Contribuição

Pix: anderson.alvesbarbosa7@gmail.com

18 de janeiro de 2020

A ETERNIDADE SEGUNDO A VISÃO BUDISTA: Uma proposta para o Ensino Religioso.


Se existe algo certo nesta vida, este algo se chama morte. Independente de raça, posição social, cor de pele, gênero ou religião, todos se encontrarão com morte algum dia. Entretanto, o que acontece do “outro lado”? Essa curiosidade acompanha a humanidade desde os tempos mais antigos. Não existe uma resposta que seja universalmente aceita por todos, existem muitas hipóteses e especulações sobre o que acontece após à morte.

As tradições religiosas sempre tentaram dar algum tipo de resposta para essa questão da vida além da morte. Neste texto vamos conhecer um pouco sobre o posicionamento da tradição budista sobre essa temática. O que os budistas creem sobre a eternidade? A alma humana (ou espirito) permanece viva após a morte do corpo físico? O que é o Nirvana?

Este texto tem como objetivo ser usado como um auxilio nas aulas do Ensino Religioso na educação básica, mais especificamente do 6° ao 9° ano. Cabe aos professores adaptarem este material a realidade de suas respectivas classes.  


I). Siddhãrtha Gautama e o problema do sofrimento humano.
Primeiramente é fundamental esclarecer que “Buda” não é uma pessoa especifica, mas sim um “estado de iluminação”, isso quer dizer que Siddhãrtha Gautama não foi o único iluminado que existiu na face da terra. Outras pessoas que viveram antes e depois dele poderiam ser consideradas como budas ou iluminados, simplesmente por serem portadoras de alguma sabedoria ou dom carismático. Neste caso tanto Confúcio, Jesus ou Maomé poderiam ser vistos como budas.

No caso de Gautama ele procurou entender a origem do sofrimento humano e com isso descobrir uma forma na qual as pessoas pudessem ser livres dele. Em seu sermão em Benares ele falou sobre a essência da doutrina budista.

Eis, ó monges, a santa verdade sobre a dor: o nascimento é dor, a velhice é dor, a doença é dor, a morte é dor, a união com alguém que não se ama é dor, a separação de quem se ama é dor, não obter o que se deseja é dor, enfim, os cinco tipos de objetos de apego (Upadana-skandha) são dores. Eis, ó monges, a santa verdade sobre a origem da dor: é a sede que se carrega de renascimentos em renascimentos, acompanhada do prazer e da ganancia, que encontra aqui e ali seu prazer: sede de prazer, sede de existência, sede de impermanência. Eis, ó monges, a santa verdade sobre a supressão da dor: a extinção desta sede com a aniquilação completa do desejo, banindo o desejo, renunciando-o, libertando-se dele, não lhe concedendo espaço. Eis, ó monges, a santa verdade sobre o caminho que leva à supressão da dor: é o caminho sagrado, feito de oito veredas, denominadas reta fé, reta vontade, reta palavra, reto agir, retos meios de subsistência, reta aplicação, reta memória, reta meditação (RIES, 2019, p.165).

Podemos ver que nas palavras de Gautama, que o Budismo em seus primórdios não era considerado como uma religião, mas como uma espécie de filosofia de vida ética em que o monge budista, a partir do seu próprio esforço, busca alcançar o estado de iluminação. Ou seja, não existe um deus ou algum tipo salvador. Tudo depende do esforço pessoal do monge budista em viver uma vida correta em todos os sentidos e na perspectiva de evitar os desejos e consequentemente o sofrimento. Nas palavras de Eckel (2007, p. 116),

O Buda não era considerado Deus ou um ser sobrenatural, mas um homem que havia encontrado e disponibilizado para todos a resposta para os dilemas mais profundos da vida humana. Para milhões de asiáticos e muitos europeus e americanos, o budismo transmite um sentido de sacralidade e de coesão sociocultural desvinculado do conceito de um deus criador.
O budismo em sua essência não é um caminho que conduz a Deus, e muito menos prega o ateísmo, por isso é muito complexo afirmar que o budismo seja uma religião. Na realidade o conceito “religião” não é universalmente aceito e nem pode ser aplicado em todas as culturas. Ele nasceu no contexto ocidental cristão e por isso é difícil querer aplicá-lo em outros contextos. 

O Buda não era visto com Deus, mas apenas como um exemplo a ser seguido. Nada mais do que isso. Assim como ele teve êxito em ter sido agraciado com a iluminação, ele abriu o caminho para que outros tivessem a mesma experiência. Entretanto, com o passar do tempo o budismo teve várias divisões internas e que engendraram diversas escolas budistas. 

As duas mais influentes são o Theravada (ou hinayana) e o Mahayana. A primeira é a mais antiga vertente budista, ela defende que somente os monges podem alcançar a iluminação. A segunda faz oposição a primeira, e defende que os leigos podem alcançar a iluminação. Em suma, para os budistas theravada a iluminação é somente para alguns, e para os mahayanas ela está acessível a todos.


