p. 112).
O luteranismo foi um movimento socialmente alemão. Se de um lado Lutero queria uma reforma religiosa, do outro o povo e os governantes alemães queriam independência política e econômica. Mas como assim? Naquele tempo existia entre os alemães um tipo de sentimento “anti-romano”, ou seja, um aversão e repúdio ao poder da Igreja Romana.

Várias nações europeias pagavam altas taxas e tributos a Roma. Então, era necessário que algum movimento revolucionário acontecesse para libertar os alemães das amarras políticas da Igreja Romana. Nesse sentido a reforma de Lutero serviu como um meio de libertação política e social.


4. AS CONSEQUÊNCIAS DA REFORMA.
Sem dúvida a Reforma Protestante deixou marcas profundas na história do cristianismo como na cultural ocidental, e até nos dias atuais ainda é possível sentir as consequências deste movimento religioso.  Podemos falar em pontos positivos e negativos.

Um dos pontos negativo foi o “esfacelamento” da unidade cristã. Antes do advento do protestantismo; a cristandade europeia vivia em unidade cristã, havia somente uma única Igreja e todos participavam dela. Entretanto, a partir de 1517 a unidade cristã foi perdendo sua essência. Qualquer pessoa (que nem precisa ser um especialista em estudos da religião), percebe a falta de unidade entre as próprias igrejas protestantes ou evangélicas. Quase sempre essas igrejas de dividem gerando outras igrejas e comunidades.

Outro ponto negativo foi as “guerras religiosas” entre católicos e protestantes no decorrer da história. Nas palavras de Martina (2014, p. 169), “A única coisa certa é que, em nome de Cristo, os cristãos europeus, por ao menos meio século, mataram-se mutuamente, sem economizar golpes”.

Outro fato (que talvez não seja tão negativo para alguns) é que com a Reforma há uma mudança de paradigma político. "Antes o Estado era submisso a Igreja; depois é a Igreja que passa a ser submissa ao Estado".
“A religião reformada apresentava as reformas religiosas como a tentativa de libertação da opressão romana. [...] Na Idade Média predomina, de um modo ou de outro, a tendência de subordinar o Estado à Igreja, de modo mais ou menos rígido, segundo as várias escolas. [...]. Na idade moderna, a situação, sobretudo por obra do protestantismo, dá uma reviravolta, e a Igreja se subordina ao Estado”. (MARTINA, 2014, p. 170).  
Esses são alguns dos pontos negativos que a Reforma criou, mas além disso, o que de positivo a Reforma Protestante gerou? Podemos citar alguns pontos, como: 
  1. O desejo por um cristianismo mais puro e íntimo, sem estar preso e sufocado pelas superstições e tradições dos homens;
  2. Maior liberdade religiosa, no que diz respeito a conhecer a Deus e ler e interpretar as Escrituras;
  3. Liberdade política, em que cada nação seja livre e autônoma social e economicamente;
  4. Que cada cristão seja livre e responsável, sem precisar estar debaixo do jugo de algum sacerdote. 

Esses são alguns pontos que podemos chamar de positivos. Mas depois de toda essa informação histórica, podemos neste momento fazer uma pergunta: Se Lutero ainda estivesse vivo o que ele pensaria do atual contexto protestante mundial depois de 500 anos?


Fontes:
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo. Vida Nova, 1993.
MARTINA, Giacomo. História da Igreja: de Lutero a nossos dias. Vol. I – O período da Reforma. São Paulo. Loyola, 2014.

20 de setembro de 2017

LIBERDADE RELIGIOSA NO BRASIL


"É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias" (Art. 5°, inciso VI da Constituição brasileira).

Seguir, não seguir ou mudar de religião é um direito que qualquer Estado democrático deve conceder aos seus cidadãos. Uma das características de um país laico é ser "neutro" em questões de religião ou crença. Não compete ao Estado impor determinada crença religiosa aos seus cidadãos, isso é algo que cabe a cada um escolher. Entretanto, o Estado pode através do ministério da educação e com a cooperação de representantes de diversas tradições religiosas; produzir material educativo que sirva de base na educação religiosa nas escolas. Uma educação religiosa de característica não confessional, isto é, que não ensine que esta ou aquela religião é falsa ou verdadeira, mas que mostre de modo amplo e imparcial à importância que elas têm para às pessoas que as seguem

Um dos maiores problemas que existe hoje na sociedade chama-se intolerância religiosa, e ela é gerada pelo ódio e falta de conhecimento sobre as religiões. Sem dúvida existem alguns aspectos das religiões que podem parecer estranhos para muitas pessoas (isso dependendo do olhar que o indivíduo tem sobre elas), mas é importantíssimo que haja um conhecimento disponível para todos sobre o tema religião. 


O presente texto tem o objetivo de oferecer aos leitores uma breve exposição sobre a liberdade religiosa no Brasil. E também, na medida do possível, servir de auxilio nas aulas do Ensino Religioso.

1. A RELEVÂNCIA DO CONHECIMENTO RELIGIOSO.
Antes de falarmos sobre liberdade religiosa, é fundamental falarmos sobre a importância da aquisição do conhecimento religioso como um meio para diminuir a ignorância e a intolerância. Sem dúvida a ignorância e a intolerância são o resultado da falta de um conhecimento religioso sólido. Devemos sempre acreditar que onde existe conhecimento, esclarecimento e iluminação não existe espaço para a intolerância e perseguição.

Ninguém pode negar que vivemos em um mundo “multicultural”, isto é, um mundo em que às várias culturas se encontram e se mesclam. Quando presenciamos a saída de várias pessoas de seus países de origem e indo “recomeçar a vida” em outro; essas pessoas trarão consigo a sua cultura e crenças religiosas. De igual modo, quando viajamos para algum país diferente; diretamente entraremos em contato com a cultura e conheceremos as crenças dos nativos daquele lugar.

