Contribuição

Pix: anderson.alvesbarbosa7@gmail.com

6 de dezembro de 2016

JUDAÍSMO - A religião dos tempos de Jesus.


Jesus de Nazaré foi um judeu e isso é inquestionável. Ele nasceu, cresceu e viveu em uma cultura judaica. Qualquer pessoa que queira compreender mais profundamente quem foi Jesus, inevitavelmente, terá que conhecer o judaísmo. É impossível separar Jesus do seu contexto cultural.  

O presente texto vai se fundamentar no eixo temático culturas e tradições religiosas. Que “é o estudo do fenômeno religioso à luz da razão humana, analisando questões como: função e valores da tradição religiosa, relação entre tradição religiosa e ética, teodiceia, tradição religiosa natural e revelada, existência e destino do ser humano nas diferentes culturas” (PCNER, 2009, p.50). 

E tem o objetivo de proporcionar um conhecimento básico sobre o judaísmo. Dando atenção às origens históricas, crenças, à vida devocional dos judeus e à relação de Jesus com o judaísmo de sua época.

1. ORIGENS HISTÓRICAS.
Historicamente não se sabe como surgiu o judaísmo. Ele vai progressivamente sendo formado com o passar do tempo. O principal documento histórico que registra os primeiros passos da criação do judaísmo é a Bíblia Hebraica. É nela onde estão preservados os primeiros fatos que mostram como o judaísmo tomou forma. Tudo indica que Abraão e Moisés são os principais fundadores do judaísmo, ou seja, foram eles que construíram às bases de sustentação do judaísmo. Nas palavras de Wilkinson:
“Ninguém sabe ao certo como ou quando o judaísmo surgiu, mas segundo a Bíblia duas figuras foram cruciais para a sua origem. A primeira delas foi Abraão, o patriarca dos judeus, que migrou da Mesopotâmia (o atual Iraque) para a terra de Canaã no Mediterrâneo oriental. A fome impeliu os descendentes de Abraão de lá para o Egito, onde viveram como escravos. Mais tarde seu líder Moisés os levou de volta para Canaã, que Deus prometera aos judeus no tempo de Abraão” (WILKINSON, 2011, p.62).
Há alguns detalhes sobre a vida de Abraão e Moisés que precisam ser mencionados. E que muitas vezes não são observados pelos leitores da Bíblia. Em primeiro lugar, o patriarca Abraão não foi um judeu, ele foi um mesopotâmico. Abraão nasceu e cresceu em um ambiente politeísta, isto é, ele viveu em uma cultura onde várias divindades eram cultuadas.

Em um momento de sua vida, e que está registrado no livro do Gênesis, Abraão teve uma experiência mística com uma divindade que muito tempo depois seria conhecida pelos judeus como YHWH (Javé ou Jeová). Em obediência a essa divindade, Abraão junto com outras pessoas, deixa a sua terra e vai em busca de uma terra cuja a divindade prometeu que seria sua. É com Abraão que o monoteísmo judaico (adoração a um único Deus) começa a tomar forma.

Em segundo lugar, Moisés foi um judeu criado na cultura egípcia. Conforme os relatos que estão registrados no livro do Êxodo, Moisés (que é um nome de origem egípcia), ainda bebê foi encontrado pelas criadas e a filha do faraó, dentro de um cesto no rio. Durante boa parte de sua vida Moisés foi criado e educado segundo os preceitos egípcios. Infelizmente a própria Bíblia não é muito clara sobre esses aspectos “ocultos” da vida de Moisés. Há muitos detalhes sobre ele que continuaremos sem saber. Entretanto, pode-se afirmar que Moisés foi um homem de vasta cultura e conhecimento.

O Êxodo foi um dos acontecimentos mais importantes para os judeus. Pois mostra como o Deus Javé que por intermédio de Moisés conseguiu tirá-los da escravidão do Egito e conduzi-los de volta para a terra que prometeu a Abraão e seus descendentes.  

