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18 de janeiro de 2020

A ETERNIDADE SEGUNDO A VISÃO BUDISTA: Uma proposta para o Ensino Religioso.


Se existe algo certo nesta vida, este algo se chama morte. Independente de raça, posição social, cor de pele, gênero ou religião, todos se encontrarão com morte algum dia. Entretanto, o que acontece do “outro lado”? Essa curiosidade acompanha a humanidade desde os tempos mais antigos. Não existe uma resposta que seja universalmente aceita por todos, existem muitas hipóteses e especulações sobre o que acontece após à morte.

As tradições religiosas sempre tentaram dar algum tipo de resposta para essa questão da vida além da morte. Neste texto vamos conhecer um pouco sobre o posicionamento da tradição budista sobre essa temática. O que os budistas creem sobre a eternidade? A alma humana (ou espirito) permanece viva após a morte do corpo físico? O que é o Nirvana?

Este texto tem como objetivo ser usado como um auxilio nas aulas do Ensino Religioso na educação básica, mais especificamente do 6° ao 9° ano. Cabe aos professores adaptarem este material a realidade de suas respectivas classes.  


I). Siddhãrtha Gautama e o problema do sofrimento humano.
Primeiramente é fundamental esclarecer que “Buda” não é uma pessoa especifica, mas sim um “estado de iluminação”, isso quer dizer que Siddhãrtha Gautama não foi o único iluminado que existiu na face da terra. Outras pessoas que viveram antes e depois dele poderiam ser consideradas como budas ou iluminados, simplesmente por serem portadoras de alguma sabedoria ou dom carismático. Neste caso tanto Confúcio, Jesus ou Maomé poderiam ser vistos como budas.

No caso de Gautama ele procurou entender a origem do sofrimento humano e com isso descobrir uma forma na qual as pessoas pudessem ser livres dele. Em seu sermão em Benares ele falou sobre a essência da doutrina budista.

Eis, ó monges, a santa verdade sobre a dor: o nascimento é dor, a velhice é dor, a doença é dor, a morte é dor, a união com alguém que não se ama é dor, a separação de quem se ama é dor, não obter o que se deseja é dor, enfim, os cinco tipos de objetos de apego (Upadana-skandha) são dores. Eis, ó monges, a santa verdade sobre a origem da dor: é a sede que se carrega de renascimentos em renascimentos, acompanhada do prazer e da ganancia, que encontra aqui e ali seu prazer: sede de prazer, sede de existência, sede de impermanência. Eis, ó monges, a santa verdade sobre a supressão da dor: a extinção desta sede com a aniquilação completa do desejo, banindo o desejo, renunciando-o, libertando-se dele, não lhe concedendo espaço. Eis, ó monges, a santa verdade sobre o caminho que leva à supressão da dor: é o caminho sagrado, feito de oito veredas, denominadas reta fé, reta vontade, reta palavra, reto agir, retos meios de subsistência, reta aplicação, reta memória, reta meditação (RIES, 2019, p.165).

Podemos ver que nas palavras de Gautama, que o Budismo em seus primórdios não era considerado como uma religião, mas como uma espécie de filosofia de vida ética em que o monge budista, a partir do seu próprio esforço, busca alcançar o estado de iluminação. Ou seja, não existe um deus ou algum tipo salvador. Tudo depende do esforço pessoal do monge budista em viver uma vida correta em todos os sentidos e na perspectiva de evitar os desejos e consequentemente o sofrimento. Nas palavras de Eckel (2007, p. 116),

O Buda não era considerado Deus ou um ser sobrenatural, mas um homem que havia encontrado e disponibilizado para todos a resposta para os dilemas mais profundos da vida humana. Para milhões de asiáticos e muitos europeus e americanos, o budismo transmite um sentido de sacralidade e de coesão sociocultural desvinculado do conceito de um deus criador.
O budismo em sua essência não é um caminho que conduz a Deus, e muito menos prega o ateísmo, por isso é muito complexo afirmar que o budismo seja uma religião. Na realidade o conceito “religião” não é universalmente aceito e nem pode ser aplicado em todas as culturas. Ele nasceu no contexto ocidental cristão e por isso é difícil querer aplicá-lo em outros contextos. 

O Buda não era visto com Deus, mas apenas como um exemplo a ser seguido. Nada mais do que isso. Assim como ele teve êxito em ter sido agraciado com a iluminação, ele abriu o caminho para que outros tivessem a mesma experiência. Entretanto, com o passar do tempo o budismo teve várias divisões internas e que engendraram diversas escolas budistas. 

As duas mais influentes são o Theravada (ou hinayana) e o Mahayana. A primeira é a mais antiga vertente budista, ela defende que somente os monges podem alcançar a iluminação. A segunda faz oposição a primeira, e defende que os leigos podem alcançar a iluminação. Em suma, para os budistas theravada a iluminação é somente para alguns, e para os mahayanas ela está acessível a todos.


II). O caminho para o Nirvana.
Mas o que é Nirvana? Infelizmente o Buda não explicou com muita clareza o que é o nirvana. Antônio Azevedo, em seu Dicionário Histórico de Religiões, explica de forma breve o que é o Nirvana.
Vocábulo de difícil definição, nas religiões indianas significa “extinção”. Estado permanente de beatitude e felicidade, o nirvana é alcançado quando tudo (pensamento, vontade, sensação) é abolido, suprimido, extinto. No budismo, é a extinção definitiva do sofrimento humano, alcançado pela eliminação das “três paixões”: o desejo (Raga), o ódio (Dvesha) e o erro (Maha). É a libertação próprio ser do ciclo infinito do nascimento e do renascimento. O Buda não deixou nenhuma descrição do nirvana, mas mostrou o caminho para alcançá-lo, oferecendo ao homem a possibilidade de sua libertação de toda ilusão sobre sua própria natureza. Para chegar ao nirvana é preciso uma longa aprendizagem, um caminho a percorrer em várias etapas. O nirvana é, pois, “um estado que escapa à fatalidade do dever”. (AZEVEDO, 2002, p.271).
Para que um budista (monge ou leigo) consiga alcançar o nirvana deve seguir o “caminho óctuplo”, isto é, o caminho das oito vias.  São eles: 1. Compreensão correta; 2. Pensamento correto; 3. Fala correta; 4. Ocupação correta; 5. Conduta correta; 6. Esforço correto; 7. Contemplação correta; 8. Concentração correta.

Fica muito claro que todos esses princípios estão fundamentados em uma base ética muito forte. Tanto nas religiões indianas como no budismo a “lei do carma” tem o poder de condicionar o comportamento das pessoas. A lei do carma explica que tudo o que uma pessoa faz de bom ou mau na vida presente trará consequências nas outras reencarnações. E isso explica, segundo a visão budista, o porquê algumas pessoas viverem muito bem e outras viverem em situações de pobreza e humilhação. Nas palavras de Eckel:
Relatos budistas sobre a lei do carma insistem em que toda recompensa está relacionada às ações que a causaram. Assim, o pecado causa sofrimento numa próxima vida, boas ações trazem felicidade, e uma ação que mistura o bem e o mal trará resultados que mesclem sofrimento e felicidade. Quando os monges vão à casa de leigos em sua coleta matinal para receber doações de alimentos, quanto mais generoso for um indivíduo tanto maior será a sua prosperidade na próxima vida. Pessoas coléricas ou cruéis, desrespeitosas com os pais e idosos ou que causam discussões e desacordos sofrerão futuramente. (ECKEL, 2007, p. 185).
Existe uma pequena passagem bíblica, mais especificamente no Novo testamento, que tem muita similaridade com a lei do carma budista.
Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isto colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espirito, do espirito colherá a vida eterna. Não desanimemos na pratica do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos. Por conseguinte, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para todos, mas sobretudo para com os irmãos na fé (BÍBLIA, 2002, Gálatas 6.7-10, p. 2038).
No entanto, a diferença é que para o budismo as boas ou más ações trarão consequências nas outras vidas. Já no caso do cristianismo bíblico não existe a crença em reencarnações. Tudo o que uma pessoa praticar terá consequências na vida presente, no cristianismo para alguém alcançar a eternidade precisa confiar e acreditar no sacrifico de Jesus Cristo.

REFLEXÃO: O que podemos aprender com tudo isso?