Conforme Hellern; Notaker; Gaarder (2000, p. 14): “Um conhecimento religioso sólido também é útil num mundo que se torna cada vez mais multicultural. Muitos de nós viajamos para o exterior, entrando em contato com sociedades que têm diferentes valores e modos de vida, ao mesmo tempo que imigrantes e refugiados chegam a nossa própria porta, confrontando-se com um sistema social que lhes é totalmente estranho. Além disso, o estudo das religiões pode ser importante para o desenvolvimento pessoal do indivíduo. As religiões do mundo podem responder a perguntas que o homem vem fazendo desde tempos imemoriais”.  

Não existe somente uma única religião, pelo contrário, existem várias religiões. E cada uma com suas crenças, cosmovisões, ritos, mitos e valores éticos e morais. Até hoje não se sabe como as religiões surgiram no mundo, mas há um consenso de que elas são tão antigas quando a própria humanidade. Então, ter um conhecimento religioso sólido é ao mesmo tempo conhecer um pouco melhor o ser humano. Esta é a relevância do conhecimento religioso.

2. A LIBERDADE RELIGIOSA NO BRASIL.
Por que temos, seguimos ou não seguimos alguma religião? Simplesmente porque decidimos. Se alguém é cristão, judeu, muçulmano, budista, espirita, etc., é porque de algum modo essas religiões lhe ensinaram algo importante ou lhe deram algum sentido para a vida.

Em algum momento de suas vidas as pessoas se sentem fracas e impotentes diante dos problemas ou procuram respostas para algumas dúvidas sobre à existência humana. E neste afã acabam encontrando nas religiões alivio para suas agruras e respostas para suas perguntas.

Por outro lado, existem aqueles que não seguem nenhuma religião. Estes são conhecidos como ateus e agnósticos. São pessoas que vivem muito bem sem o auxílio das religiões. Mas isso não significa que todos os ateus e agnósticos sejam “inimigos” da religião. Há ateus e agnóstico que defendem que as religiões devem existir, porque elas de certa forma contribuem com o bem-estar da sociedade. As religiões possuem em seu arcabouço doutrinário princípios éticos que são de grande importância para que haja uma “ordem social” no mundo. 

Segundo Hellern; Notaker; Gaarder (2000, p. 15): “O respeito pela vida religiosa dos outros, por suas opiniões e seus pontos de vista, é um pré-requisito para a coexistência humana. Isto não significa que devemos aceitar tudo como igualmente correto, mas que cada um tem o direito de ser respeitado em seus pontos de vista, desde que estes não violem os direitos humanos básicos”.

O Brasil em sua constituição no Art. 5°, inciso VI diz: É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de cultos e suas liturgias”

A liberdade religiosa é um direito fundamental de cada cidadão, mas em muitas situações esse direito é desrespeitado. Há pequenos grupos religiosos radicais no Brasil (e no mundo) que não aceitam que outras religiões tenham o direito de existir. Quase sempre nos noticiários ficamos sabendo de algum caso de violência e intolerância contra alguma religião. Mas por que isso ainda acontece? Podem existir vários fatores para isso, mas sem dúvida um dos principais é a falta de conhecimento sobre a religião do outro.

Outro fator que talvez possa ser uma das causas da intolerância religiosa, é o medo do desconhecido. Um religioso de mente fechada que desconhece outros pontos de vista, verá a religião do outro como uma ameaça. Geralmente estes indivíduos são religiosos fundamentalistas; eles são incapazes de dialogar com pessoas que tenham uma fé diferente. Um exemplo muito claro são os grupos radicais muçulmanos. Para eles as outras religiões são falsas e devem ser destruídas.

Acredito que a liberdade religiosa para ser preservada deve ser ensinada nas escolas. E neste ponto o Ensino Religioso é de grande importância. As novas gerações precisam ser orientadas para saber o que é liberdade religiosa e ao mesmo tempo defendê-la. Um bonito gesto de cidadania é reconhecer que o outro tem o direito de ser livre e decidir escolher a fé que quiser.


Fonte:
HELLERN, Vitor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O livro das Religiões. São Paulo: Companhia das letras, 2000.

25 de agosto de 2017

RELIGIÕES ABRAÂMICAS: Judaísmo, Cristianismo e Islã.

Três das grandes religiões mundiais tiveram início no Oriente Médio: o judaísmo, o cristianismo e o islã. As três são monoteístas, mas também são conhecidas como “abraâmicas”, por sua fé no Deus Único, que teria se revelado ao patriarca Abraão (c.1800 a.C.). Elas exercem influência na região do Mediterrâneo, mas o cristianismo e o Islã se difundiram muito mais que o judaísmo. Atualmente, elas são as duas maiores religiões do mundo. 

Enquanto o cristianismo é sobretudo a religião do Ocidente, o islã se tornou uma religião importante na Ásia (três quartos de todos os muçulmanos vivem nesse continente). Na África, essas duas religiões têm mais ou menos a mesma força. O islã continua firmemente enraizado na cultura árabe e é dominante nos países do Oriente Médio. 

O judaísmo está deixando sua marca no Estado de Israel, que foi fundado em 1948, porém apenas 5 milhões dos 13 milhões de judeus do mundo vivem ali. Quase metade deles vivem nos Estados Unidos. 

O Abraão dos judeus:

Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, aquela que vos deu à luz. Ele estava só quando o chamei, mas eu o abençoei e o multipliquei. (Isaías 51.2).

O Abraão dos cristãos:

Responderam-lhe: “Nosso pai é Abraão”. Disse-lhe Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Vós, porém, procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isso, Abraão não fez” (João 8.39,40).

