4 de agosto de 2017

OS ÍNDIOS E O BRASIL - História, fé e resistência dos primeiros nativos brasileiros.

Os índios fazem parte da história e cultura brasileira, e isso ninguém pode negar. Antes dos colonizadores portugueses chegarem a região que futuramente seria conhecida como Brasil, ela já estava sendo habitada por várias tribos indígenas. Então, é mais coerente dizer que o Brasil não foi descoberto, mas sim "invadido". A história pode ser contada e recontada de diversas formas. Tudo depende de quem vai narrá-la. 

Infelizmente o que sabemos sobre os índios é contado a partir do olhar do colonizador português, ou seja, o conhecimento que temos dos primeiros habitantes brasileiros é um conhecimento de segunda mão. No entanto, com o passar do tempo, pesquisadores sérios, como antropólogos e sociólogos tomaram à iniciativa de ouvir e conviver com os índios. Com o objetivo de conhecer mais profundamente a sua história e cultura.

O presente texto vai se fundamentar no eixo temático culturas e tradições religiosas, que faz parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER), e tem como objetivo ser uma contribuição a mais no estudo sobre a vida dos índios brasileiros. E também, na medida do possível, conscientizar o leitor de que os índios contribuíram na formação cultural do Brasil.

1. OS ÍNDIOS E SUA RELIGIOSIDADE.
Basicamente a religião dos índios é uma religião que está ligada aos elementos da natureza e ao culto dos antepassados. Em sua essência à religiosidade indígena é animista, por que acredita que tudo o que existe na natureza é habitado por algum espirito. Os rios, as plantas, as árvores, as pedras e os animais estão em constante movimento por que são movidos por algum espírito. Para os índios é fundamental estar em harmonia com a natureza, por que ela é sagrada. E também é necessário apaziguar os espíritos maus que habitam na floresta, para que eles não venham causar doenças e infortúnios para a tribo. É nesse momento que a figura do pajé (ou xamã) é tão importante para a manutenção da ordem cósmica indígena.
"Aliás, o xamanismo dos povos da terra do Brasil, chamado pajelança, é a base de sua religião. [...]. Seus pajés, homens ou mulheres, fazem a viagem ao mundo dos espíritos da natureza através do exercício do transe extático. Apossam-se dos espíritos, fazem curas, dirigem preces, aconselham. Às vezes, acreditando que a enfermidade foi causada porque a alma do enfermo abandonou, saem em busca dessa alma e afazem retornar ao corpo da pessoa doente para, assim, restituir-lhe a saúde" (DOMEZI, 2015, p. 31).
O pajé é o líder espiritual dos índios. Ele é muito respeitado e reverenciado por todos os habitantes de uma determinada tribo. Pode-se dizer que o pajé é um tipo de mediador entre os homens e os espíritos da floresta. Ele tem a missão de afastar os maus espíritos que queiram trazer algum flagelo para a tribo, como também realizar curas de enfermidades através de rituais mágicos.

Por serem pessoas que habitavam nas florestas, os índios não possuíam os complexos sistemas de saúde dos grandes centros urbanos. Nas floretas não existem hospitais, postos de saúde, farmácias, ambulâncias, médicos, enfermeiros, etc. Se algum índio ficava doente o único remédio era o ritual mágico. E é nesse momento que o pajé assume a função de curandeiro da tribo. Talvez as curas eram feitas com o auxílio de bons espíritos e de ervas medicinais encontradas na floresta. O importante é levar saúde ao índio enfermo.
"A visão dos portugueses acerca dos nativos do Brasil está num documento que foi lido na corte de Portugal, em 4 de agosto de 1502, sendo aprovado pelo rei e seu conselho: "Os habitantes desse mundo não têm fé, nem religião, nem idolatria, nem conhecimento algum do seu Criador, nem estão sujeitos a leis ou a qualquer domínio, mas apenas ao conselho dos velhos...". Joaquim Fernandes, um tabelião público de Lisboa, produziu esse documento juntando as informações da Carta de Caminha e os relatos de Américo Vespúcio. E registrou-o em seu cartório" (DOMEZI, 2015, p. 27).
Os índios sempre tiveram fé e religião. A questão é que elas são diferentes da fé e religião dos invasores portugueses. Na visão dos portugueses os índios eram pagãos, ou seja, pessoas que desconheciam o Deus verdadeiro e a Jesus Cristo como único salvador. Era necessário evangelizá-los e tirá-los das trevas e da ignorância. No entanto, os índios não se viam como pagãos, eles apenas praticavam o que os seus antepassados passaram de geração a geração. Às várias tribos indígenas que viveram no Brasil, muito antes da chagada dos portugueses, eram civilizados segundo os seus costumes e crenças.

