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25 de agosto de 2017

RELIGIÕES ABRAÂMICAS: Judaísmo, Cristianismo e Islã.

Três das grandes religiões mundiais tiveram início no Oriente Médio: o judaísmo, o cristianismo e o islã. As três são monoteístas, mas também são conhecidas como “abraâmicas”, por sua fé no Deus Único, que teria se revelado ao patriarca Abraão (c.1800 a.C.). Elas exercem influência na região do Mediterrâneo, mas o cristianismo e o Islã se difundiram muito mais que o judaísmo. Atualmente, elas são as duas maiores religiões do mundo. 

Enquanto o cristianismo é sobretudo a religião do Ocidente, o islã se tornou uma religião importante na Ásia (três quartos de todos os muçulmanos vivem nesse continente). Na África, essas duas religiões têm mais ou menos a mesma força. O islã continua firmemente enraizado na cultura árabe e é dominante nos países do Oriente Médio. 

O judaísmo está deixando sua marca no Estado de Israel, que foi fundado em 1948, porém apenas 5 milhões dos 13 milhões de judeus do mundo vivem ali. Quase metade deles vivem nos Estados Unidos. 

O Abraão dos judeus:

Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, aquela que vos deu à luz. Ele estava só quando o chamei, mas eu o abençoei e o multipliquei. (Isaías 51.2).

O Abraão dos cristãos:

Responderam-lhe: “Nosso pai é Abraão”. Disse-lhe Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Vós, porém, procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isso, Abraão não fez” (João 8.39,40).

O Abraão dos muçulmanos:

Eles dizem: “Aceita a fé judaica ou cristã e terás a orientação correta”. Dizei então: “De maneira nenhuma! Nós cremos na fé de Abraão, o correto. Ele não era idólatra” (Corão, sura 2,129)[1]. 


I. Judaísmo.

A palavra judeu deriva de Judéia, nome de uma parte do antigo reino de Israel. Judaísmo reflete essa ligação. A religião é chamada ainda de “mosaica”, já que se considera Moisés um de seus fundadores. O Estado de Israel define o judeu como “alguém cuja mãe é judia e que não pratica nenhuma outra fé”. 

Com cerca de 13 milhões de seguidores, o judaísmo é hoje uma das menos religiões mundiais. Contudo, teve uma influência e distribuição geográfica inversamente proporcionais ao seu tamanho. Suas origens remontam à religião de Estado do antigo reino de Judá, que se extinguiu em 586 a.C. 

A religião judaica tem três elementos essenciais: Deus, Torá e Israel. É considerada a crença monoteísta mais antiga, e seus adeptos acreditam num Deus universal e eterno, criador e soberano de tudo o que existe. No judaísmo não se imagina que todas as pessoas venham a se tornar judias, mas existe a esperança de que o mundo inteiro reconheça a soberania de um único Deus[2]. 

1.1. A ideia de Deus.

O credo judaico é: “Ouve, ó Israel: Iahweh nosso Deus é o único Iahweh!” (Deuteronômio 6.4). 

Esse credo, que é repetido pelos judeus devotos todas as manhãs e todas as noites de sua vida, mostra que o judaísmo é uma religião monoteísta. Iahweh, o Deus único, é o criador do mundo e o senhor da história. Toda a vida depende dele, e tudo o que é bom flui dele. É um Deus pessoal, que se preocupa com as coisas que criou. 

Quem é Deus – ou o que é Deus – é algo que não pode ser expressado em palavras. O nome de Deus é representado pelas letras YHWH, um acrônimo que em hebraico significa “eu sou quem sou”. Esse acrônimo costuma ser lido como “Jeová” ou “Javé”, porém o nome real é tão sagrado que sempre se usa algum sinônimo, como “o Senhor” ou “o nome”. 

Jeová é o criador e sustentador do mundo. A ideia de que Deus possa não existir é alheia a um judeu. [...] O fato de que Deus é um e apenas um se reflete também na existência humana. Toda vida de um homem deve ser consagrada. Não há linha divisória que separe o sagrado do profano. 

1.2. As Escrituras Sagradas.

O livro sagrado dos judeus é a Bíblia Hebraica que constitui de uma coleção de textos de natureza histórica, literária e religiosa. A Bíblia judaica equivale ao Antigo Testamento, porém é organizada de maneira um pouco diferente. As escrituras judaicas são formadas por 24 livros, divididos em três grupos: 

1.       A Lei (Torá) – o Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés.

2.      Os profetas (Neviim) – os livros históricos e proféticos.

3.      Os escritos (Ketuvim) – os demais livros.          

O Pentateuco, a Torá propriamente dita, orgulha-se de ser a fonte suprema das crenças e práticas judaicas e também um objeto de veneração. Os rolos da Torá de cada comunidade são abrigados na sinagoga, num nicho ou arca especial numa parede, contra a qual os devotos rezam, tradicionalmente na direção de Jerusalém.

Na época de Cristo, os cinco livros de Moisés (ou Pentateuco) eram considerados pelos judeus uma só entidade e chamados de “A Lei”, pois continham as normas judaicas legais e morais, assim como as regras relativas aos cultos. A divisão em cinco livros data de sua tradução para o grego, que foi feita com base no original hebraico por volta de 200 a.C. 

Os cinco livros de Moisés não foram escritos por um único autor do início ao fim. A quantidade de histórias que neles se encontra foi, por muito tempo, transmitida sobretudo oralmente. Os livros de Moisés compreendem, portanto, um complexo conjunto de textos escritos durante um longo período, num processo que se completou por volta de 400 a.C. 

1.3. A Sinagoga e o Sábado.

Numa sinagoga não há imagens religiosas nem objetos no altar, pois as imagens são proibidas (é o segundo mandamento). O ponto focal de uma sinagoga judaica é, pois, a Arca, uma espécie de armário que fica na parede Oriental, na direção de Jerusalém. Ali se guardam os rolos da Torá, escritos em pergaminho. Como sinal de respeito, esses rolos costumam ser envoltos numa capa de seda, veludo ou outro material nobre, e decorados com sinos, uma coroa e um escudo de metal precioso. Mantém-se sempre uma lâmpada ardente diante da Arca. 

No serviço da sinagoga das manhãs de sábado há um grande cerimonial em torno da leitura da Torá. Abre-se a Arca, e os rolos são levados ao redor da sinagoga até ao altar. Ali se lê um trecho do texto em hebraico. A leitura da Torá também é feita às segundas e quintas-feiras; desse modo, no decurso de um ano se lê o cânone inteiro.

Além da leitura da Torá, o serviço contém orações, salmos e bênçãos, todos contidos num livro especial chamado Sidur (livro de orações). A oração mais importante são as Dezoito Bênçãos, que têm mais de 2 mil anos. Outro foco importante é o credo, o Shemá. 

SHEMÁ:

“Escuta, Israel, O Eterno nosso Deus, o Eterno é Um.  Amarás o Eterno teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e com todas as tuas forças, que as palavras que te prescrevo hoje sejam gravadas em teu coração. Tu as inculcarás em teus filhos, falarás delas em tua casa, caminhando, ao te deitares e ao levantares. Imprime-as no teu braço, grava-as entre teus olhos, escreve-as nos postes da tua casa e nas tuas portas”[3]. 