O Abraão dos muçulmanos:

Eles dizem: “Aceita a fé judaica ou cristã e terás a orientação correta”. Dizei então: “De maneira nenhuma! Nós cremos na fé de Abraão, o correto. Ele não era idólatra” (Corão, sura 2,129)[1]. 


I. Judaísmo.

A palavra judeu deriva de Judéia, nome de uma parte do antigo reino de Israel. Judaísmo reflete essa ligação. A religião é chamada ainda de “mosaica”, já que se considera Moisés um de seus fundadores. O Estado de Israel define o judeu como “alguém cuja mãe é judia e que não pratica nenhuma outra fé”. 

Com cerca de 13 milhões de seguidores, o judaísmo é hoje uma das menos religiões mundiais. Contudo, teve uma influência e distribuição geográfica inversamente proporcionais ao seu tamanho. Suas origens remontam à religião de Estado do antigo reino de Judá, que se extinguiu em 586 a.C. 

A religião judaica tem três elementos essenciais: Deus, Torá e Israel. É considerada a crença monoteísta mais antiga, e seus adeptos acreditam num Deus universal e eterno, criador e soberano de tudo o que existe. No judaísmo não se imagina que todas as pessoas venham a se tornar judias, mas existe a esperança de que o mundo inteiro reconheça a soberania de um único Deus[2]. 

1.1. A ideia de Deus.

O credo judaico é: “Ouve, ó Israel: Iahweh nosso Deus é o único Iahweh!” (Deuteronômio 6.4). 

Esse credo, que é repetido pelos judeus devotos todas as manhãs e todas as noites de sua vida, mostra que o judaísmo é uma religião monoteísta. Iahweh, o Deus único, é o criador do mundo e o senhor da história. Toda a vida depende dele, e tudo o que é bom flui dele. É um Deus pessoal, que se preocupa com as coisas que criou. 

Quem é Deus – ou o que é Deus – é algo que não pode ser expressado em palavras. O nome de Deus é representado pelas letras YHWH, um acrônimo que em hebraico significa “eu sou quem sou”. Esse acrônimo costuma ser lido como “Jeová” ou “Javé”, porém o nome real é tão sagrado que sempre se usa algum sinônimo, como “o Senhor” ou “o nome”. 

Jeová é o criador e sustentador do mundo. A ideia de que Deus possa não existir é alheia a um judeu. [...] O fato de que Deus é um e apenas um se reflete também na existência humana. Toda vida de um homem deve ser consagrada. Não há linha divisória que separe o sagrado do profano. 

1.2. As Escrituras Sagradas.

O livro sagrado dos judeus é a Bíblia Hebraica que constitui de uma coleção de textos de natureza histórica, literária e religiosa. A Bíblia judaica equivale ao Antigo Testamento, porém é organizada de maneira um pouco diferente. As escrituras judaicas são formadas por 24 livros, divididos em três grupos: 

1.       A Lei (Torá) – o Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés.

2.      Os profetas (Neviim) – os livros históricos e proféticos.

3.      Os escritos (Ketuvim) – os demais livros.          

O Pentateuco, a Torá propriamente dita, orgulha-se de ser a fonte suprema das crenças e práticas judaicas e também um objeto de veneração. Os rolos da Torá de cada comunidade são abrigados na sinagoga, num nicho ou arca especial numa parede, contra a qual os devotos rezam, tradicionalmente na direção de Jerusalém.

Na época de Cristo, os cinco livros de Moisés (ou Pentateuco) eram considerados pelos judeus uma só entidade e chamados de “A Lei”, pois continham as normas judaicas legais e morais, assim como as regras relativas aos cultos. A divisão em cinco livros data de sua tradução para o grego, que foi feita com base no original hebraico por volta de 200 a.C. 

Os cinco livros de Moisés não foram escritos por um único autor do início ao fim. A quantidade de histórias que neles se encontra foi, por muito tempo, transmitida sobretudo oralmente. Os livros de Moisés compreendem, portanto, um complexo conjunto de textos escritos durante um longo período, num processo que se completou por volta de 400 a.C. 

1.3. A Sinagoga e o Sábado.

Numa sinagoga não há imagens religiosas nem objetos no altar, pois as imagens são proibidas (é o segundo mandamento). O ponto focal de uma sinagoga judaica é, pois, a Arca, uma espécie de armário que fica na parede Oriental, na direção de Jerusalém. Ali se guardam os rolos da Torá, escritos em pergaminho. Como sinal de respeito, esses rolos costumam ser envoltos numa capa de seda, veludo ou outro material nobre, e decorados com sinos, uma coroa e um escudo de metal precioso. Mantém-se sempre uma lâmpada ardente diante da Arca. 

No serviço da sinagoga das manhãs de sábado há um grande cerimonial em torno da leitura da Torá. Abre-se a Arca, e os rolos são levados ao redor da sinagoga até ao altar. Ali se lê um trecho do texto em hebraico. A leitura da Torá também é feita às segundas e quintas-feiras; desse modo, no decurso de um ano se lê o cânone inteiro.

Além da leitura da Torá, o serviço contém orações, salmos e bênçãos, todos contidos num livro especial chamado Sidur (livro de orações). A oração mais importante são as Dezoito Bênçãos, que têm mais de 2 mil anos. Outro foco importante é o credo, o Shemá. 

SHEMÁ:

“Escuta, Israel, O Eterno nosso Deus, o Eterno é Um.  Amarás o Eterno teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e com todas as tuas forças, que as palavras que te prescrevo hoje sejam gravadas em teu coração. Tu as inculcarás em teus filhos, falarás delas em tua casa, caminhando, ao te deitares e ao levantares. Imprime-as no teu braço, grava-as entre teus olhos, escreve-as nos postes da tua casa e nas tuas portas”[3]. 