1. O que acontece após a morte é algo misterioso que vai muito além da compreensão humana.
2. Cada religião tenta, de forma limitada, explicar o que acontece no além.
3. A vida é curta e passageira por isso esforcemo-nos para amar e respeitar as pessoas mais próximas de nós, principalmente os de nossa família.  


Fontes:
AZEVEDO, Antônio Carlos do Amaral. Dicionário histórico de religiões. Rio de Janeiro. Nova fronteira, 2002.
BÍBLIA, N. T. Gálatas. In: BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Ed. Gilberto Gorgulho, Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson (Coord.). 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Paulus, 2002. p. 2038.
ECKEL, Malcolm David. Budismo. In: COOGAN, Michael D. (Org.). Religiões. São Paulo: Publifolha, 2007.
RIES, Julien. Vida e eternidade nas grandes religiões. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. 

7 de novembro de 2018

O ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.

A presença do Ensino Religioso na grade curricular das escolas públicas ainda é motivo de polêmica na sociedade brasileira. Para uns o ER (Ensino Religioso) é de responsabilidade da família, e por isso a escola deve ser isenta desse tipo de ensino. E ainda afirmam que à presença do ER nas escolas vai contra à laicidade do Estado. Para outros que defendem a permanência do ER nas escolas, argumentam que as religiões são fontes de espiritualidade e ética, e elas podem contribuir com a formação dos alunos e ajudá-los a terem uma visão mais ampla sobre as diferentes fés e culturas.

O ER contemporâneo deve ser pautado na diversidade religiosa que existe na cultura brasileira, isto é, ensinar que não existe apenas uma única religião, mas várias, e cabe ao indivíduo seguir (ou não) a expressão religiosa que mais lhe agrade. Mas reconhecemos que essa polêmica está longe de terminar.

Em 2017 o STF (Supremo Tribunal Federal) tomou uma decisão que colocou mais fogo na polêmica sobre o ER. Segundo eles o ER nas escolas públicas deve ser “confessional”, e segundo eles, isso não fere a laicidade do Estado brasileiro. Veja este link: Decisão do STF sobre o Ensino Religioso. O ER confessional dá privilégio a uma determinada religião em detrimento das outras. Neste caso, o cristianismo de matriz Católica Apostólica Romana é o que recebe maior atenção.

Podemos supor que essa decisão foi tomada por causa da forte influência cristã católica que diretamente contribuiu com a formação religiosa do povo brasileiro. Respeito à decisão do STF, mas também discordo dela. Defendo que o ER nas escolas deve ter como objeto de estudo à diversidade religiosa que existe em nosso país. O brasileiro não é somente católico, mas também protestante, espirita, hindu, taoista, maçom, agnóstico, etc. 

O presente texto tem basicamente dois objetivos: 1. Mostrar resumidamente a trajetória do ER na legislação brasileira; 2. Defender que o ER é importante para a formação religiosa, ética e cultural dos alunos.

I. O TRANSCURSO DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL.
Os primeiros passos da implantação do ER no território brasileiro começaram com o trabalho de evangelização dos jesuítas. O ER era de caráter catequético confessional, ou seja, ele tinha o objetivo de educar e conquistar seguidores para a fé cristã católica. Torres (2012, p. 23) confirma esse fato ao dizer que: 
“O Ensino religioso no Brasil tem início com a colonização, de modo especial, com a chegada dos Jesuítas, em 1549, os quais consideramos como os primeiros catequizadores e a quem foi confiada à educação nas novas terras. Nos quatro primeiros séculos de sua história, o Brasil foi um país oficialmente católico. ”  
Mas desde a chegada dos jesuítas até os nossos dias contemporâneos, já se passaram quase cinco séculos, e as coisas mudaram bastante. Além da fé católica tradicional, os brasileiros tiveram contato com outras manifestações de fé. Hoje o brasileiro não só católico, ele pode muito bem escolher outra fé que lhe satisfaça. Com isso o Brasil passa por uma metamorfose religiosa, abre-se espaço para o “pluralismo religioso”, no qual uma ampla variedade de crenças religiosas está à disposição do gosto de cada brasileiro.

Foi no período republicano de 1889 a 1988 que a presença do ER como disciplina nas escolas passou a ser um tema polêmico e acalorado. Nas palavras de Torres (2012, p. 25):
“A implantação do regime republicano provoca, desde início, um aferrado debate sobre o Ensino Religioso no Brasil. Pode-se considerar como sendo a mais polemica das discussões sobre a inclusão ou exclusão dessa disciplina nas escolas da rede pública oficial. ”
O período republicano foi muito influenciado pelas ideias do iluminismo e do positivismo. E isso foi tão forte que a frase ORDEM E PROGRESSO que existe da bandeira brasileira é de origem positivista. De forma resumida podemos dizer que o iluminismo defende que tudo o que existe no mundo deve ser compreendido somente pela razão humana, qualquer fato que não possa ser compreendido pela razão deve ser visto como mera superstição. O positivismo foi uma corrente de pensamento que surgiu na França no século XIX, e teve como fundador Augusto Comte. O positivismo defende que tudo no mundo deve passar pelo crivo do conhecimento cientifico, sendo ele é único conhecimento verdadeiro.

Nesse período várias pessoas defendiam que o ER não deveria fazer parte da educação básica. Um dos argumentos era que a presença do ER nas escolas públicas feriria a laicidade do Estado, e por isso, não caberia ao governo oferecer esse tipo de ensino. Mas a Igreja Católica (que sempre teve muita influência na política brasileira), sem dúvida iria lutar para que ER continuasse fazendo parte da grade curricular nas escolas. E com o passar do tempo outros grupos se engajaram na luta para que o ER continuasse fazendo parte da educação. 
“A inclusão do Ensino Religioso na Carta Magna de 1988 se deu graças a grande mobilização nacional dos professores, da sociedade em geral, liderados por Entidades e Organismos como a CNBB[1], ASSINTEC[2], AEC[3] e outros. É notável salientar a atuação de diferentes denominações religiosas na defesa do Ensino Religioso; o que antes se fazia somente mediante liderança da Igreja Católica” (TORRES, 2012, p. 31).
Legalmente o ER faz parte da educação básica no Brasil, mas uma pergunta que deve ser feita é: que tipo de ER deve ser aplicado nas escolas? Um ER que seja fundamento não na Teologia cristã confessional, mas nas Ciências da Religião. Mas teologia e ciência da religião não são a mesma coisa?  Não, pois qualquer teologia confessional vai defender uma religião em particular, e isso foi o que os Jesuítas fizeram na época da colonização. 

O ER contemporâneo deve ser fundamentado nas Ciências da Religião. Essa área de conhecimento (que surgiu no século XIX) não defende nenhuma religião em particular, pelo contrário, apenas estuda o fenômeno religioso de forma imparcial. E isso faz com que o ER não seja um instrumento de “evangelização”, mas de explicação sobre fenômeno religioso que existe no Brasil e em outros lugares do mundo.


II. O ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA.
A escola, através dos professores, tem a missão de ensinar e transmitir o conhecimento para os alunos, contribuindo com sua formação cidadã e ética. Língua portuguesa, matemática, história, geografia, ciências, artes e Ensino Religioso são disciplinas que fazem parte da grade curricular das escolas sejam elas públicas ou particulares, no entanto, com relação ao ER ainda existe muito preconceito por parte de diretores, coordenadores e professores sobre a presença desse tipo de ensino nas escolas.

Muito provavelmente é a influência do iluminismo e do positivismo na mentalidade brasileira que faz com que alguns profissionais da educação não vejam o ER com bons olhos. Mas quer gostem ou não o ER faz parte da educação brasileira, e mais, as religiões sempre estiveram presentes na vida dos brasileiros, então o conhecimento religioso é algo público e deve estar disponibilizado para todos os que tenham interesse.
“Todo o conhecimento humano tornar-se patrimônio da humanidade. A sua utilização, porém, depende de condições sociais e econômicas bem como das finalidades para as quais são utilizados. Nem todo conhecimento é de interesse de todos. Um conhecimento político ou religioso pode não interessar a um grupo, mas, uma vez produzido, é patrimônio humano e como tal deve estar disponível. O conhecimento religioso é um conhecimento disponível, e por isso, a Escola não pode recusar-se a socializa-lo” (PCNER, 2009, p. 35).
Como falamos logo no início o ER contemporâneo não deve ser confessional, mas sim, plural. Ou seja, deve valorizar a diversidade religiosa que existe na sociedade brasileira. Encontrar  pontos em comum entre as religiões, e tentar criar um clima de diálogo amigável entre elas é um dos objetivos do ER contemporâneo. 

