14 de novembro de 2016

ASPECTOS GERAIS DA RELIGIÃO - O que faz uma religião ser o que ela é?


Ser religioso é uma das característica do ser humano. A pré-história confirma que desde os tempos mais antigos e remotos, o homem sempre buscou insaciavelmente respostas para às várias questões sobre à vida e à existência. Os ritos mortuários são uma prova de que o homem primitivo acreditava na existência de outra vida além desta.

Desde a antiga Mesopotâmia até os nosso dias, a presença da religião sempre teve grande influência sobre à vida humana. As grandes civilizações do passado tiveram sua formação fundamentada em algum preceito religioso. Nas sociedades contemporâneas e complexas de hoje, as leis têm alguma influência religiosa. Em suma, pessoas criam as sociedades e estas sociedades moldam as pessoas. E as religiões não fogem desta regra.

Os objetivos deste artigo são: 1. Saber por que à religião é importante; 2. Conhecer os aspectos, que de modo geral, caracterizam uma religião.

1. A importância relativa da Religião.
Falo em importância relativa porque nem todas as pessoas concordam que a vida religiosa seja tão importante. Aliás, essas pessoas acham que podem viver muito bem sem a ajuda das religiões. Em parte isso é até possível. Pessoas não religiosas podem ter vidas virtuosas, e até realizarem ações sociais beneficentes ao próximo. No entanto, há milhões de outras pessoas que acreditam que a vida religiosa pode lhes proporcionar sentido para vida, consolo diante da morte de uma pessoa muito querida e esperança para continuar vivendo.
"A religião fala sobre o sentido da vida. Ela declara que vale a pena viver. Que é possível ser feliz e sorrir. E o que todas elas propõem é nada mais que uma razão por que as pessoas continuam a ser fascinadas pela religião, a despeito de toda a crítica que lhe faz a ciência. A ciência nos coloca num mundo glacial e mecânico, matematicamente preciso  e tecnicamente manipulável, mas vazio de significações humanas e indiferente ao nosso amor" (ALVES, 2010, p. 119).
A ciência é incapaz de entender o mundo mágico da religião. Isso por que o mundo da religião é fundamentado na crença pessoal subjetiva, ou seja, tem que ter fé para compreender o mundo da religião. "Creio para compreender, e compreendo para crer melhor", já dizia santo Agostinho. https://pensador.uol.com.br/frase/NTk2MDY0/

A ciência não trabalha com fé, mas com observação empírica, e isso faz com que o mundo da ciência seja vazio e mecanicista. A religião é capaz de produzir sentimento de esperança nas pessoas, já a ciência não. "De fato, talvez seja esta a grande marca da religião: a esperança. E talvez possamos afirmar, com Ernest Bloch: "Onde está a esperança, ali também está a religião" (ALVES, 2010, p. 125).

2. Aspectos gerais da Religião.
Vejamos agora de forma resumida os aspectos característicos e comuns das religiões. Mas nem todas as religiões possuem esses aspectos de forma plena. 

a) Doutrina - É fundamental que uma religião tenha um repertório doutrinário. São as doutrinas, que de certa forma, diferenciam uma religião de outra. O principal meio de preservação das doutrinas são os textos sagrados. A Torá judaica, o Alcorão islâmico e os Vedas do Hinduísmo são exemplos de livros sagrados que são importantes para o ensino doutrinário.  Nas religiões africanas não existem textos escritos. As doutrinas eram (e são) passadas de forma oral, de pessoa para pessoa. 

Um ponto positivo do texto sagrado é que ele preserva melhor os ensinos deixados pelas gerações antigas. Mas um ponto negativo são as várias interpretações que são feitas a partir  desses textos, causando polêmicas e divisões dentro da comunidade religiosa. Ou seja, por trás de toda divisão no interior de uma religião, existe alguma controvérsia doutrinária.
"Discordâncias e divisões podem suscitar desafios e problemas dentro de uma fé, mas estimulam um processo interminável de desenvolvimento e renovação. Como resultado, novas religiões e movimentos religiosos surgem a todo momento para aceitar o desafio da doutrina e dar aos fieis novas perspectivas na vida e na fé" (WILKINSON, 2011, p. 21). 
Eis a origem das igrejas protestantes que saíram de dentro da  Igreja Católica, e do Budismo que saiu de dentro do Hinduísmo. Em suma, novas interpretações geram novas doutrinas que por sua vez geram novos movimentos religiosos!

b) Mitologia - "Mitologia é uma coleção de histórias sobre Deus ou deuses, versando em particular sobre as origens do cosmo e da humanidade e os papéis do divino. A mitologia de uma religião sustenta suas crenças, explica como é o mundo e fornece lições morais aos adeptos" (WILKINSON, 2011, p. 22).

