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1 de junho de 2017

HISTÓRIA E RELIGIOSIDADE DO EGITO ANTIGO - O fascínio de uma antiga civilização.


História e religião andam juntas há muitos séculos. É quase impossível desassociar uma da outra. As antigas civilizações (Mesopotâmia, Egito, Roma, Grécia, etc.) ainda hoje causam fascínio, admiração e curiosidade em muitas pessoas, sejam elas cultas ou incultas. O Antigo Egito, especificamente, é uma dessas civilizações que tem atiçado o imaginário dos pesquisadores. Como esse povo antigo conseguiu construir as gigantescas e fascinantes piramides? E a esfinge? E tantas outras obras faraônicas? Quais foram os métodos arquitetônicos usados para criarem esses espetaculares empreendimentos? Eis um dos mistérios do Antigo Egito. Sem dúvida essa antiga civilização continua nos fascinando. 

O presente texto tem como fundamento a história das religiões. E objetivamente descreve um pouco da história do Antigo Egito e sua religiosidade. Preferencialmente, esse material se destina a ser usado como uma proposta para aulas de Ensino Religioso, nos anos finais (8° e 9°ano) do Ensino fundamental. Caberá ao professor adaptar esse material a realidade de sua classe.    

1. ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE EGÍPCIA.
Na época do antigo Egito, Estado, religião e cultura estavam completamente entrelaçados. Era praticamente impossível falar de um sem mencionar os outros. E também se um caísse os outros teriam o mesmo destino. A história do Egito antigo é dividida em várias dinastias. Segundo os historiadores, o Egito teve ao todo trinta dinastias, que abrangeram um período de mais de três mil anos. O antigo Egito foi, em sua época, um dos mais poderosos e esplendidos impérios da humanidade.  
"O que caracteriza uma cultura é seu estilo. Nenhuma cultura na história mundial foi tão completamente atravessada por um estilo de tamanho requinte quanto a egípcia. Esse estilo se estabeleceu para sempre durante o Antigo Império, sendo que, na maioria dos aspectos, se instalara desde seu principio. [...] Os egípcio talvez tenham sido o povo mais autoconfiante do mundo: comparativamente, o egocentrismo cultural do "Império Celestial" da China foi menos exclusivista. Os egípcios não se viam como povo escolhido; eles eram, simplesmente, gente, categoria na qual não enquadravam os outros povos" (JOHNSON, 2002, p. 58).
Os egípcios eram um povo essencialmente agrícola. Eles viviam da colheita da terra, da criação de animais e do comércio. Pelo pouco que sabemos à ascensão do Egito como potencia econômica, deu-se por causa de sua localização geográfica e estratégica. O antigo Egito se desenvolveu às margens do rio Nilo. Foi a partir da utilização e exploração dos recursos deste rio que os egípcios foram desenvolvendo o seu domínio. Onde tem água tem vida. Sem água não poderia existir plantações, nem animais e muito menos população. 

Quando se fala ou se escreve sobre o antigo Egito, inevitavelmente, vem a nossa mente à imagem do Faraó. Politicamente o Egito foi uma "teocracia totalitária", onde o faraó ditava as regras. Em suma, a palavra do faraó era lei.  

Mas por trás disso existia à crença de que o faraó era divino. Ele foi uma espécie de mediador entre o povo e os deuses. Historicamente, uma das principais funções do faraó era preservar a ordem cósmica do universo (maat), para os antigos egípcios se essa ordem não fosse preservada o cosmos cairia no caos e na desordem. E isso explica o porquê do faraó ser reverenciado como um ser divino.
"Em seu apogeu, a teoria da monarquia sacrossanta apresentava o rei como deus manifesto. Ele era representante da terra entre os deuses, o único intermediário oficial entre o povo e os deuses, o sacerdote oficial exclusivo de todos os deuses" (JOHNSON, 2002, p. 64).
Desde a primeira até a trigésima dinastia vários faraós governaram o Egito. Uns se destacaram mais do que outros. E esses que se destacaram foram os que construíram as monumentais pirâmides, é possível afirmar que elas eram as tumbas sagradas dos faraós. No momento em que um faraó era embalsamado e enterrado, todos os seus pertences deveriam ser enterrado juntamente com ele. Por trás disso existia à crença de que a vida terrena era apenas uma "sombra" da vida eterna. Os egípcios eram muito obcecados pela imortalidade. No além (onde os deuses viviam) a vida é bem melhor do que essa. 

