23 de fevereiro de 2017

NIETZSCHE NÃO ERA ATEU, APENAS NÃO ACREDITAVA NO DEUS DO CRISTIANISMO


O alemão Friedrich Nietzsche é famosamente conhecido como o filósofo que anunciou a "morte de Deus", e por causa disso, muitos o consideram como ateu e inimigo de qualquer tipo de religião. Mas será que isso procede? Será que não existiu algum tipo de religiosidade no autor de Assim falou Zaratustra

O presente texto é uma breve reflexão filosófica e tem como referência a obra Religião em Nietzsche"Eu acreditaria somente num Deus que soubesse dançar", de Mauro Araujo de Sousa. O objetivo é mostrar que nem tudo o que ouvimos falar sobre Nietzsche condiz com a verdade. Que é possível sim encontrar algum tipo de religiosidade em pessoas céticas, ou seja, céticas em relação a um tipo de Deus, mas a outros não. 

Sem dúvida Nietzsche foi um dos pensadores mais importantes do século XIX, suas obras até hoje "fazem a cabeça" de muita gente. Ele nasceu em uma família luterana e seu pai foi ministro luterano. Nietzsche até pensava em seguir carreira eclesiástica, mas mudou de ideia ao ter um encontro com a filosofia. Talvez em algum momento de sua vida ele tenha se decepcionado com a religião de sua família e com isso passou a seguir por outro caminho.  

"O interesse nessa reflexão não é postar Nietzsche frente a denominações religiosas, a partidos religiosos, os quais se fazem a voz de muitas denominações religiosas do Oriente e do Ocidente. Por isso, é muito importante, também nesse viés, que os "deus" em que Nietzsche acreditaria, e que de certo modo já se faz presente - e essa é a leitura aqui - , seja um "deus" completamente diferente de muitos outros aos quais estamos acostumados. [...] Esse "deus' não precisa de nós... Quanto a muito de nós, queremos, e tentamos várias vezes, escapar desse "deus" ... O "deus dançarino" de Nietzsche... Uma provocação... " (SOUSA, 2015, p. 31).
Falar de religião em Nietzsche não é algo muito fácil, isso por que ele faz severas críticas a todos os tipos de religião, em destaque ao Cristianismo. Religião vem da palavra religare, isto é, fazer uma ligação com o que foi desligado. Os homens criam suas religiões com o objetivo de fazerem uma religação com o transcendente ou divino. Os deuses que os homens estão acostumados em conhecer não vivem na terra, mas em um lugar superior. 


O "deus dançarino" de Nietzsche poderia ser um deus que se movimenta e que está na Terra, em muitas situações ele se fundiria com à própria terra. Se existisse uma "religião nietzschiana ela seria essencialmente imanente", isto é, procuraria religar o homem não com o céu, mas com à própria vida terrena. É muito provável que Nietzsche criticava o cristianismo pela influência do dualismo platônico, que indiretamente, foi incorporado no pensamento cristão. Um dualismo que não "religa" mas faz separação. Espírito e corpo, vida e morte, céu e terra. Dualismo era algo que Nietzsche detestava!
"Daí, entendemos que o deus de Nietzsche, que está em Dionísio, que está em todos nós que está na vida, no cosmo enfim, é um deus chamado vontade de potência" (SOUSA, 2015, p. 56).
O "deus dançarino" que Nietzsche poderia acreditar está em todas às parte da terra e da vida humana. Esse deus está sempre em movimento, mudando e evoluindo. Ele habita no mundo e no homem. Na visão nietzschiana à vida humana é sagrada, e é com essa vida sagrada que o religioso nietzschiano deve se religar. "Ora, para Nietzsche, não deve existir uma religião separada da natureza" (SOUSA, 2015, p. 57).

Um retorno ao paganismo? Difícil afirmar. Estar em harmonia com à natureza sempre foi uma prática das religiões antigas. "Deus é tudo, e tudo é deus". Não está comprovado se Nietzsche abraçaria o antigo paganismo, mas uma religiosidade que defende o estar em contato permanente com à natureza, pode ter alguma semelhança com o paganismo. Uma religiosidade da Terra e não do céu. 


É complexo falar de religião em Nietzsche, mas esta breve reflexão mostra que em pessoas céticas pode existir algum resquício de religiosidade.


Fonte:

SOUSA, Mauro Araujo de. Religião em Nietzsche: "Eu acreditaria somente num Deus que soubesse dançar". São Paulo, Paulus, 2015.

18 comentários:

  1. Eu acredito numa inteligencia cósmica criadora de todo universo e multiversos em evolução

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    1. Bem vindo. Sim, provavelmente existe uma inteligencia por trás deste grande universo. Alguns chamariam de "Designe inteligente", outros de "Grande arquiteto do Universo" ou nas tradições de chinesas de "Tao".

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  2. Ele poderia ser considerado um inoclasta?

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  3. Existe uma força suprema que rege o cosmos... Sem essa força o universo em si seria um caos e isso nos afetaria e muito!