2. A CRENÇA JUDAICA.
2.1. MONOTEÍSMO.
A base da confissão de fé judaica é: “Ouve, ó Israel: Javé nosso Deus é o único Javé! Portanto, amarás a Javé teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” (Deuteronômio 6.4).

Para os judeus só existe um único Deus, e ele é o criador e sustentador do mundo. Sua adoração não pode ser direcionada para nenhum outro deus ou objeto. O Deus único do judaísmo não tem imagem ou ícone. Nada que existe na terra pode ser usado para representá-lo. Até mesmo os judeus evitam pronunciar o nome de Deus, pois o tal é sagrado.

Em comparação com o cristianismo, o judaísmo não reconhece Jesus de Nazaré como “Deus encarando”. A divindade de Jesus é um dogma exclusivo dos cristãos, o qual não encontra espaço na crença judaica. Se há somente um único Deus, como um judeu pode prestar culto e adoração a outro deus? Se fosse assim, o judaísmo seria uma religião politeísta e não monoteísta.  

2.2. O MESSIAS.
As alas ortodoxa e conservadora do judaísmo ainda preservam à crença na vinda de um futuro messias. Que será um personagem escatológico que reinará sobre Jerusalém e restaurará o Templo e trará paz ao mundo.
“Essa crença messiânica continua forte no judaísmo ortodoxo, cujos seguidores creem que um Messias reinará um dia em Jerusalém, onde reerguerá o Templo. Outros ramos do judaísmo dão menos ênfase à crença messiânica, concentrando-se nos modos como os mandamentos de Deus devem ser obedecidos” (WILKINSON, 2011, p. 66).
O judaísmo não acredita que Jesus de Nazaré seja o messias prometido. Ele está mais para um judeu subversivo - que tentou reformar a religião - do que um messias. Para o judaísmo Jesus não é o messias por que ele não reina sobre Jerusalém e não restaurou o templo. Porém, o judaísmo não nega a historicidade de Jesus, ele realmente existiu. Entretanto, ele é reconhecido como Messias apenas na crença cristã clássica.    

2.3. A TORÁ E O TALMUDE.
O judaísmo é uma religião do livro e consequentemente erudita. A essência da fé judaica está contida nos seus textos sagrados, mais especificamente na Torá, que quer dizer ensino ou instrução. Todo judeu deve ser um profundo conhecedor das leis e mandamentos que estão registrados na Torá. E para isso é necessário que ele tenha um domínio básico da língua hebraica. Só assim ele será capaz de ler e interpretar os textos da Torá. Por ser o texto mais sagrado do judaísmo, nas sinagogas a Torá é guardada em um lugar especial chamado Arca.
“Toda sinagoga tem um exemplar da Torá, escrito à mão em hebraico num rolo que é mantido num armário chamado Arca, o ponto focal da sinagoga. Cada rolo é escrito com grande cuidado, pois o texto nunca muda e deve ser transcrito com exatidão. O texto é sagrado demais para ser tocado com a mão. A pessoa que lê a Torá de uma sinagoga usa um ponteiro especial, yad, com uma mão de metal na ponta, para seguir as palavras. Isso assegura que o texto não fique danificado. Caso isso ocorra, o rolo é declarado inútil e enterrado num cemitério judaico dentro de um vaso de barro”. (WILKINSON, 2011, p. 68).
O Talmude é o resultado de vários anos de comentários, discussões e interpretações feitas pelos rabinos e eruditos judeus. Ele é constituído pela Mixná e a Gemara. Essas duas obras juntas formam o Talmude, que segundo Wilkinson é constituído “com cerca de 2,5 milhões de palavras, abrange temas diversos como folclore e preces, rituais e remédios. Cerca de um terço desse material é halakha, ou lei; o resto são histórias e lendas e máximas conhecidas como a aggadah. ” (2011, p. 69).