O Shabat dura desde o pôr-do-sol de sexta-feira até o pôr-do-sol de sábado. A base para a observação do Shabat se encontra na história da criação do mundo: no sétimo dia Deus descansou. Por isso, o homem também deve descansar nesse dia. O sábado se tornou uma festa semanal de renovação, a festa do lar e da família. 

1.4. Festas judaicas.

O ANO NOVO (Rosh ha-Shaná, em hebraico) é celebrado em setembro ou outubro. No mês anterior, todos os judeus procuram cuidar especialmente bem de suas obrigações religiosas e praticar atos de caridade. É uma data em que cada um deve se concentrar na autoanálise e no arrependimento, refletindo sobre suas ações e tentando melhorar. 

O DIA DO PERDÃO, ou Yom Kipur, termina o período de dez dias de arrependimento iniciado no Ano-Novo. Tradicionalmente, no antigo Israel, o Dia do Perdão era o único dia do ano em que o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, o recinto mais sagrado do Templo. Isso se dava após o sacrifício de um carneiro, como sinal de expiação pelos pecados do povo. Hoje em dia os pecados são confessados na sinagoga e o indivíduo pede perdão a Deus depois de ter se reconciliado com seus semelhantes. 

A FESTA DOS TABERNÁCULOS, ou Sukot (festa das tendas), acontece poucos dias depois do Dia do Perdão. Nela se constroem cabanas de folhas, no jardim da casa ou próximo à sinagoga. Isso é feito em memória das tendas onde os judeus moravam durante sua peregrinação no deserto e do cuidado que Deus dedicou a eles. 

A PÁSCOA em hebraico é chamada Pessach, que significa “passar por cima”. É uma referência ao relato da Torá sobre o anjo do Senhor que, ao levar a décima praga ao Egito, “passou por cima” das casas dos israelitas e, desse modo, só os primogênitos egípcios morreram. O Pessach é celebrado em março ou abril e comemora o êxodo dos judeus da escravidão do Egito. 

Quando a família senta para fazer a refeição de Pessach, uma criança pergunta: “Por que esta noite é diferente de todas as noites? ”. E o pai então explica como os judeus saíram do Egito e se tornaram um povo. 

A refeição da Páscoa é chamada seder, palavra hebraica que quer dizer “ordem”, pois segue um ritual fixo, com pratos tradicionais de significado simbólico. Devem-se mergulhar ramos de salsa numa tigela com água salgada, simbolizando as lágrimas dos judeus no Egito. 

As ervas amargas lembram a infelicidade da escravidão sob domínio do faraó. Uma mistura de maçã ralada, nozes, vinho e mel representa o cimento que os judeus utilizavam para fazer tijolos. Um osso de carneiro assado simboliza o sacrifício pascal.  Ovos cozidos recordam os sacrifícios feitos no Templo. Bebe-se também vinho, símbolo da alegria. 

A FESTA DAS SEMANAS (Shavuot), ou o Pentecostes judaico, cai em maio ou junho e comemora a ocasião em que a Torá foi dada ao povo no monte Sinai. Na sinagoga são lidos os dez mandamentos e o Livro de Rute. A história do Livro de Rute se passa durante a colheita de trigo, e no antigo Israel os peregrinos chegavam ao Templo com cestas carregadas das primeiras espigas de trigo. Hoje, as decorações com flores e ramos lembram a área em torno do Sinai. 

1.5. Ética judaica.

No judaísmo, a crença num Deus único está intimamente ligada aos princípios éticos que regulam a vida humana. A vida ética é um gesto de devoção à vontade Deus é uma imitação do divino. Uma vez que Deus é santo e justo, os judeus devem igualá-lo nestes e nos demais aspectos do ser divino. 

Os 613 mandamentos que os rabinos destilaram no Pentateuco ou da Torá propriamente dita formam a base de uma vida ética. Esses mandamentos, junto com o enorme corpo de tradições neles baseados, são conhecidas como Halaka, literalmente “caminhada”, ou seja, o caminho em que Israel deve andar neste mundo. 

Prover aos pobres, fracos e deficientes assume assim um significado religioso, e a assistência aos outros teve um grande papel no desenvolvimento de uma ética judaica. As comunidades judaicas sempre tiveram sistemas altamente organizados de bem-estar social, para os quais todos são solicitados a contribuir de acordo com sua capacidade. 

FERIADOS ATUAIS

Dois feriados tornaram-se quase universalmente considerados pelos judeus modernos. O Dia da lembrança do Holocausto (Yom ha-Shoah) é observado em memória dos 6 milhões de judeus mortos pelos nazistas e seus aliados na Segunda Guerra Mundial. Ele acontece cerca de duas semanas depois da Páscoa, quando os judeus do Gueto de Varsóvia se revoltaram contra seus opressores em 1943. Obviamente é um dia de luto. 

Já o Dia da Independência de Israel (Yom ha-Atzmaut) é uma comemoração alegre da recuperação aparentemente milagrosa do povo judeu, que depois do Holocausto assistiu à declaração da independência do Estado de Israel em 14 de maio de 1948. (EHRLICH, S. Carl. Judaísmos. In: COOGAN, D. Michael. Religiões. p. 47) 

II. Cristianismo.

Logo depois da crucificação de Jesus de Nazaré, um pregador judeu que curava os doentes, surgiu no mundo greco-romano um novo movimento religioso que iria mudar o mundo para sempre. Um círculo íntimo de discípulos de Jesus e muitos dos seus seguidores acreditavam que ele era o Cristo, ou Messias, um redentor divino da humanidade, que tinha ressuscitado depois de morrer. Eles começaram a espalhar essa mensagem e também os ensinamentos de Jesus, baseados no amor de Deus e ao semelhante. A partir desse “movimento de Jesus” surgiu a fé cristã, agora a maior religião do mundo, com cerca de 2 bilhões de seguidores espalhados por quase todos os países. 

2.1. Jesus de Nazaré.

Jesus era um judeu, e na época de sua juventude o reino judaico estava sob o controle direto de um oficial do Império romano. Jesus se tornou um profeta itinerante, baseando suas ideias nas escrituras judaicas. Mas logo ficou claro que ele estava formulando uma doutrina independente, pois com frequência dizia coisas como: “Vós aprendestes o que foi dito a vossos antepassados... Eu, porém, vos digo...”. 

No ano 29 ou 30 de nosso calendário, Jesus foi acusado de blasfêmia por um tribunal religioso judaico. Um alto funcionário romano, Pôncio Pilatos, atendeu ao apelo dos anciãos judeus e sentenciou Jesus à morte, executando-o por crucificação. Pilatos o sentenciou por ter se rebelado contra o Estado romano. 

O movimento de Jesus, contudo, não morreu com o seu líder. Logo depois da crucificação um pequeno grupo de judeus começou a proclamar que Jesus havia ressuscitado e que com essa ressurreição as esperanças messiânicas de Israel tinham sido preenchidas. Eles dificilmente poderiam prever o sucesso espantoso de sua pregação[4]. 

