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2 de abril de 2017

A PRESENÇA PROTESTANTE NO BRASIL: Uma breve síntese histórica.


O protestantismo brasileiro foi gerado pelo protestantismo norte americano, que por sua vez foi gerado pelo puritanismo calvinista britânico do século XVII. Ou seja, os puritanos colonizaram, evangelizaram e implantaram sua cultura religiosa na América do norte, tornando-se assim um país culturalmente protestante. Muitos anos depois vários missionários americanos foram enviados para o Brasil. Com o objetivo de darem continuidade à missão de evangelizar os nativos brasileiros na fé cristã protestante.

O objetivo do presente texto é ser uma concisa fonte de conhecimento histórico para todos os interessados em saber como as Igrejas protestantes históricas chegaram ao Brasil e também, na medida do possível, servir de auxílio nas aulas do Ensino religioso. 


1. Protestantismo imigratório.

Houve durante o período do Brasil colônia duas tentativas  de colonização protestante. Uma feita pelos franceses que durou de 1555 a 1560, e outra realizada pelos holandeses que vai de 1630 a 1654. Entretanto, essas duas expedições caíram no fracasso. Só a partir de 1810, mais ou menos dois século depois, é que os protestantes vão conseguir conquistar algum espaço nas terras brasileiras. 

Os luteranos alemães foram os primeiros a imigrarem para o Brasil. Logo no inicio eles não estavam interessados em realizar alguma atividade proselitistas, isto é, conquistas novos adeptos para sua religião. Estavam com o objetivo de fixar residência, de preferência nas regiões sul e sudeste. 

"Esses luteranos, especialmente da região Sul do Brasil, não tiveram quase nenhum apoio de sua matriz na Alemanha. Eles eram agricultores de pouca escolaridade e a religião era o seu espaço de identidade social. Por isso, organizaram-se numa forma popular de religião, através de Igrejas autônomas que não foram consideradas plenamente igrejas. Permanecendo em grupos, conservando sua língua e tradição. Desse modo, constituíram um protestantismo de imigração, camponês e de língua alemã, que praticavam através de arranjos possíveis" (DOMEZI, 2015, p. 146).
Não era fácil ser imigrante luterano em um país majoritariamente católico. A legislação brasileira de 1824 concedia uma certa liberdade religiosa para os estrangeiros, no entanto, os imigrantes luteranos não usufruíam plenamente de todos os direitos constitucionais. Além disso existia também o preconceito da população, que olhavam os luteranos como hereges e inimigos da Igreja. 

Com o passar do tempo os imigrantes luteranos foram se adaptando ao contexto brasileiro, e começaram lentamente a implantar a cultura protestante em várias regiões do Brasil. Além do Rio Grande do Sul foram progressivamente fixando residencia no Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo e no sul de Minas Gerais.


No inicio duas igrejas luteranas foram implantadas no Brasil: A Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), e a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).  


Essas duas comunidades são as maiores representantes da fé protestante luterana no Brasil. No entanto, é possível que com o passar do tempo elas podem ter feito ou sofrido algum tipo de mudança teológica e litúrgica. Antropologicamente é possível afirmar isso. Toda religião que sai do seu lugar de origem, e se expande para lugares e contextos diferentes, será obrigada a fazer algum tipo de mudança. Caso contrário ela não conseguirá se adaptar ao novo contexto. Para mais informações sobre essas comunidades acesse esses links: IECLB , IELB   

2. As missões protestantes.

As missões protestantes só tiveram um avanço significativo com à chegada dos missionários americanos na segunda metade do século XIX. As comunidades luteranas que nesta época já estavam instaladas no Brasil, ficaram um tanto que fechadas entre si. Eram comunidades de alemães para alemães. Entretanto, com o passar dos anos, os luteranos perceberam à necessidade de terem um envolvimento mais próximo com os brasileiros, e abrindo suas portas para recebê-los.

Como falei no início desta postagem, o protestantismo brasileiro é "filho" do protestantismo americano. Os missionários americanos das mais diversas denominações (congregacionais, presbiterianos, metodistas, batistas, episcopais e como muito tempo depois os pentecostais), encontraram um momento muito oportuno para realizarem o seu trabalho missionário no Brasil.


Um dos fatores para essa abertura (que estrangeiros de igrejas não-católicas fossem recebidos no Brasil), foi o clima de tolerância religiosa que à legislação brasileira da época proporcionava. Ainda que catolicismo fosse à religião majoritária entre o povo brasileiro. Mas diga-se de passagem que essa tolerância não foi plena. Uma religião dominante nunca vai perder o seu status para outra religião concorrente.

"Essa imigração fez com que a Constituição brasileira de 1824, mesmo mantendo o catolicismo como religião do Estado, estabelecesse uma tolerância em relação aos outros cultos, como convinha a uma sociedade burguesa. Porém, era proibido a prática pública desses cultos, e os imigrantes não católicos eram considerados de segunda categoria, sem acesso a diversos dos direitos sociais" (DOMEZI, 2015, p. 142).
Como qualquer religião institucional o protestantismo tem dentro de si várias vertentes. Assim, é mais coerente falar em "protestantismo" no plural, do que protestantismo no singular. 