3. A DEVOÇÃO JUDAICA.
A prece é o centro da prática religiosa judaica. Os judeus têm o hábito de fazerem suas rezas pela manhã, à tarde e à noite. E também em momentos especiais como no sábado e nas festas. As preces podem ser feitas usando as próprias palavras ou recitando trechos do livro de orações conhecido como SidurOs homens em seus momentos devocionais cobrem a cabeça com um pequeno gorro que se chama quipat. Outro acessório muito usado é um tipo de véu posto sobre a cabeça conhecido como tallit.

O uso dos filactérios no uso devocional é muito comum entre os judeus. São pequenas caixas presas na testa e no braço do devoto, que guardam trechos da Torá, mais especificamente o Shema. Essa prática serve para sempre lembrar ao fiel judeu que à lei de Deus deve sempre está na mente e no coração.

Além da prece à sinagoga tem muita importância para a devoção judaica. É bom dizer que, quase todas as religiões possuem os seus lugares sagrados particulares. Para os cristãos são às Igreja, para os muçulmanos às mesquitas, e para os judeus às sinagogas. São nas sinagogas onde à comunidade judaica se reúne para aprender mais sobre as Escrituras, tradições e também fortalecer a socialização dos fiéis. 

As sinagogas são dirigidas pelos rabinos, que são os líderes espirituais da comunidade. Eles têm as funções de organizar e conduzir o culto, pregar, educar e aconselhar. Os primeiros rabinos não eram remunerados. Porém com o passar do tempo tornaram-se líderes remunerados.  

O sábado é um dia sagrado para os judeus. “Clímax da semana judaica, vai do pôr do sol da sexta-feira ao de sábado. Em casa, os judeus o assinalam acendendo velas e orando. Fora de casa, o respeito ao sábado varia de um ramo do judaísmo para o outro. Essencialmente, porém, é uma ocasião para repouso, culto e convívio com a família ou a comunidade” (WILKINSON, 2011, p. 77).

4. JESUS E O JUDAÍSMO.
Uma coisa bem interessante é saber que nos tempos de Jesus à Igreja cristã ainda não existia. Naquele tempo somente existiam o judaísmo e as religiões pagãs do Império Romano. Somente muitos anos depois é que os seguidores de Jesus (que não eram conhecidos como cristãos, mas como uma nova seita), iriam criar os fundamentos para o advento do cristianismo.

Jesus e seus primeiros discípulos eram judeus e tudo o que eles sabiam sobre à criação do universo e à origem da humanidade vinham do judaísmo. Infelizmente Jesus não deixou nada escrito. Tudo o que se sabe sobre sua vida e ensinos foi escrito por seus seguidores, ou seja, o conhecimento sobre Jesus é um conhecimento de segunda mão. Talvez se o próprio Jesus tivesse escrito os evangelhos hoje teríamos uma compreensão diferente sobre ele.

A visão que os evangelhos transmitem sobre Jesus é a de um judeu subversivo, isto é, um indivíduo que está sempre em conflito com as autoridades religiosas e próximo de pessoas rejeitadas pela sociedade judaica como: cegos, leprosos, prostitutas, ladrões, ricos gananciosos, samaritanos, etc. E conforme os relatos dos evangelhos Jesus não era bem visto pelos religiosos de seu tempo.

Mas o que realmente Jesus queria com tudo isso? Somente se tornar famoso e ser visto? Ou somente causar tumulto e agitação? É possível afirmar que Jesus teria à intensão de reformar a sua própria religião, neste caso o judaísmo. Provavelmente Jesus queria que a essência da Torá não fosse substituída pelas interpretações dos fariseus. Talvez por isso ele tenha tomado a postura de um reformador religioso. 


Fontes:
FONAPER: Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso. São Paulo, Mundo mirim, 2009.
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro, Zahar, 2011.

22 de novembro de 2016

ZOROASTRISMO: A religião monoteísta da antiga Pérsia.



“Louvor aos bons pensamentos, as boas palavras... as boas obras”
(Avesta, Yasna 0:4)

Se há algo importante que podemos aprender com a história das religiões é que tradições religiosas mais antigas podem, direta ou indiretamente, influenciar religiões mais novas. Segundo os historiadores, o zoroastrismo (ou masdeísmo) foi à primeira manifestação de uma crença monoteísta, isto é, à crença em um único Deus supremo.