2. OS CONFLITOS ENTRE ÍNDIOS E PORTUGUESES.
Quando um povo ou grupo de pessoas se considera superior ou mais evoluído do que outros, sem dúvida, muitos problemas hão de surgir. Os indígenas que viveram no Brasil muito antes da chegada dos portugueses, eram os autênticos donos da terra. Caçavam, pescavam, casavam, tinham filhos e viviam suas crenças e costumes pacificamente entre si. Talvez nunca tenha passado por suas mentes a ideia de sair de seu habitat natural para invadir as terras de outros povos. 

Os conflitos começaram com a chegada dos invasores portugueses, que condicionados por uma visão de mundo cristã europeia, dão início a uma conquista predatória das novas terras e também da dominação e catequização das comunidades indígenas. A coroa portuguesa e a Igreja Católica estavam juntas na realização na exploração e colonização das novas terras recém "descobertas". Tudo para os portugueses era novo, e o estilo de vida das comunidades indígenas era o que causava mais espanto. De fato, tudo o que é novo e desconhecido pode gerar muito preconceito e medo!
"Os que chegaram da Europa Ocidental, com o olhar condicionado pela perspectiva monoculturalista e a mentalidade marcada pelo exclusivismo cristão, entenderam como barbárie esse mundo que lhes era estranho. No entanto, tratava-se de uma "alteridade". Ali estavam povos diferente e com diferentes cosmovisões. Eles tinham suas tradições antigas e viviam integrados na natureza, como pessoas humanas participantes da interligação de todos os seres, animados ou inanimados, no jogo das influências recíprocas, benéficas ou maléficas" (DOMEZI, 2015, p. 26).
Existiu logo no início uma certa cordialidade entre portugueses e índios. Mas com o passar do tempo essa atitude iria mudar. Na verdade, os portugueses estavam mais interessados em colocar seus planos de dominação e colonização em prática. Pouco importava o que os índios pensavam. Os índios não se submeteram à dominação dos invasores portugueses, e tomaram uma atitude de resistência. Mas infelizmente a história mostra que desse confronto muitos índios foram mortos e outros escravizados.
"Na consolidação do domínio português no Brasil, a cada novo território conhecido e a ser colonizado vinham as guerras de extermínio. A incompatibilidade entre colonizadores e índios parecia inevitável. A começar pela Bahia, em 1558, quando Men de Sá arrasou a resistência e rebeldia tupinambá, matando entre 15 mil a 30 mil índios, com a complacência e encorajamento de todos" (GOMES, 2012, p. 57).
O que é possível aprender com tudo isso? Acredito que várias coisas: 1. Todos os povos, por mais diferentes que sejam, possuem alguma crença religiosa. E essa crença traz alguma verdade para o povo que nela acredita; 2. O cristianismo não é a única religião do mundo, além dela existem outras; 3. A religião é caracteristicamente ambivalente, pode ser usada como instrumento de dominação ou de libertação; 4. Cada indivíduo tem o direito de viver, e ninguém tem o direito de tirá-lo; 5. Saber conviver com o diferente e algo que precisa ser buscado constantemente. 

Fontes:
DOMEZI, Maria Cecilia. Religiões na história do Brasil. São Paulo: Paulinas, 2015.
GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo: Contexto, 2012.

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