AS FACES DO SAGRADO
Um blog destinado a todos os interessados em conhecer e compreender o fenômeno religioso em suas várias faces.
18 de agosto de 2024
Pessoas sem religião com crença | Programa Religare
15 de novembro de 2020
DIVERSIDADE RELIGIOSA: Há uma religião verdadeira?
Seguidores de cada visão religiosa de mundo devem fazer perguntas críticas não apenas sobre as verdadeiras afirmações de sua própria visão de mundo, mas também sobre como veem as afirmações de verdade de outras religiões. Esse é uma assunto de vital importância porque, embora estejam de acordo em algumas questões, as religiões também discordam em relação a muitas coisas (SWEETMAN, 2013, p. 154).
Em um mundo globalizado que está constantemente conectado por meio da internet e das redes sociais, é impossível não se envolver em alguma discussão, por mínima que seja, em que crenças religiosas não estejam no centro da atenção. E também quando alguém tem a oportunidade de sair do Brasil e conhecer outros países e culturas, direta ou indiretamente conhecerá crenças religiosas que geralmente são diferentes das suas, e é nesse momento que as dúvidas e os questionamentos surgem.
Existem três abordagens dentro da filosofia da religião que tentam analisar o problema da diversidade religiosa, são elas: 1. Exclusivismo religioso; 2. Pluralismo religioso; 3. Inclusivismo religioso. Vejamos cada uma dessas abordagens de forma resumida.
1. Exclusivismo religioso é visão que o caminho correto para a salvação só pode ser encontrado em uma única religião. Essa é a visão defendida pela Igreja Católica e por várias igrejas protestantes. Para esses grupos somente os acreditam em Jesus Cristo podem ser salvos e com isso alcançar a eternidade. Em outras palavras, "fora da fé cristã não existe salvação". Mas como ficariam os milhões de judeus, muçulmanos, budistas, hindus que não acreditam em Jesus como os cristão creem? E sem falar da multidão de pessoas que durante a história nunca souberam da existência de Cristo?
Sweetman diz que:
Os exclusivistas religiosos defendem que pode haver verdades profundas em outras religiões, mas a sua principal afirmação é de que não se pode alcançar a salvação seguindo a religião errada. Só porque uma religião está certa em alguns pontos não significa que, em geral, contenha as crenças e ações corretas que levariam à salvação. Para o exclusivista, julgar se a outra religião está certa em algumas questões vai depender de ela concordar com a religião correta nessas questões; por exemplo, um muçulmano que apoia o exclusivismo pode crer que o cristianismo esteja certo ao acreditar que Deus é todo-poderoso, mas negar o cristianismo possa conduzir à salvação (SWEETMAN, 2013, p. 158).
Podemos ver que quando um grupo religioso defende a visão exclusivista, ele pode ter atitudes de intolerância religiosa. E a história ocidental é cheia de relatos de guerras, mortes e massacres feitos em nome de alguma religião. Isso tudo simplesmente porque algum grupo religioso se diz detentor da verdade divina, mas que verdade divina é essa que não consegue enxergar a diversidade que existe no mundo? É realmente uma verdade divina ou um mero capricho humano? Deixo essa resposta com você que está lendo este texto.
O pluralismo religioso é a visão de que há muitos caminhos diferentes à salvação nas várias religiões do mundo, e, assim, todas elas têm certa legitimidade. (SWEETMAN, 2013, p. 161).
Essa posição, portanto, sustenta que a salvação depende de um ato especifico - a morte e ressurreição de Jesus, por exemplo - ser metafisicamente verdadeiro (realmente aconteceu na história e realmente teve determinado efeito), mas não é necessário acreditar que esse evento tenha ocorrido, nem mesmo ser membro da religião que tem a visão correta do que tinha que acontecer para a salvação ser possível (metafisicamente). O que importa é que se viva uma vida moral, o que é possível fazer em muitas visões de mundo diferentes (não necessariamente em todas), e que se lute por estabelecer uma relação verdadeira com Deus, que se revela em muitas religiões, em certa medida, mesmo que imperfeitamente (SWEETMAN, 2013, p. 165).