E existem hipóteses de que o zoroastrismo tenha contribuído na formação do judaísmo, cristianismo e islamismo. Que são as três tradições monoteístas mais influentes no mundo. Ou seja, as crenças em um único Deus, à imortalidade da alma, à ressurreição dos mortos, à vinda de um messias e o juízo final; teriam sido criadas pelo zoroastrismo, e com o passar do tempo incluídas na confissão de fé judaica, cristã e islâmica. No entanto, isso é algo meramente hipotético e que gera muitas especulações. Entretanto, não podemos deixar de reconhecer que existem muitas semelhanças entre os monoteístas, sejam eles judeus, cristãos, islâmicos e zoroastristas.   

O presente texto se fundamenta na história das religiões e tem o objetivo de proporcionar ao leitor um conhecimento básico sobre as origens e crenças do zoroastrismo.

1. ZARATUSTRA.
O zoroastrismo nasceu na antiga Pérsia (atual Irã) e teve Zaratustra (Zoroastro) como seu fundador. Infelizmente há poucas informações sobre à vida deste personagem. Sabe-se que ele viveu em meados do século VI a.C., foi casado teve filhos, e aos setenta sete anos foi assassinado por um sacerdote. Mas o motivo que fez com que Zaratustra fosse assassinado não se sabe.
“Aos 30 anos, como sacerdote, após ter uma série de visões, Zaratustra começou a pregar uma nova mensagem religiosa – em especial que havia um só Deus, Aúra-Masda (o Sábio Senhor), criador de todas as coisas e fonte de toda a bondade. A princípio Zaratustra atraiu poucos seguidores, mas seu credo se impôs no nordeste da Pérsia quando ele converteu um soberano local, o rei Vishtaspa, que fez do zoroastrismo a religião oficial de seu reino. Pouco se sabe sobre os primeiros séculos na história do zoroastrismo, mas no séc. VI a.C. assumiu o poder na Pérsia um soberano chamado Ciro. Ele construiu um grande império que incluía, além da Pérsia, a Babilônia e a Turquia” (Wilkinson, 2011, p.150).
Antes do advento do zoroastrismo à antiga Pérsia era politeísta, e a população era constituída de iranianos e indianos que juntos formavam um só povo conhecido com indo-iranianos. Os mitos indo-iranianos (daevas) estavam muito ligados aos fenômenos físicos da natureza como água, fogo, terra e ar. E provavelmente, Zaratustra com sua mensagem monoteísta, isto é, à crença em só Deus, provocou polêmica e a antipatia de seus compatriotas. Pode-se afirmar que Zaratustra, em sua época, foi um reformador religioso.

É possível ver uma certa semelhança entre Zaratustra e o patriarca Abraão. Abraão nasceu e viveu na cidade de Ur dos caldeus na antiga Mesopotâmia; e que semelhante à Pérsia também era politeísta. Em um momento de sua vida Abraão teve um chamado e uma experiência mística com um Deus, que com o passar do tempo seria conhecido como Javé. E esse Deus manda que Abraão deixe seu lar e vá para uma terra distante. Daí em diante Abraão e seus descendentes passam a prestar culto a um só Deus.

Como religião oficial dos persas o zoroastrismo desfrutou de grandes momentos de glória e expansão, enquanto esteve no poder. Talvez sem o apoio político Zaratustra não teria sucesso na expansão de sua nova fé. Mas no século VII, quando a Pérsia foi invadida pelos exércitos muçulmanos, o zoroastrismo perdeu seu poder tornando-se uma religião minoritária.
“No séc. VII, porém, a religião do Islã espalhou-se pela Pérsia e logo os zoroastristas se viram reduzidos a uma minoria muitas vezes perseguida. Desejando praticar sua fé livremente, a partir do séc. VIII muitos zoroastristas decidiram deixar a terra natal e buscar um novo lugar para viver e cultuar. Estabeleceram-se no Gujarat, no noroeste da Índia, onde se tornaram conhecidos como parses, vale dizer, o povo da Pérsia” (Wilkinson, 2011, p.151).
Como vivem as comunidades zoroastristas na atualidade? Não temos muitas informações fidedignas sobre elas. É difícil escrever sobre uma determinada tradição religiosa quando se tem poucas informações sobre ela. Entretanto, neste pequeno relato histórico, podemos ver que, nos seus primórdios, o zoroastrismo preciso de apoio político para se expandir pela região da Pérsia.


