“Orar em
conjunto, em qualquer língua, em qualquer rito, é a mais comovedora
fraternidade de esperança e de simpatia que os homens podem contrair na terra”
(Anne Louise Germaine
de Staël)[1].
Religião sem rito não é religião. Ela pode até
não possuir um livro sagrado, mas não ter um rito (culto) que faça mediação entre
os humanos e o divino é algo inadmissível. Durante séculos as tradições
religiosas exercem uma grande influência em reunir pessoas que compartilham a mesma
fé em diversos lugares. Seja o cristianismo no ocidente, o budismo na Ásia ou
o Islamismo no oriente. A fé religiosa nunca deixou de ter influencia sobre a mente e o comportamento de milhares de pessoas ao redor do mundo.
E é nesse ajuntamento religioso que as crenças são
praticadas e experimentadas em coletividade. Neste ponto os ritos são muito relevantes
para que os integrantes do grupo se conheçam melhor e juntos compartilhem suas
experiências de fé. Considerando esses fatos, podemos afirmar que ao estudar os
ritos estamos conhecendo um pouco mais sobre a cultura humana.
Este texto tem o objetivo de mostrar a relação
entre rito e o imaginário religioso; a importância dos espaços sagrados e
refletir sobre os vários tipos de ritos.
I) O RITO E O IMAGINÁRIO RELIGIOSO.
A mente humana é perita em criar imagens e
símbolos que são utilizados como representações do sagrado. Os humanos sempre
no decorrer de sua existência, e nas mais variadas culturas, criaram e usaram
imagens e símbolos para representar os seres espirituais e com isso ter algum
tipo de contato com eles. E é por isso que o imaginário religioso e os ritos
são inseparáveis. Eles são, de certo modo, o oxigênio da vida religiosa de um
povo.
O sagrado é multifacetado, isto é, ele pode ter
várias faces e representações, dependendo do contexto cultural e religioso de
um povo. O sagrado pode ter um sentido para o judeu, outro para o cristão,
outro para o hindu, outro para o budista e outro para o zoroastrista etc. E são
nos ritos que a experiência do sagrado é praticada e vivenciada seja de forma
individual ou coletiva.
“Ora, o sagrado refere-se a algo que, presente e real, é inesgotável, absoluto, misterioso, majestoso, inefável, ou seja, sobre o qual se pode dizer alguma coisa, mas não tudo. É energia, poder e força criadora e destruidora sempre pronta a derramar-se, a desgastar-se, como a eletricidade. Perante o sagrado, o ser humano percebe-se limitado, relativo, efêmero, dependente. Seu sentimento é de maravilhamento, fascinação, estupor, temor” (VILHENA, 2005, p.59).
Para que possamos entender melhor essa relação
entre o rito e o imaginário religioso, tomemos como exemplo o rito do zoroastrismo.
Os zoroastristas têm o costume regular de realizar suas preces e devoções a
Aúra-Mazda, O senhor Sábio, em casa ou no templo. Para os zoroastristas à
presença da divindade no templo é simbolizada pelo fogo. “O fogo sagrado” representa
a luz divina, a energia a verdade de Aúra-Mazda.
“O culto coletivo envolve preces no templo, rituais em torno do fogo sagrado e uma refeição comunal. Assim como em casa, o fogo é o foco do culto no templo, onde é mantido continuamente aceso para que o fogo celeste de Aúra-Mazda possa fundir-se com ele. O fogo torna-se então um símbolo vivo que adquire algumas das qualidades sagradas de Aúra-Mazda” (WILKINSON, 2014, p.156).
Isso é apenas um
exemplo de como o sagrado é simbolizado em um rito de um grupo
religioso específico. Poderíamos mencionar os ritos de outras religiões, mas
isso deixaria este texto muito extenso. Mas acreditamos que a partir deste
exemplo ficou claro à relação que existe entre o rito e o imaginário religioso.
O homem religioso observa o mundo como uma criação
de Deus (ou deuses), e por isso, tudo o que há no mundo pode ser visto como
sagrado. Igrejas, sinagogas, mesquitas, templos, rios, desertos, terreiros,
florestas, montanhas, etc., podem ser consagrados para o uso do serviço
religioso. E são nesses espaços que os ritos são realizados, nos quais os fiéis
em comunidade vivenciam à experiência religiosa.
II) O ESPAÇO SAGRADO.
Para que algum espaço seja considerado sagrado
por um indivíduo ou grupo religioso é fundamental que aconteçam pelo menos três
fatores:
- A manifestação visível de alguma divindade, espírito ou força impessoal no local;
- Algum sinal extraordinário que seja diferente da realidade cotidiana;
- Ritos de consagração no espaço que foi “santificado” para o uso exclusivo do grupo religioso.
“O ser humano religioso tem necessidade de identificar e mapear esses espaços a fim de configurar sua leitura e interpretação do mundo, suas maneiras de nele habitar, ser e estar, orientar suas trajetórias. Os espaços sagrados são pontos de referência capazes de transfigurar o que antes era indeterminado, amorfo, caótico em um cosmo ordenado e significativo” (VILHENA, 2005, p.80).
As pessoas buscam desesperadamente
um sentido para à existência. Ao viverem em um mundo caótico e desorganizado, elas
buscam nas religiões a oportunidade de terem um contato com o sagrado, e
consequentemente colocar “ordem em suas vidas”. Quando à medicina e à ciência
falham em seus objetivos, as igrejas, mesquitas, sinagogas, templos, etc.,
transforma-se em locais de refúgio e esperança para milhares de pessoas. E isso
mostra que as religiões continuarão existindo por muitos e muitos séculos.
III) TIPOS DE RITOS.
III) TIPOS DE RITOS.
Existem vários tipos de ritos com propósitos diversos,
e dependendo da tradição religiosa eles podem ser praticados de modos
diferentes. Alguns dos ritos mais conhecidos são: ritos de celebração, de
passagem, de consagração, de propiciação, as procissões e as peregrinações.
Geralmente
esses ritos têm em sua composição cânticos, mantras, orações, meditações,
leituras/recitações de textos sagrados, sermões, recolhimento de ofertas, etc. E são os líderes religiosos ou algum grupo de fieis os responsáveis pela organização dos
ritos.
Concluindo, os ritos são importantes para a
preservação e fortalecimento da fé de um povo. É a partir deles que buscasse
ter um contato com o sagrado. Mas não somente isso, os ritos podem unir pessoas
e criar entre elas fortes laços de amizades e companheirismo. Nesse aspecto os
ritos sagrados cumprem um relevante papel na sociedade de inclusão social. Ou
seja, agregar por meio da fé pessoas que outrora não se conheciam.
Fontes.
CRAWFORD, Robert. O que é Religião. Petropolis: Vozes 2005.
WILKINSON, Philip. Religiões: guia ilustrado zahar. Rio de janeiro: Zahar, 2014.
VILHENA, Maria Ângela. Ritos: expressões e propriedades. São
Paulo: Paulinas, 2005.