Infelizmente durante a história da humanidade muitas guerras e tragédias foram feitas (e ainda nos dias atuais continuam) em nome da religião. Mas isso aconteceu por causa da arrogância e soberba de alguns religiosos fanáticos. Quando alguém pensa que a sua religião é única verdadeira e as outras são falsas, abre-se espaço para que a intolerância e o fundamentalismo se manifestem.
“A Escola tem a função de ajudar o educando a se libertar de estruturas opressoras que o impedem de progredir e avançar. Através da reflexão, educador e educando rompem com as prisões que os prendem à segurança ilusórias oferecidas por objetos, situações e autoridade não legitimas. Compreendem os limites do conhecimento e a finitude do ser humano. ” (PCNER, 2009, p. 42)
O ER contemporâneo pode ajudar os alunos a terem um entendimento mais amplo sobre suas próprias crenças pessoais e as dos outros. Algo que eles precisam saber é que todos os sistemas religiosos são humanos e imperfeitos, e mais, eles não possuem respostas prontas para todas as perguntas da humanidade. Perguntas simples e inquietantes como: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? O ER contemporâneo vai explicar que cada religião tem respostas diferentes para essas perguntas.

Por exemplo, qual é a origem do universo? O cristianismo dará uma resposta, o budismo outra, o hinduísmo outra, o zoroastrismo outra, o ateísmo outra, etc. Com isso o educando aprenderá que podem existir várias respostas para uma única pergunta.

Concluindo, de tudo o que foi dito neste breve estudo fica comprovado que a presença do ER na educação brasileira é muito importante. O fenômeno religioso está muito presente na vida de milhares de pessoas, e seria muita falta de inteligência querer que este ensino seja excluído das escolas.   


Fontes:
FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Religioso. São Paulo, Mundo Mirim, 2009.
TORRES, Maria Augusta de Sousa. Ensino Religioso e literatura: um dialogo a partir do poema Morte e Vida Severina. Recife, FASA, 2012. 


[1] CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
[2] ASSINTEC – Associação Inter-religiosa de Educação de Curitiba.
[3] AEC – Associação de Escolas Católicas.


4 de junho de 2018

A RELIGIÃO DOS MESOPOTÂMICOS E A BÍBLIA : Um tema para o Ensino Religioso.



Todos nós conhecemos os relatos da criação do mundo em seis dias e do dilúvio que estão escritos na Bíblia hebraica. No entanto, essas narrativas não são algo de pertencimento exclusivo da tradição bíblica. Há muitos anos atrás (antes mesmo da composição da Bíblia) os antigos povos mesopotâmicos (sumérios) já acreditavam na criação do mundo pela ação dos deuses e na história de um diluvio universal que teve o objetivo de punir a humanidade por causa de seus atos de rebeldia.

As culturas e crenças dos povos vão se mesclando e influenciado umas as outras. E com isso pode-se afirmar que existe uma certa influência da cultura mesopotâmica nos primeiros capítulos do livro do Gênesis. Isso é comprovado pelas evidencias geográficas que o próprio texto bíblico apresenta. O Gênesis menciona a existência de dois rios que estão localizados na região da antiga Mesopotâmia (que hoje é o atual Iraque): o Tigre e o Eufrates. 

“Um rio saía do Éden para regar o jardim, e dividia-se em seguida em quatro braços. O nome do primeiro é Fison, e é aquele que contorna toda a região de Hévila, onde se encontra o ouro. (o ouro dessa região é puro; encontra-se ali também o bdélio e a pedra de ônix) O nome do segundo é Geon, e é aquele que contorna toda a região de Cuch. O nome do terceiro rio é Tigre, que corre ao oriente da Assíria. E o quarto rio é o Eufrates” (Gênesis 2:10-14).

Mesopotâmia é uma palavra de origem grega que significa “terra entre rios”, e isso faz referência à “crescente fértil” que é o vale onde estão localizados os rios Tigre e Eufrates. Essa pequena evidencia geográfica mostra que na formação do texto bíblico existe a influência de uma antiga civilização “pagã”.

Objetivo do texto: Proporcionar um conhecimento básico da religião dos antigos mesopotâmicos, dando-se destaque especial aos mitos e ritos. Saber se existe alguma semelhança entre a mitologia mesopotâmica e os relatos bíblicos.

I. COMO ERA A RELIGIÃO DOS MESOPOTÂMICOS?
A religião mesopotâmica era essencialmente politeísta, existia uma vasta quantidade de deuses e deusas que direita e indiretamente interviam em cada detalhe do cotidiano da população. Talvez existisse uma divindade especifica para cada atividade laboral. Politicamente os mesopotâmicos não tinham um governo único e centralizado. Toda a população estava dividida em cidades-Estados independentes que tinham um soberano e uma ou mais divindades padroeiras. Segundo alguns historiadores existia na religião mesopotâmica um panteão de quase 3.600 deuses.

Os mesopotâmicos viam transcendente em todos os lugares. Como no momento de fazer o fogo, moldar tijolos, cuidar dos animais, curar as doenças, na pesca, na cultura, etc., alguns deuses estavam muito próximos dos homens e dos seus afazeres diários. E para agradecer as graças recebidas ou pedir ajuda nos momentos de crise, os mesopotâmicos imaginavam os deuses de uma forma antropomórfica, isto é, deuses com características humanas, com olhos para vê-los e ouvidos para ouvir suas preces. 
“Cada cidade tinha o seu próprio deus protetor a quem era dedicado o templo principal. Alguns dos deuses só tinham importância local. Outras divindades exerciam um domínio mais amplo, que muitas vezes era consequência do poder adquirido pelas suas cidades de origem. Por exemplo: Marduque e Assur chegaram a ser muito importantes devido à prosperidade crescente da Babilônia e da Assíria. Em geral havia uma grande tolerância religiosa, e os deuses de uma religião assimilavam os da outra” (ROSSI, 2012).
A religiosidade dos mesopotâmicos tem alguma semelhança com a religiosidade brasileira, mais especificamente com o catolicismo popular. O ponto em comum é a crença de um deus (ou santo) padroeiro. Em nosso calendário existem alguns feriados – que por uma questão religiosa e cultural – são dedicados a algum santo do catolicismo. Por exemplo, no dia 12 de outubro é feriado nacional em devoção a Nossa Senhora Aparecida, que é vista como à “padroeira do Brasil”. Historicamente é possível afirmar que o “imaginário religioso” dos homens não morre, ele apenas assume outras representações à medida que o tempo e as culturas vão mudando.

Por possuir uma fé politeísta os mesopotâmicos eram abertos a todos os tipos de crenças, sincretismos e misticismos. Talvez fosse muito natural que existisse entre eles uma atitude de tolerância religiosa com relação aos deuses de outras cidades. Não fazia muita diferença se uma pessoa era devota de duas ou três divindades ao mesmo tempo. Geralmente em uma família existia à devoção a um deus tutelar que era auxiliado por outros deuses menores. E, possivelmente, quando um fiel mesopotâmico viajava para outra cidade próxima, absorvia os ensinos e crenças dos cultos dedicados aos deuses padroeiros daquela cidade, e ao retornar a sua terra os incluía em sua devoção pessoal e familiar. 
“Os principais centros de atividades religiosas eram os templos, em que os deuses estavam presentes em forma de estátuas divinas, e os sacerdotes eram responsáveis por tratar delas. Existiam diferentes tipos de sacerdotes, que exerciam funções distintas, como a administração, os conjuros, os exorcismos, os augúrios, a adivinhação. A maior parte da informação disponível procede de textos relativos ao palácio e ao templo e, assim, é pouco o que se conhece da religião do cidadão comum” (ROSSI, 2012).
Esqueçamos um pouco a nossa ideia de templo religioso como uma igreja, sinagoga ou mesquita, onde um aglomerado de pessoas de reúnem para prestar culto em dias específicos. Na religião mesopotâmica as celebrações públicas eram feitas fora do templo. No templo só tinha a estátua sagrada que representava à divindade padroeira da cidade e o clero sacerdotal (sacerdotes e sacerdotisas) encarregado das realizações do serviço religioso, como receber as ofertas dos fiéis, cantar louvores e fazer intercessões em favor do povo. 