2. TEOLOGIA E CRENÇAS.
A guerra cósmica entre o bem e o mal é um dos principais fundamentos da teologia de Zoroastro. Essa teologia ensina que Aúra-Mazda, o senhor sábio, está sempre lutando contra Angra Mainyu (ou Arimã) à força do mal no mundo. Essa guerra cósmica pode ser entendida como dualismo, isto é, à ideia que existe duas forças diferentes e antagônicas no mundo, às quais estão sempre em confronto, porém no final o bem sempre vence.
“Segundo a crença zoroastrista, depois que Aúra-Mazda criou o mundo, Angra Mainyu o corrompeu promovendo terremotos. Esse ato destrutivo criou vales profundos na superfície outrora bela e sem marcas na Terra, afastou o sol de sua posição perfeita, que agora ele só alcança ao meio-dia, e trouxe doenças e morte para o primeiro ser humano.  Durante 3.000 anos após a criação, Aúra-Mazda e Angra Mainyu estavam quase empatados na batalha, a energia criativa de um sendo constantemente bombardeada pelas forças deletérias do outro. Então nasceu o profeta Zaratustra e a balança da batalha começou por fim a pender a favor da bondade. Segundo os zoroastristas, Aúra-Mazda será sucedido por uma série de três salvadores. O terceiro deles vencerá o mal numa batalha cataclísmica. Depois virá o Juízo Final, quando Angra Mainyu será banido e Aúra-Mazda reinará supremo. Os zoroastristas anseiam por esse tempo do juízo, visto não como o fim do mundo, mas como uma restauração ou renovação do cosmo, e uma fusão do Céu e a Terra” (Wilkinson, 2011, p. 152).
Afirmar que o zoroastrismo influenciou o cristianismo é querer forçar demais a barra. Tanto que nos tempos do zoroastrismo à religião cristã ainda não existia. Como se pode influenciar algo que não existe? Entretanto, não se pode negar que há pontos comuns entre as duas religiões.

Na doutrina cristã, mais especificamente na escatologia, existe sim uma forte tendência dualística; há uma batalha entre o bem e o mal em ação. Os cristãos durante mais de 2.000 anos aguardam à segunda vinda de Cristo, e com esse grande acontecimento dar-se-á início uma nova era, na qual o mal terá fim e um novo céu e uma nova terra surgirão. Em contrapartida, uma diferença que podemos ver é que no zoroastrismo Aúra-Mazda precisa da ajuda dos fieis para poder vencer o mal, porém Cristo não precisa da ajuda de ninguém.

A crença no livre-arbítrio é outro fundamento do zoroastrismo. Ser livre e praticar o bem é algo obrigatório para todo fiel zoroastrista. Pois na medida em que bons pensamentos, boas palavras e boas ações são realizados isso contribui para que o bem seja vitorioso sobre o mal.
“Por enfatizar o conceito de livre-arbítrio, durante a maior parte de sua história a fé zoroastrista atribuiu grande importância à responsabilidade do indivíduo. Em cada ação que pratica, o ser humano tem a possibilidade de reforçar a bondade no mundo. Quando todos os homens preferirem o bem ao mal, Aúra-Mazda triunfará enfim sobre Angra Mainyu e o Céu e a Terra se unirão” (Wilkinson, 2011, p.153).  
Não existe no zoroastrismo à ideia de “pecado original” como no cristianismo, de que todos os homens são maus e pecadores por causa da desobediência de Adão e Eva. No zoroastrismo cada um deve ser responsável por suas ações sejam elas boas ou más, e no dia do Juízo final cada um será julgado. Ninguém deve ser culpado pelos erros dos outros. 