"No principio aconteceu isso...", "Há muito tempo atrás isso aconteceu...", "Nossos antepassados nos contaram isso...", etc. A tradição oral foi (e ainda é) o método usado para transmitir às ações e façanhas dos entes sobrenaturais e dos heróis lendários. Cada povo tem sua cultura e cada cultura tem suas próprias histórias míticas. Defendo que: estudar a mitologia é ao mesmo tempo conhecer um pouco de nossa própria humanidade. A mitologia surgiu para tentar responder algumas perguntas que homem fazia (e faz) sobre o mundo e si mesmo. Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?

Desprezar a mitologia é uma atitude ignorante. Pois quem a despreza está desprezando uma parte importantíssima do conhecimento humano. Isso acontece pela mentalidade preconceituosa, que olha à mitologia com algo supersticioso e mentiroso. Não pode ser assim. Pois foram os mitos que deram sentido para vida de muitas pessoas. Por que eles (de certo modo), proporcionaram respostas para algumas questões da vida. 

c) Experiência religiosa - Uma ideia comum entre todas as religiões é que os fieis podem ter algum tipo de experiência mistica com o absoluto ou Deus. 
"Na origem de muitas religiões encontram-se uma revelação ou visão mistica. O Buda, meditando sob uma árvore, alcançou um estado transcendente que lhe permitiu ver sua solução para o problema do sofrimento no mundo. [...] Os profetas do Antigo testamento relataram experiências diretas e transformadoras de Deus, as quais são um elemento essencial da religião dos judeus. A luz cegante de Krisna domina o herói Arjuna no Bhagavad-gita, enchendo-o de pasmo e devoção" (WILKINSON, 2011, p. 24).
Sem dúvida esse é um dos principais motivos para milhões de pessoas aderirem à alguma religião. Como falei no inicio o homem é essencialmente religioso, e ele tem necessidade de preencher o vazio que tem em seu interior. A religião trabalha muito com o psicológico, emocional e espiritual das pessoas . 

d) Instituições religiosas - "São grupos de pessoas que se reúnem para liderar uma fé. Uma religião pode ter um único líder, à frente de uma administração altamente organizada; pode ainda ser governada menos formalmente, ou consistir em várias igrejas  com líderes locais" (WILKINSON, 2011, p. 26).

Um padre católico, um pastor protestante, um imã muçulmano e um monge budista. O que há de comum entre eles? Todos são líderes religiosos. E ambos tem a função (cada um ao seu modo), de orientar os seus seguidores no credo de suas respectivas comunidades religiosas. Um ponto forte das religião e o seu poder de "agregar" pessoas. A humanidade foi criada para viver e conviver em sociedade. Ao aderir a uma religião o individuou tem além da fé, à  oportunidade de conhecer pessoas e fazer novas amizades. E se for possível encontrar alguém para se casar!   

e) Ética - Tentar viver uma vida melhor é algo comum a todas a religiões. Não vou me estender muito nesse aspecto por que já escrevi uma postagem dedicada exclusivamente a esse tema. https://asfacesdosagrado.blogspot.com.br/2017/03/religioes-e-seus-principios-eticos-um.html

f) Ritual - Religião sem rito não é religião. Os ritos religiosos são de fundamental importância para o fortalecimento da fé do fiel. É através deles que a comunidade religiosa põem em prática a sua religiosidade.
"Os rituais de culto regulares proporcionam ao devoto uma ligação formalizada com Deus ou com o absoluto. Observâncias religiosas regulares, executadas de determinada maneira, em certos momentos, e num lugar sagrado especifico, podem envolver prece, canto, meditação ou outros rituais. Ao cultuar dessa forma prescrita, o fiel, além de entabular uma espécie de conversa com Deus, demonstra seu compromisso para com Ele. Religiões como o judaísmo, o islã e o siquismo enfatizam esse compromisso porque nelas há de fato um mandamento divino de cultuar ou orar regularmente" (WILKINSON, 2011, p. 31). 
g) Lugares e objetos sagrados - Um rio, uma pedra, uma árvore, uma montanha, um animal, um vale, uma caverna, etc. Dependendo da religião que a pessoa professa, objetos e lugares podem ter um status sagrado. Por exemplo, na Índia à vaca é uma animal sagrado, como também o rio Ganges é sagrado. No catolicismo as imagens e ícones são objetos sagrados. No Islã a cidade de Meca é um lugar sagrado, em que todo muçulmano, pelo menos uma vez na vida deve fazer uma peregrinação.

O sagrado é algo que vai ser definido pela tradição religiosa que o crente professa. Com isso em mente, é possível afirmar que o sagrado tem um caráter multifacetado, ou seja, o sagrado pode ter várias faces e também ter vários significados. Em suma, vai depender da fé e da devoção de cada um.

Fontes:
ALVES, Rubem. O que é Religião? São Paulo. Loyola, 2010.
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado zahar. Rio de Janeiro, 2011.

Um comentário: