2 de maio de 2018

MARXISMO E HUMANISMO: Filosofias de vida não religiosas.


“Nossas crenças se transformam em pensamentos, os pensamentos em palavras, as palavras se tornam ações e estas ações repetidas se tornam hábitos. E estes hábitos formam nossos valores e nossos valores determinam nosso destino” (Mahatma Gandhi)[1]

Todos nós, direta ou indiretamente, seguimos alguma filosofia de vida, isto é, uma sabedoria que dê sentido à nossa vida e objetivos. Quando refletimos sobre nossa existência, o mundo no qual vivemos e os desafios que ele nos traz; inevitavelmente somos estimulados a procurar soluções e respostas para os mais complexos desafios que vivemos e enfrentamos. E para que tenhamos uma certa direção em nossa busca; abraçamos alguma filosofia de vida, seja ela religiosa ou não, para nos dar algum suporte.

O presente texto tem o objetivo de introduzir o leitor no estudo de duas filosofias de vida não religiosas; o marxismo e o humanismo, e saber o que elas têm de positivo e negativo.

I. O MARXISMO E O SONHO DE UMA SOCIEDADE IGUALITÁRIA.
O marxismo é uma corrente de pensamento secular ainda muito influente no mundo ocidental. Ela está presente principalmente nas universidades, na política, nas artes, nas repartições públicas e em algumas igrejas. Milhares de pessoas no Brasil e no mundo são marxistas ou simpatizantes. Para se conhecer as ideias do marxismo é fundamental conhecer um pouco sobre a vida de Karl Marx, que é o seu “guru-idealizador”.
“Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trier, na Alemanha, filho de pai judeu e mãe holandesa. Teve excelente formação nas Universidade de Berlim e Bonn e obteve o doutorado com distinção. Um dos primeiros empregos foi o de escrever artigos para um jornal radical, criticando o governo, e por isso foi expulso da Alemanha. Tentou viver em Paris e em Bruxelas, mas acabou fixando-se em Londres, onde viveu até a morte em 1883. Exerceram influência sobre o jovem Marx os escritos de Ludwid Feuebach e de G.W.F. Hegel (1770-1831). Marx criticou Feuerbach nas concordou que a teologia era antropologia. O erro cometido pela teologia é o de referir-se a algum ser transcendente, em vez de ver a verdade e a divindade da natureza humana” (Crawford, 2005, p.179).
A base do pensamento marxista é o materialismo, e nele não existe espaço para o transcendente ou sobrenatural. Tudo está direcionado para o âmbito terreno. Marx ao ser influenciado pelas ideias céticas de Feuerbach olha para a religião como algo alienante ou alucinógeno, ou seja, a religião é um tipo de “droga” criada pelos homens, e faz com que eles percam a vontade lutar por uma vida melhor, ficando assim acomodados. E, infelizmente, permanecendo escravos da exploração da classe burguesa capitalista. 

Segundo o pensamento de Marx, a religião ilude os homens oferecendo-lhes falsas esperanças. As pessoas passam a pensar que tudo o que há na terra é transitório e passageiro, e no reino do céu tudo é lindo e maravilhoso. Depois que morremos não levamos nada, então para que mudar as coisas? Nesse ponto o marxismo mostra ser uma filosofia de vida antirreligiosa.
"Se Marx tivesse vivido para presenciar o vigoroso protesto da Igreja católica na Polônia contra o comunismo, a Teologia da Libertação na África e América do Sul e a firme resistência de Martin Luther King nos Estado Unidos e de Gandhi na Índia, poderia ter mudado de opinião" (Crawford, 2005, p. 180)
Nem sempre a religião oprime, ela também pode ser usada para causar mudanças profundas na sociedade. Martin Luther King e Mahatma Gandhi são exemplos de lideres religiosos que denunciaram as injustiças e motivaram as grandes massas para se levantarem contra as opressões impostas pelos governos tiranos. King lutou contra o racismo e a discriminação dos negros nos Estados Unidos, e Gandhi contra à dominação dos ingleses na Índia. Considerando esses fatos pode-se ver que Marx se fixou apenas no lado negativo da religião.  