Além do politeísmo outra característica da religiosidade mesopotâmica (ou suméria) era a adivinhação. Não podemos afirmar, mas talvez os mesopotâmicos fossem muito obcecados em saber qual era a vontade dos deuses. A prática da adivinhação era realizada por sacerdotes especializados. Eles faziam isso de duas formas: por um ritual mágico no qual era inspecionado o fígado de um animal sacrificado ou estudando o movimento dos astros. E daí que vem o que se conhece hoje como astrologia. 

Na Mesopotâmia não existia a ideia moderna de separação entre religião e Estado, ambos andavam juntos e influenciavam-se mutualmente. Os reis de cada cidade-Estado eram os representantes dos deuses na terra. Ou seja, havia um governo teocrático.
“Os soberanos seculares exerciam o poder como representantes dos deuses. Um dos seus mais importantes deveres consistia em efetuar cerimonias destinadas a prevenir o mal e a ganhar a boa vontade das divindades. Em maior ou menor medida, era o soberano que controlava os recursos do templo mais importante da cidade. E não no esqueçamos de que o templo era a instituição mais rica e o principal latifundiário da cidade” (ROSSI, 2012).
Uma das melhores maneiras de um rei controlar o povo é através da religião. Pois a religião dá um sentido à vida das pessoas. Acreditar nos deuses (que são seres mais fortes e poderosos) produz um sentimento de temor e tremor nas pessoas. Sabe-se muito bem que pela fé as pessoas podem fazer as coisas mais estranhas e irracionais.

II. E A BÍBLIA?
Um ponto comum entre a Bíblia e a tradição mesopotâmica é a crença de que o mundo foi criado por Deus (ou deuses), e que houve um dilúvio universal que ceifou a vida de milhares de pessoas no qual somente uns poucos indivíduos conseguiram sobreviver. Apesar de terem algumas semelhanças os relatos da criação e do dilúvio tanto na tradição bíblica como a mesopotâmica são diferentes. 

Afirmar, como alguns tem feito, de que o que existe na Bíblia é um “plágio” dos mitos mesopotâmicos não pode ser comprovado. Quem faz esse tipo de afirmação está apenas querendo criar polêmica, e tentando dizer que a tradição bíblia não é confiável.

Vejamos, de forma resumida, as diferenças que existem entre a tradição bíblica e a mesopotâmica.

1. A criação segundo o mito mesopotâmico:

“No começo, nada existia a não ser Apsu, o oceano de água doce, e Tiamat, o oceano de água salgada. De sua união resulta uma sucessão de deuses, culminando com os grandes deuses Anu e Ea, que gera Marduc. Mas surge um conflito entre os deuses mais jovens e as divindades originais. Ea mata Apsu, e Tiamat decide vingar-se. Ela reúne uma horta de monstros ferozes, tais como o homem-escorpião, comandados por seu filho Kingu, a quem ela dá a “Placa do Destino”, corresponde aos me sumérios.
Vários deuses tentam subjugar Tiamat, mas fracassam e, por fim, o panteão escolhe Marduc como seu paladino. Este aceita, sob a condição de ser reconhecido como rei dos deuses. Ele derrota e mata Tiamat, dividindo seu corpo em dois, uma metade formando o céu e a outra, a terra. De Kingu ele toma a Placa do Destino. A seguir Marduc mata Kingu e com o seu sangue, misturado com terra, cria a espécie humana. Os deuses constroem para Marduc, na Babilônia, um templo próprio, Esagila, com seu zigurate” (WILLIS, 2007, 62).

Qualquer pessoa que tomar a iniciativa de comparar o mito mesopotâmico e a narrativa bíblica verá a grande diferença que existe entre os dois. No mito existe uma luta entre os deuses pelo poder, no qual Marduc tornar-se a divindade principal. Na Bíblia existe apenas um Deus (cujo o nome não é mencionado) que com sua palavra, em seis dias, cria o mundo, toda a vida animal e o homem.

O mito mesopotâmico e a narrativa bíblica juntos explicam uma coisa: que cada povo tem a sua forma peculiar de explicar a origem do mundo. E isso inclui egípcios, celtas, gregos, romanos, africanos, maias, astecas, etc. Ou seja, não existe apenas uma única explicação para a origem do universo, existem várias. E isso é um mistério que atiça a curiosidade da humanidade há vários séculos.

2. O dilúvio no épico de Gilgamesh.

“Utnapistin, o sobrevivente do diluvio do épico de Gilgamesh, reconta em detalhes a construção de um barco em forma de cubo perfeito e dá um quadro vívido dos efeitos do dilúvio. Ele conta como, quando as águas finalmente baixaram, enviou uma pomba, uma andorinha e um corvo para fazerem um reconhecimento do solo e como ele então surgiu para oferecer um sacrifício, em torno do qual todos os deuses se agruparam para “sentir o doce aroma”. Essas características ligam estreitamente a história babilônica à narrativa bíblica do dilúvio. Por fim, Ea diz ao zangado Enlil que este não deveria tentar extinguir completamente a raça humana, e sim puni-la quando necessário, enviando animais selvagens, escassez de viveres ou pragas. Enlil aceita o conselho e recompensa Utnapistin com o dom da imortalidade” (WILLIS, 2007, p.63).

Há semelhanças e diferenças entre o dilúvio mesopotâmio e o bíblico. A principal semelhança é que o dilúvio foi um instrumento usado por Deus (ou deuses) para castigar a humanidade. Utnapistin e Noé são, de certo modo, os únicos sobreviventes da grande inundação. No grande barco, ainda em meio ao dilúvio, Utnapistin e Noé soltam aves para terem uma noção de como estava o nível das águas. Logo após o fim do dilúvio tanto Utnapistin e Noé oferecem sacríficos aos seus deuses.

Uma das diferenças entre o dilúvio mesopotâmico e o bíblico, é que no primeiro os deuses continuam castigando os homens com escassez de alimentos e pragas, mas no segundo o Deus da narrativa bíblica faz uma promessa a Noé de não mais punir à humanidade com as águas do dilúvio.

“Levantou Noé um altar ao Senhor e, tomando de animais limpos e de aves limpas, ofereceu holocaustos sobre o altar. E o Senhor aspirou o suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o designo íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz” (GÊNESIS 8: 20,21)

Outra diferença é que no dilúvio mesopotâmico Utnapistin é agraciado com o dom da imortalidade, mas na narrativa bíblia esse dom não foi concedido a Noé.

Concluindo, podemos percebe que existe, sim, na tradição bíblica a influência da cultura mesopotâmica. E também que o imaginário mitológico dos homens vai adquirindo outras representações e significados à medida que o tempo passa. No entanto, a principal lição que aprendemos com tudo isso é que os homens têm uma profunda necessidade de acreditar em algo maior do que eles, seja no passado, no presente e no futuro.


FONTES.
ROSSI, Luiz Alexandre. Sumérios. In: FUNARI, Pedro Paulo (org.). Religiões que o mundo esqueceu: como egípcios, gregos, celtas e outros povos cultuavam seus deuses. São Paulo: Contexto, 2012.  
WILLIS, Roy. Mitologias. São Paulo: Publifolha, 2007.     

7 de abril de 2018

RITOS SAGRADOS: As manifestações celebrativas da fé.


“Orar em conjunto, em qualquer língua, em qualquer rito, é a mais comovedora fraternidade de esperança e de simpatia que os homens podem contrair na terra”
(Anne Louise Germaine de Staël)[1].

Religião sem rito não é religião. Ela pode até não possuir um livro sagrado, mas não ter um rito (culto) que faça mediação entre os humanos e o divino é algo inadmissível. Durante séculos as tradições religiosas exercem uma grande influência em reunir pessoas que compartilham a mesma fé em diversos lugares. Seja o cristianismo no ocidente, o budismo na Ásia ou o Islamismo no oriente. A fé religiosa nunca deixou de ter influencia sobre a mente e o comportamento de milhares de pessoas ao redor do mundo.

E é nesse ajuntamento religioso que as crenças são praticadas e experimentadas em coletividade. Neste ponto os ritos são muito relevantes para que os integrantes do grupo se conheçam melhor e juntos compartilhem suas experiências de fé. Considerando esses fatos, podemos afirmar que ao estudar os ritos estamos conhecendo um pouco mais sobre a cultura humana.