Algo que até hoje tem atiçado a curiosidade, principalmente de arqueólogos e historiadores, é o modo como os egípcios conseguiram construir as grandes pirâmides. Sem dúvida eles não possuíam as maquinas de construção e a tecnologia que temos hoje. Tudo indica que eles usaram métodos rudimentares de sua época, e mais especificamente a força braçal masculina.
"Sabemos que no Antigo Império o grupo de trabalhadores usados na construção das pirâmides consistia sobretudo em pedreiros treinados, organizados como em linhas de batalha, divididos em tropas nomeadas e comandadas por "generais". Esses homens habilidosos eram mantidos permanentemente ocupados, e o próprio Estado os provia, e suas famílias, de moradia e farta provisões de comida, roupas e outras necessidades. [...] De qualquer maneira, tem de ser lembrado que esses trabalhos eram de inspiração e intenção religiosa; tratá-los benignamente também parece ter sido uma tarefa religiosa" (JOHNSON, 2002, p. 81).
Para os antigos egípcios dar à sua parcela de contribuição na construção das pirâmides, se constituía em um tipo de devoção religiosa. Não era um trabalho penoso, mas prazeroso e sagrado. Isso porque na mente de um nativo egípcio, essa obra de construção garantia a posse da vida eterna e da imortalidade. Diferente do conceito cristão de redenção individual, o conceito de redenção egípcio era coletivo. A imortalidade da alma abrange toda à sociedade egípcia, e não indivíduos particulares. Servir e obedecer ao faraó era a porta de entrada para à vida eterna.
"Nesse sentido, O Egito era composto por uma sociedade coletivista de um tipo bastante rigoroso. O rei personificava o coletivo. Se ele adentrasse a eternidade em segurança, como um deus alado, a imortalidade de todo seu povo - servindo-o na próximo mundo como o serviram nesse - estava garantida" (JOHNSON, 2002, p. 87). 
Outro aspecto da sociedade egípcia (que muita gente desconhece) foi o seu amor à natureza. Como tudo ao seu redor era sagrado, a fauna e a flora não poderiam ficar de fora. É possível dizer que os egípcios eram naturalistas, no sentido de cuidarem da natureza. Se fosse possível, todo o nativo egípcio teria um jardim em sua casa.
"Os egípcios amaram a natureza mais que qualquer povo da antiguidade, parecendo ansiosos por levá-la, quando possível, para dentro de casa. Eles foram também os que melhor a representaram. Como mostram muitos exemplos de sua religião, eles adoravam os bichos, mantendo inúmeros animais de estimação, como cães, gatos, gansos e macacos. [...] Os egípcios de todas as classes se devotavam a jardins, fazendo todo o possível para cultivar um nas proximidades de suas residências, transportando terras, escavando poços, canais e tanques artificiais onde colocavam aves aquáticas" (JOHNSON, 2002, p. 169).
A modernidade precisa aprender com a antiguidade. Nem tudo o que é moderno é bom, e nem tudo o que é antigo é ruim. Amar e preservar à natureza é uma atitude que, progressivamente, está desaparecendo. O homem "moderno" que é obcecado pelo progresso industrial e pelo cientificismo, se transformou em um grande destruidor da natureza. O desmatamento das florestas tropicais, o alto índice de poluição nos oceanos e rios, a matança e extinção de animais silvestres. Em parte mostram, que os antigos egípcios eram mais evoluídos ecologicamente do que o homem moderno de hoje. 

2. RELIGIÃO E MITOLOGIA EGÍPCIA.
"Mesmo escrevendo em uma época na qual o dinamismo da fé do povo tinha se esgotado e apenas as formas, em vez da essência, prevaleciam, Herótodo descreveu os egípcios como as pessoas mais religiosas do mundo" (JOHNSON, 2002, p. 22).
A religiosidade egípcia foi caracteristicamente politeísta e coletiva. Politeístas porque os egípcios prestavam culto há várias divindades, ou seja, havia uma pluralidade de deuses. E coletiva no sentido de que à imortalidade era algo público e não particular. O conceito de "religião privada" era algo estranho para os egípcios. Na medida em que o Faraó (como líder de Estado) adentrava na imortalidade, toda a população egípcia teria a imortalidade garantida. É possível afirmar que à religião era um bem do Estado, e com isso, acessível a qualquer pessoa.

