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22 de novembro de 2016

ZOROASTRISMO: A religião monoteísta da antiga Pérsia.



“Louvor aos bons pensamentos, as boas palavras... as boas obras”
(Avesta, Yasna 0:4)

Se há algo importante que podemos aprender com a história das religiões é que tradições religiosas mais antigas podem, direta ou indiretamente, influenciar religiões mais novas. Segundo os historiadores, o zoroastrismo (ou masdeísmo) foi à primeira manifestação de uma crença monoteísta, isto é, à crença em um único Deus supremo.

E existem hipóteses de que o zoroastrismo tenha contribuído na formação do judaísmo, cristianismo e islamismo. Que são as três tradições monoteístas mais influentes no mundo. Ou seja, as crenças em um único Deus, à imortalidade da alma, à ressurreição dos mortos, à vinda de um messias e o juízo final; teriam sido criadas pelo zoroastrismo, e com o passar do tempo incluídas na confissão de fé judaica, cristã e islâmica. No entanto, isso é algo meramente hipotético e que gera muitas especulações. Entretanto, não podemos deixar de reconhecer que existem muitas semelhanças entre os monoteístas, sejam eles judeus, cristãos, islâmicos e zoroastristas.   

O presente texto se fundamenta na história das religiões e tem o objetivo de proporcionar ao leitor um conhecimento básico sobre as origens e crenças do zoroastrismo.

1. ZARATUSTRA.
O zoroastrismo nasceu na antiga Pérsia (atual Irã) e teve Zaratustra (Zoroastro) como seu fundador. Infelizmente há poucas informações sobre à vida deste personagem. Sabe-se que ele viveu em meados do século VI a.C., foi casado teve filhos, e aos setenta sete anos foi assassinado por um sacerdote. Mas o motivo que fez com que Zaratustra fosse assassinado não se sabe.
“Aos 30 anos, como sacerdote, após ter uma série de visões, Zaratustra começou a pregar uma nova mensagem religiosa – em especial que havia um só Deus, Aúra-Masda (o Sábio Senhor), criador de todas as coisas e fonte de toda a bondade. A princípio Zaratustra atraiu poucos seguidores, mas seu credo se impôs no nordeste da Pérsia quando ele converteu um soberano local, o rei Vishtaspa, que fez do zoroastrismo a religião oficial de seu reino. Pouco se sabe sobre os primeiros séculos na história do zoroastrismo, mas no séc. VI a.C. assumiu o poder na Pérsia um soberano chamado Ciro. Ele construiu um grande império que incluía, além da Pérsia, a Babilônia e a Turquia” (Wilkinson, 2011, p.150).
Antes do advento do zoroastrismo à antiga Pérsia era politeísta, e a população era constituída de iranianos e indianos que juntos formavam um só povo conhecido com indo-iranianos. Os mitos indo-iranianos (daevas) estavam muito ligados aos fenômenos físicos da natureza como água, fogo, terra e ar. E provavelmente, Zaratustra com sua mensagem monoteísta, isto é, à crença em só Deus, provocou polêmica e a antipatia de seus compatriotas. Pode-se afirmar que Zaratustra, em sua época, foi um reformador religioso.

É possível ver uma certa semelhança entre Zaratustra e o patriarca Abraão. Abraão nasceu e viveu na cidade de Ur dos caldeus na antiga Mesopotâmia; e que semelhante à Pérsia também era politeísta. Em um momento de sua vida Abraão teve um chamado e uma experiência mística com um Deus, que com o passar do tempo seria conhecido como Javé. E esse Deus manda que Abraão deixe seu lar e vá para uma terra distante. Daí em diante Abraão e seus descendentes passam a prestar culto a um só Deus.

Como religião oficial dos persas o zoroastrismo desfrutou de grandes momentos de glória e expansão, enquanto esteve no poder. Talvez sem o apoio político Zaratustra não teria sucesso na expansão de sua nova fé. Mas no século VII, quando a Pérsia foi invadida pelos exércitos muçulmanos, o zoroastrismo perdeu seu poder tornando-se uma religião minoritária.
“No séc. VII, porém, a religião do Islã espalhou-se pela Pérsia e logo os zoroastristas se viram reduzidos a uma minoria muitas vezes perseguida. Desejando praticar sua fé livremente, a partir do séc. VIII muitos zoroastristas decidiram deixar a terra natal e buscar um novo lugar para viver e cultuar. Estabeleceram-se no Gujarat, no noroeste da Índia, onde se tornaram conhecidos como parses, vale dizer, o povo da Pérsia” (Wilkinson, 2011, p.151).
Como vivem as comunidades zoroastristas na atualidade? Não temos muitas informações fidedignas sobre elas. É difícil escrever sobre uma determinada tradição religiosa quando se tem poucas informações sobre ela. Entretanto, neste pequeno relato histórico, podemos ver que, nos seus primórdios, o zoroastrismo preciso de apoio político para se expandir pela região da Pérsia.