3. ÉTICA.
Todo zoroastrista sincero deve viver e praticar a bondade enquanto viver. Ao praticar o bem o fiel coopera com Aúra-Mazda na luta cósmica contra o mal, e contribui para que a terra seja um lugar melhor. Por isso que a crença no livre-arbítrio é tão forte no zoroastrismo. Cada pessoa deve ser capaz de distinguir entre o bem e o mal e realizar escolhas morais responsáveis.
“O foco na escolha moral faz do zoroastrismo uma religião em que responsabilidade e moral pessoais são supremas. Na prática, isso significa observar as várias virtudes delineadas nas escrituras zoroastristas. [...]. As virtudes morais incluem: falar a verdade, ser caridoso e amoroso com os semelhantes, comer com moderação, ser honesto nas negociações com os outros e cumprir promessas. O zoroastrismo incentiva o trabalho árduo e a diligencia, o respeito aos mais velhos e aos superiores, e a busca do conhecimento e da sabedoria. [...]. Espera-se que os zoroastristas cultivem essas virtudes no pensamento, na linguagem e na ação. Sua fé foi resumida na frase “Bons pensamentos, boas palavras, boas obras” (Wilkinson, 2011, p. 155).
Isso faz-nos pensar que as crenças religiosas podem, de certo modo, melhorar o comportamento humano e consequentemente o meio social. Nos dias atuais se tem dado mais valor ao “ter” do que ao “ser”. As pessoas querem ter muito dinheiro, fama, sucesso, celulares de última geração, carros, apartamentos, etc., mas ser uma pessoa melhor que faça ao bem ao próximo é algo que poucos fazem.

E a vida tem nos mostrado que quando não existem padrões éticos e morais bem definidos as pessoas se tornam egoístas e individualistas. E o que é pior pratica-se todo o tipo de maldade. Não é à toa que o nível de violência seja tão grande no Brasil e no mundo. Que possamos parar um pouco e pensar sobre isso.

Fonte:
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro. Zahar, 2011. 

14 de novembro de 2016

ASPECTOS GERAIS DA RELIGIÃO - O que faz uma religião ser o que ela é?


Ser religioso é uma das característica do ser humano. A pré-história confirma que desde os tempos mais antigos e remotos, o homem sempre buscou insaciavelmente respostas para às várias questões sobre à vida e à existência. Os ritos mortuários são uma prova de que o homem primitivo acreditava na existência de outra vida além desta.

Desde a antiga Mesopotâmia até os nosso dias, a presença da religião sempre teve grande influência sobre à vida humana. As grandes civilizações do passado tiveram sua formação fundamentada em algum preceito religioso. Nas sociedades contemporâneas e complexas de hoje, as leis têm alguma influência religiosa. Em suma, pessoas criam as sociedades e estas sociedades moldam as pessoas. E as religiões não fogem desta regra.

Os objetivos deste artigo são: 1. Saber por que à religião é importante; 2. Conhecer os aspectos, que de modo geral, caracterizam uma religião.

1. A importância relativa da Religião.
Falo em importância relativa porque nem todas as pessoas concordam que a vida religiosa seja tão importante. Aliás, essas pessoas acham que podem viver muito bem sem a ajuda das religiões. Em parte isso é até possível. Pessoas não religiosas podem ter vidas virtuosas, e até realizarem ações sociais beneficentes ao próximo. No entanto, há milhões de outras pessoas que acreditam que a vida religiosa pode lhes proporcionar sentido para vida, consolo diante da morte de uma pessoa muito querida e esperança para continuar vivendo.
"A religião fala sobre o sentido da vida. Ela declara que vale a pena viver. Que é possível ser feliz e sorrir. E o que todas elas propõem é nada mais que uma razão por que as pessoas continuam a ser fascinadas pela religião, a despeito de toda a crítica que lhe faz a ciência. A ciência nos coloca num mundo glacial e mecânico, matematicamente preciso  e tecnicamente manipulável, mas vazio de significações humanas e indiferente ao nosso amor" (ALVES, 2010, p. 119).
A ciência é incapaz de entender o mundo mágico da religião. Isso por que o mundo da religião é fundamentado na crença pessoal subjetiva, ou seja, tem que ter fé para compreender o mundo da religião. "Creio para compreender, e compreendo para crer melhor", já dizia santo Agostinho. https://pensador.uol.com.br/frase/NTk2MDY0/