Este texto tem o objetivo de mostrar a relação entre rito e o imaginário religioso; a importância dos espaços sagrados e refletir sobre os vários tipos de ritos.

I) O RITO E O IMAGINÁRIO RELIGIOSO.
A mente humana é perita em criar imagens e símbolos que são utilizados como representações do sagrado. Os humanos sempre no decorrer de sua existência, e nas mais variadas culturas, criaram e usaram imagens e símbolos para representar os seres espirituais e com isso ter algum tipo de contato com eles. E é por isso que o imaginário religioso e os ritos são inseparáveis. Eles são, de certo modo, o oxigênio da vida religiosa de um povo.

O sagrado é multifacetado, isto é, ele pode ter várias faces e representações, dependendo do contexto cultural e religioso de um povo. O sagrado pode ter um sentido para o judeu, outro para o cristão, outro para o hindu, outro para o budista e outro para o zoroastrista etc. E são nos ritos que a experiência do sagrado é praticada e vivenciada seja de forma individual ou coletiva. 
“Ora, o sagrado refere-se a algo que, presente e real, é inesgotável, absoluto, misterioso, majestoso, inefável, ou seja, sobre o qual se pode dizer alguma coisa, mas não tudo. É energia, poder e força criadora e destruidora sempre pronta a derramar-se, a desgastar-se, como a eletricidade. Perante o sagrado, o ser humano percebe-se limitado, relativo, efêmero, dependente. Seu sentimento é de maravilhamento, fascinação, estupor, temor” (VILHENA, 2005, p.59).
Para que possamos entender melhor essa relação entre o rito e o imaginário religioso, tomemos como exemplo o rito do zoroastrismo. Os zoroastristas têm o costume regular de realizar suas preces e devoções a Aúra-Mazda, O senhor Sábio, em casa ou no templo. Para os zoroastristas à presença da divindade no templo é simbolizada pelo fogo. “O fogo sagrado” representa a luz divina, a energia a verdade de Aúra-Mazda. 
“O culto coletivo envolve preces no templo, rituais em torno do fogo sagrado e uma refeição comunal. Assim como em casa, o fogo é o foco do culto no templo, onde é mantido continuamente aceso para que o fogo celeste de Aúra-Mazda possa fundir-se com ele. O fogo torna-se então um símbolo vivo que adquire algumas das qualidades sagradas de Aúra-Mazda” (WILKINSON, 2014, p.156).
Isso é apenas um exemplo de como o sagrado é simbolizado em um rito de um grupo religioso específico. Poderíamos mencionar os ritos de outras religiões, mas isso deixaria este texto muito extenso. Mas acreditamos que a partir deste exemplo ficou claro à relação que existe entre o rito e o imaginário religioso.

II) O ESPAÇO SAGRADO.
O homem religioso observa o mundo como uma criação de Deus (ou deuses), e por isso, tudo o que há no mundo pode ser visto como sagrado. Igrejas, sinagogas, mesquitas, templos, rios, desertos, terreiros, florestas, montanhas, etc., podem ser consagrados para o uso do serviço religioso. E são nesses espaços que os ritos são realizados, nos quais os fiéis em comunidade vivenciam à experiência religiosa.

Para que algum espaço seja considerado sagrado por um indivíduo ou grupo religioso é fundamental que aconteçam pelo menos três fatores:

  • A manifestação visível de alguma divindade, espírito ou força impessoal no local;
  • Algum sinal extraordinário que seja diferente da realidade cotidiana;
  • Ritos de consagração no espaço que foi “santificado” para o uso exclusivo do grupo religioso.

Esses fatores são essenciais para que algum espaço geográfico deixe de ser profano e passe a ser considerado como sagrado. 
“O ser humano religioso tem necessidade de identificar e mapear esses espaços a fim de configurar sua leitura e interpretação do mundo, suas maneiras de nele habitar, ser e estar, orientar suas trajetórias. Os espaços sagrados são pontos de referência capazes de transfigurar o que antes era indeterminado, amorfo, caótico em um cosmo ordenado e significativo” (VILHENA, 2005, p.80).
As pessoas buscam desesperadamente um sentido para à existência. Ao viverem em um mundo caótico e desorganizado, elas buscam nas religiões a oportunidade de terem um contato com o sagrado, e consequentemente colocar “ordem em suas vidas”. Quando à medicina e à ciência falham em seus objetivos, as igrejas, mesquitas, sinagogas, templos, etc., transforma-se em locais de refúgio e esperança para milhares de pessoas. E isso mostra que as religiões continuarão existindo por muitos e muitos séculos. 

III) TIPOS DE RITOS.
Existem vários tipos de ritos com propósitos diversos, e dependendo da tradição religiosa eles podem ser praticados de modos diferentes. Alguns dos ritos mais conhecidos são: ritos de celebração, de passagem, de consagração, de propiciação, as procissões e as peregrinações. 

Geralmente esses ritos têm em sua composição cânticos, mantras, orações, meditações, leituras/recitações de textos sagrados, sermões, recolhimento de ofertas, etc. E são os líderes religiosos ou algum grupo de fieis os responsáveis pela organização dos ritos.

Concluindo, os ritos são importantes para a preservação e fortalecimento da fé de um povo. É a partir deles que buscasse ter um contato com o sagrado. Mas não somente isso, os ritos podem unir pessoas e criar entre elas fortes laços de amizades e companheirismo. Nesse aspecto os ritos sagrados cumprem um relevante papel na sociedade de inclusão social. Ou seja, agregar por meio da fé pessoas que outrora não se conheciam.


Fontes.
CRAWFORD, Robert. O que é Religião. Petropolis: Vozes 2005.
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado zahar. Rio de janeiro: Zahar, 2014.
VILHENA, Maria Ângela. Ritos: expressões e propriedades. São Paulo: Paulinas, 2005. 


[1] https://kdfrases.com/frase/141407

11 de fevereiro de 2018

CONSTRUINDO PONTES ENTRE CRISTÃOS E MUÇULMANOS: Um tema para o Ensino Religioso.


"Não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões, se não existir padrões éticos globais. Nosso planeta não irá sobreviver, se não houver um etos global, uma ética para o mundo inteiro" (Hans Küng).

Tentar construir pontes que aproximem as religiões é algo muito relevante e ao mesmo tempo desafiador. Relevante no sentido de que haja paz e respeito entre os seres humanos; e desafiador porque as religiões são tendenciosas a se proclamarem como donas de uma única verdade absoluta. E essa tendência negativa pode atrapalhar à prática do diálogo entre elas.

Os cristãos e os muçulmanos são grupos religiosos diferentes que se originaram em culturas distintas. E essa distinção pode, em algumas situações, criar um clima de hostilidade entre ambos. Mas isso só acontecerá caso os dois grupos se fechem e não tenham o interesse de se conhecerem melhor.

Mas afinal de contas, é possível cristãos e muçulmanos viverem pacificamente apesar das diferenças? Provavelmente sim. Entretanto, para que isso aconteça é fundamental que um queira conhecer e entender as crenças de outro, e tentar criar pontes de aproximação. Caso contrário, a boa convivência não existirá.

O objetivo deste texto é ser um auxílio para as aulas do Ensino Religioso e mostrar aos alunos e leitores a relevância de tentar construir pontes entre as religiões, mais especificamente entre o cristianismo e o islamismo. E também refletir sobre mal que o fundamentalismo religioso (cristão e muçulmano) pode causar na sociedade.

1. EM BUSCA DO DIÁLOGO ENTRE CRISTÃOS E MUÇULMANOS.

Para que exista diálogo entre duas ou mais pessoas é fundamental que primeiramente elas se conheçam. De modo semelhante, para que os cristãos possam ter um diálogo sério e produtivo com qualquer muçulmano é importantíssimo que se conheça as suas crenças.