2. TEOLOGIA E CRENÇAS.
A guerra cósmica entre o bem e o mal é um dos principais fundamentos da teologia de Zoroastro. Essa teologia ensina que Aúra-Mazda, o senhor sábio, está sempre lutando contra Angra Mainyu (ou Arimã) à força do mal no mundo. Essa guerra cósmica pode ser entendida como dualismo, isto é, à ideia que existe duas forças diferentes e antagônicas no mundo, às quais estão sempre em confronto, porém no final o bem sempre vence.
“Segundo a crença zoroastrista, depois que Aúra-Mazda criou o mundo, Angra Mainyu o corrompeu promovendo terremotos. Esse ato destrutivo criou vales profundos na superfície outrora bela e sem marcas na Terra, afastou o sol de sua posição perfeita, que agora ele só alcança ao meio-dia, e trouxe doenças e morte para o primeiro ser humano.  Durante 3.000 anos após a criação, Aúra-Mazda e Angra Mainyu estavam quase empatados na batalha, a energia criativa de um sendo constantemente bombardeada pelas forças deletérias do outro. Então nasceu o profeta Zaratustra e a balança da batalha começou por fim a pender a favor da bondade. Segundo os zoroastristas, Aúra-Mazda será sucedido por uma série de três salvadores. O terceiro deles vencerá o mal numa batalha cataclísmica. Depois virá o Juízo Final, quando Angra Mainyu será banido e Aúra-Mazda reinará supremo. Os zoroastristas anseiam por esse tempo do juízo, visto não como o fim do mundo, mas como uma restauração ou renovação do cosmo, e uma fusão do Céu e a Terra” (Wilkinson, 2011, p. 152).
Afirmar que o zoroastrismo influenciou o cristianismo é querer forçar demais a barra. Tanto que nos tempos do zoroastrismo à religião cristã ainda não existia. Como se pode influenciar algo que não existe? Entretanto, não se pode negar que há pontos comuns entre as duas religiões.

Na doutrina cristã, mais especificamente na escatologia, existe sim uma forte tendência dualística; há uma batalha entre o bem e o mal em ação. Os cristãos durante mais de 2.000 anos aguardam à segunda vinda de Cristo, e com esse grande acontecimento dar-se-á início uma nova era, na qual o mal terá fim e um novo céu e uma nova terra surgirão. Em contrapartida, uma diferença que podemos ver é que no zoroastrismo Aúra-Mazda precisa da ajuda dos fieis para poder vencer o mal, porém Cristo não precisa da ajuda de ninguém.

A crença no livre-arbítrio é outro fundamento do zoroastrismo. Ser livre e praticar o bem é algo obrigatório para todo fiel zoroastrista. Pois na medida em que bons pensamentos, boas palavras e boas ações são realizados isso contribui para que o bem seja vitorioso sobre o mal.
“Por enfatizar o conceito de livre-arbítrio, durante a maior parte de sua história a fé zoroastrista atribuiu grande importância à responsabilidade do indivíduo. Em cada ação que pratica, o ser humano tem a possibilidade de reforçar a bondade no mundo. Quando todos os homens preferirem o bem ao mal, Aúra-Mazda triunfará enfim sobre Angra Mainyu e o Céu e a Terra se unirão” (Wilkinson, 2011, p.153).  
Não existe no zoroastrismo à ideia de “pecado original” como no cristianismo, de que todos os homens são maus e pecadores por causa da desobediência de Adão e Eva. No zoroastrismo cada um deve ser responsável por suas ações sejam elas boas ou más, e no dia do Juízo final cada um será julgado. Ninguém deve ser culpado pelos erros dos outros. 

3. ÉTICA.
Todo zoroastrista sincero deve viver e praticar a bondade enquanto viver. Ao praticar o bem o fiel coopera com Aúra-Mazda na luta cósmica contra o mal, e contribui para que a terra seja um lugar melhor. Por isso que a crença no livre-arbítrio é tão forte no zoroastrismo. Cada pessoa deve ser capaz de distinguir entre o bem e o mal e realizar escolhas morais responsáveis.
“O foco na escolha moral faz do zoroastrismo uma religião em que responsabilidade e moral pessoais são supremas. Na prática, isso significa observar as várias virtudes delineadas nas escrituras zoroastristas. [...]. As virtudes morais incluem: falar a verdade, ser caridoso e amoroso com os semelhantes, comer com moderação, ser honesto nas negociações com os outros e cumprir promessas. O zoroastrismo incentiva o trabalho árduo e a diligencia, o respeito aos mais velhos e aos superiores, e a busca do conhecimento e da sabedoria. [...]. Espera-se que os zoroastristas cultivem essas virtudes no pensamento, na linguagem e na ação. Sua fé foi resumida na frase “Bons pensamentos, boas palavras, boas obras” (Wilkinson, 2011, p. 155).
Isso faz-nos pensar que as crenças religiosas podem, de certo modo, melhorar o comportamento humano e consequentemente o meio social. Nos dias atuais se tem dado mais valor ao “ter” do que ao “ser”. As pessoas querem ter muito dinheiro, fama, sucesso, celulares de última geração, carros, apartamentos, etc., mas ser uma pessoa melhor que faça ao bem ao próximo é algo que poucos fazem.

E a vida tem nos mostrado que quando não existem padrões éticos e morais bem definidos as pessoas se tornam egoístas e individualistas. E o que é pior pratica-se todo o tipo de maldade. Não é à toa que o nível de violência seja tão grande no Brasil e no mundo. Que possamos parar um pouco e pensar sobre isso.

Fonte:
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado Zahar. Rio de Janeiro. Zahar, 2011. 

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