A relação entre os faraós e os deuses é um ponto importante quando se quer entender a religião dos antigos egípcios. Desde o momento da coroação de qualquer faraó, ele era reverenciado com um deus e "filho de deus". 
"Desde o momento de sua elevação ao trono, um faraó egípcio (rei) desempenhava o papel de um deus. Ele era uma manifestação do deus do céu Hórus e filho do deus-sol Rá. [...] Os títulos de um rei proclamavam esses e outros relacionamento. Seu nome-trono, único para cada soberano, anunciava a maneira pela qual ele manifestava o deus-sol. Assim, Tutmósis IV era Menkheprura, "A Mais Duradoura das Manifestações de Rá" (WILLIS, 2007, p. 52)
A mitologia egípcia tem a sua forma própria de explicar a "suposta" criação do mundo. Houve, nos tempos primordiais, um deus solitário que teve à iniciativa de criar uma família. E foi a partir da criação dessa família divina, que o mundo e os seres vivos passaram a existir. Essa família é conhecida como os "Nove deuses de Heliópolis" ou Ennead.    
"O relato egípcio mais detalhado da criação diz respeito às divindades conhecidas como os Nove Deuses de Heliópolis ou o Ennead. O primeiro deles foi Rá-Aton, que passou a existir no outeiro primitivo e planejou a multiplicidade da criação em seu coração. Ele fez a primeira divisão entre macho e fêmea quando colocou o próprio sêmen na boca e desovou ou espirrou Shu, o deus do ar, e Tefnut, a deusa da umidade. [...] Da união sexual de Shu e Tefnut resultaram Geb, o deus da terra, e Nut, a deusa do céu. [...] Os filhos de Nut eram dois pares de gêmeos, Osíris e Ísis, e Seth e Néftis. Dizia-se que Osíris e Ísis haviam se apaixonado ainda no útero, mas Néftis desprezava seu irmão Seth. Como filho mais velho de Geb e Nut, Osíris estava destinado a governar o Egito" (WILLIS, 2007, p. 40).
2.1. Osíris, Ísis e Horus.
Quando o assunto é o poder, até entre os deuses pode existir desentendimentos e brigas. O deus que governa o Egito, governa o mundo. Segundo a mitologia egípcia Osíris seriam o governante, no entanto, seu irmão Seth queria o poder. A partir disso começa-se dentro da "sagrada família" uma luta pelo poder. 

O mito de Osíris, Ísis e Horus é uma das principais narrativas da mitologia egípcia. Osíris era reverenciado como o deus da agricultura, que ensinou aos homens o segredo do cultivo e da civilização. Osíris seria o deus que governaria o Egito, no entanto, seu irmão o deus Seth queria para si o poder. Segundo o mito, Seth matou e esquartejou o seu irmão Osíris, para com isso assumir o seu lugar no trono. Aqui vale ressaltar que qualquer semelhança entre Abel e Caim não é mera coincidência. 
"Os primeiros relatos dizem que Osíris foi derrubado por seu irmão Seth na margem do rio em Nedyert, local místico às vezes identificado com parte de Abidos, o sitio sagrado onde os mistérios de Osíris eram celebrados. Versões posteriores do mito afirmam que Osíris foi afogado no Nilo, e Seth é apontado como o assassino" (WILLIS, 2007, p. 42).
Ísis irmã e esposa de Osíris teve um papel importante na narrativa mitológica egípcia.  Foi ela quem procurou as partes do corpo do marido, juntou-as e depois com o ser poder o ressuscitou. Depois disso Ísis ficou gravida e pariu um filho divino chamado Hórus o deus-falcão. Por causa disso Ísis é considerada como "mãe de deus"
"Desde tempos remotos, Ísis, consorte de Osíris, desempenhou papel importante nos mitos. Recuperou o corpo de seu marido para conceber um filho dele: pairando em forma de um pequeno gavião, ela atiçou o sopro da vida nele com suas asas. Em outra versão da história, Ísis foi engravidada pelo fogo divino. [...] Ísis pariu um filho divino, Hórus, em Chemmis, perto de Buto. Lá o criou, protegida por divindades, tais como a deusa-escorpião Selqet, e esperou Hórus crescer o suficiente para vingar seu pai" (WILLIS, 2007, p. 43). 
Hórus com o herdeiro do trono, lutou contra o seu tio Seth, que de forma ilegitima tomou o trono de seu pai Osíris. Essa luta dos deuses é algo importante na mitologia egípcia. Segundo o mito, Hórus vai ao tribunal divino reivindicar o seu direito como herdeiro legitimo do trono do Osíris. Os deuses declaram que Hórus tem direito ao trono. Seth não satisfeito desafia Hórus para um duelo. A mitologia não é muito clara sobre essa suposta "luta dos deuses". É possível supor que Hórus tenha conquistado o seu lugar como herdeiro do trono de Osíris, e Seth tenha se transformado no deus da tempestade. No final não houve vencedor e perdedor.

Fontes: 
JOHNSON, Paul. História ilustrada do Egito Antigo. Rio de Janeiro, ediouro, 2002.
WILLIS, Roy. Mitologias. São Paulo, Publifolha, 2007.

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