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7 de abril de 2018

RITOS SAGRADOS: As manifestações celebrativas da fé.


“Orar em conjunto, em qualquer língua, em qualquer rito, é a mais comovedora fraternidade de esperança e de simpatia que os homens podem contrair na terra”
(Anne Louise Germaine de Staël)[1].

Religião sem rito não é religião. Ela pode até não possuir um livro sagrado, mas não ter um rito (culto) que faça mediação entre os humanos e o divino é algo inadmissível. Durante séculos as tradições religiosas exercem uma grande influência em reunir pessoas que compartilham a mesma fé em diversos lugares. Seja o cristianismo no ocidente, o budismo na Ásia ou o Islamismo no oriente. A fé religiosa nunca deixou de ter influencia sobre a mente e o comportamento de milhares de pessoas ao redor do mundo.

E é nesse ajuntamento religioso que as crenças são praticadas e experimentadas em coletividade. Neste ponto os ritos são muito relevantes para que os integrantes do grupo se conheçam melhor e juntos compartilhem suas experiências de fé. Considerando esses fatos, podemos afirmar que ao estudar os ritos estamos conhecendo um pouco mais sobre a cultura humana.

Este texto tem o objetivo de mostrar a relação entre rito e o imaginário religioso; a importância dos espaços sagrados e refletir sobre os vários tipos de ritos.

I) O RITO E O IMAGINÁRIO RELIGIOSO.
A mente humana é perita em criar imagens e símbolos que são utilizados como representações do sagrado. Os humanos sempre no decorrer de sua existência, e nas mais variadas culturas, criaram e usaram imagens e símbolos para representar os seres espirituais e com isso ter algum tipo de contato com eles. E é por isso que o imaginário religioso e os ritos são inseparáveis. Eles são, de certo modo, o oxigênio da vida religiosa de um povo.

O sagrado é multifacetado, isto é, ele pode ter várias faces e representações, dependendo do contexto cultural e religioso de um povo. O sagrado pode ter um sentido para o judeu, outro para o cristão, outro para o hindu, outro para o budista e outro para o zoroastrista etc. E são nos ritos que a experiência do sagrado é praticada e vivenciada seja de forma individual ou coletiva. 
“Ora, o sagrado refere-se a algo que, presente e real, é inesgotável, absoluto, misterioso, majestoso, inefável, ou seja, sobre o qual se pode dizer alguma coisa, mas não tudo. É energia, poder e força criadora e destruidora sempre pronta a derramar-se, a desgastar-se, como a eletricidade. Perante o sagrado, o ser humano percebe-se limitado, relativo, efêmero, dependente. Seu sentimento é de maravilhamento, fascinação, estupor, temor” (VILHENA, 2005, p.59).
Para que possamos entender melhor essa relação entre o rito e o imaginário religioso, tomemos como exemplo o rito do zoroastrismo. Os zoroastristas têm o costume regular de realizar suas preces e devoções a Aúra-Mazda, O senhor Sábio, em casa ou no templo. Para os zoroastristas à presença da divindade no templo é simbolizada pelo fogo. “O fogo sagrado” representa a luz divina, a energia a verdade de Aúra-Mazda. 
“O culto coletivo envolve preces no templo, rituais em torno do fogo sagrado e uma refeição comunal. Assim como em casa, o fogo é o foco do culto no templo, onde é mantido continuamente aceso para que o fogo celeste de Aúra-Mazda possa fundir-se com ele. O fogo torna-se então um símbolo vivo que adquire algumas das qualidades sagradas de Aúra-Mazda” (WILKINSON, 2014, p.156).
Isso é apenas um exemplo de como o sagrado é simbolizado em um rito de um grupo religioso específico. Poderíamos mencionar os ritos de outras religiões, mas isso deixaria este texto muito extenso. Mas acreditamos que a partir deste exemplo ficou claro à relação que existe entre o rito e o imaginário religioso.

II) O ESPAÇO SAGRADO.
O homem religioso observa o mundo como uma criação de Deus (ou deuses), e por isso, tudo o que há no mundo pode ser visto como sagrado. Igrejas, sinagogas, mesquitas, templos, rios, desertos, terreiros, florestas, montanhas, etc., podem ser consagrados para o uso do serviço religioso. E são nesses espaços que os ritos são realizados, nos quais os fiéis em comunidade vivenciam à experiência religiosa.

Para que algum espaço seja considerado sagrado por um indivíduo ou grupo religioso é fundamental que aconteçam pelo menos três fatores:

  • A manifestação visível de alguma divindade, espírito ou força impessoal no local;
  • Algum sinal extraordinário que seja diferente da realidade cotidiana;
  • Ritos de consagração no espaço que foi “santificado” para o uso exclusivo do grupo religioso.

Esses fatores são essenciais para que algum espaço geográfico deixe de ser profano e passe a ser considerado como sagrado. 
“O ser humano religioso tem necessidade de identificar e mapear esses espaços a fim de configurar sua leitura e interpretação do mundo, suas maneiras de nele habitar, ser e estar, orientar suas trajetórias. Os espaços sagrados são pontos de referência capazes de transfigurar o que antes era indeterminado, amorfo, caótico em um cosmo ordenado e significativo” (VILHENA, 2005, p.80).
As pessoas buscam desesperadamente um sentido para à existência. Ao viverem em um mundo caótico e desorganizado, elas buscam nas religiões a oportunidade de terem um contato com o sagrado, e consequentemente colocar “ordem em suas vidas”. Quando à medicina e à ciência falham em seus objetivos, as igrejas, mesquitas, sinagogas, templos, etc., transforma-se em locais de refúgio e esperança para milhares de pessoas. E isso mostra que as religiões continuarão existindo por muitos e muitos séculos. 

III) TIPOS DE RITOS.
Existem vários tipos de ritos com propósitos diversos, e dependendo da tradição religiosa eles podem ser praticados de modos diferentes. Alguns dos ritos mais conhecidos são: ritos de celebração, de passagem, de consagração, de propiciação, as procissões e as peregrinações. 

Geralmente esses ritos têm em sua composição cânticos, mantras, orações, meditações, leituras/recitações de textos sagrados, sermões, recolhimento de ofertas, etc. E são os líderes religiosos ou algum grupo de fieis os responsáveis pela organização dos ritos.

Concluindo, os ritos são importantes para a preservação e fortalecimento da fé de um povo. É a partir deles que buscasse ter um contato com o sagrado. Mas não somente isso, os ritos podem unir pessoas e criar entre elas fortes laços de amizades e companheirismo. Nesse aspecto os ritos sagrados cumprem um relevante papel na sociedade de inclusão social. Ou seja, agregar por meio da fé pessoas que outrora não se conheciam.


Fontes.
CRAWFORD, Robert. O que é Religião. Petropolis: Vozes 2005.
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado zahar. Rio de janeiro: Zahar, 2014.
VILHENA, Maria Ângela. Ritos: expressões e propriedades. São Paulo: Paulinas, 2005. 


[1] https://kdfrases.com/frase/141407