2.2. Jesus: O Messias, Filho do homem, Filho de Deus. 

1.  O Messias – A tradução grega da palavra Messias é Christos. Assim, originalmente o nome de Jesus Cristo é um reconhecimento de que Jesus é o prometido messias. Embora, segundo os evangelhos, em várias ocasiões Jesus tenha admitido ser o messias, há provas de que ele não usava esse título para falar de si mesmo. Ainda que possa ser aparecido como messias para seus discípulos, é muito pouco provável que tivesse se referido a si mesmo dessa maneira em público, decerto porque não queria ser visto como libertador político de seu país.

2.      O Filho do Homem – O título usado com mais frequência por Jesus era Filho do Homem. Esse título também é tomado do Antigo Testamento, onde se referia ao salvador que os judeus esperavam que fosse enviado por Deus. Em oposição à colocação nacionalista e política do Messias, o Filho do Homem era uma figura celestial que haveria de chegar “envolto em nuvens do céu” para salvar os justos. O fato de que Jesus chamasse a si mesmo de Filho do Homem indica que ele se considerava um ser divino.

3.      O Filho de Deus – Jesus se refere a si mesmo como Filho, ou Filho de Deus, em particular no evangelho de João. É bem claro que aqui esse nome tenciona conotar a unidade entre Jesus e Deus. Numa passagem Jesus se expressa desse modo: “Eu e o Pai somos um” (João 10,30).

 

2.3. A ideia de Deus.

A Trindade é uma doutrina fundamental do cristianismo e tem desafiado os teólogos ao longo da história da religião.  Ela sustenta que há um único Deus, mas que Ele se compõe de três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – adoradas como uma unidade. A ideia de Deus como “um em três e três em um” continua sendo um dos mistérios mais sagrados para as igrejas oriental e ocidental. 

Para os cristãos Deus também é amor. O principal comentário da Bíblia acerca de Deus é que ele é “amor”. Essa não é uma descrição de uma entre outras características de Deus, mas uma qualificação geral. A Bíblia também destaca que é impossível para o ser humano conhecer a Deus ou amar a Deus se não nos amamos uns aos outros. Pois Deus é amor. 

A Bíblia oferece outras definições de Deus: ele é Pai, Senhor, todo-poderoso, onisciente, bom, misericordioso, justo e pessoal. Por trás de cada uma dessas diversas características há sempre um acontecimento, porque o Deus cristão é algo mais que um princípio filosófico. Ele é um ser pessoal que ouve as orações e os louvores do homem. 

2.4. Os primeiros cristãos.

Segundo disse Jesus, os doze apóstolos formaram o núcleo do novo reino de Deus que estava para vir. Pedro foi a figura principal entre eles. Outra figura importante foi Tiago, irmão de Jesus. 

A primeira congregação cristã foi constituída por judeus. Eles obedeciam à Lei de Moisés, participavam dos serviços no Templo e na sinagoga, e de um modo geral viviam como judeus piedosos. Sua crença de que Jesus de Nazaré era o prometido Messias os diferenciava dos outros judeus. Eles foram considerados uma seita judaica separada chamada de nazarenos, para se distinguirem dos saduceus e fariseus. No início não havia um grande abismo entre cristianismo e judaísmo. 

De importância decisiva para a contínua difusão do cristianismo foi a conversão do fariseu Saulo (Paulo), por volta de 32 d.C. Não é exagero dizer que os muitos anos de ministério de Paulo transformaram o cristianismo numa religião mundial. Sua contribuição se deu em dois sentidos: em primeiro lugar, ele viajou intensamente pelo mundo greco-romano e proclamou o evangelho de Cristo entre os não-judeus. 

Em segundo lugar, estabeleceu as fundações da teologia cristã em suas várias epístolas às novas igrejas. Nas epístolas de Paulo o cristianismo é tratado como uma religião independente, e Jesus Cristo, como o salvador de todos os humanos. 

2.5. Os Sacramentos.

O amor e a proximidade de Deus se evidenciam não apenas por meio de suas palavras, mas também sob a forma de atos sagrados, os sacramentos. O termo sacramento pode, em princípio, aplicar-se a uma série de ações que reforçam a comunhão com Deus.

A Igreja católica romana reconhece sete sacramentos. Dois tem significado especial e são vistos como sacramentos também na Igreja protestante: o batismo e a eucaristia, ambos utilizados como sinais externos, visíveis e instituídos por Jesus. 

a) Batismo – O próprio Jesus instituiu o batismo, segundo Mateus, juntamente com o seu “mandamento missionário” no Dia da Ascensão. Desde os primeiros dias do cristianismo, o batismo foi o passaporte para entrar na comunidade cristã; é um ato de iniciação.

b) Eucaristia – Eucaristia é uma palavra grega que significa “dar graças”, e se refere à ceia que Jesus compartilhou com seus discípulos mais próximos antes de ser executado.

Os ingredientes básicos da ceia foram pão e vinho. São essas as coisas que Jesus escolheu para demonstrar o significado de seu ministério. Ele se ofereceu a si mesmo, em carne e sangue, para que o homem pudesse ser perdoado pelo rompimento de sua relação com Deus. 

2.6. O Mandamento principal.

Um pequeno trecho do Sermão da Montanha se tornou muito conhecido e é chamado de REGRA DE OURO: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois este é a Lei e os Profetas” (Mateus 7.12). 

Em todas as pregações de Jesus, a caridade é proclamada como o mandamento-chave: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.39). Repetidas vezes se enfatiza que a caridade não deve ser expressada apenas àqueles de quem se gosta, às pessoas da própria comunidade, ou àquelas que se encontram em dificuldades sem ter culpa por isso. Todas as pessoas devem receber amor – mesmo as que, segundo a opinião comum, merecem a dureza de seu destino. Como já foi mencionado, Jesus chega a dizer que devemos amar nossos inimigos. 

2.7. A Bíblia sagrada.

Os cristãos consideram que a Bíblia foi inspirada por Deus e é o texto mais sagrado do cristianismo. Ela se compõe de duas partes: o Velho Testamento, essencialmente a Bíblia Hebraica, que representa a primeira aliança (“testamento”) de Deus com a humanidade; e o Novo Testamento, a aliança com Jesus Cristo, na qual se cumpre as promessas de Deus a Israel.  Os 27 livros do Novo Testamento, composto no século seguinte à morte de Cristo, registra seu nascimento, ministério, paixão (“sofrimento”) e ressurreição. 

Contém também os Atos dos Apóstolos, com um relato da missão de Paulo entre os gentios, e cartas de Paulo e outros. O último livro, Apocalipse, é uma visão profética sobre o fim dos tempos. 

O Novo Testamento se compõe de textos que a Igreja antiga considerava inspirados por Deus e via como os que melhor comunicam a experiência religiosa dos cristãos. Não eram obra de um único indivíduo ou concílio da Igreja, mas evoluíram passo a passo durante vários séculos.

 

LIVROS DO NOVO TESTAMENTO

Evangelhos

Mateus, Marcos, Lucas e João.

Histórico

Atos dos Apóstolos

Cartas Paulinas

Romanos, 1Corintios, 2Coríntios, Gálatas, Efésios, filipenses, colossenses, 1Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses,

1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemom.

Cartas Gerais

Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2Pedro, 1João, 2João, 3João e Judas.

Revelação

Apocalipse.