Será que cristãos e muçulmanos reverenciam a mesma divindade? Para os muçulmanos quem é Jesus? Essas perguntas básicas são fundamentais para que os primeiros passos na busca do diálogo possa acontecer. Mas independente das crenças pessoais é necessário compreender o valor da pessoa humana.  
“Creio que o diálogo surge quando, antes das religiões, vemos as pessoas como seres humanos criados por Deus, finitos e certos da dependência total d´Ele. Com essa visão, a compaixão se manifesta, a mão pode ser estendida” (CALIXTO, 2006, p.31).
Em outras palavras, independente da religião todo ser humano é merecedor de respeito. Ninguém é obrigado a acredita ou concordar com tudo, no entanto, isso não significa que se deve odiar alguém por causa de sua escolha religiosa. Devemos acreditar que a compaixão pela vida humana é mais importante do que qualquer tipo de crença religiosa. 
“Se quisermos evitar em uma cidade, em um país e no mundo o clash of civilization, o temido “choque das culturas”, isso só poderá ser feito por meio do diálogo e da compreensão. Existem fanáticos no islã, mas eles existem também no judaísmo e no cristianismo, em toda parte. É claro que devemos nos opor à violência. Mas antes de tudo precisamos ter compreensão, tolerância, convicções democráticas para com as pessoas religiosamente engajadas. E aqui, o que ajuda muito é refletir sobre as raízes religiosas, sobretudo as raízes comuns ao judaísmo, cristianismo e islamismo na fé no único Deus de Abraão” (KÜNG, 2004, p. 252). 
Infelizmente a mídia mundial tem nos passado uma imagem negativa sobre os muçulmanos. Eles têm sido retratados como pessoas violentas, propagadoras do terror e da intolerância. Mas na realidade são os grupos minoritários e radicais os verdadeiros responsáveis por esses atos de maldade. Nesses momentos é fundamental termos um senso crítico e não aceitar como verdadeiro tudo o que a mídia mundial nos passa. Não somente em relação aos muçulmanos, mas sobre qualquer outra religião ou indivíduo.

A mídia mundial, em algumas situações, tem prestado um grande desserviço à paz mundial. Isso quando faz uma caricatura de um povo, baseando-se em atitudes nefastas de grupos radicais minoritários. E isso revela que os meios de comunicação não nos trazem informação, mas sim “desinformação”. Tenhamos muito cuidado!

2. CRENÇAS MUÇULMANAS E CRISTÃS.
Um ponto comum entre cristão e muçulmanos é que ambos acreditam no mesmo Deus de Abraão; mas a ideia acerca desse Deus é distinta entre as duas religiões. Por prestarem devoção a Deus usando o nome “Allá” muitas pessoas pensam que os muçulmanos creem em uma divindade diferente. Na realidade Allá é apenas o vocábulo “Deus” em árabe. É semelhante ao pronunciar “God” em inglês ou “Dios” em espanhol.

Na crença cristã existe o complexo dogma da Trindade em que Deus é reverenciado como Pai, Filho e Espirito Santo. Qualquer muçulmano não conseguirá compreender esse dogma cristão (e, diga-se de passagem, até hoje muitos cristãos não o entendem bem), esse dogma passa à impressão que os cristãos reverenciam três deuses, e que com isso eles seriam politeístas.

Mas na realidade os cristãos adoram um Deus criador, que tem um Filho (Jesus) como mediador entre os homens e que há um Espirito Santo que conduz a vida do fiel cristão. Temos que reconhecer que tudo isso causa muita confusão na cabeça de um muçulmano. Para o fiel muçulmano Allá não tem filhos e nem precisa de mediadores. E ninguém sabe como ele é, e nem se pode ter um relacionamento pessoal com ele.
Para o islamismo “Deus é irreconhecível. Ele próprio mantêm-se distante do homem, e Ele nunca pode ser conhecido pelo homem”. Para o cristianismo, Deus é mais pessoal e relacionável, e tornou isso possível através de Jesus Cristo como intermediário perfeito entre nós e Ele. Para os muçulmanos, Allah não precisa de intermediário, por isso esse papel de Cristo é rejeitado (Calixto, 2006, 101).
Sem dúvida as religiões não falam a mesma língua e são essencialmente contraditórias entre si. Mas será que isso é um motivo justo para se odiarem e fazerem guerra? Provavelmente não. Quando há interesse é possível existir diálogo e respeito com pessoas que pensam e tem crenças religiosas diferentes. Uma das formas para isso é dar mais atenção aos pontos que unem ao invés dos que separam.

A morte de Jesus Cristo na cruz é outro aspecto da doutrina cristã que qualquer muçulmano tem dificuldade de entender e acreditar. Na visão muçulmana é injusto um inocente ser punido pelos erros dos outros. Em outras palavras, cada um deve responder por seus atos. Conforme Calixto, “na doutrina do islamismo se nega a divindade de Cristo (Sura 112) e sua morte expiatória (Sura 4:158), duas mensagens fundamentais do cristianismo e da pregação evangélica” (2006, 104).

Aqui é um ponto que pode criar muita tensão entre cristãos e muçulmanos, caso não exista uma atitude de humildade para o diálogo. Durante mais de dois mil anos os cristãos têm pregado e ensinado que “Deus tanto amou o mundo, que entregou seu Filho único, para que quem crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Evangelho de João 3,16 – Bíblia do Peregrino). Nenhuma religião vai negar as suas crenças, por que elas fazem parte de sua identidade. Se qualquer religião negar o que acredita consequentemente ela deixará de existir.

Todo cristão acredita que é possível conhecer o Deus único e ter um relacionamento pessoal com ele por meio de Jesus Cristo. Essa é uma das principais bases da doutrina cristã. E estamos certos que nenhum cristão verdadeiro deixará de crê nisso. Então podemos concluir que, qualquer muçulmano ou cristão que queria ser um pacificador, isto é, um defensor da paz, terá que saber respeitar as pessoas que tenham crenças diferentes. 

3. FUNDAMENTALISMO CRISTÃO E MUÇULMANO.
O fundamentalismo religioso é essencialmente um movimento ideológico e social. Ideológico porque os fundamentalistas querem que todas as pessoas pensem como eles pensam, e creiam como eles creem. Não existe liberdade religiosa e muito menos democracia. E como movimento social, o fundamentalismo religioso não vê o progresso cientifico com bons olhos. O avanço da ciência pode colocar em dúvida crenças religiosas tradicionais que durante muitos anos foram (e são) a base de sustentação da religião.

Nem todos cristãos e muçulmanos são fundamentalistas. Os fundamentalistas, geralmente, constituem um grupo minoritário organizado que procura defender propagar a sua visão de mundo na sociedade. Nem sempre existe espaço para o diálogo com essas pessoas.

O movimento fundamentalista não surgiu com os muçulmanos (quem pensa desse modo está muito equivocado), ele foi gerado por um grupo de cristãos protestantes americanos no final do século XIX. O racionalismo e o progresso cientifico estavam colocando em dúvida, e consequentemente em descrédito, os fundamentos essenciais da religião cristã. E isso fez com que cristãos protestantes conservadores reagissem contra o avanço cientifico.
"O fundamentalismo foi nos EUA, onde nasceu, um apelo para a volta aos fundamentos da fé cristã diluídos pelo modernismo: a veracidade absoluta da Bíblia, que deve ser entendida literalmente; a necessidade de conduzir uma vida virtuosa, com rezas e rituais regulares, rejeitando as tentações e a permissividade associada à grande cidade e enfatizando valores familiares; uma reafirmação de dogmas tais como a volta de Jesus Cristo e o último julgamento; um compromisso com um estilo de vida frugal, modesto e trabalhador" (DEMANT, 2014, 197). 
Neste sentido fundamentalista é qualquer religioso que faz apologia (defesa) aos fundamentos de sua fé religiosa; não permitindo que eles sejam ameaçados e destruídos pelos avanços da modernidade secularizada. Em outras palavras, o fundamentalismo religioso é um movimento que faz oposição ao progresso da modernidade.  

O fundamentalista, seja cristão ou muçulmano, procura entender o mundo a partir de suas ideias religiosas particulares. Aqui é possível perceber um grande equívoco. Isso porque qualquer fé religiosa é limitada para compreender o mundo em sua amplitude, e incapaz de responder a todas às dúvidas da humanidade.

Os fundamentalistas consideram-se os donos da verdade absoluta. E isso os estimula a saírem pelo mundo agregando novos seguidores para as suas comunidades. E a ideia defendida pela modernidade de que não existe apenas uma verdade, mas várias verdades, é repudiada pelos fundamentalistas.