18 de janeiro de 2020
A ETERNIDADE SEGUNDO A VISÃO BUDISTA: Uma proposta para o Ensino Religioso.
Primeiramente é fundamental esclarecer que “Buda” não é uma pessoa especifica, mas sim um “estado de iluminação”, isso quer dizer que Siddhãrtha Gautama não foi o único iluminado que existiu na face da terra. Outras pessoas que viveram antes e depois dele poderiam ser consideradas como budas ou iluminados, simplesmente por serem portadoras de alguma sabedoria ou dom carismático. Neste caso tanto Confúcio, Jesus ou Maomé poderiam ser vistos como budas.
No caso de Gautama ele procurou entender a origem do sofrimento humano e com isso descobrir uma forma na qual as pessoas pudessem ser livres dele. Em seu sermão em Benares ele falou sobre a essência da doutrina budista.
Eis, ó monges, a santa verdade sobre a dor: o nascimento é dor, a velhice é dor, a doença é dor, a morte é dor, a união com alguém que não se ama é dor, a separação de quem se ama é dor, não obter o que se deseja é dor, enfim, os cinco tipos de objetos de apego (Upadana-skandha) são dores. Eis, ó monges, a santa verdade sobre a origem da dor: é a sede que se carrega de renascimentos em renascimentos, acompanhada do prazer e da ganancia, que encontra aqui e ali seu prazer: sede de prazer, sede de existência, sede de impermanência. Eis, ó monges, a santa verdade sobre a supressão da dor: a extinção desta sede com a aniquilação completa do desejo, banindo o desejo, renunciando-o, libertando-se dele, não lhe concedendo espaço. Eis, ó monges, a santa verdade sobre o caminho que leva à supressão da dor: é o caminho sagrado, feito de oito veredas, denominadas reta fé, reta vontade, reta palavra, reto agir, retos meios de subsistência, reta aplicação, reta memória, reta meditação (RIES, 2019, p.165).
O Buda não era considerado Deus ou um ser sobrenatural, mas um homem que havia encontrado e disponibilizado para todos a resposta para os dilemas mais profundos da vida humana. Para milhões de asiáticos e muitos europeus e americanos, o budismo transmite um sentido de sacralidade e de coesão sociocultural desvinculado do conceito de um deus criador.
Vocábulo de difícil definição, nas religiões indianas significa “extinção”. Estado permanente de beatitude e felicidade, o nirvana é alcançado quando tudo (pensamento, vontade, sensação) é abolido, suprimido, extinto. No budismo, é a extinção definitiva do sofrimento humano, alcançado pela eliminação das “três paixões”: o desejo (Raga), o ódio (Dvesha) e o erro (Maha). É a libertação próprio ser do ciclo infinito do nascimento e do renascimento. O Buda não deixou nenhuma descrição do nirvana, mas mostrou o caminho para alcançá-lo, oferecendo ao homem a possibilidade de sua libertação de toda ilusão sobre sua própria natureza. Para chegar ao nirvana é preciso uma longa aprendizagem, um caminho a percorrer em várias etapas. O nirvana é, pois, “um estado que escapa à fatalidade do dever”. (AZEVEDO, 2002, p.271).
Relatos budistas sobre a lei do carma insistem em que toda recompensa está relacionada às ações que a causaram. Assim, o pecado causa sofrimento numa próxima vida, boas ações trazem felicidade, e uma ação que mistura o bem e o mal trará resultados que mesclem sofrimento e felicidade. Quando os monges vão à casa de leigos em sua coleta matinal para receber doações de alimentos, quanto mais generoso for um indivíduo tanto maior será a sua prosperidade na próxima vida. Pessoas coléricas ou cruéis, desrespeitosas com os pais e idosos ou que causam discussões e desacordos sofrerão futuramente. (ECKEL, 2007, p. 185).
Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isto colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espirito, do espirito colherá a vida eterna. Não desanimemos na pratica do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos. Por conseguinte, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para todos, mas sobretudo para com os irmãos na fé (BÍBLIA, 2002, Gálatas 6.7-10, p. 2038).