O sincretismo religioso é uma tendência que
está muito presente na cultura de vários povos ao redor do mundo. Por
sincretismo entende-se como à mistura de várias crenças, relativamente
diferentes, em um mesmo ato de devoção. Partindo desse pressuposto, tanto
brasileiros como chineses são povos que possuem uma cultura sincrética. Por
exemplo, um brasileiro, se quiser, pode ser cristão, espirita e maçom ao mesmo
tempo. E de modo semelhante, um chinês pode ser confucionista, taoista e
budista.
Essa tendência ao sincretismo talvez seja
porque as crenças religiosas não são absolutamente perfeitas, ou seja, elas não
têm a última palavra sobre tudo, e precisem ser complementadas por outras. Ou,
são os próprios religiosos que estão sempre insatisfeitos e buscam nas várias
crenças um meio de satisfazer os seus anseios interiores.
Tradicionalmente a religiosidade popular chinesa é formada pela
junção do confucionismo, taoismo e do budismo; que juntas são conhecidas como
“as três doutrinas” ou os “três caminhos”. O confucionismo ensina a importância
de se ter uma boa conduta moral, o taoismo ensina como ter harmonia com à
natureza e o budismo como superar os sofrimentos da vida. As três doutrinas se
complementam e são importantes para à cultura religiosa chinesa.
Objetivo do texto: Proporcionar ao leitor um conhecimento básico sobre o confucionismo
e descobrir o que de bom e proveitoso podemos aprender com ele.
I. QUEM FOI CONFÚCIO?
I. QUEM FOI CONFÚCIO?
Na realidade pouquíssima coisa se sabe sobre a
vida de Kong Fuzi (ocidentalmente conhecido como Confúcio), o pouco que se
conhece sobre esse sábio chinês está mais para lendas do que fatos históricos
comprovados. No entanto, ninguém dúvida que os ensinos de Confúcio tiveram
muita influência na vida dos chineses, como também, em outros lugares do mundo.
Os escritos confucionistas são lidos por todo o
mundo e respeitados por sua essência humana, sabedoria e linguagem direta e
simples. Na china, Confúcio tornou-se tão venerado, e seus ensinos tão semelhantes
como às ideias religiosas, que na atualidade, o confucionismo é quase visto como uma religião.
Confúcio nasceu, aproximadamente, em 552 a.C.
no pequeno Estado de Lu, que faz parte da atual Shandong. Pouco se sabe sobre à
família de Confúcio, no máximo se sabe que era uma família muito simples e de
poucos recursos. Há evidencia de que Confúcio foi casado e teve filhos, mas não
é possível saber qual foi o nome de sua esposa e filhos.
“Exerceu ofícios em geral humildes na corte de Lu, mas quando mais velho dedicou a maior parte de seu tempo ao ensino da moral, adquirindo um círculo de discípulos. Seu renome cresceu após sua morte em 479 a.C., e ele se tornou o mais respeitado mestre de moral da China. Confúcio ensinava o conceito de jen (bondade, humildade ou benevolência), insistindo que essa qualidade podia ser aprendida; não era, como muitos pensavam, uma prerrogativa das classes superiores. [...] Depois da morte de Confúcio, seus alunos difundiram suas ideias pela China com a ajuda de vários livros, conhecidos em conjunto como os Clássicos, que eram atribuídos ao mestre” (Wilkinson, 2011, p. 239).
Ao estudar Confúcio deve-se partir em primeiro
lugar dos seus ensinos, e não necessariamente de sua biografia. Os ensinos de
Confúcio são fundamentados na moralidade, mais especificamente na prática do
bem aos outros. E são "os analectos" a principal fonte para se conhecer os ensinos do sábio chinês. Vejamos alguns trechos dessa obra:
O Mestre disse: "Um homem a quem falta seriedade não inspira admiração. Um cavalheiro que estuda não costuma ser inflexível. "Estabeleça como principio o melhor pelos outros e ser coerente com o que diz. Não aceite como amigo ninguém que não seja tão bom quanto você. "Quando cometeres um erro, não tenha medo de corrigi-lo" (Os analectos, I, 8).
O Mestre disse: "Quem é benevolente não pode permanecer por muito tempo em uma situação difícil e tampouco pode permanecer durante muito tempo em circunstancias favoráveis". "O homem benevolente é atraído pela benevolência porque ele se sente confortável com ela. O homem sábio é atraído pela benevolência porque percebe que ela lhe é favorável." (Os analectos, IV. 2).
O Mestre disse: "Um homem a quem falta seriedade não inspira admiração. Um cavalheiro que estuda não costuma ser inflexível. "Estabeleça como principio o melhor pelos outros e ser coerente com o que diz. Não aceite como amigo ninguém que não seja tão bom quanto você. "Quando cometeres um erro, não tenha medo de corrigi-lo" (Os analectos, I, 8).
O Mestre disse: "Quem é benevolente não pode permanecer por muito tempo em uma situação difícil e tampouco pode permanecer durante muito tempo em circunstancias favoráveis". "O homem benevolente é atraído pela benevolência porque ele se sente confortável com ela. O homem sábio é atraído pela benevolência porque percebe que ela lhe é favorável." (Os analectos, IV. 2).