Para um cristão fundamentalista “Jesus Cristo é a única verdade” e todos têm que acreditar nele. No caso dos muçulmanos somente “o sagrado Alcorão diz é a verdade” e todos têm que acreditar nele. Por causa de sua visão de fé restrita e limitada, os fundamentalistas podem criar um clima de intolerância religiosa no mundo. E esse é um dos grandes problemas sociais que os movimentos fundamentalistas têm causado em várias partes do mundo.

Então, qual deve ser a nossa atitude? Acredito que devemos saber separar o joio do trigo, isto é, saber distinguir quem é, e quem não é fundamentalista. Seria uma grande injustiça de nossa parte generalizar e afirmar que todos são fundamentalistas.

Há cristãos e muçulmanos mais civilizados e que estão abertos ao diálogo, e são defensores da paz entre os povos. São com esses que devemos ter uma aproximação e criar laços de amizade. E consequentemente não permitir que haja um “conflito entre as civilizações”.  


Fontes:
CALIXTO, Marcos Stier. O cristão e o islamismo: coleção diálogo religioso. Rio de Janeiro, MK ed. 2006.
KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns. Campinas: Verus, 2004.
DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2014.

18 de outubro de 2017

DIVISÕES INTERNAS NAS RELIGIÕES - Um tema para o Ensino Religioso.


Você já parou para pensar o porquê das religiões se dividirem? Quais são os motivos que fazem com que os fiéis de uma mesma religião se desentendam e com isso criem conflitos e divisões? Há vários fatores que podem contribuir para que isso aconteça. Um deles pode ser que logo após a morte do fundador os seus seguidores; depois de algum tempo, comecem a disputar entre si a liderança e o poder da religião, criando com isso várias ramificações.

Outro fator muito comum é a discordância no entendimento e interpretação dos textos sagrados. Um indivíduo pode alegar que possui a interpretação mais correta de um determinado texto; e com isso querer impor o seu ponto de vista sobre as outras pessoas do grupo religioso. Esse tipo de discórdia é muito comum em religiões letradas, isto é, que fundamentam seus dogmas em algum livro sagrado.  

Acredito que você já tenha ouvido alguma vez em sua vida aquele ditado popular que diz “cada cabeça é um mundo diferente”. Pois bem, nem tudo é paz e harmonia no mundo místico das religiões. Há momentos em que os religiosos se dividem internamente, criando pequenas seitas dentro de uma grande religião.

O objetivo deste texto é mostra, resumidamente, às  várias divisões internas que existem em algumas religiões. Dar-se-á mais atenção a quatro grandes religiões mundiais: O hinduísmo, o budismo, o Islamismo e o judaísmo.   


HINDUÍSMO.
A fé hindu é bem diversificada. Isso significa que as pessoas podem praticar à religião de modos diferentes. Tudo dependerá da divindade à qual se oferece devoção. Mas também existem vários movimentos com raízes no hinduísmo. 

1. Vaisnavas e Saivitas – Os vaisnavas são os devotos de Visnu, que é uma das divindades mais populares do hinduísmo. Ele é conhecido como protetor e sustentador do universo. Segundo Wilkinson (2011, p. 178), “Visnu é a divindade que dá vida ao criador, Brama, que se senta numa flor de lótus no umbigo de Visnu, que também sustenta e protege tudo o que é criado por Brama”.

Os saivitas são os devotos de Xiva conhecido como “o destruidor”. Xiva é o deus dos “opostos”, ele cria e recria o universo, como também da vida e a tira. Muito provavelmente é essa característica que faz como que Xiva seja tão admirado por seus devotos. 
“Essa capacidade de reunir opostos é um dos aspectos de Xiva que fascina os saivitas. A conciliação de qualidades diversas por divindades superiores é fundamental no hinduísmo, e Xiva encarna essa reunião de opostos como nenhum outro deus. Não surpreende que seus devotos o vejam como deus supremo” (WILKINSON, 2011, p. 178).
Se existe algo de fascinante no estudo das religiões é a possibilidade de encontrar “pontos comuns” entre elas. É possível perceber que no hinduísmo existe a devoção a “três divindades populares”, que são Brama, Visnu e Xiva. No cristianismo existe a crença em um único Deus, mas que em “essência” ele é Pai, Filho e Espírito Santo. Mas não se pretende afirmar que o cristianismo e o hinduísmo sejam iguais. E realmente não são. Apenas que ambos possuem um ponto em comum. 

2. O movimento Hare Krishna – Esse movimento religioso foi fundado em 1965 nos EUA por um indiano conhecido pelo nome de Bhakti-vedanta Prabhupada. O objetivo do movimento é propagar por todo o mundo a religiosidade hindu tendo Krishna com divindade suprema.

Todos os devotos desse movimento são vegetarianos. Eles não comem carne, peixe ou ovos. Procuram ter uma vida simples, abstendo-se de drogas, álcool e café. E são facilmente identificados pela cabeça raspada e por vestirem um manto alaranjado.  

“Os Hare Krishna consideram o mundo exterior naturalista e desprezível. Esse movimento – para alguns seita – se apoia nos textos sagrados dos Vedas, principalmente nos Upanixades e no Bhagavad-Gita, sem perder de vista também a extraordinária mitologia do hinduísmo” (Dicionário histórico de religiões, p. 180).

3. Igreja de Saiva Siddhanta – Conhecida como “Sagrada Congregação da Verdade Revelada do Deus Supremo Xiva”, essa igreja foi fundada em 1949 nos EUA pelo mestre Satguru Shivaya Subremuniyaswami, mais conhecido como Gurudeva. Segundo Wilkinson (2011, p. 180),
“Gurudeva tornou-se respeitado na comunidade hindu como uma das pessoas que mais fizeram para disseminar o conhecimento da religião fora da Índia. A variedade de hinduísmo que ele difundiu foi fortemente influenciada pela dos saivitas do Sri Lanka. Os adeptos se dedicam ao serviço comunitário, ao culto de Xiva, à ioga e à meditação, na esperança de se aproximar do deus e alcançar mocsa[1]. Seus valores incluem o vegetarianismo e a não violência”.
Essas são apenas algumas divisões que existem dentro do hinduísmo; muito provavelmente existem outras, porém, as que aqui foram citadas mostram que a crença nas divindades é o principal elo de ligação entre todas as divisões do hinduísmo.  


BUDISMO.
O budismo possui várias divisões, e elas podem se diferenciar em alguns aspectos; contudo todas as formas de budismo compartilham o mesmo compromisso com os ensinos do mestre Buda.

1. Budismo teravada – É o ramo do budismo praticado exclusivamente pelos monges e monjas. E é o que mais se aproxima dos ensinamentos originais de Buda. É muito influente na Tailândia, Laos e no Camboja. O teravada enfatiza a importância da sangha ou comunidade. Os monges passam a maior parte do tempo nos mosteiros praticando meditações diárias, vivendo de modo simples e com poucos bens materiais.

2. Budismo maaiana – Esse ramo budista surgiu logo após a morte de Buda, e tem alguns pontos de vista diferentes do budismo teravada. Enquanto este é restrito aos monges, aquele é aberto aos leigos. Ou seja, o maaina amplia o conceito de comunidade tornando-a acessível aos leigos.

Outra diferença entre o teravada e o maaiana é a visão que se tem do Buda. O primeiro crê que o Buda é apenas um “exemplo a ser seguido”, logo após a sua morte ele deixou de existir deixando apenas os seus ensinos. Mas o segundo crê que o Buda continua vivo e deve ser cultuado.
 “Os maaianas creem que o Buda sobrevive, e que devem cultuá-lo. Creem ainda que outros seres também se podem tornar Budas. Quando uma pessoa perde a individualidade, o que resta é uma espécie de essência interior chamada natureza do Buda. Os budistas maaianas reconhecem diversos seres que alcançaram a budidade e são dignos de culto” (WILKINSON, 2011, p. 201).
3. Zen budismo – “Segundo o zen, todos são um Buda, mas nem todos realizaram a sua budidade potencial ou tomaram consciência dela. Ademais, todos nós temos uma identidade única que une não só todos, mas todas as coisas” (WILKINSON, 2011, p. 202).

Essa é uma forma de budismo chinês que com o passar do tempo se fixou no Japão em meados do século XII. Uma das características do zen budismo é ser rigoroso em questões de meditação e comportamento. Outra é a criação de jardins minimalistas e a composição de poesias.


