Devoto faz preces matinais no Ganges, em Benares. Afirma-se que a imersão nas águas sagradas do rio é um importante ato de purificação espiritual. |
Willis
(2007, p. 69) diz que:
O Hinduísmo denota as tradições que se desenvolveram a partir da religião védica trazida a Índia pelos arianos. Uma ênfase inicial ao sacrifício animal acabou sendo substituída por oferendas vegetarianas, divindades femininas de tornaram mais importantes e a religião piedosa ficou popular. Vishnu, ou Shiva, é visto muitas vezes como a divindade suprema. Um conceito hindu característico é aquele de transmigração: o nascimento continuo em uma serie de vidas, até a pessoa alcançar a libertação final por meio de conhecimento, ações ou devoção.
Algo
que deve estar fixado em nossas mentes é que não se pode compreender um
povo descartando o seu “fator religioso”, e infelizmente essa tem sido a atitude de
alguns historiadores, sociólogos, filósofos, etc. Muitas civilizações foram formadas a partir de alguma crença religiosa. Um exemplo muito claro
disso é a própria cultura ocidental que teve uma grande contribuição do
cristianismo em sua formação. E a Índia não fica fora dessa regra. Então para
que se possa ter uma compreensão sensata de um povo é necessário conhecer o seu fator religioso, caso contrário a pesquisa será muito limitada e pueril.
Este
artigo tem o objetivo de responder três perguntas: 1. Quais são as principais
divindades que compõem a mitologia hindu? 2. O que é libertação e quais os
caminhos para alcança-la? 3. O que é o sistema de castas e suas implicações na
sociedade hindu?
OS
DEUSES.
Deus macaco Hanumam, um avatar de Shiva. |
Antes
de conhecermos algumas divindades que compõem a mitologia hindu, é interessante
conhecer, de forma resumida, os três tipos de crenças que durante muitos
séculos estiveram presentes no imaginário religioso da humanidade, são: o
monoteísmo, politeísmo e o henoteísmo. O primeiro defende a existência de um
único deus supremo e nega a existência de outros. O segundo, diferente do
primeiro, acredita na existência de várias divindades. E o terceiro acredita da
existência de um ser supremo, mas não nega a existência de outros. O hinduísmo
se encaixa nesta terceira crença. Os hindus creem em um ser supremo (favorito),
mas não negam a existência de outros.
Narayanan
(2007, p. 134), diz que:
“Os hindus podem reconhecer muitas divindades, mas considerar que apenas uma é suprema; ou podem considerar todos os deuses e deusas iguais, mas adorar um que é o seu favorito. Contudo, a maioria acha que todas as divindades são manifestações de uma única. Para muitos, dizer que esse Deus é homem ou mulher, um ou muito, é limitá-lo, impor ao divino ideias humanas de sexo e número”.
Apenas
para fazer uma pequena comparação. No cristianismo existe a crença na Santíssima
Trindade, isto é, que o Deus verdadeiro é entendido como Pai, Filho e Espírito
Santo. De modo semelhante, existe no hinduísmo a crença, não muito popular, no
Trimurti que se compõem de três divindades principais: Brahma, Vishnu e Shiva.
Narayanan
(2007, p. 136), diz que:
Textos sagrados exprimem a ideia de uma trindade divina (Trimurti) de Brahma (o criador), Vishnu (o preservador) e Shiva (o destruidor), mas esse conceito nunca foi muito popular. Com o tempo, Brahma perdeu funções, e criação, preservação e destruição associaram-se em uma divindade, que pode ser Vishnu, Shiva ou Devi (a Deusa).
Existem
milhares de divindades no hinduísmo, e seria praticamente impossível enumerá-las
uma por uma em um simples artigo. Para uma melhor compreensão dos deuses do hindismo, veja este video: Conhecimentos da humanidade - Hinduísmo. Vishnu e Shiva são duas principais dividades panteão hindu. Os devotos de Vishnu são chamados de vaishnavas, e os shaivas são os de Shiva. Cada um desses grupos tem o seu modo peculiar de devoção.
A
LIBERTAÇÃO.
Quase
todas as religiões possuem o seu próprio sistema de salvação ou libertação. No
caso do hinduísmo a alma do homem (atmã) está presa a um repetitivo ciclo de
vida e morte. O fiel hindu está sempre em busca dessa libertação. Mas quais são
os caminhos para chegar a esse objetivo? Praticamente três: o caminho da ação,
o caminho do conhecimento e o caminho da devoção.