O Shabat dura desde o pôr-do-sol de sexta-feira até o pôr-do-sol de sábado. A base para a observação do Shabat se encontra na história da criação do mundo: no sétimo dia Deus descansou. Por isso, o homem também deve descansar nesse dia. O sábado se tornou uma festa semanal de renovação, a festa do lar e da família. 

1.4. Festas judaicas.

O ANO NOVO (Rosh ha-Shaná, em hebraico) é celebrado em setembro ou outubro. No mês anterior, todos os judeus procuram cuidar especialmente bem de suas obrigações religiosas e praticar atos de caridade. É uma data em que cada um deve se concentrar na autoanálise e no arrependimento, refletindo sobre suas ações e tentando melhorar. 

O DIA DO PERDÃO, ou Yom Kipur, termina o período de dez dias de arrependimento iniciado no Ano-Novo. Tradicionalmente, no antigo Israel, o Dia do Perdão era o único dia do ano em que o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, o recinto mais sagrado do Templo. Isso se dava após o sacrifício de um carneiro, como sinal de expiação pelos pecados do povo. Hoje em dia os pecados são confessados na sinagoga e o indivíduo pede perdão a Deus depois de ter se reconciliado com seus semelhantes. 

A FESTA DOS TABERNÁCULOS, ou Sukot (festa das tendas), acontece poucos dias depois do Dia do Perdão. Nela se constroem cabanas de folhas, no jardim da casa ou próximo à sinagoga. Isso é feito em memória das tendas onde os judeus moravam durante sua peregrinação no deserto e do cuidado que Deus dedicou a eles. 

A PÁSCOA em hebraico é chamada Pessach, que significa “passar por cima”. É uma referência ao relato da Torá sobre o anjo do Senhor que, ao levar a décima praga ao Egito, “passou por cima” das casas dos israelitas e, desse modo, só os primogênitos egípcios morreram. O Pessach é celebrado em março ou abril e comemora o êxodo dos judeus da escravidão do Egito. 

Quando a família senta para fazer a refeição de Pessach, uma criança pergunta: “Por que esta noite é diferente de todas as noites? ”. E o pai então explica como os judeus saíram do Egito e se tornaram um povo. 

A refeição da Páscoa é chamada seder, palavra hebraica que quer dizer “ordem”, pois segue um ritual fixo, com pratos tradicionais de significado simbólico. Devem-se mergulhar ramos de salsa numa tigela com água salgada, simbolizando as lágrimas dos judeus no Egito. 

As ervas amargas lembram a infelicidade da escravidão sob domínio do faraó. Uma mistura de maçã ralada, nozes, vinho e mel representa o cimento que os judeus utilizavam para fazer tijolos. Um osso de carneiro assado simboliza o sacrifício pascal.  Ovos cozidos recordam os sacrifícios feitos no Templo. Bebe-se também vinho, símbolo da alegria. 

A FESTA DAS SEMANAS (Shavuot), ou o Pentecostes judaico, cai em maio ou junho e comemora a ocasião em que a Torá foi dada ao povo no monte Sinai. Na sinagoga são lidos os dez mandamentos e o Livro de Rute. A história do Livro de Rute se passa durante a colheita de trigo, e no antigo Israel os peregrinos chegavam ao Templo com cestas carregadas das primeiras espigas de trigo. Hoje, as decorações com flores e ramos lembram a área em torno do Sinai. 

1.5. Ética judaica.

No judaísmo, a crença num Deus único está intimamente ligada aos princípios éticos que regulam a vida humana. A vida ética é um gesto de devoção à vontade Deus é uma imitação do divino. Uma vez que Deus é santo e justo, os judeus devem igualá-lo nestes e nos demais aspectos do ser divino. 

Os 613 mandamentos que os rabinos destilaram no Pentateuco ou da Torá propriamente dita formam a base de uma vida ética. Esses mandamentos, junto com o enorme corpo de tradições neles baseados, são conhecidas como Halaka, literalmente “caminhada”, ou seja, o caminho em que Israel deve andar neste mundo. 

Prover aos pobres, fracos e deficientes assume assim um significado religioso, e a assistência aos outros teve um grande papel no desenvolvimento de uma ética judaica. As comunidades judaicas sempre tiveram sistemas altamente organizados de bem-estar social, para os quais todos são solicitados a contribuir de acordo com sua capacidade. 

FERIADOS ATUAIS

Dois feriados tornaram-se quase universalmente considerados pelos judeus modernos. O Dia da lembrança do Holocausto (Yom ha-Shoah) é observado em memória dos 6 milhões de judeus mortos pelos nazistas e seus aliados na Segunda Guerra Mundial. Ele acontece cerca de duas semanas depois da Páscoa, quando os judeus do Gueto de Varsóvia se revoltaram contra seus opressores em 1943. Obviamente é um dia de luto. 

Já o Dia da Independência de Israel (Yom ha-Atzmaut) é uma comemoração alegre da recuperação aparentemente milagrosa do povo judeu, que depois do Holocausto assistiu à declaração da independência do Estado de Israel em 14 de maio de 1948. (EHRLICH, S. Carl. Judaísmos. In: COOGAN, D. Michael. Religiões. p. 47) 

II. Cristianismo.

Logo depois da crucificação de Jesus de Nazaré, um pregador judeu que curava os doentes, surgiu no mundo greco-romano um novo movimento religioso que iria mudar o mundo para sempre. Um círculo íntimo de discípulos de Jesus e muitos dos seus seguidores acreditavam que ele era o Cristo, ou Messias, um redentor divino da humanidade, que tinha ressuscitado depois de morrer. Eles começaram a espalhar essa mensagem e também os ensinamentos de Jesus, baseados no amor de Deus e ao semelhante. A partir desse “movimento de Jesus” surgiu a fé cristã, agora a maior religião do mundo, com cerca de 2 bilhões de seguidores espalhados por quase todos os países. 

