Contribuição

Pix: anderson.alvesbarbosa7@gmail.com

16 de maio de 2017

SINTESE SOBRE A EXPANSÃO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL.


Passam-se os anos e as religiões sofrem algum tipo de mudança. Isso acontece por que às religiões são um pertencimento social, e na medida que à sociedade sofre mudanças, as religiões também são afetadas. O cristianismo de hoje é muitíssimo diferente do cristianismo antigo do 1° século d.C. Houve muitas mudanças, principalmente na teologia e no culto. Historicamente em 1054 aconteceu um cisma que deu origem à Igreja Ortodoxa Grega. Alguns séculos depois (mais especificamente em 1517), surge à Reforma Protestante na Alemanha, que tem como fundador o monge agostiniano Martinho Lutero. Depois desses cismas o cristianismo foi sofrendo mudanças e adquirindo novas faces. 

A partir da Reforma outras Igrejas e seitas foram surgindo, e se espalhando pelo Ocidente. Mas, se existe um ramo do protestantismo, que com o passar dos anos, conquistou uma significativa influencia religiosa no Brasil, este é o movimento pentecostal. Em quase todas as localidades do território brasileiro, existe uma comunidade que pertence a este movimento religioso. Mas quais foram os motivos que levaram esse movimento a ter tanta representatividade entre os brasileiros? O que ele oferece para ser tão cativante? Vamos descobrir.


O presente texto tem como fundamento à história das religiões, ele tenta analisar o movimento pentecostal com um olhar histórico e, com isso, deixa de lado o confessionalismo e o dogmatismo. E também, na medida do possível, ser uma fonte de conhecimento para à elaboração das aulas do Ensino Religioso. 


1. A ORIGEM PENTECOSTAL.

Quase todo novo movimento religioso é uma tentativa de retornar as origens primordiais, que com o passar do tempo foram ficando no esquecimento. A nomenclatura "pentecostal" é derivada de uma festa judaica cujo o nome é pentecostes ou festa da colheita. No segundo capítulo do livro dos Atos dos apóstolos relata um evento na cidade de Jerusalém, onde um pequeno grupo de cristãos estava participando dessa festividade. E de forma inesperada esse pequeno grupo teve uma experiência místico-religiosa, conhecida como "enchimento do Espírito Santo" ou "batismo no Espírito Santo". 

De forma inexplicável este pequeno grupo de cristãos começou à "falar em outros idiomas", de forma que as pessoas próximas a eles compreendiam o que eles falavam. A partir deste evento (segundo alguns especialistas e interpretes), dá-se inicio  à expansão do movimento cristão para outras partes do mundo. Mas, com o passar do tempo essa "experiência pentecostal" foi se arrefecendo e caindo no esquecimento. 


O moderno movimento pentecostal procura ser um resgatador dessa experiência que aconteceu nos tempos primordiais. Mas, historicamente o pentecostalismo que existe no Brasil, é um movimento religioso importado dos Estados Unidos. O movimento pentecostal originou-se em Los Angeles, mais especificamente na Rua Azuza, em uma comunidade de negros. Onde o pastor negro Willam Seymour foi o seu dirigente. 
"De qualquer forma, o começo do pentecostalismo tem um tempo e um espaço demarcados: uma comunidade de negros na Azuza Street em Los Angeles, 1906. Essa comunidade, dirigida por William J. Seymour, um negro ecumênico que animava uma espiritualidade entusiasta acima de raça e classes, produz uma interpretação da tradição metodista da santidade e presencia um fenômeno que se tornará o estopim dos fatos que se sucederão posteriormente. Seymour desenvolveu uma interpretação da passagem de At 2,4 que diz: "Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar novas línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem". [...] No dia 06 de abril, após longa jornada de oração e imposição das mãos, um menino fala em línguas, sendo seguido por outros fieis. O fenômeno alastra-se pela cidade e atrai um número cada vez maior de fieis protestantes, que vêm presenciar o milagre. Chicago será um centro divulgador do movimento, que vai, então apresentar-se como um grupo autônomo denominado pentecostal" (PASSOS, 2005, p.50). 
Com o surgimento do pentecostalismo à religião cristã sofre mais uma mudança de paradigma. Antes somente existia à Igreja Católica, Igreja Ortodoxa e as Igrejas protestantes históricas (Luterana, Presbiteriana, Batista, Anglicana e Metodista). O pentecostalismo passa a ser outro sub-grupo cristão. Pode-se dizer que à principal distinção entre as comunidades pentecostais e as outras Igrejas, é a sua ênfase na experiência pessoal do Batismo no (ou com) Espírito Santo, que tem como evidência, o falar em outras línguas. Quando se tira esses elementos, as comunidades pentecostais perdem à sua identidade. 

