Os índios fazem parte da
história e cultura brasileira, e isso ninguém pode negar. Antes dos
colonizadores portugueses chegarem a região que futuramente seria conhecida
como Brasil, ela já estava sendo habitada por várias tribos indígenas.
Então, é mais coerente dizer que o Brasil não foi descoberto, mas sim
"invadido". A história pode ser contada e recontada de diversas
formas. Tudo depende de quem vai narrá-la.
Infelizmente o que sabemos
sobre os índios é contado a partir do olhar do colonizador português, ou seja,
o conhecimento que temos dos primeiros habitantes brasileiros é um conhecimento
de segunda mão. No entanto, com o passar do tempo, pesquisadores sérios, como
antropólogos e sociólogos tomaram à iniciativa de ouvir e conviver com os índios.
Com o objetivo de conhecer mais profundamente a sua história e cultura.
O presente texto vai se
fundamentar no eixo temático culturas e tradições religiosas, que faz parte dos
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER), e tem como objetivo
ser uma contribuição a mais no estudo sobre a vida dos índios brasileiros. E
também, na medida do possível, conscientizar o leitor de que os índios
contribuíram na formação cultural do Brasil.
1. OS ÍNDIOS E SUA
RELIGIOSIDADE.
Basicamente a religião dos
índios é uma religião que está ligada aos elementos da natureza e ao culto dos antepassados. Em sua essência à religiosidade indígena é animista, por que
acredita que tudo o que existe na natureza é habitado por algum espirito. Os
rios, as plantas, as árvores, as pedras e os animais estão em constante
movimento por que são movidos por algum espírito. Para os índios é fundamental
estar em harmonia com a natureza, por que ela é sagrada. E também é necessário
apaziguar os espíritos maus que habitam na floresta, para que eles não venham
causar doenças e infortúnios para a tribo. É nesse momento que a figura do pajé
(ou xamã) é tão importante para a manutenção da ordem cósmica indígena.
"Aliás, o xamanismo dos povos da terra do Brasil, chamado pajelança, é a base de sua religião. [...]. Seus pajés, homens ou mulheres, fazem a viagem ao mundo dos espíritos da natureza através do exercício do transe extático. Apossam-se dos espíritos, fazem curas, dirigem preces, aconselham. Às vezes, acreditando que a enfermidade foi causada porque a alma do enfermo abandonou, saem em busca dessa alma e afazem retornar ao corpo da pessoa doente para, assim, restituir-lhe a saúde" (DOMEZI, 2015, p. 31).
O pajé é o líder espiritual
dos índios. Ele é muito respeitado e reverenciado por todos os habitantes de
uma determinada tribo. Pode-se dizer que o pajé é um tipo de mediador entre os
homens e os espíritos da floresta. Ele tem a missão de afastar os maus
espíritos que queiram trazer algum flagelo para a tribo, como também realizar
curas de enfermidades através de rituais mágicos.
Por serem pessoas que
habitavam nas florestas, os índios não possuíam os complexos sistemas de saúde
dos grandes centros urbanos. Nas floretas não existem hospitais, postos de
saúde, farmácias, ambulâncias, médicos, enfermeiros, etc. Se algum índio ficava
doente o único remédio era o ritual mágico. E é nesse momento que o pajé assume
a função de curandeiro da tribo. Talvez as curas eram feitas com o auxílio de
bons espíritos e de ervas medicinais encontradas na floresta. O importante é
levar saúde ao índio enfermo.
"A visão dos portugueses acerca dos nativos do Brasil está num documento que foi lido na corte de Portugal, em 4 de agosto de 1502, sendo aprovado pelo rei e seu conselho: "Os habitantes desse mundo não têm fé, nem religião, nem idolatria, nem conhecimento algum do seu Criador, nem estão sujeitos a leis ou a qualquer domínio, mas apenas ao conselho dos velhos...". Joaquim Fernandes, um tabelião público de Lisboa, produziu esse documento juntando as informações da Carta de Caminha e os relatos de Américo Vespúcio. E registrou-o em seu cartório" (DOMEZI, 2015, p. 27).