“O caminho da ação (carma-oiga) é o caminho da ação altruísta; uma pessoa precisa fazer o seu dever (dharma), como estudar ou fazer boas ações, mas não por medo de culpa ou da punição, ou por esperança de louvores ou recompensa. [...]. De acordo com o caminho do conhecimento (jnana-ioga), atingido o conhecimento dos escritos sagrados pode-se adquiri uma sabedoria transformadora que destrói o carma passado. O verdadeiro conhecimento é uma percepção da real natureza do universo, do poder divino e da alma humana. [...]. O terceiro caminho é o mais enfatizado em todo o Bhagavad Gita: o caminho da devoção (bhakti-ioga). Esse caminho talvez seja o mais popular entre os hindus de qualquer posição social. (NARAYANA, 2007, p. 144-145).
Fazer bem ao próximo,
adquirir conhecimento dos textos sagrados e ter uma vida devocional, segundo o
hinduísmo, são os caminhos para libertar o atmã do ciclo de vida e morte. Mas
isso realmente funciona? Cabe somente ao hindus responderem.
DIVISÃO
SOCIAL.
Na
cultura ocidental é muito comum dividir a sociedade em classes, ou seja, classe
alta, média e baixa. É a condição econômica e social que vai definir a que
classe uma pessoa pertence. Mas essa divisão não é algo predestinado desde o
nascimento. Existe uma certa transitoriedade, isto é, uma pessoa que pertence à
classe baixa (com esforço e dedicação) pode mudar de vida, e com isso migrar
para a classe média ou alta.
Infelizmente
isso não acontece no sistema de casta da Índia. Não existe mudança de uma casta
inferior para outra superior. Uma pessoa que nasceu em uma casta especifica
permanecerá nela por toda a vida, e não faz muita diferença se a pessoa é rica
ou pobre. Em outras palavras, é a casta que diz qual é o lugar da pessoa na
sociedade indiana.
Küng
(2004, p. 61) explica de modo objetivo o sistema de casta na Índia:
- acima de todos, a elite clerical dos brâmanes: sacerdotes, poetas, pensadores, sábios;
- em seguida, a aristocracia dos kshatriyas: guerreiros, governantes;
- mais adiante, os vaishyas, com frequência ricos: comerciantes, camponeses, operários;
- então, a massa dos shudras: criados, trabalhadores, proletários – cerca de quinhentos milhões;
- e, além desses, ainda os cerca de cento e cinquenta milhões que não pertencem a nenhuma casta: os sem casta, os outcasts, os “intocáveis”, chamados por Gandhi eufemisticamente de filhos de Deus (hrijan).
Narayanan
(2007, p.160-161) comenta como Gandhi lutou contra o preconceito e discriminação
em relação aos “intocáveis” (sem-casta),
“Mahatma Gandhi, por exemplo, procurou superar o preconceito contra algumas das pessoas em desvantagem na sociedade indiana, os chamados “intocáveis” – aqueles cujas ocupações as castas “superiores” consideravam “sujas” e “degradantes”. Essas ocupações incluíam lidar com couro e cadáveres de animais, porque se considera que a pele e a carne mortas conspurcam (a palavra “pária”, que designa os que não tem casta, vem do tâmil pariab – “tambor” --, o que é explicado pelo fato de a membrana do tambor ser feita de couro “sujo” de animal). Gandhi chamava de harijan (“Filhos de Deus”) os sem-casta, e a constituição indiana pós-independência tornou ilegal a discriminação contra eles. Até agora, no entanto, as declarações oficiais tiveram pouco resultado na prática”.
Não
existe cultura perfeita, mas não podemos negar que existem culturas melhores e
outras piores. O sistema de castas indiano visto pelos olhos ocidentais pode
causar repúdio e indignação, mas também não podemos negar que em países ocidentais
“desenvolvidos”, o preconceito, o racismo e a discriminação estão muito
presentes. E isso revela que independente da religião, da cultura ou do país,
os humanos são produtores de mazelas da sociedade, e é necessário sempre fazer
uma autocrítica de si mesmo com o objetivo de corrigir os próprios erros.
Concluído,
o hinduísmo é uma religião fascinante, exótica e contraditória. Ela mostra como
o ser humano é religioso e obcecado pelo sagrado. Acredito que sociedades seculares, que de certa forma desprezam o fator religioso, poderiam aprender
coisas interessante sobre a humanidade com o hinduísmo.
FONTES
KÜNG,
Hans. Religiões do mundo: em busca
de pontos comuns. Campinas. Verus, 2004.
NARAYANAN,
Vasudha. Hinduísmo. In: COOGAN, Michael D. (Org). Religiões. São Paulo. Publifolha, 2007.
WILLIS,
Roy. Mitologias. São Paulo.
Publifolha, 2007.
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