2.1. Jesus de Nazaré.

Jesus era um judeu, e na época de sua juventude o reino judaico estava sob o controle direto de um oficial do Império romano. Jesus se tornou um profeta itinerante, baseando suas ideias nas escrituras judaicas. Mas logo ficou claro que ele estava formulando uma doutrina independente, pois com frequência dizia coisas como: “Vós aprendestes o que foi dito a vossos antepassados... Eu, porém, vos digo...”. 

No ano 29 ou 30 de nosso calendário, Jesus foi acusado de blasfêmia por um tribunal religioso judaico. Um alto funcionário romano, Pôncio Pilatos, atendeu ao apelo dos anciãos judeus e sentenciou Jesus à morte, executando-o por crucificação. Pilatos o sentenciou por ter se rebelado contra o Estado romano. 

O movimento de Jesus, contudo, não morreu com o seu líder. Logo depois da crucificação um pequeno grupo de judeus começou a proclamar que Jesus havia ressuscitado e que com essa ressurreição as esperanças messiânicas de Israel tinham sido preenchidas. Eles dificilmente poderiam prever o sucesso espantoso de sua pregação[4]. 

2.2. Jesus: O Messias, Filho do homem, Filho de Deus. 

1.  O Messias – A tradução grega da palavra Messias é Christos. Assim, originalmente o nome de Jesus Cristo é um reconhecimento de que Jesus é o prometido messias. Embora, segundo os evangelhos, em várias ocasiões Jesus tenha admitido ser o messias, há provas de que ele não usava esse título para falar de si mesmo. Ainda que possa ser aparecido como messias para seus discípulos, é muito pouco provável que tivesse se referido a si mesmo dessa maneira em público, decerto porque não queria ser visto como libertador político de seu país.

2.      O Filho do Homem – O título usado com mais frequência por Jesus era Filho do Homem. Esse título também é tomado do Antigo Testamento, onde se referia ao salvador que os judeus esperavam que fosse enviado por Deus. Em oposição à colocação nacionalista e política do Messias, o Filho do Homem era uma figura celestial que haveria de chegar “envolto em nuvens do céu” para salvar os justos. O fato de que Jesus chamasse a si mesmo de Filho do Homem indica que ele se considerava um ser divino.

3.      O Filho de Deus – Jesus se refere a si mesmo como Filho, ou Filho de Deus, em particular no evangelho de João. É bem claro que aqui esse nome tenciona conotar a unidade entre Jesus e Deus. Numa passagem Jesus se expressa desse modo: “Eu e o Pai somos um” (João 10,30).

 

2.3. A ideia de Deus.

A Trindade é uma doutrina fundamental do cristianismo e tem desafiado os teólogos ao longo da história da religião.  Ela sustenta que há um único Deus, mas que Ele se compõe de três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – adoradas como uma unidade. A ideia de Deus como “um em três e três em um” continua sendo um dos mistérios mais sagrados para as igrejas oriental e ocidental. 

Para os cristãos Deus também é amor. O principal comentário da Bíblia acerca de Deus é que ele é “amor”. Essa não é uma descrição de uma entre outras características de Deus, mas uma qualificação geral. A Bíblia também destaca que é impossível para o ser humano conhecer a Deus ou amar a Deus se não nos amamos uns aos outros. Pois Deus é amor. 

A Bíblia oferece outras definições de Deus: ele é Pai, Senhor, todo-poderoso, onisciente, bom, misericordioso, justo e pessoal. Por trás de cada uma dessas diversas características há sempre um acontecimento, porque o Deus cristão é algo mais que um princípio filosófico. Ele é um ser pessoal que ouve as orações e os louvores do homem. 

2.4. Os primeiros cristãos.

Segundo disse Jesus, os doze apóstolos formaram o núcleo do novo reino de Deus que estava para vir. Pedro foi a figura principal entre eles. Outra figura importante foi Tiago, irmão de Jesus. 

A primeira congregação cristã foi constituída por judeus. Eles obedeciam à Lei de Moisés, participavam dos serviços no Templo e na sinagoga, e de um modo geral viviam como judeus piedosos. Sua crença de que Jesus de Nazaré era o prometido Messias os diferenciava dos outros judeus. Eles foram considerados uma seita judaica separada chamada de nazarenos, para se distinguirem dos saduceus e fariseus. No início não havia um grande abismo entre cristianismo e judaísmo. 

De importância decisiva para a contínua difusão do cristianismo foi a conversão do fariseu Saulo (Paulo), por volta de 32 d.C. Não é exagero dizer que os muitos anos de ministério de Paulo transformaram o cristianismo numa religião mundial. Sua contribuição se deu em dois sentidos: em primeiro lugar, ele viajou intensamente pelo mundo greco-romano e proclamou o evangelho de Cristo entre os não-judeus. 

Em segundo lugar, estabeleceu as fundações da teologia cristã em suas várias epístolas às novas igrejas. Nas epístolas de Paulo o cristianismo é tratado como uma religião independente, e Jesus Cristo, como o salvador de todos os humanos. 

2.5. Os Sacramentos.

O amor e a proximidade de Deus se evidenciam não apenas por meio de suas palavras, mas também sob a forma de atos sagrados, os sacramentos. O termo sacramento pode, em princípio, aplicar-se a uma série de ações que reforçam a comunhão com Deus.

A Igreja católica romana reconhece sete sacramentos. Dois tem significado especial e são vistos como sacramentos também na Igreja protestante: o batismo e a eucaristia, ambos utilizados como sinais externos, visíveis e instituídos por Jesus. 

a) Batismo – O próprio Jesus instituiu o batismo, segundo Mateus, juntamente com o seu “mandamento missionário” no Dia da Ascensão. Desde os primeiros dias do cristianismo, o batismo foi o passaporte para entrar na comunidade cristã; é um ato de iniciação.

b) Eucaristia – Eucaristia é uma palavra grega que significa “dar graças”, e se refere à ceia que Jesus compartilhou com seus discípulos mais próximos antes de ser executado.