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    1. Essa força pode ter várias definições: Transcendente, Tao, Mana, Maat, Deus, Allá, Bhramam, etc.

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    2. mas o universo É um caos pelo menos de acordo com a termodinâmica a não ser que deus seja um 'demônio de maxwell' infeliz o nome de fato mas é como se dá oficialmente o nome. e se ele fosse capaz disso de acordo com a mecânica clássica ele poderia fazer o tempo andar para trás assim você através dessa sua opinião abriria a possibilidade dele não ter criado o universo apenas existido após a criação. ps: não é minha opinião é uma das possibilidades dada se o comentário estiver certo sobre isso ótimo blog :)

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    3. Primeiramente obrigado por comentar. Realmente há muitas coisas neste mundo que desconhecemos.

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  4. Boa noite! Espero poder contribuir com os vossos apontamentos sobre poder encontrarmos aproximações com algum tipo de religiosidade no filósofo. Pois bem, ele foi influenciado por duas grandes religiões, que teve contato direto, o Budismo e o Hinduísmo. Fala de "vida eterna" em ambas...Não existe propriamente uma morte! Existe um eterno viver, um viver espiritual. O budismo, particularmente, acredita que nosso espírito nunca morre, só passamos por diversas reencarnações, tal como o Hinduísmo. Vejam que nosso grande filósofo alemão fala do "eterno retorno retorno". O que seria esse eterno retorno? Muitas especulações se cogitaram de lá para cá, mas pouco se chegou a conclusões mais plausíveis. Bom ressaltar que Nietzsche, apesar de ser um crítico de várias religiões, mostrou-se simpatizante de muitas outras, inclusive o Budismo, por exemplo, declaradamente. Isso nos faz pensar que ao demostrar "simpatia", se demonstra interesse,curiosidade, reflexões mais profundas. Esquecemos, portanto, a transcendência, Platão falava em transcendência, mas não dá forma como o cristianismo o incorporou! Vale ressaltar...acredito em uma ligação filosófica e transcendental do autor e de uma "constante negação " do seu mundo, preso a uma modernidade individualista e excludente, sem sentido. Por que não espiritual? Ligada ao todo, a natureza não só terrena, mais universal.

    Atenciosamente,
    Bruno Fernandes

    Mestre em Sociologia ((UFCG)

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    1. Bom dia, seja bem vindo. Sim, esse comentário foi muito útil.

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  5. Na minha opinião, e é o q tbém creio, é q o universo e todas as coisas q o compõe surgiu atrás da intenção de um ser pensante, o qual arquitetou todos os sistemas e seus funcionamentos e os mantém em ordem. Creio eu q esse ser é o Deus da Bíblia, o qual tbém criou a vida e mantém todas as coisas no Seu controle

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    1. Muito interessante sua colocação,tbm creio em um Deus que é o Deus da Bíblia o qual criou todas as coisas, na minha visão Deus é um ser supremo e onipotente, onisciente e onipresente , acredito que Nietzsche não é um ateu,ou cético, mas que acredita que Deus é o um ser pensante e responsável por toda a criação,o que de fato acontece é que a religião em si separa o corpo do espírito e alma, ou seja muitos religiosos acreditam que devemos nos importar somente com nossa alma e espírito já que nosso corpo é matéria, e na visão de Nietzsche isso é irreal uma vez que corpo, alma e espírito estão ligados um ao outro não devemos desprezar a matéria e enfatizar apenas o espírito e alma como fazem muitos religiosos....de fato acredito que Nietzsche acreditava num Deus mas num Deus ilimitado..e se realmente ele pensava que Deus está morto não por Deus estar realmente morto em sua crença ,mas na mentalidade humana pois como ele mesmo diz o homem criou Deus a sua imagem e semelhança ou seja criou um Deus que se adequa as vontades e necessidades humanas , hoje o que vemos em cultos o homem e celebrações religiosas é que o homem limita Deus em seu poder.Aqui é só uma breve opinião e muito boa sua colocação, eu tenho muita fé no Criador afinal somos criaturas e criação de Deus !

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    2. 👏👏👏👏👏👏👏👏👏

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  6. Como cristão vejo niet nem como um aliado ou inimigo de minha fé, mesmo tendo opiniões opostas, eu sei que a sua filsofia é extremamente importante pra nossa sociedade. Pena que é mal aproveitada hoje em dia por muito jovens, pretendo ler o mesmo para que eu possa construir minha mente. E todos ateus, agnósticos, cristãos, budistas, mulçumanos e outras verntentes religiosas. Deveriam ler ele, quer construir uma mente forte? A filsofia é a chave, parabéns pelo blog.

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    1. Olá, tudo bem. Sim a filosofia é importantíssima para o nosso amadurecimento pessoal e intelectual. Bom sábado.

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  7. Ecce Homo... Friedrich Nietzsche era ateu niilista e tinha um altíssimo QI de 180. O que equivale a menos de 2% da humanidade.

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  9. Nietzchse defendia o Deus da natureza, da vida. Enquanto padres, pastores e crentes medíocres defendem o Deus da morte que só existe para julgar, condenar e atormentar.

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