Essa postagem ficaria muito extensa se cada uma dessas vertentes fosse analisada. Um ponto convergente entre todas essas vertentes do protestantismo é que elas tem o mesmo objetivo: conquistar o maior número possível de pessoas para a fé cristã


Então darei ênfase ao trabalho missionário dos presbiterianos calvinistas. Mas por que? Por possuir um conhecimento histórico mais sólido sobre eles, e também pela significativa atuação na área da educação entre as pessoas mais pobres da sociedade. 


2.1. Ashbel Green Simonton - O implantador do presbiterianismo no Brasil.


O missionário americano Ashbel Green Simonton (1833-1867), foi o responsável pela implantação do presbiterianismo no Brasil em 1859. Essa vertente do protestantismo é muito fiel ao pensamento teológico-religioso do reformador francês João Calvino (1509-1564). 
Simonton começou suas atividades no Rio de Janeiro, onde, em 1862 fundou a primeira Igreja Presbiteriana no Brasil. O presbiterianismo foi o ramo do protestantismo que mais de expandiu em meados do século XIX. No entanto, foi sendo superado pelos batista já no inicio do século XX.
"Os presbiterianos brasileiros são fieis a João Calvino quanto ao governo eclesiástico. Organizam-se a partir de relativa autonomia da congregação local, num sistema federativo e piramidal de concílios. Cada congregação local tem um conselho de presbíteros leigos eleitos poe ela; um grupo de congregações locais forma um presbitério; um grupo de presbitérios forma um sínodo, e todos os presbitérios formam o supremo concílio ou assembleia geral" (MENDONÇA;FILHO. 2002, p. 36).
Como o passar do tempo, o presbiterianismo brasileiro foi se dividindo e engendrando outras denominações. No início haviam somente seis denominações presbiterianas, são elas: Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPI), Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU), Igreja Presbiteriana Conservadora (IPC), Igreja Presbiteriana Fundamentalista (IPF) e Igreja Presbiteriana Renovada (IPR).  Para mais informações sobre o presbiterianismo no Brasil acesse este link: Presbiterianismo no Brasil

2.2. A educação como estratégia missionária. 
O protestantismo histórico é essencialmente "uma religião do livro", ou seja, a Bíblia é a principal coluna da fé protestante. Então, para poder lê-la e interpretá-la é necessário que o individuo seja alfabetizado. Os missionários protestantes, e mais especificamente os presbiterianos, ao chegarem ao Brasil viram a carência educacional da população mais pobre. As pessoas eram, em sua maioria, analfabetas.
"A carência de instrução também era um notável empecilho ao aprendizado da doutrina protestante, todo ele calcado na leitura da Bíblia, livros, revistas e jornais, que logo começaram a ser publicados por iniciativa das missões. O cultos protestante, especialmente como foi introduzido aqui, é, ao contrário do católico essencialmente simbólico e ritualizado, caracteristicamente informal e discursivo. [...] Daí não ser difícil concluir que a evolução do protestantismo dependia, em grande dose, da alfabetização de seus adeptos atuais, e em potencial da criança" (MENDONÇA, 2008, p. 148).
Mas que tipo de educação foi essa? Quais foram os seus métodos pedagógicos? Essa educação conseguiu erradicar o analfabetismo entre as camadas mais pobres? Há pouquíssimos dados históricos que nos conduzam a uma afirmação concreta. Entretanto, é possível supor que essa educação seguia os padrões norte-americanos. 
"É justo pensar que parecia estar presente no espírito missionário a necessidade de reproduzir no Brasil o acontecido na América do Norte: se o êxito americano podia ser atribuído à colonização por povos protestantes, o Brasil podia ser colocado no mesmo caminho por via de um transplante cultural em todos os seus aspectos" (MENDONÇA, 2008, p. 163).
Será que se o Brasil tivesse sido colonizado pelos americanos, logo no início, ele seria um país melhor do que é hoje? Talvez sim. A America do Norte ainda é a maior potencia econômica do mundo. Logo no início à sociedade americana foi moldada por princípios éticos protestantes que até hoje fazem parte da vida de muitos americanos. É característico do protestantismo valorizar a educação. Quando um país não tem interesse pela educação a tendencia dele é ser um país atrasado e subdesenvolvido. 

Não é possível comprovar se as missões protestantes conseguiram introduzir à Bíblia como leitura habitual do povo brasileiro. Existiram muitos obstáculos como a intolerância por parte do catolicismo, que era a religião dominante, como o alto índice de analfabetismo da população. E sejamos sinceros, de lá para cá, à situação não mudou muito!



Fontes:

DOMEZI, Maria Cecilia. Religiões na história do Brasil. São Paulo. Paulinas, 2015.
MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo. Edusp, 2008.
MENDONÇA, Antonio Gouvêa; FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo. Loyola, 2002.

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