A ciência não trabalha com fé, mas com observação empírica, e isso faz com que o mundo da ciência seja vazio e mecanicista. A religião é capaz de produzir sentimento de esperança nas pessoas, já a ciência não. "De fato, talvez seja esta a grande marca da religião: a esperança. E talvez possamos afirmar, com Ernest Bloch: "Onde está a esperança, ali também está a religião" (ALVES, 2010, p. 125).

2. Aspectos gerais da Religião.
Vejamos agora de forma resumida os aspectos característicos e comuns das religiões. Mas nem todas as religiões possuem esses aspectos de forma plena. 

a) Doutrina - É fundamental que uma religião tenha um repertório doutrinário. São as doutrinas, que de certa forma, diferenciam uma religião de outra. O principal meio de preservação das doutrinas são os textos sagrados. A Torá judaica, o Alcorão islâmico e os Vedas do Hinduísmo são exemplos de livros sagrados que são importantes para o ensino doutrinário.  Nas religiões africanas não existem textos escritos. As doutrinas eram (e são) passadas de forma oral, de pessoa para pessoa. 

Um ponto positivo do texto sagrado é que ele preserva melhor os ensinos deixados pelas gerações antigas. Mas um ponto negativo são as várias interpretações que são feitas a partir  desses textos, causando polêmicas e divisões dentro da comunidade religiosa. Ou seja, por trás de toda divisão no interior de uma religião, existe alguma controvérsia doutrinária.
"Discordâncias e divisões podem suscitar desafios e problemas dentro de uma fé, mas estimulam um processo interminável de desenvolvimento e renovação. Como resultado, novas religiões e movimentos religiosos surgem a todo momento para aceitar o desafio da doutrina e dar aos fieis novas perspectivas na vida e na fé" (WILKINSON, 2011, p. 21). 
Eis a origem das igrejas protestantes que saíram de dentro da  Igreja Católica, e do Budismo que saiu de dentro do Hinduísmo. Em suma, novas interpretações geram novas doutrinas que por sua vez geram novos movimentos religiosos!

b) Mitologia - "Mitologia é uma coleção de histórias sobre Deus ou deuses, versando em particular sobre as origens do cosmo e da humanidade e os papéis do divino. A mitologia de uma religião sustenta suas crenças, explica como é o mundo e fornece lições morais aos adeptos" (WILKINSON, 2011, p. 22).

"No principio aconteceu isso...", "Há muito tempo atrás isso aconteceu...", "Nossos antepassados nos contaram isso...", etc. A tradição oral foi (e ainda é) o método usado para transmitir às ações e façanhas dos entes sobrenaturais e dos heróis lendários. Cada povo tem sua cultura e cada cultura tem suas próprias histórias míticas. Defendo que: estudar a mitologia é ao mesmo tempo conhecer um pouco de nossa própria humanidade. A mitologia surgiu para tentar responder algumas perguntas que homem fazia (e faz) sobre o mundo e si mesmo. Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?