 

2.8. O Dia do Senhor.

No século II o sabá cristão, ou Dia do Senhor, passou para o primeiro dia da semana (domingo) em vez do último (sábado), não só para diferenciá-lo do sabá judaico como também, e sobretudo, porque foi nesse dia que Jesus ressuscitou. Nos domingos os cristãos regularmente reúnem-se para reviver e relembrar a Santa Ceia. Os rituais ligados ao Dia do Senhor lembram e celebram principalmente o que os cristãos consideram o sacrifício do corpo e do sangue de Jesus[5]. 

2.9. Uma só Igreja – muitas comunidades religiosas.

O cristianismo hoje está dividido em muitas comunidades eclesiásticas, com diferentes organizações, doutrinas, ordens e atitudes sociais. Podemos dizer que a Igreja permaneceu única e indivisa até 1054, quando se dividiu em duas, Católica e Ortodoxa.

No século XVI ocorreu a Reforma protestante, quando diversas comunidades da Igreja se levantaram em protesto contra certos aspectos da doutrina e da prática da Igreja católica. Foram elas a Igreja anglicana, a reformada e a luterana. 

Depois disso surgiram novas igrejas, destacando diferentes aspectos do evangelho cristão. Estas incluíam: os calvinistas, os presbiterianos, os metodistas, os batistas, os petistas, etc. Apesar de todos os contrastes, porém, a maioria das comunidades cristãs têm um fundamento comum, que é a Bíblia. Além disso, a maioria aceita um – ou mais – dos credos que foram formulados nos antigos sínodos[6], o Credo niceno, o Credo atanasiano e o Credo dos apóstolos. 

III. Islã.

O Islã foi a terceira maior tradição monoteísta a surgir na história humana. A própria palavra “islã”, frequentemente traduzida por “submissão”, refere-se à decisão dos muçulmanos (“Aqueles que se submete ou se rende”) de sujeitar-se em mente e espírito à vontade de Deus ou Alá (em árabe Allah, “O Deus único”). Assim, submeter-se à vontade divina, como explicam os textos sagrados da tradição, é realizar uma ordem harmoniosa no universo. Nesse sentido o islã se refere não só ao ato de submissão como à sua consequência, a paz (salam)[7]. 

Como religião, o islã não compreende apenas a esfera espiritual, mas todos os aspectos da vida humana e social. A interpretação da lei, o direito, sempre ocupou um lugar relevante na história do islã. Na maioria dos países islâmicos, os que tem conhecimento jurídico costumam atuar como líderes religiosos. Não existe um sacerdócio organizado.

Uma descrição geral do islã se divide em três tópicos principais: 

1.       Credo (monoteísmo e revelação);

2.      Deveres religiosos (os cinco pilares), e

3.      Relações interpessoais (ética e política)[8].

 

3.1. Maomé, o fundador do Islã.

Por muito tempo o islã foi conhecido no Ocidente como “maometanismo”, em razão da forte influência do profeta Maomé sobre o islã. O islã, a mais recente das grandes religiões mundiais, remonta a Maomé, que nasceu em Meca, na Arábia, no final do século VI, por volta de 570 d. C. Filho de uma das principais famílias da cidade – importante centro comercial e posto de parada para as caravanas que transitavam pela península Arábica -- Maomé ficou órfão ainda criança. 

Um de seus tios, Abu Talib, cuidou dele e o sustentou quando começou a suas prédicas. Foi esse mesmo tio que levou Maomé a trabalhar como condutor de camelos em Khadidja, a rica viúva de um mercado, de excelente família, que embora quinze anos mais velha que ele, mais tarde se tornou sua esposa. Khadidja foi a primeira a seguir Maomé quando ele lhe falava das revelações que tinha; ele exerceu bastante influência em seu desenvolvimento religioso. Maomé nunca teve outra esposa. 

3.2. Deus se revela a Maomé.

Todo ano, Maomé se retirava para uma caverna numa montanha dos arredores de Meca, onde meditava. Esse também era o hábito dos monges e eremitas cristãos, que, diferentemente de Maomé, fundamentavam suas meditações em algum texto ou passagem selecionada, em geral dos evangelhos. Ao completar quarenta anos, Maomé teve uma revelação na caverna. O anjo Gabriel de repente lhe apareceu com um pergaminho e ordenou a ele que o lesse. Maomé respondeu que não sabia ler, e o anjo disse: 

[ “Recita em nome do teu Senhor, que criou, criou o homem a partir de coágulos de sangue. Recita! Teu senhor é o Mais Generoso, que pela pena ensinou ao homem o que ele não sabia”]. 

Em árabe, a palavra recitar tem a mesma raiz que Curan, que significa “ler”, ou “ler alto”. O Corão é o livro sagrado dos muçulmanos e reúne as revelações de Maomé. Assim, os muçulmanos, do mesmo modo que os judeus e os cristãos, passaram a ter um texto sagrado. O Corão só foi escrito depois da morte de Maomé. Seus 114 capítulos (suras) foram arranjados de maneira tal que os mais longos vêm primeiro, mesmo os que Maomé recebeu numa data posterior aos mais curtos. A exceção é a sura I, no início do Corão.

 

O ALCORÃO NA VIDA ISLÂMICA.

O Alcorão está presente de vários modos na vida dos muçulmanos. Foi o núcleo da educação islâmica tradicional – os jovens muçulmanos aprendiam a ler e a escrever com os versos corânicos, e, teoricamente, decoravam todo o texto. Embora essa prática tenha se perdido devido à expansão de uma educação pública secular, de modo geral os pais de hoje ainda garantem aos filhos o conhecimento do Alcorão. 

O exemplo dado pelo próprio profeta ao transmitir oralmente a palavra de Deus a seus seguidores ajuda a explicar o grande valor ligado até hoje à memorização e recitação do Alcorão. A recitação continua sendo uma forma de arte altamente cultuada, e gravações de declamadores famosos estão disponíveis em todo o mundo islâmico. 

O Alcorão tem uma santidade física. Os muçulmanos preferem se aproximar dele e manuseá-lo apenas num estado de pureza ritual, e seu poder divino ou graça (em árabe: baraka) pode até, num uso mais popular, ser empregado como meio de cura. (Matthew S. Gordon. Islamismo. In. Michael D. Coogan. Religiões. 2007, p. 104 )

 

O que a Torá é para os judeus e o Cristo para os cristãos, isso é o Alcorão para os muçulmanos:  o caminho, a verdade e a vida. Com efeito, para os muçulmanos o Alcorão é: 

1.   A verdade: a fonte original da experiência de Deus e da piedade e o critério obrigatório da reta fé;

2.      O caminho: a verdadeira possibilidade de vencer o mundo, o princípio que guia a reto agir;

3.  A vida: o fundamento permanente do direito islâmico e a alma da liturgia islâmica, a instrução já para as crianças muçulmanas, a inspiração da arte muçulmana e o espírito, que tudo perpassa, da cultura muçulmana. O que importa não tanto os dogmas, mas sim a prática.[9]

 

3.3. De Meca a Medina.

Depois de sua revelação, Maomé começou a pregar em Meca. Ele se proclamou profeta ou mensageiro de Deus, o que foi visto pelas famílias poderosas de Meca como uma tentativa de usurpar a autoridade política da cidade. Grupos importantes também se opuseram a suas afirmações de que Alá era o único e verdadeiro Deus. Se fossem jogar fora todos os velhos deuses e deusas que seus antepassados adoraram, estariam reconhecendo que estes tinham sido pagãos. 

