Para início de conversa é bom saber que Ciências
da Religião e Teologia não são a mesma coisa. São áreas de conhecimento
distintas, com objetos de pesquisa distintos, no entanto, que podem se
complementar. Uma diferença entre as duas é que a teologia (e aqui não vou explicar
os vários tipos de teologias que existem, mas por uma questão de simplificação,
me referirei a teologia dogmática cristã) é mais antiga, e as Ciências da Religião sendo mais nova, surgindo a partir do século XIX.
“Ciência da religião (conforme nomenclatura empregada pela CAPES) é área de estudo acadêmico da religião surgida em fins do século XIX, que inclui a descrição, a interpretação, a comparação e a explicação de ideias, textos, comportamentos e instituições, linguagens (símbolo, mitos, rito e doutrina) e práticas das mais variadas tradições religiosas, como também a reflexão em torno dos conceitos que cada âmbito desses mobiliza, sem pressupor a superioridade de uma tradição religiosa sobre outra” (PIPER, 2017, p. 131)
O objeto de estudo da teologia é Deus e suas manifestações
no mundo, mas o das ciências da religião é o fenômeno religioso humano. Outra diferença entre essas duas áreas de conhecimento é que a teologia busca fortalecer à crença pessoal do teólogo, enquanto, as Ciências da Religião não têm a intenção de fortalecer a fé de ninguém, mas tentar compreender de uma forma
cientifica e imparcial a religião do outro.
Os pais fundadores da ciência da religião foram
todos europeus, em sua maioria alemães, holandeses, romenos e italianos. Entre
eles estão: Friedrich Max Müller (1823-1900), Cornelis Tiele (1830-1902),
Rudolf Otto (1869-1937), Gerardus Van der Leeuw (1890-1950), Joachim Wach
(1898-1955), Raffaele Petazzoni (1883-1959), Mircea Eliade (1907-1986), Wilfred
Cantwell Smith (1916-2000), Donald Wiebe (1943-), Roderick Ninian Smart (1927-2001) e
Michael Pye (1939-). Todos eles tiveram a curiosidade de conhecer de uma forma
mais cientifica o fenômeno religioso.
Portanto a análise da religião deve ser feita de modo imparcial, não cabendo ao estudioso interferência prática. Ele deve apenas descobrir o que é a religião, qual é a fundamentação que ela possui na alma humana e quais são as leis de seu desenvolvimento histórico. E, partindo de uma base linguística, desenvolver estudos comparativos das diversas mitologias. Dessa maneira para ele, “uma Ciência da Religião, baseada na comparação verdadeiramente cientifica e imparcial de todas [...] religiões da humanidade, é agora uma questão de tempo” (Müller, 1893, 26). (PIPER, 2017, p. 134).
Logo no início o método usado por Max Müller
para analisar as religiões foi a linguística. Müller traduzia os mitos e textos
sagrados e os comparava uns com os outros. No entanto, com o passar do tempo
outros métodos de pesquisa foram sendo usados. Por exemplo, Gerardus Van der
Leeuw usou à fenomenologia como método cientifico para estudar a religião, mas à
abordagem fenomenológica foi posteriormente criticada por outros cientistas da
religião. Mas isso faz parte do processo. Toda e qualquer nova área de conhecimento precisa ser críticada e questionada para saber se seus métodos são legítimos e concretos.
Mas por que o nome “Ciências” da Religião no
plural? Isso se deve por ser uma área de conhecimento pluridisciplinar, ou seja, existem outras disciplinas dentro das Ciências da Religião. São elas: filosofia da religião, história da religião,
sociologia da religião, antropologia da religião, psicologia da religião e
geografia da religião. Tudo isso para tentar compreender à religião de uma
forma mais cientifica, e isso faz com que as Ciências da Religião seja aberta ao diálogo com outras áreas do conhecimento humano. E, este é outro aspecto que
faz com que as Ciências da Religião não seja confundida com à teologia dogmática.
No Brasil as Ciências da Religião, como uma área de estudo acadêmica, para
conseguir algum espaço nas universidades brasileiras teve ajuda da Teologia da libertação. Essa
corrente teológica faz uma interpretação marxista da Bíblia, e por isso foi mais
aberta ao diálogo com as ciências humanas, proporcionando assim um terreno fértil
para a inclusão das Ciências da Religião no solo acadêmico brasileiro.
Hoje algumas universidades públicas e
particulares oferecem cursos de graduação e pós-graduação com o objetivo de
formar pesquisadores e professores em Ciências da Religião.
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Fonte:
PIPER, Frederico. Ciência(s) da(s) Religião(ões). In: JUNQUEIRA, Sérgio Rogério
Azevedo; BRANDENBURG, Laude Erani; KLEIN, Remí. (Org.) Compêndio do ensino
religioso. São Leopoldo: Sinodal, 2017.