Uma característica peculiar dos movimentos seculares é a crença de que o homem, por si só, é capaz de transformar o mundo e a si mesmo. No marxismo é a união da classe trabalhadora que produzirá essa transformação. E para que isso aconteça é necessário que se derrube o governo opressor, assuma-se o poder e temporariamente implante-se uma “ditadura” na sociedade. Em todo esse processo pode-se ver que a religião seria um grande empecilho. Pois ela poderia tirar dos trabalhadores o estimulo de lutar por uma sociedade mais justa e igualitária.
“Se definirmos a religião como um conjunto de crenças que as pessoas têm em comum e que proporcionam um fundamento racional para seu estilo de vida, tanto o marxismo quanto a maioria das religiões se enquadram na definição. O cristianismo em seus primeiros inícios tem algumas semelhanças com o comunismo. Há um tom revolucionário no Magnificat: “Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes e necessitados. Encheu os famintos com coisas boas e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,52-53) (Crawford, 2005, p. 183).
O marxismo não pode ser visto como uma religião, mas também não se pode negar que não exista alguns “resquícios” de religiosidade em sua estrutura. Os humanos têm uma grande necessidade de acreditar em algo, algo que faça com eles tenham esperança e que os incentive a mudar a sua história. Por exemplo, no cristianismo existe a crença de que no futuro haverá um novo céu e uma nova terra. Um lugar no qual não existirá nem morte, nem tristeza e nem dor. Tudo será maravilhoso com Cristo reinando na terra.  

Já os marxistas clássicos partem do pressuposto de que o “sonho” de uma sociedade igualitária acontecerá por meio da luta de classes, da revolução do proletariado e quando este assumir o poder do Estado. Mas deve-se reconhecer que os ideais cristãos e marxistas não se realizaram. Não existe um novo céu e uma nova terra, e muito menos uma sociedade igualitária. O mundo contemporâneo continua desumano, desigual e caótico. Até hoje o cristianismo e o marxismo não conseguiram transformar o mundo por completo. Existe apenas muita utopia e pouca realidade.


II. O HUMANISMO E A FÉ NA RAZÃO HUMANA.
O humanismo foi um movimento intelectual que teve início na antiga Grécia, passando pelo período da renascença e tendo o seu ápice no iluminismo. Pensadores como Sócrates, Leonardo da Vince e Voltaire marcaram cada um desses períodos do humanismo. Um ponto comum entre esses pensadores é a preocupação de conhecer melhor o ser humano sua personalidade, talentos e virtudes.
“A palavra humanismo deriva de humano. Podemos definir um humanista como aquele que dá maior importância aos seres humanos, à vida humana e à dignidade humana. O humanismo enfatiza a liberdade do indivíduo, sua razão, suas potencialidades e seus direitos” (HELLERN; NOTAKER; GAARDER, 2000, p. 227).
O principal fundamento do humanismo é a crença de que tudo deve ser entendido e julgado por meio da razão humana. Ou seja, os homens através de sua razão e inteligência são capazes de encontrar respostas para os mais diversos problemas da vida. O homem é essencialmente autônomo e por isso não precisa da ajuda de religiões e divindades. A religião muitas vezes foi usada como um instrumento de opressão dos homens, fazendo-os escravos do obscurantismo e da ignorância. Nesse ponto o humanismo foi um severo crítico das instituições religiosas.

Uma característica do humanismo é ser uma filosofia de vida heterogênea, isto é, podem existir várias ramificações com ideias divergentes. Mas, geralmente, os humanistas são em sua maioria ateus ou agnósticos, no entanto, isso não significa que tudo o que as religiões dizem seja rejeitado por eles. Para alguns humanistas a religião pode ser útil à medida que ensine valores éticos que contribuam com o melhoramento do caráter do indivíduo.
“Os humanistas acreditam que, em virtude de sua razão, o homem sabe a diferença entre certo e o errado. O homem não precisa de nenhum mandamento ou regra externa. Certos valores e normas básicas podem ser estabelecidos com base puramente na razão humana. É isso que se quer dizer com a expressão ética humanista” (HELLERN; NOTAKER; GAARDER, 2000, p. 238).
Concluindo, o que existe de comum entre o marxismo e o humanismo é a crença que o homem é o centro de todas as coisas. É ele quem transforma o mundo, tem as respostas para certos dilemas da vida (e mesmo que ainda não os tenha, no futuro poderá tê-los), e não precisa da ajuda de nenhuma suposta “força divina”.

Mas algumas perguntas podem ser feitas: até que ponto o ser humano é capaz de resolver tudo sozinho? Até onde vai a sua autossuficiência? A própria história da humanidade mostra as atrocidades que os homens praticam uns contra os outros. Podemos citar como exemplo, as duas grandes guerras mundiais, o holocausto nazista, bombas atômicas, atentados terroristas, etc. Nem sempre os homens são virtuosos, eles podem ser tão irracionais e selvagens como qualquer outro animal.


Fontes.
CRAWFORD, Robert. O que é Religião. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O livro das Religiões. São Paulo: Companhia das letras, 2000.



[1]https://www.pensador.com/frase/MTc3NjM4NA/