A oposição a Maomé cresceu. Após a morte de seu tio e de sua esposa, as coisas pioraram cada vez mais para o profeta e seus seguidores em Meca. Nesse ínterim, Maomé havia atraído outros seguidores na cidade de Medina, os quais estavam prontos para aceita-lo como um dos seus. Assim, em 622, ele saiu de Meca em segredo e alguns dias depois chegou a Medina, onde seus seguidores já o esperavam. 

A emigração de Maomé é conhecida em árabe como a Hijra (Hégira), que significa “rompimento” ou “partida”. Maomé rompeu com a própria comunidade, os parentes e sua cidade natal. Não se tratou de uma fuga, mas o fato foi comparado à história bíblica de Abraão que, atendendo à ordem de Deus, deixou seu lar em Ur, na Mesopotâmia.

 

3.4. O credo.

            O credo do islã está resumido nesta curta declaração de fé: 

“Não há Deus senão Alá, e Maomé é seu Profeta”. 

Esses dois pontos constituem o núcleo da doutrina islâmica: o monoteísmo e a revelação por intermédio de Maomé. 

Deus falou ao homem por intermédio de seu profeta Maomé, o último de uma linha de profetas que ele enviou à humanidade: Adão, Abraão, Moisés e Jesus. Originalmente, Maomé se considerava parte da comunidade judaico-cristã. Aos poucos ele se distanciou tanto dos judeus como dos cristãos. Logo de início os judeus apontaram que Maomé cometera erros em sua reinterpretação das narrativas do Antigo Testamento. Maomé não a acusação: as revelações que recebia eram a Palavra de Deus; assim, os judeus é que deviam te distorcido o significado de suas escrituras sagradas. 

A fim de criar um fundamento histórico para sua nova religião, Maomé se reportou a Abraão e seu filhos Ismael, antepassado dos árabes. Ensinou que Abraão e Ismael tinham reconstruído a sagrada Caaba, que fora erigida por Adão, mas destruída pelo dilúvio na época de Noé. Segundo Maomé, os judeus, os cristãos e os politeístas haviam corrompido o monoteísmo original de Abraão. 

O ataque mais severo de Maomé contra o cristianismo se dirige à Trindade, que, segundo ele, é uma quebra do monoteísmo puro. No islamismo, Maomé é apenas um intermediário, pois a verdadeira revelação ocorre no próprio Alcorão. No cristianismo a Palavra de Deus se tornou uma pessoa; no islamismo, um livro. Portanto, não é correto comparar Jesus com Maomé e a Bíblia com o Alcorão. Seria mais apropriado dizer que existe um paralelo entre Jesus e o Alcorão. 

3.5. Os cinco pilares do Islã.

  1. O credo; A oração;
  2. A caridade (esmola);
  3. O jejum (Ramadã); 
  4. A peregrinação a Meca. 

Todo muçulmano adulto que dispõe de meios para realizar uma peregrinação a Meca, deve fazê-la pelo menos uma vez na vida. Ali se encontra o santuário sagrado mais antigo do islã, a Caaba. Trata-se de um edifício quadrado coberto por um pano negra. Num canto da Caaba fica uma pedra negra incrustada na parede; essa pedra tem um enorme significado simbólico. 

Para os muçulmanos, Meca e a Caaba são o centro do mundo. Não só os fiéis se voltam para Meca quando oram; também as mesquitas são construídas com o eixo mais longo apontando para lá. Os mortos são enterrados voltados para Meca, e a cidade é o destino das peregrinações. 

Meca é visitada todos os anos por cerca de 1,5 milhões de peregrinos, metade dos quais vem de fora da Arábia. O número de peregrinos aumentou de maneira extraordinária depois que se organizaram os voos charter para lá. A grande mesquita de Meca foi completamente reconstruída e hoje abriga 600 mil pessoas. 

Quando os peregrinos se aproximam de Meca, passam a usar vestes brancas. Nos dias que se seguem eles irão realizar uma série de ritos, dentro e fora da cidade. A maioria desses rituais enfatiza sua ligação com Abraão ou Maomé, pois ambos mostraram obediência a Deus. O primeiro rito consiste em caminhar em torno da Caaba sete vezes, e muitos tentam beijar a pedra negra. Diz a tradição que essa construção foi erguida por Abraão e Ismael, filho de Abraão com sua escrava Agar. 

3.6. Ética e política.

Tradicionalmente, no islã não há distinção entre a religião e a política, tampouco entre a fé e a moral. Todas as obrigações religiosas, morais e sociais do homem estão estabelecidas na sagrada lei muçulmana, na Sharia. 

Sharia significa “caminho para o oásis”, ou seja, o caminho correto para a conduta humana, que foi revelada por Deus ao homem. A lei sagrada se expressa sobretudo no Alcorão, que é muito mais que um texto religioso. Trata-se de um livro de leis que contém instruções fixas e rígidas sobre o governo da sociedade, a economia, o casamento, a moral, o status da mulher, etc. 

O QUE CARACTERIZA AS TRÊS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS

O que é claramente comum a judaísmo, cristianismo e islamismo é a fé no Deus uno e único de Abraão, o clemente e misericordioso Criador, Preservador e Juiz de todos os homens, chamado em árabe de Alá, tanto por muçulmanos como por cristãos. Mas o que os distingue também se torna claro, agora.

O que é mais importante:

  1. Para o judaísmo: Israel como povo e terra de Deus;
  2. Para o cristianismo: Jesus Cristo como Messias e Filho de Deus;
  3. Para o islã: o Alcorão como livro e palavra de Deus.

 

 

REFERÊNCIAS.

COOGAN, Michael D. (org.) Religiões. São Paulo. Publifolha, 2007.

KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns. Campinas. Verus, 2004.

HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O Livro das Religiões. São Paulo. Companhia das letras, 2000.

MARCHON, Benoit; KIEFFER, Jean- François. As grandes religiões do mundo. 7. ed. São Paulo. Paulinas, 2011.

 

 

 

[1] GAARDER, Jostein. O Livros das Religiões. 2000, p. 97.

[2] EHRLICH, Carl S. Judaísmo. In: COOGAN. Michael D. (Org). Religiões. 2007, p. 16.

[3] MARCHON, Benoit; KIEFFER, Jean-François. As Grandes Religiões do Mundo. 2011, p. 27.

[4] HALE, Rosemary Drage. Cristianismo. In: COOGAN, Michael D. Religiões. 2007, p. 59.

[5] HALE, Rosemary Drage. Cristianismo. In: COOGAN, Michael D. Religiões. 2007, p. 83.

[6] Sínodo é uma assembleia de sacerdotes convocada por um bispo da Igreja.

[7] GORDON, Matthew S. Islamismo. In: COOGAN, Michael D. Religiões, 2007, p. 90.

[8] HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O Livro das Religiões, 2000, p. 118.

[9] KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns. 2004, p. 257.

 

4 de agosto de 2017

OS ÍNDIOS E O BRASIL - História, fé e resistência dos primeiros nativos brasileiros.