Desprezar a mitologia é uma atitude ignorante. Pois quem a despreza está desprezando uma parte importantíssima do conhecimento humano. Isso acontece pela mentalidade preconceituosa, que olha à mitologia com algo supersticioso e mentiroso. Não pode ser assim. Pois foram os mitos que deram sentido para vida de muitas pessoas. Por que eles (de certo modo), proporcionaram respostas para algumas questões da vida. 

c) Experiência religiosa - Uma ideia comum entre todas as religiões é que os fieis podem ter algum tipo de experiência mistica com o absoluto ou Deus. 
"Na origem de muitas religiões encontram-se uma revelação ou visão mistica. O Buda, meditando sob uma árvore, alcançou um estado transcendente que lhe permitiu ver sua solução para o problema do sofrimento no mundo. [...] Os profetas do Antigo testamento relataram experiências diretas e transformadoras de Deus, as quais são um elemento essencial da religião dos judeus. A luz cegante de Krisna domina o herói Arjuna no Bhagavad-gita, enchendo-o de pasmo e devoção" (WILKINSON, 2011, p. 24).
Sem dúvida esse é um dos principais motivos para milhões de pessoas aderirem à alguma religião. Como falei no inicio o homem é essencialmente religioso, e ele tem necessidade de preencher o vazio que tem em seu interior. A religião trabalha muito com o psicológico, emocional e espiritual das pessoas . 

d) Instituições religiosas - "São grupos de pessoas que se reúnem para liderar uma fé. Uma religião pode ter um único líder, à frente de uma administração altamente organizada; pode ainda ser governada menos formalmente, ou consistir em várias igrejas  com líderes locais" (WILKINSON, 2011, p. 26).

Um padre católico, um pastor protestante, um imã muçulmano e um monge budista. O que há de comum entre eles? Todos são líderes religiosos. E ambos tem a função (cada um ao seu modo), de orientar os seus seguidores no credo de suas respectivas comunidades religiosas. Um ponto forte das religião e o seu poder de "agregar" pessoas. A humanidade foi criada para viver e conviver em sociedade. Ao aderir a uma religião o individuou tem além da fé, à  oportunidade de conhecer pessoas e fazer novas amizades. E se for possível encontrar alguém para se casar!   

e) Ética - Tentar viver uma vida melhor é algo comum a todas a religiões. Não vou me estender muito nesse aspecto por que já escrevi uma postagem dedicada exclusivamente a esse tema. https://asfacesdosagrado.blogspot.com.br/2017/03/religioes-e-seus-principios-eticos-um.html

f) Ritual - Religião sem rito não é religião. Os ritos religiosos são de fundamental importância para o fortalecimento da fé do fiel. É através deles que a comunidade religiosa põem em prática a sua religiosidade.
"Os rituais de culto regulares proporcionam ao devoto uma ligação formalizada com Deus ou com o absoluto. Observâncias religiosas regulares, executadas de determinada maneira, em certos momentos, e num lugar sagrado especifico, podem envolver prece, canto, meditação ou outros rituais. Ao cultuar dessa forma prescrita, o fiel, além de entabular uma espécie de conversa com Deus, demonstra seu compromisso para com Ele. Religiões como o judaísmo, o islã e o siquismo enfatizam esse compromisso porque nelas há de fato um mandamento divino de cultuar ou orar regularmente" (WILKINSON, 2011, p. 31). 
g) Lugares e objetos sagrados - Um rio, uma pedra, uma árvore, uma montanha, um animal, um vale, uma caverna, etc. Dependendo da religião que a pessoa professa, objetos e lugares podem ter um status sagrado. Por exemplo, na Índia à vaca é uma animal sagrado, como também o rio Ganges é sagrado. No catolicismo as imagens e ícones são objetos sagrados. No Islã a cidade de Meca é um lugar sagrado, em que todo muçulmano, pelo menos uma vez na vida deve fazer uma peregrinação.

O sagrado é algo que vai ser definido pela tradição religiosa que o crente professa. Com isso em mente, é possível afirmar que o sagrado tem um caráter multifacetado, ou seja, o sagrado pode ter várias faces e também ter vários significados. Em suma, vai depender da fé e da devoção de cada um.

Fontes:
ALVES, Rubem. O que é Religião? São Paulo. Loyola, 2010.
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado zahar. Rio de Janeiro, 2011.