II). O caminho para o Nirvana.
Mas o que é Nirvana? Infelizmente o Buda não explicou com muita clareza o que é o nirvana. Antônio Azevedo, em seu Dicionário Histórico de Religiões, explica de forma breve o que é o Nirvana.
Vocábulo de difícil definição, nas religiões indianas significa “extinção”. Estado permanente de beatitude e felicidade, o nirvana é alcançado quando tudo (pensamento, vontade, sensação) é abolido, suprimido, extinto. No budismo, é a extinção definitiva do sofrimento humano, alcançado pela eliminação das “três paixões”: o desejo (Raga), o ódio (Dvesha) e o erro (Maha). É a libertação próprio ser do ciclo infinito do nascimento e do renascimento. O Buda não deixou nenhuma descrição do nirvana, mas mostrou o caminho para alcançá-lo, oferecendo ao homem a possibilidade de sua libertação de toda ilusão sobre sua própria natureza. Para chegar ao nirvana é preciso uma longa aprendizagem, um caminho a percorrer em várias etapas. O nirvana é, pois, “um estado que escapa à fatalidade do dever”. (AZEVEDO, 2002, p.271).
Para que um budista (monge ou leigo) consiga alcançar o nirvana deve seguir o “caminho óctuplo”, isto é, o caminho das oito vias.  São eles: 1. Compreensão correta; 2. Pensamento correto; 3. Fala correta; 4. Ocupação correta; 5. Conduta correta; 6. Esforço correto; 7. Contemplação correta; 8. Concentração correta.

Fica muito claro que todos esses princípios estão fundamentados em uma base ética muito forte. Tanto nas religiões indianas como no budismo a “lei do carma” tem o poder de condicionar o comportamento das pessoas. A lei do carma explica que tudo o que uma pessoa faz de bom ou mau na vida presente trará consequências nas outras reencarnações. E isso explica, segundo a visão budista, o porquê algumas pessoas viverem muito bem e outras viverem em situações de pobreza e humilhação. Nas palavras de Eckel:
Relatos budistas sobre a lei do carma insistem em que toda recompensa está relacionada às ações que a causaram. Assim, o pecado causa sofrimento numa próxima vida, boas ações trazem felicidade, e uma ação que mistura o bem e o mal trará resultados que mesclem sofrimento e felicidade. Quando os monges vão à casa de leigos em sua coleta matinal para receber doações de alimentos, quanto mais generoso for um indivíduo tanto maior será a sua prosperidade na próxima vida. Pessoas coléricas ou cruéis, desrespeitosas com os pais e idosos ou que causam discussões e desacordos sofrerão futuramente. (ECKEL, 2007, p. 185).
Existe uma pequena passagem bíblica, mais especificamente no Novo testamento, que tem muita similaridade com a lei do carma budista.
Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isto colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espirito, do espirito colherá a vida eterna. Não desanimemos na pratica do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos. Por conseguinte, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para todos, mas sobretudo para com os irmãos na fé (BÍBLIA, 2002, Gálatas 6.7-10, p. 2038).
No entanto, a diferença é que para o budismo as boas ou más ações trarão consequências nas outras vidas. Já no caso do cristianismo bíblico não existe a crença em reencarnações. Tudo o que uma pessoa praticar terá consequências na vida presente, no cristianismo para alguém alcançar a eternidade precisa confiar e acreditar no sacrifico de Jesus Cristo.

REFLEXÃO: O que podemos aprender com tudo isso?

1. O que acontece após a morte é algo misterioso que vai muito além da compreensão humana.
2. Cada religião tenta, de forma limitada, explicar o que acontece no além.
3. A vida é curta e passageira por isso esforcemo-nos para amar e respeitar as pessoas mais próximas de nós, principalmente os de nossa família.  


Fontes:
AZEVEDO, Antônio Carlos do Amaral. Dicionário histórico de religiões. Rio de Janeiro. Nova fronteira, 2002.
BÍBLIA, N. T. Gálatas. In: BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Ed. Gilberto Gorgulho, Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson (Coord.). 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Paulus, 2002. p. 2038.
ECKEL, Malcolm David. Budismo. In: COOGAN, Michael D. (Org.). Religiões. São Paulo: Publifolha, 2007.
RIES, Julien. Vida e eternidade nas grandes religiões. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. 

3 comentários:

  1. Muito interessante: Buda não ser uma pessoa específica, as 8 vias...Muitas coisas que desconhecemos em outras religiões, mas que nos ensinam e podem nos ser úteis na nossa vida prática!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente, sempre podemos aprender coisas boas com religiões diferentes, principalmente no campo da ética. Muito obrigado pelo comentário. Este ano vou fazer um série de textos sobre o que as religiões crêem em ensinam sobre a morte e a eternidade.

      Excluir
  2. A grande verdade e Jesus Cristo é o Unico Caminho, Verdade e Vida, e não ha nenhum outro ser, entidade, religião , ideologia que nos leve a salvação!!!

    ResponderExcluir