Os índios fazem parte da história e cultura brasileira, e isso ninguém pode negar. Antes dos colonizadores portugueses chegarem a região que futuramente seria conhecida como Brasil, ela já estava sendo habitada por várias tribos indígenas. Então, é mais coerente dizer que o Brasil não foi descoberto, mas sim "invadido". A história pode ser contada e recontada de diversas formas. Tudo depende de quem vai narrá-la. 

Infelizmente o que sabemos sobre os índios é contado a partir do olhar do colonizador português, ou seja, o conhecimento que temos dos primeiros habitantes brasileiros é um conhecimento de segunda mão. No entanto, com o passar do tempo, pesquisadores sérios, como antropólogos e sociólogos tomaram à iniciativa de ouvir e conviver com os índios. Com o objetivo de conhecer mais profundamente a sua história e cultura.

O presente texto vai se fundamentar no eixo temático culturas e tradições religiosas, que faz parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER), e tem como objetivo ser uma contribuição a mais no estudo sobre a vida dos índios brasileiros. E também, na medida do possível, conscientizar o leitor de que os índios contribuíram na formação cultural do Brasil.

1. OS ÍNDIOS E SUA RELIGIOSIDADE.
Basicamente a religião dos índios é uma religião que está ligada aos elementos da natureza e ao culto dos antepassados. Em sua essência à religiosidade indígena é animista, por que acredita que tudo o que existe na natureza é habitado por algum espirito. Os rios, as plantas, as árvores, as pedras e os animais estão em constante movimento por que são movidos por algum espírito. Para os índios é fundamental estar em harmonia com a natureza, por que ela é sagrada. E também é necessário apaziguar os espíritos maus que habitam na floresta, para que eles não venham causar doenças e infortúnios para a tribo. É nesse momento que a figura do pajé (ou xamã) é tão importante para a manutenção da ordem cósmica indígena.
"Aliás, o xamanismo dos povos da terra do Brasil, chamado pajelança, é a base de sua religião. [...]. Seus pajés, homens ou mulheres, fazem a viagem ao mundo dos espíritos da natureza através do exercício do transe extático. Apossam-se dos espíritos, fazem curas, dirigem preces, aconselham. Às vezes, acreditando que a enfermidade foi causada porque a alma do enfermo abandonou, saem em busca dessa alma e afazem retornar ao corpo da pessoa doente para, assim, restituir-lhe a saúde" (DOMEZI, 2015, p. 31).
O pajé é o líder espiritual dos índios. Ele é muito respeitado e reverenciado por todos os habitantes de uma determinada tribo. Pode-se dizer que o pajé é um tipo de mediador entre os homens e os espíritos da floresta. Ele tem a missão de afastar os maus espíritos que queiram trazer algum flagelo para a tribo, como também realizar curas de enfermidades através de rituais mágicos.

Por serem pessoas que habitavam nas florestas, os índios não possuíam os complexos sistemas de saúde dos grandes centros urbanos. Nas floretas não existem hospitais, postos de saúde, farmácias, ambulâncias, médicos, enfermeiros, etc. Se algum índio ficava doente o único remédio era o ritual mágico. E é nesse momento que o pajé assume a função de curandeiro da tribo. Talvez as curas eram feitas com o auxílio de bons espíritos e de ervas medicinais encontradas na floresta. O importante é levar saúde ao índio enfermo.
"A visão dos portugueses acerca dos nativos do Brasil está num documento que foi lido na corte de Portugal, em 4 de agosto de 1502, sendo aprovado pelo rei e seu conselho: "Os habitantes desse mundo não têm fé, nem religião, nem idolatria, nem conhecimento algum do seu Criador, nem estão sujeitos a leis ou a qualquer domínio, mas apenas ao conselho dos velhos...". Joaquim Fernandes, um tabelião público de Lisboa, produziu esse documento juntando as informações da Carta de Caminha e os relatos de Américo Vespúcio. E registrou-o em seu cartório" (DOMEZI, 2015, p. 27).
Os índios sempre tiveram fé e religião. A questão é que elas são diferentes da fé e religião dos invasores portugueses. Na visão dos portugueses os índios eram pagãos, ou seja, pessoas que desconheciam o Deus verdadeiro e a Jesus Cristo como único salvador. Era necessário evangelizá-los e tirá-los das trevas e da ignorância. No entanto, os índios não se viam como pagãos, eles apenas praticavam o que os seus antepassados passaram de geração a geração. Às várias tribos indígenas que viveram no Brasil, muito antes da chagada dos portugueses, eram civilizados segundo os seus costumes e crenças.

2. OS CONFLITOS ENTRE ÍNDIOS E PORTUGUESES.
Quando um povo ou grupo de pessoas se considera superior ou mais evoluído do que outros, sem dúvida, muitos problemas hão de surgir. Os indígenas que viveram no Brasil muito antes da chegada dos portugueses, eram os autênticos donos da terra. Caçavam, pescavam, casavam, tinham filhos e viviam suas crenças e costumes pacificamente entre si. Talvez nunca tenha passado por suas mentes a ideia de sair de seu habitat natural para invadir as terras de outros povos. 

Os conflitos começaram com a chegada dos invasores portugueses, que condicionados por uma visão de mundo cristã europeia, dão início a uma conquista predatória das novas terras e também da dominação e catequização das comunidades indígenas. A coroa portuguesa e a Igreja Católica estavam juntas na realização na exploração e colonização das novas terras recém "descobertas". Tudo para os portugueses era novo, e o estilo de vida das comunidades indígenas era o que causava mais espanto. De fato, tudo o que é novo e desconhecido pode gerar muito preconceito e medo!
"Os que chegaram da Europa Ocidental, com o olhar condicionado pela perspectiva monoculturalista e a mentalidade marcada pelo exclusivismo cristão, entenderam como barbárie esse mundo que lhes era estranho. No entanto, tratava-se de uma "alteridade". Ali estavam povos diferente e com diferentes cosmovisões. Eles tinham suas tradições antigas e viviam integrados na natureza, como pessoas humanas participantes da interligação de todos os seres, animados ou inanimados, no jogo das influências recíprocas, benéficas ou maléficas" (DOMEZI, 2015, p. 26).
Existiu logo no início uma certa cordialidade entre portugueses e índios. Mas com o passar do tempo essa atitude iria mudar. Na verdade, os portugueses estavam mais interessados em colocar seus planos de dominação e colonização em prática. Pouco importava o que os índios pensavam. Os índios não se submeteram à dominação dos invasores portugueses, e tomaram uma atitude de resistência. Mas infelizmente a história mostra que desse confronto muitos índios foram mortos e outros escravizados.
"Na consolidação do domínio português no Brasil, a cada novo território conhecido e a ser colonizado vinham as guerras de extermínio. A incompatibilidade entre colonizadores e índios parecia inevitável. A começar pela Bahia, em 1558, quando Men de Sá arrasou a resistência e rebeldia tupinambá, matando entre 15 mil a 30 mil índios, com a complacência e encorajamento de todos" (GOMES, 2012, p. 57).
O que é possível aprender com tudo isso? Acredito que várias coisas: 1. Todos os povos, por mais diferentes que sejam, possuem alguma crença religiosa. E essa crença traz alguma verdade para o povo que nela acredita; 2. O cristianismo não é a única religião do mundo, além dela existem outras; 3. A religião é caracteristicamente ambivalente, pode ser usada como instrumento de dominação ou de libertação; 4. Cada indivíduo tem o direito de viver, e ninguém tem o direito de tirá-lo; 5. Saber conviver com o diferente e algo que precisa ser buscado constantemente. 