2. O PENTECOSTALISMO NO BRASIL.
Ser dinâmico e místico são características do pentecostalismo. Ele é capaz de se moldar e se recriar conforme o contexto social onde está localizado. Por ser místico e apelar muito para a emoção do que para a razão, o pentecostalismo conquistou o seu espaço entre os brasileiros. Principalmente entre as classes mais pobres da sociedade. 

As maiores representantes do pentecostalismo clássico no Brasil são: 1) Assembleia de Deus; 2) Congregação Cristã no Brasil (conhecida com "Igreja do véu"); 3) Igreja do Evangelho Quadrangular; e 4) Igreja o Brasil para Cristo. Existem outras, mas essas são as que logo no início tiveram mais representatividade. 
"De 1910 a 1950 a presença pentecostal no Brasil foi discreta. Entre 1910 e 1911 surgiram no Brasil as duas principais Igrejas pentecostais - Assembleia de Deus e Congregação Cristã do Brasil -, que ao longo desses quarenta anos desenvolveram-se discretamente. A partir dos anos 1950 até os primeiros anos da década de 1970 as Igrejas pentecostais floresceram no Brasil a ponto de ser difícil, hoje, fazer um levantamento completo delas, principalmente por causa da efemeridade e da itinerância de alguns grupos" (MENDONÇA; FILHO, 2002, p. 46).
De todas as comunidades pentecostais no Brasil a Assembleia de Deus foi a que mais cresceu em número de adeptos. Já as outras não se tornaram tão populares. A Assembleia de Deus foi fundada por dois missionário suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, que no início realizaram o seu trabalho missionário, especificamente, no norte e nordeste do Brasil. A Congregação Cristã do Brasil foi fundada por um imigrante italiano chamado Luigi Francesco. Francesco iniciou suas atividades no bairro do Brás, em São Paulo. 
"As Assembleias de Deus se diferenciam da Congregação Cristã no Brasil porque fazem concessão à comunicação escrita. Têm sua casa publicadora, que edita livros, revistas e o semanário "O Mensageiro da Paz". Tem institutos bíblicos que preparam sua liderança a já começam a sistematizar a teologia através de sucessivas publicação de textos teológicos. O preparo teológico ainda não resultou, nas Assembleias de Deus, em diferença de classe entre liderança e povo. Pode ser que isso ainda venha a acontecer na medida em que a educação intelectual provoque sensível desnível de mentalidade entre líderes e liderados" (MENDONÇA; FILHO, 2002, p. 51).
O ponto fraco do pentecostalismo é não dar tanta atenção à formação teológica superior de seus fieis, principalmente dos líderes. A principal exigência para ser líder de uma comunidade pentecostal é ter sido "batizado no (ou com) Espírito Santo", e, consequentemente falar outras línguas. Não há tanta necessidade de ter curso superior ou algum tipo de educação formal. Talvez isso tenha contribuído com à expansão do pentecostalismo na periferia das grandes cidades brasileiras. Não precisava ser formado para ser um pastor pentecostal, basta apenas falar em línguas.  

Diferentemente, as Igrejas protestantes históricas (que já estavam em atividade no Brasil antes do advento do pentecostalismo), sempre deram muita importância à formação teológica de seus líderes. O aspirante a ser pastor de uma comunidade protestante histórica não pode ser leigo em questões de doutrina e teologia. No entanto, várias comunidades protestantes históricas se estagnaram com o passar do tempo, e não tiveram a mesma expansão numérica das comunidades pentecostais. Esse é o ponto fraco das Igrejas protestantes históricas. 

3. AFINIDADES PENTECOSTAIS
Será que existe alguma afinidade entre o pentecostalismo e o catolicismo popular? Em parte sim. Catolicismo e pentecostalismo são duas tendencias religiosas que tem muito influenciado a vida dos brasileiros. O catolicismo é mais antigo, e o pentecostalismo é mais recente, no entanto, ambos tem algo em comum: o misticismo

O brasileiro sempre está em busca do miraculoso. E isso faz parte de sua cultura. Ele quer de imediato à solução para os seus problemas e angústias. Teorias e estudos teológicos sistematizados não são atrativos. 

As missas de cura e libertação católicas, como as campanhas de oração pentecostais, são meios sagrados pelos quais as pessoas buscam à ajuda de Deus, e também a esperança de encontrarem uma solução para as suas agruras. Podemos dizer que o misticismo une o pentecostalismo e o catolicismo popular. Na medida em que ambos buscam, cada um a seu modo, aliviar os problemas da população. 


Fontes:
MENDONÇA, Antônio Gouvêa; FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo, Loyola, 2002.
PASSOS, João Décio. Pentecostais: origens e começo. São Paulo, Paulinas, 2005.