Os índios sempre tiveram fé e
religião. A questão é que elas são diferentes da fé e religião dos invasores
portugueses. Na visão dos portugueses os índios eram pagãos, ou seja, pessoas
que desconheciam o Deus verdadeiro e a Jesus Cristo como único salvador. Era
necessário evangelizá-los e tirá-los das trevas e da ignorância. No entanto, os
índios não se viam como pagãos, eles apenas praticavam o que os seus
antepassados passaram de geração a geração. Às várias tribos indígenas que
viveram no Brasil, muito antes da chagada dos portugueses, eram civilizados
segundo os seus costumes e crenças.
2. OS CONFLITOS ENTRE ÍNDIOS E
PORTUGUESES.
Quando um povo ou grupo de
pessoas se considera superior ou mais evoluído do que outros, sem dúvida,
muitos problemas hão de surgir. Os indígenas que viveram no Brasil muito antes
da chegada dos portugueses, eram os autênticos donos da terra. Caçavam, pescavam,
casavam, tinham filhos e viviam suas crenças e costumes pacificamente entre si.
Talvez nunca tenha passado por suas mentes a ideia de sair de seu habitat
natural para invadir as terras de outros povos.
Os conflitos começaram com a
chegada dos invasores portugueses, que condicionados por uma visão de mundo
cristã europeia, dão início a uma conquista predatória das novas terras e
também da dominação e catequização das comunidades indígenas. A coroa
portuguesa e a Igreja Católica estavam juntas na realização na exploração e
colonização das novas terras recém "descobertas". Tudo para os
portugueses era novo, e o estilo de vida das comunidades indígenas era o que
causava mais espanto. De fato, tudo o que é novo e desconhecido pode gerar
muito preconceito e medo!
"Os que chegaram da Europa Ocidental, com o olhar condicionado pela perspectiva monoculturalista e a mentalidade marcada pelo exclusivismo cristão, entenderam como barbárie esse mundo que lhes era estranho. No entanto, tratava-se de uma "alteridade". Ali estavam povos diferente e com diferentes cosmovisões. Eles tinham suas tradições antigas e viviam integrados na natureza, como pessoas humanas participantes da interligação de todos os seres, animados ou inanimados, no jogo das influências recíprocas, benéficas ou maléficas" (DOMEZI, 2015, p. 26).
Existiu logo no início uma
certa cordialidade entre portugueses e índios. Mas com o passar do tempo essa
atitude iria mudar. Na verdade, os portugueses estavam mais interessados em
colocar seus planos de dominação e colonização em prática. Pouco importava o
que os índios pensavam. Os índios não se submeteram à dominação dos invasores
portugueses, e tomaram uma atitude de resistência. Mas infelizmente a história
mostra que desse confronto muitos índios foram mortos e outros escravizados.
"Na consolidação do domínio português no Brasil, a cada novo território conhecido e a ser colonizado vinham as guerras de extermínio. A incompatibilidade entre colonizadores e índios parecia inevitável. A começar pela Bahia, em 1558, quando Men de Sá arrasou a resistência e rebeldia tupinambá, matando entre 15 mil a 30 mil índios, com a complacência e encorajamento de todos" (GOMES, 2012, p. 57).
O que é possível aprender com
tudo isso? Acredito que várias coisas: 1. Todos os povos, por mais diferentes
que sejam, possuem alguma crença religiosa. E essa crença traz alguma verdade
para o povo que nela acredita; 2. O cristianismo não é a única religião do
mundo, além dela existem outras; 3. A religião é caracteristicamente ambivalente,
pode ser usada como instrumento de dominação ou de libertação; 4. Cada
indivíduo tem o direito de viver, e ninguém tem o direito de tirá-lo; 5. Saber
conviver com o diferente e algo que precisa ser buscado constantemente.
Fontes:
DOMEZI, Maria Cecilia. Religiões na história do Brasil. São
Paulo: Paulinas, 2015.
GOMES, Mércio Pereira. Os índios e o Brasil: passado, presente
e futuro. São Paulo: Contexto, 2012.