Fontes:
DOMEZI, Maria Cecilia. Religiões na história do Brasil. São Paulo: Paulinas, 2015.
GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo: Contexto, 2012.

1 de junho de 2017

HISTÓRIA E RELIGIOSIDADE DO EGITO ANTIGO - O fascínio de uma antiga civilização.


História e religião andam juntas há muitos séculos. É quase impossível desassociar uma da outra. As antigas civilizações (Mesopotâmia, Egito, Roma, Grécia, etc.) ainda hoje causam fascínio, admiração e curiosidade em muitas pessoas, sejam elas cultas ou incultas. O Antigo Egito, especificamente, é uma dessas civilizações que tem atiçado o imaginário dos pesquisadores. Como esse povo antigo conseguiu construir as gigantescas e fascinantes piramides? E a esfinge? E tantas outras obras faraônicas? Quais foram os métodos arquitetônicos usados para criarem esses espetaculares empreendimentos? Eis um dos mistérios do Antigo Egito. Sem dúvida essa antiga civilização continua nos fascinando. 

O presente texto tem como fundamento a história das religiões. E objetivamente descreve um pouco da história do Antigo Egito e sua religiosidade. Preferencialmente, esse material se destina a ser usado como uma proposta para aulas de Ensino Religioso, nos anos finais (8° e 9°ano) do Ensino fundamental. Caberá ao professor adaptar esse material a realidade de sua classe.    

1. ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE EGÍPCIA.
Na época do antigo Egito, Estado, religião e cultura estavam completamente entrelaçados. Era praticamente impossível falar de um sem mencionar os outros. E também se um caísse os outros teriam o mesmo destino. A história do Egito antigo é dividida em várias dinastias. Segundo os historiadores, o Egito teve ao todo trinta dinastias, que abrangeram um período de mais de três mil anos. O antigo Egito foi, em sua época, um dos mais poderosos e esplendidos impérios da humanidade.  
"O que caracteriza uma cultura é seu estilo. Nenhuma cultura na história mundial foi tão completamente atravessada por um estilo de tamanho requinte quanto a egípcia. Esse estilo se estabeleceu para sempre durante o Antigo Império, sendo que, na maioria dos aspectos, se instalara desde seu principio. [...] Os egípcio talvez tenham sido o povo mais autoconfiante do mundo: comparativamente, o egocentrismo cultural do "Império Celestial" da China foi menos exclusivista. Os egípcios não se viam como povo escolhido; eles eram, simplesmente, gente, categoria na qual não enquadravam os outros povos" (JOHNSON, 2002, p. 58).
Os egípcios eram um povo essencialmente agrícola. Eles viviam da colheita da terra, da criação de animais e do comércio. Pelo pouco que sabemos à ascensão do Egito como potencia econômica, deu-se por causa de sua localização geográfica e estratégica. O antigo Egito se desenvolveu às margens do rio Nilo. Foi a partir da utilização e exploração dos recursos deste rio que os egípcios foram desenvolvendo o seu domínio. Onde tem água tem vida. Sem água não poderia existir plantações, nem animais e muito menos população. 

Quando se fala ou se escreve sobre o antigo Egito, inevitavelmente, vem a nossa mente à imagem do Faraó. Politicamente o Egito foi uma "teocracia totalitária", onde o faraó ditava as regras. Em suma, a palavra do faraó era lei.  

Mas por trás disso existia à crença de que o faraó era divino. Ele foi uma espécie de mediador entre o povo e os deuses. Historicamente, uma das principais funções do faraó era preservar a ordem cósmica do universo (maat), para os antigos egípcios se essa ordem não fosse preservada o cosmos cairia no caos e na desordem. E isso explica o porquê do faraó ser reverenciado como um ser divino.
"Em seu apogeu, a teoria da monarquia sacrossanta apresentava o rei como deus manifesto. Ele era representante da terra entre os deuses, o único intermediário oficial entre o povo e os deuses, o sacerdote oficial exclusivo de todos os deuses" (JOHNSON, 2002, p. 64).
Desde a primeira até a trigésima dinastia vários faraós governaram o Egito. Uns se destacaram mais do que outros. E esses que se destacaram foram os que construíram as monumentais pirâmides, é possível afirmar que elas eram as tumbas sagradas dos faraós. No momento em que um faraó era embalsamado e enterrado, todos os seus pertences deveriam ser enterrado juntamente com ele. Por trás disso existia à crença de que a vida terrena era apenas uma "sombra" da vida eterna. Os egípcios eram muito obcecados pela imortalidade. No além (onde os deuses viviam) a vida é bem melhor do que essa. 

Algo que até hoje tem atiçado a curiosidade, principalmente de arqueólogos e historiadores, é o modo como os egípcios conseguiram construir as grandes pirâmides. Sem dúvida eles não possuíam as maquinas de construção e a tecnologia que temos hoje. Tudo indica que eles usaram métodos rudimentares de sua época, e mais especificamente a força braçal masculina.
"Sabemos que no Antigo Império o grupo de trabalhadores usados na construção das pirâmides consistia sobretudo em pedreiros treinados, organizados como em linhas de batalha, divididos em tropas nomeadas e comandadas por "generais". Esses homens habilidosos eram mantidos permanentemente ocupados, e o próprio Estado os provia, e suas famílias, de moradia e farta provisões de comida, roupas e outras necessidades. [...] De qualquer maneira, tem de ser lembrado que esses trabalhos eram de inspiração e intenção religiosa; tratá-los benignamente também parece ter sido uma tarefa religiosa" (JOHNSON, 2002, p. 81).
Para os antigos egípcios dar à sua parcela de contribuição na construção das pirâmides, se constituía em um tipo de devoção religiosa. Não era um trabalho penoso, mas prazeroso e sagrado. Isso porque na mente de um nativo egípcio, essa obra de construção garantia a posse da vida eterna e da imortalidade. Diferente do conceito cristão de redenção individual, o conceito de redenção egípcio era coletivo. A imortalidade da alma abrange toda à sociedade egípcia, e não indivíduos particulares. Servir e obedecer ao faraó era a porta de entrada para à vida eterna.
"Nesse sentido, O Egito era composto por uma sociedade coletivista de um tipo bastante rigoroso. O rei personificava o coletivo. Se ele adentrasse a eternidade em segurança, como um deus alado, a imortalidade de todo seu povo - servindo-o na próximo mundo como o serviram nesse - estava garantida" (JOHNSON, 2002, p. 87). 
Outro aspecto da sociedade egípcia (que muita gente desconhece) foi o seu amor à natureza. Como tudo ao seu redor era sagrado, a fauna e a flora não poderiam ficar de fora. É possível dizer que os egípcios eram naturalistas, no sentido de cuidarem da natureza. Se fosse possível, todo o nativo egípcio teria um jardim em sua casa.
"Os egípcios amaram a natureza mais que qualquer povo da antiguidade, parecendo ansiosos por levá-la, quando possível, para dentro de casa. Eles foram também os que melhor a representaram. Como mostram muitos exemplos de sua religião, eles adoravam os bichos, mantendo inúmeros animais de estimação, como cães, gatos, gansos e macacos. [...] Os egípcios de todas as classes se devotavam a jardins, fazendo todo o possível para cultivar um nas proximidades de suas residências, transportando terras, escavando poços, canais e tanques artificiais onde colocavam aves aquáticas" (JOHNSON, 2002, p. 169).
A modernidade precisa aprender com a antiguidade. Nem tudo o que é moderno é bom, e nem tudo o que é antigo é ruim. Amar e preservar à natureza é uma atitude que, progressivamente, está desaparecendo. O homem "moderno" que é obcecado pelo progresso industrial e pelo cientificismo, se transformou em um grande destruidor da natureza. O desmatamento das florestas tropicais, o alto índice de poluição nos oceanos e rios, a matança e extinção de animais silvestres. Em parte mostram, que os antigos egípcios eram mais evoluídos ecologicamente do que o homem moderno de hoje. 