4. Budismo tibetano – Esse ramo do budismo foi implantado no Tibete pelo rei Songten Gampo em meados do século VII d.C. Segundo Wilkinson, alguns relatos dizem que o rei Gampo construiu templos budistas e também ordenou a criação de um alfabeto tibetano que possibilitou os eruditos a traduzirem os textos budistas para à escrita tibetana. Em outras palavras, o poder político contribuiu para que o budismo se estabelecesse no Tibete, e ao mesmo tempo fez algumas mudanças na religião. 

Um aspecto do budismo tibetano (e que o diferencia das outras correntes budistas) é o uso das mandalas que são uma espécie de diagramas simbólicos, que segundo à crença tibetana, representam o corpo, os ensinamentos e a mente do Buda. A confecção de uma mandala já é em si uma prática de meditação.

No budismo tibetano um personagem muito respeitado e reverenciado é o Lama. Ele é um monge erudito que para alcançar o título de lama teve que passar por rigorosa formação. Acredita-se que os lamas foram, em vidas passadas, grandes líderes espirituais. 
“Quando o fim de sua vida se aproxima, um lama dá uma série de pistas para a identificação de sua próxima encarnação. Então seus adeptos buscam, até encontrar, a criança que melhor corresponda às pistas, e começam a treiná-la como líder espiritual também. O lama de mais renome internacional é Dalai Lama, chefe dos gelugpa e embaixador da fé no mundo inteiro” (WILKINSON, 2011, p. 2014)
ISLAMISMO.
Há algumas hipóteses que dizem que em alguns anos o Islamismo tornar-se-á a maior religião do mundo; e com isso, ultrapassando o cristianismo no número de seguidores. Basicamente dentro do Islamismo existem três divisões que são: sunismo, xiismo e sufismo. Conheçamos cada uma delas resumidamente.

1. Sunismo – A maioria da população muçulmana é sunita, o que pode representar mais de oitenta por cento do mundo muçulmano. Um sunita é um fiel seguidor da “Suna do Profeta”, ou seja, o sunita é um imitador do comportamento de Maomé. Para essa corrente do islamismo o comportamento do profeta Maomé é tão importante como o Corão.

Nas palavras de Wilkinson (2011, p. 144), “Todo muçulmano sunita segue uma das quatros escolas de jurisprudência – Malaki, Hanafi, Hanbali e Shafi´i -, que variam no modo como usam o consenso e a razão para suplementar o Corão. As pessoas são livres para escolher a que escola aderir, mas a maioria dos sunitas tende a adotar a mesma do pai”.

2. Xiismo – Os muçulmanos xiitas são os partidários de Ali, que foi primo de Maomé e marido de Fátima uma das filhas do profeta. Os xiitas surgiram a partir de uma discórdia sobre quem deveria ser o sucessor de Maomé.

Os sunitas seguiam a Abu Bark (que segundo os sunitas, tinha sido escolhido pelo próprio Profeta), os xiitas não concordavam com essa escolha; para eles somente alguém que fizesse diretamente parte da família de Maomé deveria ser o sucessor, e neste caso, Ali seria o mais indicado.
“Os sunitas são maioria entre os muçulmanos, mas os xiitas sempre foram proeminentes e hoje constituem a maioria no Irã e no Iêmen e a maior minoria no Iraque. Adotam os cinco pilares como os sunitas, mas divergem deles ao acrescentar ao primeiro pilar – Há um só Deus e Muhammad é seu profeta – as palavras: “E Ali é o vice regente de Deus” (CRAWFORD, 2005, p. 116).
3. Sufismo – O sufismo é a corrente “mística” do Islamismo, seus adeptos são conhecidos como os “sufis”. A principal diferença desta corrente islâmica em relação as outras, é que os sufis dão mais importância à experiência pessoal com Alá do que o legalismo e à ortodoxia.

“Uma terceira divisão na fé muçulmana é o sufismo, que são os místicos. O nome significa “lã” e era aplicado aos ascetas que usavam lã sobre a pele. Reagiam contra o legalismo islâmico, o mundanismo dos muçulmanos gananciosos, e procuravam a união com Alá através de práticas semelhantes das religiões indianas. [...]. Muitos se converteram ao sufismo por causa do zelo missionário de seus adeptos. Alguns afirmavam ter chegado à união completa com Alá, coisa que os sunitas consideravam uma blasfêmia e por isso os puniam ou executavam” (CRAWFORD, 2005, p. 118).

Para os sufis o profeta Maomé foi um grande místico; pois ele teve profundas experiências com Alá, e foi na solidão que ele recebeu as revelações que depois tornar-se-iam o sagrado Corão. E diferente das outras correntes do Islamismo, o sufismo acredita em um Deus amoroso e procura fazer uma interpretação mística dos textos do Corão. 


JUDAÍSMO
Existem algumas ramificações no judaísmo que poucos conhecem, e cada uma delas se diferencia no modo como a Torá é entendida e interpretada.

1. Judaísmo ortodoxo – Os ortodoxos são os fiéis preservadores da tradição judaica e da Torá. O Judaísmo ortodoxo é a religião oficial do Estado de Israel. E é caracteristicamente rigoroso na obediência à Tora e na conservação da identidade do povo judeu.

Nas palavras de Wilkinson (2011, p. 80), “Os judeus ortodoxos procuram viver segundo as instruções da Torá. O texto influi no modo como se vestem, no que comem, em sua vida familiar e nas leis da herança. [...]. Em séculos passados, na Europa, esses judeus se viram excluídos do resto da sociedade. Hoje, ainda resistentes a mudanças, seu modo de vida contrasta com os dos não judeus e o de outros judeus à sua volta, mas eles optam por permanecer separados para viver em conformidade com a lei de Deus”.

Podemos ver que ao preservarem às características de suas tradições religiosas, os ortodoxos buscam preservar a sua própria identidade. Sabe-se que durante a história, os judeus foram muito perseguidos e escravizados por outros povos. E uma das causas que fizeram com que eles não perdessem a sua identidade foi a conservação de sua fé e religião.

É possível constatar que o lado positivo do conservadorismo religioso é ser um meio de não permitir que a cultura, fé e a religião de um povo sejam destruídos. Se o povo judeu ainda existe hoje é porque souberam conservar e lutar por sua fé e religião.   

2. Judaísmo da Reforma ou progressista -  Diferente dos judeus ortodoxos, os judeus da reforma ou progressistas tentam adaptar a religião as mudanças que ocorrem na sociedade. Essa divisão do judaísmo surgiu nos Estados Unidos, mais especificamente na cidade da Pitsburgh na Pensilvânia no século XIX.

Os progressistas são mais liberais em questões de religião do que os ortodoxos. “Eles tendem a ver a Torá não como as palavras de Deus, mas como obra de diferentes autores que podem ter sido inspirados por ele. Abandonaram muitas das antigas leis dietéticas e adotaram novos costumes, como a ordenação de mulheres como rabinos. Aboliram também algumas partes antiquadas da liturgia, como a oração pela restauração do sacrifício animal no Templo” (WILKINSON, 2011, p. 82).

Acredito que nem sempre querer adaptar as crenças religiosas as mudanças que acontecem na sociedade pode ser algo positivo. Por que isso, de certa forma, pode causar a “descaracterização da religião”, ou seja, cria-se uma religião diferente da antiga. Ela pode até tomar emprestado alguns elementos da antiga religião, mas não será igual a ela.

Conclusão.
As religiões são fascinantes e ao mesmo tempo contraditórias. Existem pontos de convergência e divergência em todas as religiões. Podemos até dizer que elas são o reflexo dos próprios religiosos. Ou seja, indivíduos obcecados pelo Ser divino, mas por não o compreender muito bem, acabam se desentendendo e criando divisões entre si.


Fontes:
AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário Histórico de Religiões. Rio de Janeiro. Nova fronteira, 2002.
CRAWFORD, Robert. O que é Religião? Rio de Janeiro. Vozes, 2005.
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro. Zahar, 2011.




[1] Resumidamente o mocsa é a libertação do repetitivo ciclo de reencarnações. Todo devoto hindu procura atingir esse estado de espírito. Há vários caminhos que podem levar a esse estado. Um deles é uma vida dedicada a meditação sob a orientação de um mestre ou guru. Outro é a prática do altruísmo, procurando fazer boas ações no mundo. No entanto, isso não garante que este estado de espírito seja alcançado.