Os ingredientes básicos da ceia foram pão e vinho. São essas as coisas que Jesus escolheu para demonstrar o significado de seu ministério. Ele se ofereceu a si mesmo, em carne e sangue, para que o homem pudesse ser perdoado pelo rompimento de sua relação com Deus. 

2.6. O Mandamento principal.

Um pequeno trecho do Sermão da Montanha se tornou muito conhecido e é chamado de REGRA DE OURO: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois este é a Lei e os Profetas” (Mateus 7.12). 

Em todas as pregações de Jesus, a caridade é proclamada como o mandamento-chave: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.39). Repetidas vezes se enfatiza que a caridade não deve ser expressada apenas àqueles de quem se gosta, às pessoas da própria comunidade, ou àquelas que se encontram em dificuldades sem ter culpa por isso. Todas as pessoas devem receber amor – mesmo as que, segundo a opinião comum, merecem a dureza de seu destino. Como já foi mencionado, Jesus chega a dizer que devemos amar nossos inimigos. 

2.7. A Bíblia sagrada.

Os cristãos consideram que a Bíblia foi inspirada por Deus e é o texto mais sagrado do cristianismo. Ela se compõe de duas partes: o Velho Testamento, essencialmente a Bíblia Hebraica, que representa a primeira aliança (“testamento”) de Deus com a humanidade; e o Novo Testamento, a aliança com Jesus Cristo, na qual se cumpre as promessas de Deus a Israel.  Os 27 livros do Novo Testamento, composto no século seguinte à morte de Cristo, registra seu nascimento, ministério, paixão (“sofrimento”) e ressurreição. 

Contém também os Atos dos Apóstolos, com um relato da missão de Paulo entre os gentios, e cartas de Paulo e outros. O último livro, Apocalipse, é uma visão profética sobre o fim dos tempos. 

O Novo Testamento se compõe de textos que a Igreja antiga considerava inspirados por Deus e via como os que melhor comunicam a experiência religiosa dos cristãos. Não eram obra de um único indivíduo ou concílio da Igreja, mas evoluíram passo a passo durante vários séculos.

 

LIVROS DO NOVO TESTAMENTO

Evangelhos

Mateus, Marcos, Lucas e João.

Histórico

Atos dos Apóstolos

Cartas Paulinas

Romanos, 1Corintios, 2Coríntios, Gálatas, Efésios, filipenses, colossenses, 1Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses,

1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemom.

Cartas Gerais

Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João e Judas.

Revelação

Apocalipse.

 

2.8. O Dia do Senhor.

No século II o sabá cristão, ou Dia do Senhor, passou para o primeiro dia da semana (domingo) em vez do último (sábado), não só para diferenciá-lo do sabá judaico como também, e sobretudo, porque foi nesse dia que Jesus ressuscitou. Nos domingos os cristãos regularmente reúnem-se para reviver e relembrar a Santa Ceia. Os rituais ligados ao Dia do Senhor lembram e celebram principalmente o que os cristãos consideram o sacrifício do corpo e do sangue de Jesus[5]. 

2.9. Uma só Igreja – muitas comunidades religiosas.

O cristianismo hoje está dividido em muitas comunidades eclesiásticas, com diferentes organizações, doutrinas, ordens e atitudes sociais. Podemos dizer que a Igreja permaneceu única e indivisa até 1054, quando se dividiu em duas, Católica e Ortodoxa.

No século XVI ocorreu a Reforma protestante, quando diversas comunidades da Igreja se levantaram em protesto contra certos aspectos da doutrina e da prática da Igreja católica. Foram elas a Igreja anglicana, a reformada e a luterana. 

Depois disso surgiram novas igrejas, destacando diferentes aspectos do evangelho cristão. Estas incluíam: os calvinistas, os presbiterianos, os metodistas, os batistas, os petistas, etc. Apesar de todos os contrastes, porém, a maioria das comunidades cristãs têm um fundamento comum, que é a Bíblia. Além disso, a maioria aceita um – ou mais – dos credos que foram formulados nos antigos sínodos[6], o Credo niceno, o Credo atanasiano e o Credo dos apóstolos. 

III. Islã.

O Islã foi a terceira maior tradição monoteísta a surgir na história humana. A própria palavra “islã”, frequentemente traduzida por “submissão”, refere-se à decisão dos muçulmanos (“Aqueles que se submete ou se rende”) de sujeitar-se em mente e espírito à vontade de Deus ou Alá (em árabe Allah, “O Deus único”). Assim, submeter-se à vontade divina, como explicam os textos sagrados da tradição, é realizar uma ordem harmoniosa no universo. Nesse sentido o islã se refere não só ao ato de submissão como à sua consequência, a paz (salam)[7]. 

Como religião, o islã não compreende apenas a esfera espiritual, mas todos os aspectos da vida humana e social. A interpretação da lei, o direito, sempre ocupou um lugar relevante na história do islã. Na maioria dos países islâmicos, os que tem conhecimento jurídico costumam atuar como líderes religiosos. Não existe um sacerdócio organizado.

Uma descrição geral do islã se divide em três tópicos principais: 

1.       Credo (monoteísmo e revelação);

2.      Deveres religiosos (os cinco pilares), e

3.      Relações interpessoais (ética e política)[8].

 

3.1. Maomé, o fundador do Islã.

Por muito tempo o islã foi conhecido no Ocidente como “maometanismo”, em razão da forte influência do profeta Maomé sobre o islã. O islã, a mais recente das grandes religiões mundiais, remonta a Maomé, que nasceu em Meca, na Arábia, no final do século VI, por volta de 570 d. C. Filho de uma das principais famílias da cidade – importante centro comercial e posto de parada para as caravanas que transitavam pela península Arábica -- Maomé ficou órfão ainda criança. 