Alcançar a harmonia na sociedade era o
principal objetivo de Confúcio, e para que esse objetivo fosse alcançado era
necessário que os governantes fossem bons, humildes e benevolentes e
implantassem esses valores na sociedade. Família, política e sociedade são três áreas que devem ter como princípio moral à benevolência.
II. CONFÚCIO E JESUS.
II. CONFÚCIO E JESUS.
Confúcio e Jesus têm pontos em comum:
1). São mestres mundialmente reconhecidos;
2). Tiveram um bom número de discípulos;
3). Viveram em épocas de crise moral e instabilidade política;
4). Ensinaram a importância da boa conduta e do
amor ao próximo.
Talvez a principal diferença entre os dois seja,
que no caso de Confúcio, ele não era venerado como uma divindade por seus primeiros discípulos (mas, diga-se de passagem, que com o passar do tempo, à religiosidade popular chinesa incluiu Confúcio no panteão de divindades populares), nem se preocupava muito com o que acontecia depois da morte. Confúcio estava muito
mais focado na vida terrena do que numa suposta vida do além. No entanto, isso não descarta o dever de se ter uma atitude de consideração e respeito pelos antepassados.
Chi-lu perguntou como os espíritos dos mortos e
os deuses deveriam ser servidos. O Mestre disse: “você sequer é capaz de servir
aos homens. Como poderia servir aos espíritos”. “Posso perguntar sobre a morte?
”. “Você sequer entende a vida. Como poderia entender a morte? ” (Os analectos,
XI.12).
III. ÉTICA E MORALIDADE.
III. ÉTICA E MORALIDADE.
Diferente de outras crenças, o confucionismo não
está muito interessado em rituais e festas, seu principal objetivo é contribuir
na formação do “homem nobre”, isto é, uma nobreza fundamentada na ética e na boa
conduta, e não no sentido de realeza. Para Confúcio qualquer pessoa pode ser um
nobre desde que se esforce para isso.
Perguntaram a Confúcio: “Existe uma palavra que possa servir de norma de ação para a vida inteira? ” Ele respondeu: “É a palavra reciprocidade (shu) ”. Pois humanidade significa, em concreto, cuidado e tolerância mútua: shu – para Confúcio uma forma abreviada daquela Regra Áurea, que ele de imediato acrescenta: “O que não desejas para ti mesmo, isso também não o faças aos outros” (15,24). Meio milênio, portanto, antes do Sermão da Montanha, Confúcio prega a norma de conduta, inteiramente universal, que lá é formulada positivamente: “Tudo quanto quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles! ” (Mt 7,12). (KÜNG, 2004, p. 117).
Um detalhe interessante, a famosa Regra Áurea não é um ensino ético de
origem cristã. Confúcio já ensinava isso quinhentos anos antes do advento do
cristianismo. Com isso podemos afirmar que nem tudo o que está registrado nas
escrituras cristãs é original, no máximo os cristãos só fizeram repetir algo
que já era universalmente aceito. Isso traz à luz uma grande verdade: a ética e a boa conduta não são algo de pertencimento exclusivo
de uma religião especifica.
Para Confúcio o homem nobre é aquele que busca
ter uma relação harmoniosa com as pessoas e com o meio ambiente, demostrando
para com todos, homens e mulheres, humanidade, respeito, carinho e bem querer.
E é no seio da família que essas virtudes devem ser praticadas e transmitidas
de geração a geração.
Nas palavras de Küng: “Para Confúcio, o próximo é em primeiro lugar o membro da família” (2004,
p.117).
As relações familiares são de grande importância
no pensamento ético de Confúcio, é necessário que exista nas famílias atitudes
de amor e respeito entre pais e filhos, marido e mulher, tios e sobrinhos, avós
e netos, irmãos mais velhos e novos, etc., e consequentemente essas atitudes influenciaram à sociedade e o governo. De acordo com Küng (2004, p.118): “A preocupação primária do confucionismo é com o lado externo da vida
chinesa, com a organização da vida familiar e política. Ele considera toda a
sociedade humana como um sistema de relações pessoais, que precisam ser
harmoniosamente organizadas a partir da família”.
Para concluirmos, o que podemos aprender com
Confúcio? Confúcio foi um grande mestre da moral e o seu pensamento está alicerçado
nisso. Então o que Confúcio nos ensina é a importância de vivermos e
praticarmos o bem ao nosso próximo, mais especificamente entre nossos
familiares.
Os ensinos de Confúcio ainda são de grande
valor para à nossa sociedade atual. No mundo contemporâneo existem vários
países que neste exato momento estão passando por um crise moral e ética. O
ódio é um sentimento nocivo que tem contaminado muitos corações.
A falta de respeito dos jovens em relação aos
seus pais e professores é algo extremamente absurdo. A ganância e a corrupção
de muitos políticos fazem com que muitos países (inclusive o Brasil) não subam a
um nível mais alto de desenvolvimento, e com isso, deixando milhares de famílias
em uma situação de extrema pobreza. Sem dúvida por trás de tudo isso existe uma
perda dos valores éticos e morais. Confúcio ainda é relevante para os problemáticos
dias de hoje!
Fontes:
CONFÚCIO. Os
analectos. Porto Alegre, RS: L&PM, 2017.
KÜNG, Hans. Religiões do mundo: em busca de pontos comuns. Campinas, SP: Verus,
2004.
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado zahar. Rio de
Janeiro: Zahar, 2011.