2. RELIGIÃO E MITOLOGIA EGÍPCIA.
"Mesmo escrevendo em uma época na qual o dinamismo da fé do povo tinha se esgotado e apenas as formas, em vez da essência, prevaleciam, Herótodo descreveu os egípcios como as pessoas mais religiosas do mundo" (JOHNSON, 2002, p. 22).
A religiosidade egípcia foi caracteristicamente politeísta e coletiva. Politeístas porque os egípcios prestavam culto há várias divindades, ou seja, havia uma pluralidade de deuses. E coletiva no sentido de que à imortalidade era algo público e não particular. O conceito de "religião privada" era algo estranho para os egípcios. Na medida em que o Faraó (como líder de Estado) adentrava na imortalidade, toda a população egípcia teria a imortalidade garantida. É possível afirmar que à religião era um bem do Estado, e com isso, acessível a qualquer pessoa.

A relação entre os faraós e os deuses é um ponto importante quando se quer entender a religião dos antigos egípcios. Desde o momento da coroação de qualquer faraó, ele era reverenciado com um deus e "filho de deus". 
"Desde o momento de sua elevação ao trono, um faraó egípcio (rei) desempenhava o papel de um deus. Ele era uma manifestação do deus do céu Hórus e filho do deus-sol Rá. [...] Os títulos de um rei proclamavam esses e outros relacionamento. Seu nome-trono, único para cada soberano, anunciava a maneira pela qual ele manifestava o deus-sol. Assim, Tutmósis IV era Menkheprura, "A Mais Duradoura das Manifestações de Rá" (WILLIS, 2007, p. 52)
A mitologia egípcia tem a sua forma própria de explicar a "suposta" criação do mundo. Houve, nos tempos primordiais, um deus solitário que teve à iniciativa de criar uma família. E foi a partir da criação dessa família divina, que o mundo e os seres vivos passaram a existir. Essa família é conhecida como os "Nove deuses de Heliópolis" ou Ennead.    
"O relato egípcio mais detalhado da criação diz respeito às divindades conhecidas como os Nove Deuses de Heliópolis ou o Ennead. O primeiro deles foi Rá-Aton, que passou a existir no outeiro primitivo e planejou a multiplicidade da criação em seu coração. Ele fez a primeira divisão entre macho e fêmea quando colocou o próprio sêmen na boca e desovou ou espirrou Shu, o deus do ar, e Tefnut, a deusa da umidade. [...] Da união sexual de Shu e Tefnut resultaram Geb, o deus da terra, e Nut, a deusa do céu. [...] Os filhos de Nut eram dois pares de gêmeos, Osíris e Ísis, e Seth e Néftis. Dizia-se que Osíris e Ísis haviam se apaixonado ainda no útero, mas Néftis desprezava seu irmão Seth. Como filho mais velho de Geb e Nut, Osíris estava destinado a governar o Egito" (WILLIS, 2007, p. 40).
2.1. Osíris, Ísis e Horus.
Quando o assunto é o poder, até entre os deuses pode existir desentendimentos e brigas. O deus que governa o Egito, governa o mundo. Segundo a mitologia egípcia Osíris seriam o governante, no entanto, seu irmão Seth queria o poder. A partir disso começa-se dentro da "sagrada família" uma luta pelo poder. 

O mito de Osíris, Ísis e Horus é uma das principais narrativas da mitologia egípcia. Osíris era reverenciado como o deus da agricultura, que ensinou aos homens o segredo do cultivo e da civilização. Osíris seria o deus que governaria o Egito, no entanto, seu irmão o deus Seth queria para si o poder. Segundo o mito, Seth matou e esquartejou o seu irmão Osíris, para com isso assumir o seu lugar no trono. Aqui vale ressaltar que qualquer semelhança entre Abel e Caim não é mera coincidência. 
"Os primeiros relatos dizem que Osíris foi derrubado por seu irmão Seth na margem do rio em Nedyert, local místico às vezes identificado com parte de Abidos, o sitio sagrado onde os mistérios de Osíris eram celebrados. Versões posteriores do mito afirmam que Osíris foi afogado no Nilo, e Seth é apontado como o assassino" (WILLIS, 2007, p. 42).
Ísis irmã e esposa de Osíris teve um papel importante na narrativa mitológica egípcia.  Foi ela quem procurou as partes do corpo do marido, juntou-as e depois com o ser poder o ressuscitou. Depois disso Ísis ficou gravida e pariu um filho divino chamado Hórus o deus-falcão. Por causa disso Ísis é considerada como "mãe de deus"
"Desde tempos remotos, Ísis, consorte de Osíris, desempenhou papel importante nos mitos. Recuperou o corpo de seu marido para conceber um filho dele: pairando em forma de um pequeno gavião, ela atiçou o sopro da vida nele com suas asas. Em outra versão da história, Ísis foi engravidada pelo fogo divino. [...] Ísis pariu um filho divino, Hórus, em Chemmis, perto de Buto. Lá o criou, protegida por divindades, tais como a deusa-escorpião Selqet, e esperou Hórus crescer o suficiente para vingar seu pai" (WILLIS, 2007, p. 43). 
Hórus com o herdeiro do trono, lutou contra o seu tio Seth, que de forma ilegitima tomou o trono de seu pai Osíris. Essa luta dos deuses é algo importante na mitologia egípcia. Segundo o mito, Hórus vai ao tribunal divino reivindicar o seu direito como herdeiro legitimo do trono do Osíris. Os deuses declaram que Hórus tem direito ao trono. Seth não satisfeito desafia Hórus para um duelo. A mitologia não é muito clara sobre essa suposta "luta dos deuses". É possível supor que Hórus tenha conquistado o seu lugar como herdeiro do trono de Osíris, e Seth tenha se transformado no deus da tempestade. No final não houve vencedor e perdedor.

Fontes: 
JOHNSON, Paul. História ilustrada do Egito Antigo. Rio de Janeiro, ediouro, 2002.
WILLIS, Roy. Mitologias. São Paulo, Publifolha, 2007.