Um de seus tios, Abu Talib, cuidou dele e o sustentou quando começou a suas prédicas. Foi esse mesmo tio que levou Maomé a trabalhar como condutor de camelos em Khadidja, a rica viúva de um mercado, de excelente família, que embora quinze anos mais velha que ele, mais tarde se tornou sua esposa. Khadidja foi a primeira a seguir Maomé quando ele lhe falava das revelações que tinha; ele exerceu bastante influência em seu desenvolvimento religioso. Maomé nunca teve outra esposa. 

3.2. Deus se revela a Maomé.

Todo ano, Maomé se retirava para uma caverna numa montanha dos arredores de Meca, onde meditava. Esse também era o hábito dos monges e eremitas cristãos, que, diferentemente de Maomé, fundamentavam suas meditações em algum texto ou passagem selecionada, em geral dos evangelhos. Ao completar quarenta anos, Maomé teve uma revelação na caverna. O anjo Gabriel de repente lhe apareceu com um pergaminho e ordenou a ele que o lesse. Maomé respondeu que não sabia ler, e o anjo disse: 

[ “Recita em nome do teu Senhor, que criou, criou o homem a partir de coágulos de sangue. Recita! Teu senhor é o Mais Generoso, que pela pena ensinou ao homem o que ele não sabia”]. 

Em árabe, a palavra recitar tem a mesma raiz que Curan, que significa “ler”, ou “ler alto”. O Corão é o livro sagrado dos muçulmanos e reúne as revelações de Maomé. Assim, os muçulmanos, do mesmo modo que os judeus e os cristãos, passaram a ter um texto sagrado. O Corão só foi escrito depois da morte de Maomé. Seus 114 capítulos (suras) foram arranjados de maneira tal que os mais longos vêm primeiro, mesmo os que Maomé recebeu numa data posterior aos mais curtos. A exceção é a sura I, no início do Corão.

 

O ALCORÃO NA VIDA ISLÂMICA.

O Alcorão está presente de vários modos na vida dos muçulmanos. Foi o núcleo da educação islâmica tradicional – os jovens muçulmanos aprendiam a ler e a escrever com os versos corânicos, e, teoricamente, decoravam todo o texto. Embora essa prática tenha se perdido devido à expansão de uma educação pública secular, de modo geral os pais de hoje ainda garantem aos filhos o conhecimento do Alcorão. 

O exemplo dado pelo próprio profeta ao transmitir oralmente a palavra de Deus a seus seguidores ajuda a explicar o grande valor ligado até hoje à memorização e recitação do Alcorão. A recitação continua sendo uma forma de arte altamente cultuada, e gravações de declamadores famosos estão disponíveis em todo o mundo islâmico. 

O Alcorão tem uma santidade física. Os muçulmanos preferem se aproximar dele e manuseá-lo apenas num estado de pureza ritual, e seu poder divino ou graça (em árabe: baraka) pode até, num uso mais popular, ser empregado como meio de cura. (Matthew S. Gordon. Islamismo. In. Michael D. Coogan. Religiões. 2007, p. 104 )

 

O que a Torá é para os judeus e o Cristo para os cristãos, isso é o Alcorão para os muçulmanos:  o caminho, a verdade e a vida. Com efeito, para os muçulmanos o Alcorão é: 

1.   A verdade: a fonte original da experiência de Deus e da piedade e o critério obrigatório da reta fé;

2.      O caminho: a verdadeira possibilidade de vencer o mundo, o princípio que guia a reto agir;

3.  A vida: o fundamento permanente do direito islâmico e a alma da liturgia islâmica, a instrução já para as crianças muçulmanas, a inspiração da arte muçulmana e o espírito, que tudo perpassa, da cultura muçulmana. O que importa não tanto os dogmas, mas sim a prática.[9]

 

3.3. De Meca a Medina.

Depois de sua revelação, Maomé começou a pregar em Meca. Ele se proclamou profeta ou mensageiro de Deus, o que foi visto pelas famílias poderosas de Meca como uma tentativa de usurpar a autoridade política da cidade. Grupos importantes também se opuseram a suas afirmações de que Alá era o único e verdadeiro Deus. Se fossem jogar fora todos os velhos deuses e deusas que seus antepassados adoraram, estariam reconhecendo que estes tinham sido pagãos. 

A oposição a Maomé cresceu. Após a morte de seu tio e de sua esposa, as coisas pioraram cada vez mais para o profeta e seus seguidores em Meca. Nesse ínterim, Maomé havia atraído outros seguidores na cidade de Medina, os quais estavam prontos para aceita-lo como um dos seus. Assim, em 622, ele saiu de Meca em segredo e alguns dias depois chegou a Medina, onde seus seguidores já o esperavam. 

A emigração de Maomé é conhecida em árabe como a Hijra (Hégira), que significa “rompimento” ou “partida”. Maomé rompeu com a própria comunidade, os parentes e sua cidade natal. Não se tratou de uma fuga, mas o fato foi comparado à história bíblica de Abraão que, atendendo à ordem de Deus, deixou seu lar em Ur, na Mesopotâmia.

 

3.4. O credo.

            O credo do islã está resumido nesta curta declaração de fé: 

“Não há Deus senão Alá, e Maomé é seu Profeta”. 

Esses dois pontos constituem o núcleo da doutrina islâmica: o monoteísmo e a revelação por intermédio de Maomé. 

Deus falou ao homem por intermédio de seu profeta Maomé, o último de uma linha de profetas que ele enviou à humanidade: Adão, Abraão, Moisés e Jesus. Originalmente, Maomé se considerava parte da comunidade judaico-cristã. Aos poucos ele se distanciou tanto dos judeus como dos cristãos. Logo de início os judeus apontaram que Maomé cometera erros em sua reinterpretação das narrativas do Antigo Testamento. Maomé não a acusação: as revelações que recebia eram a Palavra de Deus; assim, os judeus é que deviam te distorcido o significado de suas escrituras sagradas. 

A fim de criar um fundamento histórico para sua nova religião, Maomé se reportou a Abraão e seu filhos Ismael, antepassado dos árabes. Ensinou que Abraão e Ismael tinham reconstruído a sagrada Caaba, que fora erigida por Adão, mas destruída pelo dilúvio na época de Noé. Segundo Maomé, os judeus, os cristãos e os politeístas haviam corrompido o monoteísmo original de Abraão. 

O ataque mais severo de Maomé contra o cristianismo se dirige à Trindade, que, segundo ele, é uma quebra do monoteísmo puro. No islamismo, Maomé é apenas um intermediário, pois a verdadeira revelação ocorre no próprio Alcorão. No cristianismo a Palavra de Deus se tornou uma pessoa; no islamismo, um livro. Portanto, não é correto comparar Jesus com Maomé e a Bíblia com o Alcorão. Seria mais apropriado dizer que existe um paralelo entre Jesus e o Alcorão. 

3.5. Os cinco pilares do Islã.

  1. O credo; A oração;
  2. A caridade (esmola);
  3. O jejum (Ramadã); 
  4. A peregrinação a Meca. 

Todo muçulmano adulto que dispõe de meios para realizar uma peregrinação a Meca, deve fazê-la pelo menos uma vez na vida. Ali se encontra o santuário sagrado mais antigo do islã, a Caaba. Trata-se de um edifício quadrado coberto por um pano negra. Num canto da Caaba fica uma pedra negra incrustada na parede; essa pedra tem um enorme significado simbólico. 

Para os muçulmanos, Meca e a Caaba são o centro do mundo. Não só os fiéis se voltam para Meca quando oram; também as mesquitas são construídas com o eixo mais longo apontando para lá. Os mortos são enterrados voltados para Meca, e a cidade é o destino das peregrinações. 

Meca é visitada todos os anos por cerca de 1,5 milhões de peregrinos, metade dos quais vem de fora da Arábia. O número de peregrinos aumentou de maneira extraordinária depois que se organizaram os voos charter para lá. A grande mesquita de Meca foi completamente reconstruída e hoje abriga 600 mil pessoas. 

Quando os peregrinos se aproximam de Meca, passam a usar vestes brancas. Nos dias que se seguem eles irão realizar uma série de ritos, dentro e fora da cidade. A maioria desses rituais enfatiza sua ligação com Abraão ou Maomé, pois ambos mostraram obediência a Deus. O primeiro rito consiste em caminhar em torno da Caaba sete vezes, e muitos tentam beijar a pedra negra. Diz a tradição que essa construção foi erguida por Abraão e Ismael, filho de Abraão com sua escrava Agar. 

3.6. Ética e política.

Tradicionalmente, no islã não há distinção entre a religião e a política, tampouco entre a fé e a moral. Todas as obrigações religiosas, morais e sociais do homem estão estabelecidas na sagrada lei muçulmana, na Sharia. 

Sharia significa “caminho para o oásis”, ou seja, o caminho correto para a conduta humana, que foi revelada por Deus ao homem. A lei sagrada se expressa sobretudo no Alcorão, que é muito mais que um texto religioso. Trata-se de um livro de leis que contém instruções fixas e rígidas sobre o governo da sociedade, a economia, o casamento, a moral, o status da mulher, etc. 

O QUE CARACTERIZA AS TRÊS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS

O que é claramente comum a judaísmo, cristianismo e islamismo é a fé no Deus uno e único de Abraão, o clemente e misericordioso Criador, Preservador e Juiz de todos os homens, chamado em árabe de Alá, tanto por muçulmanos como por cristãos. Mas o que os distingue também se torna claro, agora.

O que é mais importante:

  1. Para o judaísmo: Israel como povo e terra de Deus;
  2. Para o cristianismo: Jesus Cristo como Messias e Filho de Deus;
  3. Para o islã: o Alcorão como livro e palavra de Deus.

 

 

REFERÊNCIAS.

COOGAN, Michael D. (org.) Religiões. São Paulo. Publifolha, 2007.

KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns. Campinas. Verus, 2004.

HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O Livro das Religiões. São Paulo. Companhia das letras, 2000.

MARCHON, Benoit; KIEFFER, Jean- François. As grandes religiões do mundo. 7. ed. São Paulo. Paulinas, 2011.

 

 

 

[1] GAARDER, Jostein. O Livros das Religiões. 2000, p. 97.

[2] EHRLICH, Carl S. Judaísmo. In: COOGAN. Michael D. (Org). Religiões. 2007, p. 16.

[3] MARCHON, Benoit; KIEFFER, Jean-François. As Grandes Religiões do Mundo. 2011, p. 27.

[4] HALE, Rosemary Drage. Cristianismo. In: COOGAN, Michael D. Religiões. 2007, p. 59.

[5] HALE, Rosemary Drage. Cristianismo. In: COOGAN, Michael D. Religiões. 2007, p. 83.

[6] Sínodo é uma assembleia de sacerdotes convocada por um bispo da Igreja.

[7] GORDON, Matthew S. Islamismo. In: COOGAN, Michael D. Religiões, 2007, p. 90.

[8] HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O Livro das Religiões, 2000, p. 118.

[9] KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns. 2004, p. 257.